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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Carlos Lyra

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 15.04.2024
11.05.1933 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
16.12.2023 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica Correio da Manhã/Acervo Arquivo Nacional

Carlos Lyra, 1962

Carlos Eduardo Lyra Barbosa (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1933 - idem, 2023). Compositor, violonista e cantor. O interesse pelo violão surge com seu tio Edgar, violonista. Na adolescência descobre as canções francesas dos cantores Charles Trenet, Edith Piaf e Jean Sablon. Posteriormente se interessa pelo jazz dos músicos norte-americanos Chet...

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Carlos Eduardo Lyra Barbosa (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1933 - idem, 2023). Compositor, violonista e cantor. O interesse pelo violão surge com seu tio Edgar, violonista. Na adolescência descobre as canções francesas dos cantores Charles Trenet, Edith Piaf e Jean Sablon. Posteriormente se interessa pelo jazz dos músicos norte-americanos Chet Baker, Gerry Mulligan, Stan Kenton e dos compositores Cole Porter, Irving Berlin e George Gershwin.

Das primeiras composições, da década de 1950, destaca-se Menina, apresentada em concurso da TV Rio, por Geraldo Vandré, com o pseudônimo Carlos Dias, em 1954, e depois gravada por Sylvia Telles, em 78 rpm pela Odeon. No ano seguinte, a canção Criticando é lançada pelo conjunto Os Cariocas.

No colégio, Lyra conhece Roberto Menescal, com quem funda, em 1957, uma academia de música, por onde passam Marcos Valle, Nelson Lins e Barros, Edu Lobo, Wanda Sá, Nara Leão, Chico Feitosa e Ronaldo Bôscoli, entre outros alunos. Com Bôscoli, compõe Lobo Bobo, Se É Tarde Me Perdoa, Saudade Fez um Samba e Canção que Morre no Ar, em 1957; e com o cantor Geraldo Vandré as músicas Quem Quiser Encontrar o Amor e Aruanda, em 1958. Mais tarde, João Gilberto inclui a música Maria Ninguém e duas outras da parceria com Bôscoli no repertório do LP Chega de Saudade, considerado um dos marcos históricos da bossa nova.

A convite do dramaturgo Chico de Assis, Carlos Lyra assume a direção musical do Teatro de Arena em São Paulo. Em 1960 realiza a trilha sonora para a peça A Mais Valia Vai Acabar, Seu Edgar, de Oduvaldo Vianna Filho, "Vianinha". Trabalha em parceria com o poeta Vinicius de Moraes, de 1960 a 1963. Essa é a fase mais rica de sua produção, com Você e Eu, Coisa Mais Linda, Minha Namorada, as 16 músicas que se transformam na peça teatral Pobre Menina Rica, o Hino da União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Marcha da Quarta-Feira de Cinzas. Com Nelson Lins e Barros, compõe Só Amor, Caminho do Adeus, De Quem Ama, Nós Dois, Vem do Amor, canções de seu segundo disco, lançado em 1961.

Um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC/UNE), em 1961, torna-se seu diretor musical e traz para o CPC expoentes da música rural como João do Vale, e do samba morro como Zé Keti, Cartola e Nelson Cavaquinho. Ainda em 1961, por ocasião da Campanha da Legalidade, compõe com Zé Keti o Samba da Legalidade. Um ano depois, cria música para os episódios Escola de Samba Alegria de Viver e Couro de Gato, do filme Cinco Vezes Favela, de Joaquim Pedro de Andrade. Escreve Influência do Jazz, uma crítica ao excesso de improvisação utilizada na música popular brasileira da época, apresentada no Festival de Bossa Nova, no Carnegie Hall de Nova York, em 1962.

Compõe com Chico de Assis a Canção do Subdesenvolvido, incluída no disco O Povo Canta (1963), em prol da construção do teatro do CPC/UNE. No ano seguinte, esse disco é retirado de circulação pela censura federal. Apresenta-se com o grupo do saxofonista norte-americano Stan Getz no Brasil, Japão, Canadá e Estados Unidos, em 1965. É o autor da música do filme O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro de Andrade, de 1966. Desse ano até 1971, vive no México, onde lança dois LPs, faz shows de bossa nova, escreve trilhas musicais para filmes, produz jingles, monta a peça Pobre Menina Rica, monta e dirige a peça infantil O Dragão e a Fada e conhece a atriz Katherine Riddell, com quem se casa.

Volta ao Brasil em 1971 e lança o LP E no Entanto É Preciso Cantar, seguido de Eu e Elas (1972), Carlos Lyra (1973) e Herói do Medo (1974). Na década de 1980, faz música para a peça Vidigal (1982), de Millôr Fernandes (1923), e a canção O Negócio É Amar (1983), com letra da compositora Dolores Duran. Nas décadas seguintes, realiza shows pelo Brasil e no exterior, escreve trilhas, lança CDs e um Songbook (1994). Lança, em 2005, o DVD Carlos Lyra - 50 Anos de Música, pelo selo Biscoito Fino, e o documentário Coisa Mais Linda, do diretor Paulo Thiago. Em 2008, publica o livro Eu & a Bossa - Uma História da Bossa Nova e participa dos eventos comemorativos dos 50 anos da bossa nova.

