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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Arnaldo Baptista

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 03.04.2017
06.07.1948 Brasil / São Paulo / São Paulo
Arnaldo Dias Baptista (São Paulo SP 1948). Compositor, baixista e pianista.  Filho do jornalista e cantor de coral César Dias Baptista e de Clarisse L. Dias Baptista, pianista clássica e concertista. Com a mãe, aprende desde cedo piano clássico. Em seguida estuda contrabaixo e violão e frequenta cursos de regência e harmonia no Conservatório Mus...

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Biografia

Arnaldo Dias Baptista (São Paulo SP 1948). Compositor, baixista e pianista.  Filho do jornalista e cantor de coral César Dias Baptista e de Clarisse L. Dias Baptista, pianista clássica e concertista. Com a mãe, aprende desde cedo piano clássico. Em seguida estuda contrabaixo e violão e frequenta cursos de regência e harmonia no Conservatório Musical da Pompeia. Na adolescência ouve os músicos de jazz Oscar Peterson, Jimmy Smith e Dave Brubeck, mas são os Beatles a mais significativa influência. Os irmãos Cláudio César e Sérgio Baptista também seguem a carreira musical.

Desde 1966, Arnaldo toca em bandas com várias formações ao lado dos irmãos e amigos, incluindo a banda O'Seis, com o irmão Sérgio, Rita Lee, Rafael Vilardi, Luiz Pastura e Mogly (substituindo Suely), e lança um compacto considerado o embrião de Os Mutantes. No ano seguinte forma o conjunto Os Mutantes, formado por ele, Sérgio, Rita Lee, Dinho e Liminha. A banda é determinante em sua carreira e para a história do rock brasileiro. O conjunto alcança rápida ascensão, com o apoio musical do maestro Rogério Duprat,a participação no movimento tropicalista e apresentação no 3º Festival de Música Popular Brasileira da Record, em 1967, acompanhando Gilberto Gil em Domingo no Parque. Com Os Mutantes, grava oito discos. Em 1971, casa-se com Rita Lee, mas se separam um ano depois. A separação e o uso de drogas provocam desentendimentos na banda, que implica a saída de Rita Lee, em 1972, seguida pela de Arnaldo, em 1973.

No ano seguinte, Arnaldo inicia a carreira solo, com a gravação do disco Loki? (1975), considerado desde logo importante no cenário do rock nacional. Em 1976 integra a banda Patrulha do Espaço, com a qual toca por dois anos e grava dois discos: Elo Perdido (gravado em 1977/1978, mas lançado em 1988) e Faremos uma Noitada Excelente (ao vivo em 1978, divulgado em 1988). Entre 1980 e 1981 grava Singin'Alone, lançado em 1982.

Mas a década de 1980 é complicada para Arnaldo: o envolvimento com as drogas (especialmente o LSD) se aprofunda e é internado pela mãe na seção de psiquiatria do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Ao tentar fugir, sofre grave acidente que o deixa em coma por dois meses. O retorno à vida cotidiana e artística é difícil. Em busca da recuperação, muda-se com Lucinha Barbosa, sua terceira esposa, para um sítio em Juiz de Fora, Minas Gerais, onde vive até hoje. Grava nessa  cidade o Disco Voador (1987). Começa a pintar e desenhar, exibindo suas obras em galerias a partir dos anos 1990. Também passa a escrever ficção como Rebelde entre os Rebeldes, publicado somente em 2008, pela Editora Rocco.

Em meados dos anos 1990 retorna gradativamente às atividades musicais de modo mais sistemático e toma parte de espetáculos em sua homenagem. Lança o álbum Let it Bed (2004), com produção de John Ulhoa (Pato Fu) e Rubinho Trol, e participa do retorno de Os Mutantes (2006), apresentando-se em vários shows no Brasil e no exterior. Em 2008, o diretor Paulo Henrique Fontenelle produz o documentário sobre sua vida: Loki - Arnaldo Baptista.

Análise

A presença do rock'n'roll no quadro de constituiç ão da música popular no Brasil é relativamente recente e repleta de tensões. A aproximação começa nos anos 1960, período em que essa música jovem ganha contornos de um "gênero" e alcança influência internacional. No Brasil seu impacto é imediato na indústria fonográfica e na recepção de parcela da juventude. Os conflitos mais evidentes ocorrem com as posturas nacionalistas, vigorosas nos anos 1960 na resistência aos "estrangeirismos" (assim como ocorre na bossa nova). Os defensores de certa "linha evolutiva" da música popular acusam o rock de ser nocivo às tradições musicais brasileiras. Saltando fora desses limites e conflito central, surgem vários movimentos culturais e musicais que procuram novas experiências e possibilidades de diálogo.

Essas manifestações são visíveis em diferentes movimentos como o tropicalismo e a jovem guarda, e no início dos anos 1970 no Clube da Esquina e nos Novos Baianos. A presença do rock em suas diversas variantes é muito evidente neles todos. Desde a influência dos vocais e guitarras dos Beatles, referência inicial, ao uso permanente de guitarras elétricas, distorções, riffs, passando pelas formas do rock mais experimental e progressivo nos anos 1970. Ao mesmo tempo, seus protagonistas experimentam diálogos permanentes com os "gêneros" de nossa música popular, como o samba, baião, choro. No começo desse processo e de modo central aparece o conjunto paulistano Os Mutantes, formado pelos irmãos Sérgio e Arnaldo Baptista e Rita Lee. Adotado pelo maestro Rogério Duprat, o conjunto é inserido no tropicalismo e nos festivais da MPB, sendo retirado dos limites do rock'n'roll e incluído no universo da música brasileira. E o maestro Duprat diz, no documentário Maldito Popular Brasileiro, que o compositor mais importante nesse processo é Arnaldo Baptista: "A cabeça disso tudo, a cabeça dos Mutantes era o Arnaldo Baptista".

