Sivuca
Texto
Severino Dias de Oliveira (Itabaiana, Paraíba, 1930 – João Pessoa, Paraíba, 2006). Compositor, instrumentista, cantor. Destaca-se por ser um dos principais divulgadores da sanfona na música nacional e internacional e por popularizar a tradição musical do interior do Nordeste.
Começa a tocar sanfona como autodidata aos 9 anos e, aos 15, participa de programas de calouros em Pernambuco. Logo se destaca e passa a se apresentar na Rádio Clube de Recife. Permanece por três anos na capital pernambucana, onde assume o nome artístico de Sivuca. O ambiente é importante durante a sua permanência em Recife: além do contato com diversos artistas e gêneros musicais, estuda teoria musical com os músicos da orquestra das rádios. Nesse período, conhece também a música das big bands norte-americanas, que influenciam sua obra.
Desde jovem, viaja pelo interior do Nordeste brasileiro, tocando música regional com músicos locais. Trata-se de um período de aprendizagem e experimentações, em que amplia o conhecimento do universo musical nordestino. Segundo o artista, essa vivência entre músicos da cultura popular fornece as bases de sua obra.
Em 1948, é contratado pela Rádio Jornal do Commercio, em que atua até meados da década de 1950. Em 1949, é convidado para gravar com a cantora Carmélia Alves (1923-2012) em São Paulo. Carmélia é a primeira a gravar, em 1951, o baião “Adeus Maria Fulô”, composição de Sivuca e Humberto Teixeira (1915-1979). A música também é interpretada pelo grupo Os Mutantes, em 1968. Estreia em 78 rpm em 1951, com Carmélia Alves, lançando o baião “No mundo do baião”.
Em 1955, mora no Rio de Janeiro, onde é contratado pelas Emissoras Associadas de Rádio e Televisão Tupi. Estuda durante três anos com Guerra Peixe (1914-1993), com quem aprende teoria musical e harmonia. No ano seguinte, lança Eis Sivuca, primeiro disco solo, e participa em trabalhos de outros artistas. Ainda em 1956, grava seu choro “Homenagem à velha guarda” e parte para a primeira temporada de shows pela Europa com o grupo Os Brasileiros. Em 1959, produz um disco de música angolana, Duo Ouro Negro. No início de 1960, ao lado de Waldir Azevedo (1923-1980), apresenta-se com o grupo Brasília Ritmos, com o qual já havia gravado no Brasil. Em Portugal, lança o disco Vê se gostas. Entre 1960 e 1964, reside em Paris e participa no filme Le Diable et les Dix Commandements (O Diabo e os Dez Mandamentos), do francês Julien Duvivier (1896-1967).
Em 1964, muda-se para Nova York a convite da cantora Carmen Costa (1920-2007), onde vive por doze anos. Ali, atua como diretor musical, arranjador e violonista da cantora africana Miriam Makeba (1932-2008), com quem grava três discos e realiza turnês internacionais. Em 1969, assume a direção musical e realiza o espetáculo Joy, com o norte-americano Oscar Brown Jr. (1926-2005) e Jean Pace (1926-2016).
Na década de 1970, compõe trilhas para curtas-metragens da televisão educativa americana, trabalho pelo qual é indicado ao Grammy. Nesse período, faz parcerias com artistas como Hermeto Pascoal (1936) e os norte-americanos Bette Midler (1945), Paul Simon (1941) e Harry Belafonte (1927). Em 1972, em meio às turnês com Belafonte, grava, em Nova York, o LP Sivuca e lança um espetáculo de música brasileira no Village Gate, que alcança projeção internacional e dá origem ao LP Live at the Village Gate (1973).
Em 1975, casa-se com a compositora e médica Glorinha Gadelha (1947), com quem desenvolve parcerias artísticas. Nessa época, volta para o Rio de Janeiro e participa da série de espetáculos Seis e meia, no Teatro João Caetano, com o show Sivuca e Rosinha de Valença: gravado ao vivo, torna-se o primeiro registro do baião “Feira de Mangaio”. Considerado um clássico do forró, a composição tem êxito na voz de Clara Nunes (1942-1983) em 1979.
Em 1977, Chico Buarque (1944) escreve a letra para a melodia composta em 1947, dando origem a “João e Maria”, única parceria dos dois compositores, sucesso nas vozes de Chico e Nara Leão (1942-1989) nesse mesmo ano.
Em 1985, escreve a primeira peça sinfônica – Concerto Sinfônico para Asa Branca – e inova ao mobilizar a orquestra pela ótica do acordeonista. Além de projetos e apresentações nacionais que desenvolve na década de 1980, grava Rendez-vous in Rio (1985) com o gaitista belga Toots Thielemans (1922-2016) e a cantora sueca Sylvia Vrethammar (1945), Chiko’s Bar (1986) com Toots Thielemans, e Bad Boys From Brasil (1986) com o grupo sueco Rune Öfwerman Trio. Em janeiro de 1992, lança na Dinamarca o CD One Good Turn, com Erik Petersen. Regressa à Europa para novas turnês e apresenta-se na inauguração do teatro Cité de la Musique, em Paris, 1994.
Em 2003, volta à Paraíba, onde segue trabalhando. No ano seguinte, em Recife, grava com a Orquestra Sinfônica da cidade o álbum Sivuca sinfônico. Três anos depois, compõe seu último arranjo sinfônico, Choro de cordel, com Glorinha Gadelha (1947).
O artista também se destaca pela atuação como produtor musical de discos, espetáculos e trilhas sonoras. Em 2006, o Ministério da Cultura reconhece a importância de seu trabalho para a música brasileira, concedendo-lhe a Ordem ao Mérito Cultural.
Sivuca é um grande nome da música brasileira, um verdadeiro porta-voz da cultura nordestina, tendo produzido uma obra original reconhecida nacional e internacionalmente.
Obras 3
Links relacionados 2
Fontes de pesquisa 8
- BARRETO NETO, Antônio et al. O grande sanfoneiro aponta uma saída para a música brasileira. A União, João Pessoa, 1 mai 1985. Caderno de Artes, p.9.
- BARRETO, Flávia; GASPARINI, Fernando. Sivuca e a música do Recife. Recife: Publikimagem, 2010.
- FREITAS, Dulcivânia. A Paraíba é o maior celeiro musical do Brasil. O Norte, João Pessoa, 25 dez. 1996. Caderno 2, p.1.
- GOUVÊA, Hilton. Aqui nasceu Sivuca. A União, João Pessoa, 29 dez 2006. Disponível em: http://www.auniao.pb.gov.br/v2/index.php?option=com_content&task=view&id=4403&Itemid=44. Acesso em: 25 abr. 2013.
- RODRIGUES, Elinaldo. Sou músico universal. Jornal da Paraíba, João Pessoa, 12 jul. 2003. Caderno de Cultura, p. 1.
- SANTOS, Eurides de Souza et. al. Música e músicos paraibanos: diálogo entre estilos na música de Sivuca. Encontro Nacional de Etnomusicologia, 2., Salvador, 2004. Anais...Salvador: UFBA, 2004.
- SANTOS, Eurides de Souza. Nordestinidade gonzagueana na música de Sivuca. Opus: Revista da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música. v. 18, n. 2 (dez. 2012) – Porto Alegre (RS): ANPPOM, 2012. p. 161-180.
- SIVUCA na Rede. [s.n.]: [s.d.]. Disponível em: www.sivuca.com.br. Acesso em: 20 abr. 2013.
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SIVUCA.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
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