Nelson Sargento
Texto
Nelson Mattos (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1924 - Idem, 2021). Compositor, cantor, artista plástico, escritor e ator. Seu envolvimento com o samba desde os anos 1940, especialmente na escola de samba Estação Primeira de Mangueira, fazem dele uma figura importante para as transformações do gênero, para a evolução do Carnaval carioca e para a história da música brasileira. Apelidado de “filósofo do samba”, grava composições incompletas do compositor Cartola (1908-1980). O vozeirão grave do cantor é uma marca do samba: a elegância de sua interpretação torna-se uma assinatura inconfundível para os amantes do ritmo. A rouquidão que caracteriza sua voz compensa a extensão limitada e evoca a tradição boêmia de mestres como o cantor e compositor Nelson Cavaquinho (1911-1986).
O contato com o samba começa cedo. Nelson desfila desde os 9 anos pela Escola Azul e Branco, do Morro do Salgueiro, onde vive com a mãe e os 17 irmãos. Quando completa 12 anos, a família se muda para o Morro da Mangueira. A mãe se envolve com o compositor de fado e pintor de parede português Alfredo Lourenço (1885-1957), conhecido como Alfredo Português. Nelson o acompanha nos ensaios da extinta Escola Unidos da Mangueira. Aprende a tocar violão com mestres do samba como Cartola, Nelson Cavaquinho e o compositor Geraldo Pereira (1918-1955). Por influência do padrasto e do compositor Carlos Cachaça (1902-1999), integra a ala de compositores da Mangueira em 1942.
Em parceria com Lourenço, compõe dois sambas-enredos para a Mangueira, que vencem o Carnaval: “Apologia ao Mestre” (1949) e “Plano Salte – Saúde, Lavoura, Transporte e Educação” (1950). O samba “Cântico à Natureza” ou “As Quatro Estações do Ano” (1955), composto por Nelson, Lourenço e o sambista Jamelão (1913-2008), é considerado um dos mais bonitos da história da escola verde e rosa, por causa da poesia que relaciona os movimentos da natureza às estações do ano e ao próprio desfile das escolas de samba na avenida. Diz a letra: “Brilha no céu o astro-rei / com fulguração / abrasando a terra / anunciando o verão / outono / estação singela e pura / é a pujança da natura / dando frutos em profusão / inverno / chuva, geada e garoa / molhando a terra / preciosa e tão boa / desponta / a primavera triunfal / são as estações do ano / num desfile magistral”.
Aos poucos, Nelson ascende na Mangueira. Em 1958, torna-se presidente da ala dos compositores. Em 2013, é homenageado com o cargo de presidente de honra da escola. Nos desfiles de 2019 e 2020, ganha papel de destaque, desfilando como personagens protagonistas do enredo: Zumbi dos Palmares e o carpinteiro José (pai de Jesus Cristo), respectivamente.
Nos anos 1960, frequenta as rodas de samba do bar Zicartola, de Cartola e sua companheira, a sambista Dona Zica (1913-2003). Em 1965, ganha visibilidade ao participar do show Rosa de Ouro, produzido por Hermínio Bello de Carvalho (1935), com participação de artistas como os cantores Paulinho da Viola (1942), Elton Medeiros (1930-2019) e Jair do Cavaquinho (1922-2006). As apresentações resultam no lançamento de dois LPs. Com esses três artistas e também com os cantores Anescarzinho do Salgueiro (1929-2000), Zé Keti (1921-1999) e José da Cruz (1927?), integra o grupo Voz do Morro, que lança três álbuns entre 1965 e 1966. Com o grupo Os Cinco Crioulos, com formação que mistura integrantes do Rosas de Ouro e do Voz do Morro, grava três álbuns entre 1967 e 1969.