Assim, nos Mutantes ele tem papel central na concepção musical e como principal compositor. Seu irmão mais novo, Sérgio, apesar de compositor, tem características de instrumentista, carreira que desenvolve, e Rita Lee é a intérprete carismática do grupo. Sua sólida formação musical - iniciada com a mãe concertista -, associada ao ímpeto de estimular e arriscar experiências novas, sempre vinculadas à dinâmica do rock, mas em diálogo permanente com a música brasileira, o transforma em um compositor inovador no cenário musical. Com a banda grava oito discos: Os Mutantes (1968), Mutantes (1969), A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (1970), Jardim Elétrico (1971), Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets (1972), Hoje É o Primeiro Dia do Resto de Sua Vida (1972), Build Up (1970), A e o Z (previsto para 1973 e só lançado em 1992) e finalmente Mutantes ao Vivo, gravado no BarbicanTheatre em 2006, com a retomada do conjunto.

O princípio de sua carreira solo, em meados dos anos 1970, é um tanto atribulado em razão dos desentendimentos com a banda e do envolvimento com as drogas. Em 1975 grava o disco Loki?, com arranjos de Rogério Duprat e a participação dos antigos mutantes Dinho, Liminha e Rita Lee em algumas faixas. A divulgação do disco é limitada e o mantém longe do conhecimento do público, o que o transforma em um compositor "maldito". Apesar disso, o disco torna-se referência em sua carreira e na história do rock nacional. Ele contém canções em que revela seu perfil de pianista clássico, como em Honky Tonk e Uma Pessoa Só; baladas roqueiras com letras debochadas como Vou Me Afundar na Lingerie e Será que Vou Virar Bolor; e apresenta o clássico Cê Tá Pensando que Eu Sou Loki?, um samba quase bossa nova.

Seu segundo disco solo, Singin'Alone, é gravado entre 1980 e 1981 e lançado em 1982 pela independente Baratos Afins e, consequentemente, tem circulação limitada. O disco contém a conhecida Balada de um Louco e o irônico "rock-sertanejo" Corta Jaca, mas de modo geral ele tem característica mais soturna e aproxima-se de certas concepções do rock progressivo. Entre os dois discos solos, integra a banda Patrulha do Espaço, com quem  grava, no fim da década de 1970, dois discos (Elo Perdido e Faremos uma Noitada Excelente), mas que por dificuldades e tensões internas do conjunto e da resistência do mercado fonográfico são lançados apenas em 1988.

O intenso envolvimento com as drogas lhe custa, na década de 1980, internamento em hospital psiquiátrico e um grave acidente, seguidos de longo processo de recuperação. O resultado artístico é um retraimento de sua produção. Apesar disso, faz o LP Disco Voador, gravado em condições precárias em 1987 no sítio em Juiz de Fora. Todo esse quadro que inclui discografia de circulação restrita, resistência da indústria fonográfica e do espetáculo, envolvimento com drogas e isolamento colabora para construir certa imagem muito comum no cenário do rock'n'rollde compositor "maldito" e incompreendido.

Depois desse longo período, Arnaldo grava novo trabalho somente em 2004, Let It Bed, produzido por John Ulhoa da banda mineira Pato Fu e Rubinho Trol. Nesse álbum, toca todos os instrumentos. Logo em seguida, retoma Os Mutantes com o irmão Sérgio Dias. Com o novo Mutantes, grava um disco e um DVD ao vivo em Londres, em 2006, e faz dezenas de shows.

Além de Os Mutantes, tem suas canções gravadas por Gilberto Gil, Caetano Veloso, Rita Lee, Tom Zé, Ney Matogrosso, Marisa Monte, Pato Fu e Titãs. A vida de Arnaldo Baptista é objeto de dois documentários: Maldito Popular Brasileiro: Arnaldo Baptista (1990), direção de Patrícia Moran, e Loki- Arnaldo Baptista (2008), direção de Paulo Henrique Fontenelle.

Exposições 5

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Fontes de pesquisa 7

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  • BAY, Eduardo Kolody. Qualquer bobagem: uma história dos mutantes. Dissertação de mestrado, História, UnB, 2009.
  • CALLADO, Carlos. A Divina Comédia dos Mutantes. São Paulo: Editora 34, 1995.
  • DAPIEVE, Arthur. BRock: o rock brasileiro dos anos 80. São Paulo: Editora 34, 1995.
  • LOKI. Arnaldo Baptista. Filme documentário. Direção de Paulo Henrique. 120 min, 2008.
  • PACHECO, Mario, Balada do Louco, edição do autor, 1991.
  • PAIVA, José E. Ribeiro. Os Mutantes: hibridismo tecnológico na Música Popular Brasileira dos anos 60/70. Actas Del VII Congreso Latinoamericano IASPM - AL, La Habana, 2006.
  • SANTOS, Daniela Vieira dos. Não vá se perder por aí: a Trajetória dos Mutantes. Dissertação Mestrado, Sociologia, Unesp - Araraquara, 2008.

Como citar

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