Paulinho da Viola
Texto
Paulo César Baptista de Faria (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1942). Compositor, cantor, instrumentista. Consagra-se como um dos grandes nomes da Música Popular Brasileira (MPB) pelas suas criações, que mesclam uma linguagem moderna e urbana, mas tendo como base o samba tradicional, além de revisitar ritmos como o maxixe e a polca.
Filho mais velho do violonista César Faria (1919-2007), integrante do conjunto Época de Ouro, fundado por Jacob do Bandolim (1918-1969). Começa a tocar violão com 15 anos, influenciado pelo pai. Paralelamente, frequenta as reuniões promovidas pelo pai em sua casa com grandes nomes do choro e do samba do Rio de Janeiro, como Pixinguinha (1897-1973), Jacob do Bandolim e Dino 7 Cordas (1918-2006). Frequenta também os saraus organizados por Jacob.
Com 17 anos, ingressa na ala de compositores da escola de samba União de Jacarepaguá, atuando também como instrumentista. Conhece os compositores Catoni (1930-1999) e Jorge Mexeu, de quem é parceiro e intérprete. Compõe na escola seu primeiro samba, “Pode ser ilusão”, em 1962. Aos 19 anos, emprega-se no Banco Nacional das Minas Gerais, planejando ser economista. Lá encontra o compositor e produtor Hermínio Bello de Carvalho (1935), conhecido dos saraus na casa de Jacob do Bandolim. Iniciam uma parceria com “Duvide-o-dó”, interpretada por Isaurinha Garcia (1923-1993) e Noite Ilustrada (1928-2003), em 1970, e com a música “Valsa da solidão”, gravada por Elizeth Cardoso (1920-1990), em 1985.
A convite de Hermínio, frequenta o restaurante Zicartola, reduto de sambistas, propriedade de Cartola (1908-1980) e sua esposa, Dona Zica (1913-2003). Acompanha os principais nomes do samba do Rio de Janeiro e apresenta suas composições. Ganha ali o apelido de Paulinho da Viola, dado por Zé Kéti (1921-1999) e Sérgio Cabral (1937). Em 1964, um amigo o leva para conhecer a ala de compositores da Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, que já conta com nomes como Monarco (1933-2021), Candeia (1935-1978), Alvaiade (1913-1981) e Ventura (1908-1974).
Como compositor da Portela, em 1966, apresenta “Memórias de um sargento de milícias”, escolhido para ser o samba enredo daquele ano. A escola é campeã e o samba recebe nota máxima. Ainda nesse ano, estreia com o disco Samba na madrugada, dividido com o parceiro Elton Medeiros (1930-2019). A canção “Sinal fechado” ganha o primeiro lugar no festival de MPB da TV Record, em 1969, e é gravada por Martinho da Vila (1938), em 1971.
Ao colocar lado a lado composições novas e de sambistas mais antigos, Paulinho da Viola reconhece a importância da tradição e a diferença de sua obra em relação à da geração anterior. Assim como o conjunto Época de Ouro, grava valsas, choros, polcas e maxixes com a intenção de revisitar os gêneros. Também compõe revendo a tradição do samba e do choro. Suas realizações no choro incluem “Abraçando Chico Soares” (1971) e “Choro negro” (1973), parceria com Fernando Costa (1951). Realiza um disco exclusivo do gênero: Memórias chorando (1976), no qual grava choros autorais, como “Romanceando”, “Rosinha, essa menina” e “Inesquecível”, além de interpretar o consagrado Pixinguinha com “Cinco companheiros”, “Segura ele”, “Cochichando” e o pouco conhecido “Chorando”, de Ary Barroso (1903-1964).
O compositor não escreve como um “sambista de morro”, como são alguns dos grandes sambistas que frequentam sua casa. Sua experiência urbana e individualizada retoma o samba tradicional da comunidade, com poesia moderna e formas mais abertas.
“Para ver as meninas”, “Por um amor no Recife” e “Encontro” são sambas gravados com toques de bossa nova, percebida no acompanhamento do violão, na emissão da voz e na relação entre ambos, notando-se a influência da batida de João Gilberto (1931-2019).
Outra vertente importante são os sambas de crônicas da vida cotidiana do subúrbio carioca, como “Coisas do mundo, minha nega” e “Dona Santinha e Seu Antenor”, de sua autoria, e a parceria “Vela no breu”, com letra de Sergio Natureza (1947), que narra os costumes de um personagem quase mítico da vida boêmia carioca. Outro conjunto de composições é mais próximo da canção, sem categoria definidora no samba tradicional. É o caso de “Sinal fechado” que, com letra em forma de diálogo, parte de uma melodia de samba-canção para resultar em algo novo. Já “Cidade submersa” é um samba-canção, com influência da poesia moderna e harmonia modulante.
Com base na vivência no choro, Paulinho da Viola produz um tipo de samba mais encorpado no requinte melódico e harmônico. Além do coloquialismo vocal bossanovista, estabelece uma ponte com experimentalismos de vanguarda – como em “Sinal fechado”, que dá título ao disco de canções alheias de Chico Buarque (1944), em 1974. O compositor utiliza cravo no lugar de piano em “Meu samba curto” e injeta dissonâncias em gravações como “Consumir é viver”, do compositor Marcus Vinicius (1949), e em suas próprias, como “Roendo as unhas” e “Comprimido”.
Em 1985, recebe o título de Chevalier de L’Ordre des Arts et des Lettres [Cavalheiro da Ordem das Artes e Letras], dado pelo governo francês, e, em 1992, o prêmio Shell de música popular brasileira. Com Bebadosamba (1996), ganha o prêmio Apca de melhor show do ano, em 1997. Recebe a comenda da Ordem do Mérito Cultural, em 2001, e, em 2003, Izabel Jaguaribe (1968) dirige um documentário que traça o perfil do compositor.
Com composições sensíveis, que trabalham com a tradição ao mesmo tempo que inovam, Paulinho da Viola entra para o hall de grandes nomes da Música Popular Brasileira e permanece com uma produção sólida e consistente que atravessa décadas.
Obras 3
Espetáculos 2
Links relacionados 2
Fontes de pesquisa 6
- COUTINHO, Eduardo Granja. Velhas histórias, memórias futuras: o sentido da tradição na obra de Paulinho da Viola. Rio de Janeiro: Eduerj, 2002.
- MÁXIMO, João. Paulinho da Viola: sambista e chorão. Rio de Janeiro: Relume Dumará: Rioarte, 2002.
- NEGREIROS, Eliete. Ensaiando a canção: Paulinho da Viola e outros escritos. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011.
- PEREIRA JUNIOR, Luiz Costa. O mar que me navega: sintonias filosóficas em Paulinho da Viola. Tese de doutorado, São Paulo, 2011.
- SOUZA, Tárik de. Tem Mais Samba: das raízes à eletrônica. São Paulo: Editora 34, 2003. (Coleção Todos os Cantos).
- VIOLA, Paulinho da. Site oficial do artista. Disponível em: http://www.paulinhodaviola.com.br. Acesso em: 10 out. 2011
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
PAULINHO da Viola.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa12592/paulinho-da-viola. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7