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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Zé Kéti

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 05.04.2024
16.09.1921 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
14.11.1999 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica Correio da Manhã/Acervo Arquivo Nacional

Zé Keti, s.d.

José Flores de Jesus (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1921 – Idem, 1999). Compositor e cantor. Cronista da vida nos morros cariocas, voz das mazelas, das desigualdades e também da malícia e da malandragem, Zé Kéti é um dos mais importantes nomes do samba, principalmente da segunda metade do século XX. Suas composições, tão primorosas quanto popu...

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José Flores de Jesus (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1921 – Idem, 1999). Compositor e cantor. Cronista da vida nos morros cariocas, voz das mazelas, das desigualdades e também da malícia e da malandragem, Zé Kéti é um dos mais importantes nomes do samba, principalmente da segunda metade do século XX. Suas composições, tão primorosas quanto populares, transitam livremente entre o lirismo e o engajamento.

A presença da música é marcante no ambiente familiar durante a infância. O pai, o marinheiro Josué Vale de Jesus, toca cavaquinho e seu avô, João Dionísio de Santana, é flautista e pianista. Em casa são frequentes as rodas de choros, com presença de músicos como Cândido das Neves (Índio) (1899-1934) e Pixinguinha (1897-1973). Em 1924, com a morte do pai, passa a morar com o avô. Além do interesse pela música, na infância ganha o apelido de Zé Quieto, que é encurtado para Zé Quéti e, grafado com um K, torna-se o nome artístico.

Aos 13 anos, quando mora no subúrbio de Piedade, é levado por Geraldo Cunha (1937-2019), compositor da Estação Primeira de Mangueira, para assistir aos ensaios da escola de samba. É o primeiro contato com a música do morro. Compõe as primeiras canções na década de 1930, como a marchinha “Se o Feio Adoecesse”, mas esbarra nas dificuldades para conseguir gravá-las. Em 1939, é levado por Luís Soberano (1920-1981) ao Café Nice, na época  ponto de convergência da vida artística do Rio de Janeiro. Lá conhece Lúcio Batista, Francisco Alves (1898-1952) e Geraldo Pereira (1918-1955), estabelecendo uma série de contatos fundamentais para sua carreira.

Sua escolaridade se limita ao curso primário. Ainda muito jovem, trabalha numa fábrica de calçados, até atingir a idade do alistamento militar. Com o envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), se transfere, na década de 1940, para a Polícia Militar (PM) para não ser chamado para a guerra. Quando sai da PM, emprega-se em uma gráfica, mas a vida boêmia provoca constantes atrasos no trabalho e, consequentemente, sua demissão.

Em 1946, trabalha em parceria com Felisberto Martins (1904-c.1980), então diretor artístico da gravadora Odeon, com quem compõe “Tio Sam no Samba”, que é gravado na própria Odeon pelo grupo Vocalistas Tropicais e rende algum dinheiro aos autores. Nesse mesmo ano, Cyro Monteiro (1913-1973) grava o samba “Vivo Bem”, resultado da parceria de Zé Kéti com Ari Monteiro (1905-??). Embora a canção não alcance grande sucesso, tem certo êxito de vendagem.

Frequentador assíduo da noite carioca, o músico chega a compor para diferentes escolas de samba, como a Mangueira, a União de Vaz Lobo e a Portela. Contudo, depois que chega à Portela com o samba “Jequitibá”, vira um portelense apaixonado pela escola, para a qual compõe diversas músicas como “Portela Feliz”, que se torna uma espécie de hino.

Entretanto, em 1950, magoado com as fofocas em torno da autoria de alguns dos seus sambas, se afasta da escola de samba para retornar somente na década de 1960. Passa a compor para a União de Vaz Lobo, na qual fica menos de dois anos. Tempo curto, mas suficiente para compor “Amor Passageiro”, um grande sucesso do Carnaval de 1952 que é gravado por Linda Batista (1919-1988).

