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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Zé Ramalho

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.05.2019
03.10.1949 Brasil / Paraíba / Brejo do Cruz
José Ramalho Neto (Brejo do Cruz, Paraíba, 1949). Compositor, cantor e violonista. Filho do seresteiro Antonio de Pádua Pordeus Ramalho e da professora primária Estelita Torres Ramalho. Órfão de pai aos 2 anos, é criado pelo avô em Campina Grande, Paraíba. Sua escuta musical na infância varia entre a diversificada informação divulgada pelorádio ...

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Biografia

José Ramalho Neto (Brejo do Cruz, Paraíba, 1949). Compositor, cantor e violonista. Filho do seresteiro Antonio de Pádua Pordeus Ramalho e da professora primária Estelita Torres Ramalho. Órfão de pai aos 2 anos, é criado pelo avô em Campina Grande, Paraíba. Sua escuta musical na infância varia entre a diversificada informação divulgada pelorádio e os violeiros. Em 1961, a família muda-se para João Pessoa, onde Zé Ramalho passa a infância e conclui os estudos. Nesse período conhece a música da Jovem Guarda, Beatles, Rolling Stones e Bob Dylan. Influenciado por esse universo, aprende violão e depois guitarra, forma vários conjuntos de baile para tocar em festas da cidade. Ingressa na faculdade de medicina, mas a frequenta por apenas um ano, pois decide ser músico.

Com a intenção de iniciar a carreira artística, vai para o Rio de Janeiro e depois para o Recife. Nesta cidade lança, em 1974, com Lula Côrtes o disco Paêbiru, que atualmente é cult e um dos mais raros e caros vinis da MPB. Em seguida ingressa na banda de Alceu Valença, com quem viaja em excursão. Em 1975, após temporada da banda no Rio de Janeiro, permanece residindo na capital fluminense. No ano seguinte, parte em viagem pelo Nordeste a convite da cineasta Tânia Quaresma, recolhendo material entre violeiros e cantadores. Contratado pela CBS em 1978, grava seu primeiro LP, Zé Ramalho, no qual aprofunda as experiências de fusão da música nordestina e o rock e inclui a canção "Avôhai". Produz o disco A Peleja do Diabo com o Dono do Céu, em 1979, com sucessos como "Admirável Gado Novo" e "Frevo Mulher". Casa-se com a cantora Amelinha, para quem compõe "Frevo Mulher".

Nos anos 1980, entre vários discos, A Terceira Lâmina, 1981, é bem recebido pela crítica; em Força Verde, 1982, uma canção recebe acusação de plágio de uma poesia do poeta irlandês William B. Yeats; e "Orquídea Negra", 1983, traz parcerias com Jorge Mautner e Raimundo Fagner. Em 1984, grava Pra Não Dizer que Não Falei de Rock... ou Por Aquelas que Foram Bem Amadas e, um ano depois, De Gosto, de Água e de Amigos. Em Opus Visionário, 1986, apresenta o retorno aos temas místicos. Décimas de um Cantador, 1987, é o último disco da década. Após esse período enfrenta problemas com drogas e se retira para tratamento. Grava Brasil Nordeste, em 1991, Frevoador, em 1992, Cidades e Lendas, em 1996, a coletânea Antologia Acústica, em 1997, e, no ano seguinte, o CD Eu Sou Todos Nós.

Em 2000, o CD duplo Nação Nordestina é indicado ao Grammy Latino. No ano seguinte, tem sua música "Bicho de Sete Cabeças" incluída na trilha sonora do filme homônimo, dirigido por Laís Bodanzki, com interpretação de Zeca Baleiro, e lança Zé Ramalho Canta Raul Seixas, iniciando projeto de intérprete, que se repete com Canta Bob Dylan (2008), Canta Luiz Gonzaga (2009) e Canta Jackson do Pandeiro (2010). Lança ainda O Gosto da Criação (2002), Estação Brasil (2003), Ao Vivo (2005) e Parceria dos Viajantes (2007).

Análise

As relações do rock nos processos de constituição da música popular no Brasil, além de relativamente recentes, são repletas de tensões. A aproximação começa na década de 1960, período em que essa música jovem alcança influência internacional. No Brasil, o impacto é imediato na indústria fonográfica e na recepção de boa parcela da juventude. Os conflitos mais evidentes ocorrem já nessa década, opondo roqueiros e as posturas nacionalistas, vigorosas ainda nos anos 1960 na resistência aos "estrangeirismos". Os defensores de uma suposta música popular "pura e original" acusam o rock de ser nocivo às tradições musicais nacionais. Porém, fugindo desses limites e do conflito central, aparecem vários movimentos culturais e musicais que estabelecem novas experiências e possibilidades de diálogo. Essas manifestações são visíveis na Jovem Guarda, no tropicalismo, em bandas como Mutantes nos anos 1960 e nos grupos Clube da Esquina e Novos Baianos no início dos anos 1970. Nessa época aparece também em alguns estados do Nordeste jovens que buscam estabelecer relações entre a "música nordestina" e o rock, como Alceu Valença, Ednardo, Elba Ramalho e Zé Ramalho. A presença do rock em suas diversas variantes musicais é muito evidente entre esses compositores e intérpretes. Desde a influência dos vocais e guitarras dos Beatles, referência inicial, ao uso permanente de guitarras elétricas, distorções, riffs, passando pelas formas do rock mais experimental e progressivo nos anos 1970. Ao mesmo tempo, seus representantes exploram diálogos permanentes com os "gêneros" da música popular, como samba, baião e choro.

