Caetano Veloso
![Caetano Veloso, ca. 1997 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/009542001019.jpg)
Caetano Veloso, 1997
Chico Caruso, Caetano Veloso
Litografia, c.i.d.
31,50 cm x 22,50 cm
Texto
Caetano Emanuel Viana Teles Veloso (Santo Amaro da Purificação, Bahia, 1942). Cantor, compositor, produtor, escritor. Caetano Veloso é um dos artistas brasileiros mais controversos e influentes. Tem atuação intensa no meio musical desde meados dos anos 1960. É agitador e debatedor cultural por excelência, sofisticado artesão de canções e artista de presença marcante no palco.
Passa a infância em sua cidade natal e, em 1960, muda-se para Salvador, onde aprende a tocar violão. Entre 1960 e 1962, faz apresentações musicais em bares da cidade com a irmã Maria Bethânia (1946). Inicia a graduação em filosofia, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 1963. Sua estreia acontece em 1967 com o lançamento do LP Domingo, em parceria com Gal Costa (1945).
No mesmo ano, se apresenta no 3º Festival da Música Popular Brasileira da TV Record interpretando “Alegria, alegria” e alcança o quarto lugar. A canção provoca polêmica ao trazer a guitarra elétrica (considerada, à época, uma ameaça à MPB) e versos exaltando a liberdade (uma afronta à ditadura militar1). Essa edição do festival é considerada um marco do movimento tropicalista em curso na música brasileira: Gilberto Gil (1942) conquista o segundo lugar da edição com a canção “Domingo no parque” , acompanhado pelo grupo de rock Os Mutantes, composto por Rita Lee (1947), Sérgio Dias (1951) e Arnaldo Baptista (1948).
Em 1968, lança seu primeiro álbum solo, Caetano Veloso. Nele, o compositor busca captar a complexa realidade de seu tempo em suas contradições e nuanças. Em forma de colagem poética, os refrãos evocam elementos díspares da cultura brasileira — exóticos, sofisticados, cosmopolitas e grotescos — em roupagem carnavalesca. Enquanto o arranjo de Júlio Medaglia (1938) justapõe ritmos nacionais com orquestração sinfônica, o eu-lírico explora os contrastes do país. Na canção “Tropicália”, que abre o disco, ele homenageia uma de nossas manifestações artísticas mais bem-acabadas e modernas, a bossa nova, para, em seguida, “louvar” um de nossos elementos mais rústicos e arcaicos, as palhoças (habitações simples do campo): “Viva a bossa, sa, sa / viva a palhoça, ça, ça, ça, ça”.
A proposição de sincretismos, como “rural” e “urbano”, “nacional” e “estrangeiro”, “popular” e “erudito” etc. é uma característica da Tropicália, movimento construído por Caetano e outros artistas, que procura superar as ideologias das chamadas “tradições nacionais puras'', numa atualização do programa modernista antropofágico de Oswald de Andrade (1890-1954). Agregam-se aos diversos estilos da música brasileira signos estrangeiros e novidades do momento no Brasil e no mundo, veiculadas por meios de comunicação de massa e circuitos de vanguarda.
Na década de 1970, a atividade artística de Caetano é intensa. Exilado em Londres desde 1969 por causa da ditadura militar, registra mais um álbum homônimo e compõe o LP Transa, lançado em sua volta definitiva ao Brasil no início de 1972. Grava oito álbuns solo nessa década, além de discos em parceria com outros artistas, como Gilberto Gil e Chico Buarque (1944). Seu trabalho mais controverso nesse período é Araçá azul (1973), cujo grau de experimentalismo é tão intenso que motiva diversas devoluções, saindo de catálogo temporariamente. Já outros discos, como Muito (dentro da estrela azulada) (1978), têm grande receptividade do público, com clássicos como “Terra” e “Sampa”.
