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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Heraldo do Monte

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.08.2024
01.05.1935 Brasil / Pernambuco / Recife
Kuarup Foto Itaú Cultural

Consertão - Elomar, Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Heraldo do Monte, 1982
Elomar, Artur Moreira Lima, Paulo Moura, Heraldo do Monte, Mario de Aratanha, João Pedro Borges

Heraldo do Monte (Recife PE 1935). Compositor, violonista e guitarrista. Nascido no Recife, seu pai é trombonista de banda militar. Heraldo do Monte começa a estudar música no ginásio, e aprende a tocar clarinete com o maestro Mário Câncio. Mais tarde, aproxima-se dos instrumentos de cordas e estuda violão, viola, cavaquinho e bandolim, de manei...

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Biografia

Heraldo do Monte (Recife PE 1935). Compositor, violonista e guitarrista. Nascido no Recife, seu pai é trombonista de banda militar. Heraldo do Monte começa a estudar música no ginásio, e aprende a tocar clarinete com o maestro Mário Câncio. Mais tarde, aproxima-se dos instrumentos de cordas e estuda violão, viola, cavaquinho e bandolim, de maneira autodidata. Suas primeiras experiências como instrumentista ocorrem nas rodas de choro do seu bairro, nas quais toca violão e bandolim.

Na década de 1950 inicia a vida profissional ao integrar o Regional da Rádio do Jornal do Comércio do Recife, quando conhece o jovem sanfoneiro Hermeto Pascoal. Toca também em conjuntos que se apresentam em boates da cidade e aprende baixo e guitarra elétrica. Em 1956 muda-se para São Paulo, torna-se instrumentista da TV Tupi e passa a atuar em diversos conjuntos que trabalham na noite paulistana, como o quinteto de Walter Wanderley. Participa das gravações de Fim de Caso (1959), de Dolores Duran. Lança os discos Dançando com o Sucesso (vol. 1) e Dançando com o Sucesso (vol. 2), em 1961 e 1962, respectivamente, e no ano seguinte grava o LP Batida Diferente - Heraldo e Seu Conjunto Bossa Nova. Organiza o conjunto Os Cinco-Pados, com Hector Costita (sax), Buda (trompete), Arrudinha (bateria) e Gabriel Bhalis (baixo), e lança disco homônimo, em 1964. Em seguida forma o Trio Novo com Theo de Barros e Airto Moreira, que se torna Quarteto Novo, com o ingresso de Hermeto Pascoal, em 1966. O grupo acompanha Geraldo Vandré no festival da Record, na canção Disparada, em 1966, e Edu Lobo, em Ponteio, em 1967. Nesse mesmo ano, o conjunto grava seu único LP, Quarteto Novo.

Com a dispersão dos membros do grupo, Monte segue carreira solo na década seguinte. Grava o disco O Violão de Heraldo do Monte, em 1970. Participa da gravação de dois discos do Zimbo Trio, Zimbo, de 1976 e 1978. A década de 1980 começa com o lançamento do disco Heraldo do Monte, com a colaboração de Hermeto Pascoal. Entre 1981 e 1983, Monte faz parte do conjunto instrumental Medusa e grava os LPs Grupo Medusa (1981) e Ferrovias (1983), pela Som da Gente. Em 1982, participa do projeto ConSertão com Elomar, Arthur Moreira Lima e Paulo Moura, que é registrado em disco. No ano seguinte, grava Cordas Vivas e, em 1986, Cordas Mágicas, ambos com composições suas, pela Som da Gente. Nesse longo período apresenta-se também em festivais como o de jazz de São Paulo, Montreux, Montreal e Cuba.

Na década de 1990, mantém-se em atividade, faz shows como instrumentista (inclusive da Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo) e lança com Duofel o Instrumental no CCBB (Tom Brasil), em 1993.  Grava o disco Viola Nordestina, em 2000 e, três anos mais tarde, Teca Calazans & Heraldo do Monte, ambos pelo selo Kuarup. Em 2004 produz e lança de maneira independente os discos Guitarra Brasileira, distribuído pela Tratore, e MPBaby: Moda de Viola, pelo selo MCD, no qual toca na viola temas clássicos da música sertaneja.

 

Comentário Crítico

No panorama cultural da música popular no Brasil, a música instrumental tem papel importante, porém pouco estudada em comparação às tradições cancionistas. Ela se apresenta desde as primeiras formulações dos gêneros urbanos no século XIX em forma de polca, dobrado, valsa, xote, maxixe e choro. E se revela na prática pianista e pianeira do período e das bandas civis e militares. Essa prática musical permanece nas orquestras das gravadoras e mais tarde das emissoras radiofônicas, assim como nas "orquestrinhas populares", como denomina Mário de Andrade, e nos inúmeros conjuntos regionais. Nesse amplo universo, o violão popular - e outros instrumentos de cordas dedilhadas - assume papel destacado, produzindo uma forma peculiar de tocar, seus compositores específicos e um repertório próprio.