Zé Ramalho é um dos protagonistas desse processo. O início de sua carreira é nitidamente vinculado ao rock e desde então ele procura estabelecer diálogo e fusão com ritmos e formas nordestinas, como embolada, baião, repente e utilizar timbres e instrumentos regionais como rabeca, sanfona e viola. Seus dois primeiros discos, Paêbiru (gravado com Lula Côrtes em 1974) e Zé Ramalho (1978), revelam de modo evidente essa fusão entre a música nordestina e o rock. No caso específico do disco solo, a aproximação é com o rock progressivo, tanto é que ele conta com a participação de Patrick Moraz, ex-tecladista do conjunto inglês Yes. No disco seguinte, A Peleja do Diabo com o Dono do Céu, de1979, essas experiências se aprofundam, realizando uma espécie de eletrificação da antiga tradição nordestina do confronto entre Deus e o diabo que se dá por meio dos repentes. Essas fusões e os diálogos permanecem em toda sua carreira, tornando-se mais fortes ou diluídos de acordo com o projeto. Como intérprete, revela essa ambivalência: ele canta e grava tanto Raul Seixas e Bob Dylan quanto Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.

Uma das características das letras de Zé Ramalho na fase inicial é o tom místico. Na verdade, ele trata também de reunir tradições místicas vinculadas à cultura popular nordestina, como lendas sertanejas, indígenas, afro-americanas, com esoterismos de várias origens muito em voga entre roqueiros da época (espaciais, orientais, africanos). Nesse universo, o contato com as drogas alucinógenas serve como justificativa para aprofundar as experiências. E o uso descontrolado dessas drogas tem vários desdobramentos, como o desentendimento e rompimento com a banda de Alceu Valença nos anos 1970, e o afastamento nas atividades artísticas no fim dos anos 1980 para tratamento.

Essa evidente face roqueira de Zé Ramalho, influenciada principalmente por Bob Dylan, não limita ou domina definitivamente sua obra. Seus vínculos com a música regional do Nordeste e com tradições da música brasileira são reafirmados a todo momento. Revelam-se, por exemplo, nas dezenas de canções diluídas na grande quantidade de discos que produz em sua carreira e se apresentam também na performance de cantor, que sugere o perfil do trovador nordestino. E aparecem de maneira clara em projetos que desenvolve como Brasil Nordeste (1991), Frevoador (1992), Nação Nordestina (2000, indicado ao Grammy Latino como melhor disco de música regional), Estação Brasil (2003), Canta Luiz Gonzaga (2009) e Canta Jackson do Pandeiro (2010).

Além do perfil de certo modo alternativo originário do rock e a glorificação do regionalismo nordestino, Zé Ramalho envolve-se ativamente no mundo do entretenimento. Produz 24 discos, integra dezenas de obras de outros artistas (de Alceu Valença a Chitãozinho e Xororó e em coletâneas de Xuxa, Jackson do Pandeiro e Dorival Caymmi), realiza espetáculos e turnês, participa de festivais de música, faz trilhas sonoras de novelas e compõe melodias que se tornam muito conhecidas, como "Avôhai", gravada pela cantora Vanusa, em 1977. Em seguida, aparecem "Frevo Mulher", sucesso na voz de sua mulher, Amelinha, em 1978, após participação no Festival MPB Shell da TV Globo; e Admirável Gado Novo (1979), redescoberta nos anos 1990 quando é incluída na trilha da novela O Rei do Gado (1996/1997), da TV Globo, e também é interpretada por Cássia Eller. Antes, lança "Mistérios da Meia-Noite" (do disco De Gosto, de Água e de Amigos, 1985) para a trilha da novela Roque Santeiro (1985/1986, TV Globo). Em 1992, grava "Entre a Serpente e a Estrela" (Paul Fraser/Terry Stafford, versão de Aldir Blanc), para a novela Pedra sobre Pedra (TV Globo).

Vários artistas lançam as composições de Zé Ramalho, sobretudo os nordestinos de sua geração, como Fagner ("Eternas Ondas" e "Pelo Vinho, Pelo Pão"); Alceu Valença ("A Dança das Borboletas"); Geraldo Azevedo ("Bicho de Sete Cabeças"); e Elba Ramalho ("Ave de Prata", "Banquete de Signos" e "Chão de Giz").

Músicos reconhecidos, como Hermeto Pascoal, Sérgio Dias, Egberto Gismonti e a cantora lírica Maria Lucia Godoy, também participam de vários de seus discos. Artistas mais jovens, como Zeca Baleiro, Pitty e Chico César, entre outros, mantêm-se interessados em sua obra.

Obras 11

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Fontes de pesquisa 5

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  • ALVES, Luciane. Zé Ramalho: Um Visionário no Século XX. São Paulo, Editora Nova Era, 1997.
  • ALVES, Maria das Dores Valentim. "Tá Tudo Mudando: Um Encontro Poético. Transfigurações da Poesia de Bob Dylan e Zé Ramalho". In: Travessias. Cascavel, PR: Edunioeste, 2009. p. 138-148.
  • DAPIEVE, Arthur. BRock: o rock brasileiro dos anos 80. São Paulo: Editora 34, 1995.
  • SEVERIANO, Jairo. Uma história da música popular brasileira. São Paulo: Editora 34, 2008.
  • TELES, José. Do frevo ao manguebeat. São Paulo: Editora 34, 2000. (Coleção Todos os Cantos).

Como citar

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