Nos anos 1980, com a carreira consolidada, alcança grandes vendagens, além de realizar turnês no exterior. Outras palavras (1981) inaugura uma nova fase da música de Caetano e chega à tiragem de cem mil cópias, o disco mais vendido do cantor até então. Cores, nomes (1982) é outro álbum importante dessa época. Nele, o compositor explora com afinco o trabalho com a língua, além de trazer a canção “Sina”, composta por Djavan (1949), que cria o verbo “caetanear”. O cantor baiano segue com seu sucesso nos anos de 1990, entre álbuns inéditos, coletâneas e releituras. A música “Sozinho”, composição de Peninha (1953), é o maior êxito comercial de Caetano, parte do disco ao vivo Prenda minha (1998).
Mantendo-se conectado com os rumos da música brasileira, incorpora novas sonoridades no milênio que se inicia, como se pode observar na trilogia composta pelos discos Cê (2006), Zii e Zie (2008) e Abraçaço (2012), que traz uma roupagem de rock eletrônico. Em 2021, depois de um hiato de nove anos, lança Meu coco (2021), com músicas inéditas e autorais. Distribuído em plataformas digitais, o álbum demonstra a inventividade do artista e sua forma de perceber os acontecimentos contemporâneos, falando do mundo sob sua ótica – daí o uso da palavra “coco”, gíria para “cabeça”. A faixa “Anjos tronchos”, por exemplo, aborda o controle que as redes sociais, com seus algoritmos, têm sobre fatos sociopolíticos, em uma dura crítica não à tecnologia, mas ao uso que seus criadores fazem dela. Na ocasião do lançamento, a revista francesa L’Obs escreve que “devemos zelar por Caetano Veloso como zelamos pela Amazônia”, pois ele também seria “um patrimônio mundial”2.
Em quase cinco décadas, Caetano Veloso é uma das personalidades mais marcantes da música popular. Transita por diversos gêneros e temáticas, materializando o espírito tropicalista em trabalhos multifacetados que permitem a fruição em diversos níveis. Realoca informações de diferentes registros sob uma referencialidade particular em suas canções com uma voz inconfundível. É, sem dúvida, um dos grandes personagens da cultura brasileira.
Nota
1.
2. PLISKIN, Fabrice. Caetano fortissimo. L’Obs, 4 nov. 2021. Citado por: MOYSÉS, Adriana. Revista francesa considera Caetano Veloso tão importante quanto Amazônia para patrimônio mundial. RFI, 5 nov. 2021. Disponível em: https://www.rfi.fr/br/podcasts/a-semana-na-imprensa/20211105-revista-francesa-considera-caetano-veloso-t%C3%A3o-importante-quanto-amaz%C3%B4nia-para-patrim%C3%B4nio-mundial. Acesso em: 15 nov. 2021.
Obras 9
Espetáculos 22
Espetáculos de dança 1
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9/8/2006 - 20/8/2006
Exposições 7
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11/12/2013 - 17/2/2012
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11/10/2014 - 23/2/2013
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5/6/2014 - 17/8/2014
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12/3/2015 - 3/5/2015
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 17
- A Descoberta do Luxo, do Som e do Lixo. Palco e Platéia, São Paulo, ano III, no. 14, p. 6, março de 1972. Não catalogado
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- CAETANO Veloso. In: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Cravo Albin. Disponível em: < http://www.dicionariompb.com.br/caetano-veloso/dados-artisticos>. Acesso em: 20 ago. 2012.
- CAETANO Veloso. In: e-biografias-biografia de Caetano Veloso. Disponível em: < http://www.e-biografias.net/caetano_veloso/ >. Acesso em: 22 ago. 2012.
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- FAVARETTO, Celso F. Nos rastros da tropicália. In: Arte em Revista, nº 7, p. 31-37, ago. 1973.
- MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998. R780.981 M321e 2.ed.
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- NAVES, Santuza Cambraia. Objeto não identificado: a trajetória de Caetano Veloso. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 1988.
- NAVES, Santuza Cambraia. Velô de Caetano Veloso. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.
- O REI da Vela. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1967]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
- O REI da Vela. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [2017]. 1 programa do espetáculo realizado no SESC Pinheiros.
- RIBEIRO, Julio Naves. Lugar nenhum ou Bora Bora?: narrativas do rock brasileiros anos 80. São Paulo: Annablume, 2009.
- VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. Companhia das Letras, 1997.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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CAETANO Veloso.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa13935/caetano-veloso. Acesso em: 02 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7