A trajetória de Heraldo do Monte deve ser compreendida nessa longa duração e também na condição de compositor e destacado instrumentista. Além disso, ela transita por diversos universos da música. Suas referências e experiências iniciais ocorrem no domínio da música regional nordestina que permanecem durante toda sua carreira e estão presentes em suas composições na forma de baião, frevo e outros gêneros. Elas podem ser muito bem identificadas nas performances e arranjos do Trio Novo e, sobretudo, do Quarteto Novo, que inaugura uma forma sofisticada de diálogos musicais com base no universo sonoro sertanejo. Ele carrega toda essa experiência para sua prática instrumental de violão, viola e guitarra. Suas composições revelam também vínculos regionais como no frevo Chuva Morna ou em Forrozin (1980), Caboclo Elétrico e Lágrima Nordestina (1983). Projetos mais amplos mostram esses vínculos de modo mais evidente, como em ConSertão (1982), cujo nome é uma lembrança explícita, gravado com Elomar, Paulo Moura e Arthur Moreira Lima, reunindo canções de Luiz Gonzaga, Elomar, Heitor Villa-Lobos e Severino Araújo. Segue proposta semelhante o disco Viola Nordestina, de 2001, que contém músicas suas e de outros compositores (como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Pedro Sertanejo e Elomar) com esse perfil. Já em Moda de Viola, de 2004, inclui clássicos da música sertaneja (Luar do Sertão, Maringá, Chico Mineiro, Menino da Porteira e Tristeza do Jeca) em solo de viola. Além da música regional, Monte é influenciado pelo choro, gênero que conhece desde jovem, quando toca em rodas no Recife. Ele é importante para o desenvolvimento de sua prática instrumental do violão e bandolim e também do improviso. Revela essa influência gravando clássicos como Lamento e em composições suas como Giselle e Valsa para Tutuca.

Ainda nos anos 1950 e 1960, ao se tornar instrumentista profissional, Monte entra em contato com outro universo cultural e musical: a música para dançar, o jazz e a bossa nova. Toca no conjunto do pianista Walter Wanderley na noite paulistana, colabora na gravação de diversos grupos voltados para a dança, como SambaLoucos, em 1963, Carlos Piper e Sua Orquestra, em 1966, Haréton Salvanini, em 1973, entre outros. Influenciado por esse ambiente, lança dois discos denominados Dançando com o Sucesso, em 1961 e 1962, respectivamente. O estilo bossa-novista deve ser considerado como influência determinante para a maior parte dos músicos instrumentistas do período. Além de tocar e gravar com músicos com esse perfil, o disco Batida Diferente - Heraldo e Seu Conjunto Bossa Nova, gravado em 1963, é todo voltado ao gênero, que traz no repertório composições de artistas como Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes (Eu Sei que Vou Te Amar), Carlos Lyra e Gianfrancesco Guarnieri (Feio Não É Bonito), Johnny Alf (Rapaz de Bem), Tito Madi (Amor e Paz).

O fato de ter participado de conjuntos musicais diferentes, como Os Cinco-Pados, Zimbo Trio e Medusa, e os contatos com a música para dançar e com a bossa nova contribuem para evidenciar sua capacidade de improvisação de inspiração jazzística. Mas, semelhante ao projeto musical de seu amigo Hermeto Pascoal, Heraldo Monte não perde sua relação com a música regional e a popular urbana. Ele desenvolve uma forma e técnica da "guitarra brasileira", articulando elementos da música sertaneja, choro, bossa nova e frevo com o jazz. Desse modo, Monte é um compositor e instrumentista que se apresenta na longa tradição iniciada na música brasileira ainda no século XIX, em que as fronteiras entre a música popular e a erudita, regional, nacional e  internacional são diluídas. Sua formação musical variada, a condição de instrumentista inventivo e refinado e as múltiplas experiências com diversas tradições musicais o colocam numa encruzilhada de onde partem e convergem caminhos e alternativas. Por essa razão é convidado e circula em festivais internacionais e gravações de jazzistas e faz centenas de shows nos Estados Unidos e Europa.

Sua discografia, composta de conjuntos que lidera ou trabalhos solos, reúne 13 discos. Mas como instrumentista importante participa de gravações ou é gravado por expoentes da música instrumental contemporânea, como Zimbo Trio, Hermeto Pascoal, Arthur Moreira Lima, Paulo Moura, Paulinho Nogueira, Nelson Ayres e Roberto Sion e ainda atua ao lado de intérpretes como Elizeth Cardoso, Elis Regina, Dolores Duran, Tom Zé, Dominguinhos e Teca Calazans.

Obras 22

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Espetáculos 1

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Fontes de pesquisa 5

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  • ALDEIA Antígona. São Paulo: [s.n.], 1982. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Lira Paulistana. Não catalogado
  • COSTA-LIMA NETO, Luiz. A música experimental de Hermeto Pascoal e Grupo (1981-1993): Concepção e linguagem. [S.d.]. Dissertação (Mestrado, Programa de música brasileira) – Centro de Letras e Artes, Universidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999.
  • Heraldo do Monte. Disponível em http//www.musicosdobrasil.com.br/heraldo-do-monte . Acessado em: 18 de agosto de 2011.
  • VAZ, Gil Nuno, História da música independente, SP, coleção Tudo é História, 124, Ed Brasiliense, 1988.
  • VISCONTI, Eduardo de Lima. A guitarra brasileira de Heraldo do Monte. Dissertação de Mestrado, Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, 2005.

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