Em 1979, lança o seu primeiro LP solo, Sonho de um Sambista, que traz sua composição mais notória, “Agoniza mas Não Morre”, um clássico do samba, inspirado na resistência que o ritmo impõe aos preconceitos. Na letra, Nelson diz que o samba sofre repressão nos botequins, nas esquinas e terreiros: “Agoniza, mas não morre / Alguém sempre te socorre / Antes do suspiro derradeiro”. A cantora Beth Carvalho (1946-2019) trata a composição como o hino nacional dos sambistas. Ela é a primeira a gravar a canção, em 1978, no álbum De Pé no Chão.
Outro clássico de seu repertório é “Falso Amor Sincero” (1979). O cantor Martinho da Vila (1938) diz que seu verso preferido na obra de Nelson Sargento está na letra desse samba: “O nosso amor é tão bonito / Ela finge que me ama / E eu finjo que acredito”.
Paralelamente à carreira de músico, desenvolve aptidão para artes plásticas e literatura. A convivência com Lourenço o estimula a pintar quadros. Pinta o apartamento do jornalista e compositor Sérgio Cabral (1937), que o estimula a organizar uma exposição com sete quadros, em 1973. Nessa fase, suas pinturas são abstratas. Em um segundo momento, ele passa a retratar o cotidiano das favelas cariocas, e sua obra é comparada com a do artista Heitor dos Prazeres (1898-1966). Em 2019, 14 quadros seus são expostos no Espaço Favela do festival Rock in Rio.
Nelson também tem livros de poesia publicados. O primeiro, Prisioneiros do Mundo (1994), é lançado por insistência de sua mulher e empresária, Evonete Belizário. Sua obra poética inclui reflexões existenciais e temas relacionados à natureza. A inspiração, tanto para as composições como para as poesias, é a vivência nas ruas e a boemia. Para ele, a diferença entre os dois tipos de criação é que nas músicas a história se desenvolve em oito versos, enquanto na poesia o enredo se desenvolve em várias frases.
A longevidade e a produtividade de Nelson Sargento tornam o compositor um ícone na história do samba. Suas composições são gravadas por alguns dos principais intérpretes do gênero, e versos de suas músicas passam a ser celebrados como clássicos que atravessam décadas.
Obras 1
Exposições 4
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26/11/1984 - 21/12/1984
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9/1/1996 - 25/2/1996
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27/6/2025 - 9/2/2024
Fontes de pesquisa 6
- FERNANDES, Filipe. Sambista Nelson Sargento morre no Rio aos 96 anos. G1, Rio de Janeiro, 27 maio 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/05/27/nelson-sargento-morre.ghtml. Acesso em: 27 maio 2021.
- FORTUNA, Maria. ‘O Brasil agoniza, mas não morre’, diz Nelson Sargento. O Globo, [s.l.], 23 ago. 2019. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/o-brasil-agoniza-mas-nao-morre-diz-nelson-sargento-23890817. Acesso em: 25 maio 2020.
- GRELLET, Fábio. Em “Versátil”, Nelson Sargento, 84, exibe inéditas. Folha de S. Paulo, [s.l.], 5 ago. 2008. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0508200810.htm. Acesso em: 25 maio 2020.
- NELSON Sargento no Morro da Mangueira. Direção: Estevão Ciavatta. Rio de Janeiro: Ravina Filmes, 1997. (21 min), son., color.
- TORRES, Bolívar. Memórias de um Sargento. O Estado de São Paulo, [s.l.], 4 ago. 2012. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,memorias-de-um-sargento-imp-,911033. Acesso em: 25 maio 2020.
- VIANNA, Luiz Fernando. Aos 92 anos, Nelson Sargento continua a exibir vitalidade. Folha de S. Paulo, [s.l.], 28 nov. 2016. Disponível em: http://temas.folha.uol.com.br/100-anos-de-samba/ontem-e-hoje/aos-92-anos-nelson-sargento-continua-a-exibir-vitalidade.shtml. Acesso em: 25 maio 2020.
Como citar
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NELSON Sargento.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa11966/nelson-sargento. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7