Ainda no início dos anos 1950, compõe o samba que se torna um dos seus maiores sucessos, "A Voz do Morro". A música é gravada pelo cantor Jorge Goulart (1926-2012), em 1955, com arranjo de Radamés Gnattali (1906-1988). Esse samba é seguidamente regravado por variados intérpretes, como Guerra-Peixe (1914-1993), em 1960, Demônios da Garoa, em 1961, Elis Regina (1945-1982) e Jair Rodrigues (1939-2014), em 1965, Luiz Melodia (1951-2017), em 1978, e pelo próprio autor, em 1971.

Zé Kéti é ligado ao Cinema Novo, à Bossa Nova e ao Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional de Estudantes (UNE). Com Carlos Lyra (1939-2023) compõe o “Samba da Legalidade”, pela posse do presidente da República, João Goulart (1919-1976). Em meados dos anos 1950, Nelson Pereira dos Santos (1928-2018) começa a rodar o filme Rio, 40 graus (1955), e Zé Kéti, amigo pessoal do cineasta, é convidado para trabalhar como assistente de câmera, mas também contribui com canções que são incorporadas à trilha sonora do filme, como “Leviana”, “Rio, Zona Norte”, “Malvadeza Durão” e “Foi Ela”, além de “A Voz do Morro”, música tema da obra. Participa de outras produções cinematográficas, como O boca de ouro (1963), do mesmo diretor; A falecida (1965), de Leon Hirszman (1937-1987); e A grande cidade (1966), de Cacá Diegues (1940).

Em 1963, surge o Zicartola no Rio de Janeiro, bar inaugurado por Cartola (1908-1980) e sua esposa, Dona Zica (1913-2003), e ponto de encontro de artistas cariocas no início dos anos 1960. Zé Kéti é um representante do samba tradicional do morro carioca e uma referência para os músicos que vêm da Bossa Nova. Das conversas entre os frequentadores do bar, surge a ideia de realização de uma apresentação musical. O resultado é a peça Opinião, de autoria de Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), a partir do samba homônimo de Zé Kéti, e estreia no ano de 1964 em um pequeno teatro de Copacabana, com direção de Augusto Boal (1931-2009) e participação de João do Vale (1934-1996), Ruy Guerra (1931), Nara Leão (1942-1989), Carlos Lyra, Edu Lobo (1943), Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) e Maria Bethânia (1946) (substituindo Nara Leão).

Embalado pelo sucesso da peça e valendo-se dos contatos que estabelece no Zicartola, o compositor organiza uma coletânea dos melhores intérpretes e sambas do morro pela Musidisc. Também apresenta diversos amigos do Zicartola para o diretor artístico da gravadora. É sob influência do músico que Anescarzinho do Salgueiro (1929-2000), Jair do Cavaquinho (1922-2006), Oscar Bigode, Zé Cruz (1927) e Nelson Sargento (1924-1921), Elton Medeiros (1930-2019) e Paulinho da Viola (1942) formam o grupo A Voz do Morro.

No Carnaval de 1967, com Pereira Matos (1910-1966), compõe a marcha-rancho "Máscara Negra". Além de ser um dos maiores êxitos da carreira do músico, essa marcha é uma das mais populares do gênero.

Apesar do sucesso, Zé Kéti não conquista estabilidade econômica. Suas composições que relatam o cotidiano nos morros cariocas, a malandragem e os amores, assumem com o passar do tempo um tom melancólico e fatalista, a exemplo do samba "Não Sou Feliz" e "O Meu Pecado", ambas em parceria com Nelson Cavaquinho (1911-1986).

Zé Kéti deixa uma obra que é referência para muitos artistas e também uma crônica aguçada e sensível de seu tempo. Seu olhar esteve nos morros cariocas, mas refletiu, além deles, todo o povo brasileiro.

Espetáculos 3

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Fontes de pesquisa 6

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  • COLEÇÃO História do Samba. São Paulo, Globo, 1998, Vol. 10.
  • ENCIOPÉDIA da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo, Art, 1977.
  • LOPES, Nei. Zé Kéti samba sem senhor. Rio de Janeiro, Relume Dumará, 2000. Coleção Perfis do Rio.
  • NOVA História da Música Popular Brasileira - Zé Kéti. São Paulo, Abril Cultural, 1970.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
  • TBC apresenta Arena-Opinião. São Paulo: TBC, 1965. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Não catalogado

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