Análise

Os compositores impressionistas franceses Claude Debussy e Maurice Ravel marcam profundamente sua memória musical e até hoje Carlos Lyra não consegue imaginar arte moderna sem as referências dos impressionistas. Identifica-os nas músicas de outros compositores favoritos como Igor Stravinsky, Villa-Lobos, George Gershwin e Tom Jobim. Mais tarde, em conversa com Jobim descobrem que se inspiram nas mesmas fontes eruditas e populares. Quando estuda violão, entra em contato com os prelúdios e choros de Villa-Lobos.

Tom Jobim o descreve como um grande melodista, desenhista, harmonista, rei do ritmo, da síncope, do desenho, da ginga, do balanço, da dança, da lira e acrescenta que enquanto houver música, seus sambas e canções vão continuar a existir pela qualidade, leveza, simplicidade e profundidade.

Passa a se interessar por música brasileira a partir do momento que ouve o cantor e pianista Dick Farney cantando Ser ou Não Ser de Alberto Ribeiro e José Maria de Abreu e Um Cantinho e Você, de José Maria de Abreu e Jair Amorim. É um dos precursores da bossa nova, juntamente com Johnny Alf, João Donato, Luiz Bonfá, João Gilberto e Tom Jobim, Roberto Menescal, Ronaldo Boscoli, Nara Leão.

Há dois vieses em sua obra. Um que é bem ligada à busca da forma na melodia, letra, harmonia, ritmo e interpretação, que é mais lírico e bem comportado, conhecido pela frase "do amor, do sorriso e da flor" da bossa nova. A exemplo de Menina, Maria Ninguém e Lobo Bobo, parceria com Ronaldo Boscoli. E outro com letras ligados à realidade sócio -política brasileira, aos excluídos, ao subdesenvolvimento, que passam a exercer o papel de antítese em relação aos temas bossanovistas. Demonstra uma postura de engajamento político de Carlos Lyra, principalmente depois de musicar a peça Mais Valia Vai Acabar, Seu Edgar (1960), de Oduvaldo Vianna Filho. O Melhor Mais Bonito, É Morrer, em parceria com Vianna, Lugar Bonito e Canção do Subdesenvolvimento, ambas com Chico Assis, Feio Não É Bonito, com Gianfrancesco Guarnieri, e Influência do Jazz, são canções que exemplificam esse seu viés engajado. Essas canções unem, numa síntese, a bossa nova, com seus arranjos e sonoridades modernas, com a letra crítica e política da canção de protesto.

A parceria com Vinícius de Moraes abre um caminho fundamental para a composição musical da Moderna Música Popular Brasileira - MMPB. Nas primeiras músicas de 1961 a forma ainda tem como base na temática bossa nova: Coisa mais bonita é você, assim / Justinho você, eu juro / Eu não sei porque você / Você é mais bonita que a flor / Quem dera a primavera da flor /Tivesse todo esse aroma de beleza / Que é o amor / Perfumando a natureza / Numa forma de mulher (Trecho da música Coisa Mais Linda). As composições seguintes, por volta de 16 músicas deixadas no gravador de Vinícius, se transformam na peça teatral Pobre Menina Rica (1963). Essa peça reproduz a sociedade carioca dos anos 1960, com todo seu charme e contradições sociais. Um dos personagens, o Mendigo Pau de Arara, o retirante que chega do Ceará, cantando o xaxado Comedor de Gilete (Pau de Arara): Eu um dia cansado que tava da fome que eu tinha / Eu não tinha nada que fome que eu tinha / Que seca danada / no meu Ceará / Eu peguei e juntei um restinho de coisas que eu tinha / Duas calça velha e uma violinha / E num pau de arara toquei para cá.

Considera a canção Maria Moita, do mesmo musical, o primeiro manifesto feminista da Bossa Nova: Deus fez primeiro o homem / A mulher nasceu depois / Por isso que a mulher / Trabalha sempre pelos dois / Homem acaba de chegar / Tá com fome / A mulher tem que olhar / Pelo homem / E é deitada, em pé / Mulher tem é que trabalhar. A Marcha da Quarta-feira de Cinzas é a última composição em parceria com Vinícius de Moraes. Inserida no musical cepecista Opinião, dezembro de 1964, muitas pessoas acreditam que essa música é uma canção de protesto ao golpe militar de 1964, mas a composição já tinha sido gravada dois anos antes, pelo próprio Carlos Lyra: Acabou nosso carnaval / Ninguém ouve cantar canções / Ninguém passa mais brincando feliz / E nos corações / Saudades e cinzas foi o que restou.

No CD Carioca de Algema, de 1995, com os parceiros Millôr Fernandes, Paulo Cesar Pinheiro, Heitor Valente, Daltony Nóbrega e algumas músicas somente de sua autoria há um retorno ao lirismo inicial da Bossa Nova. Na canção Em tempo eu te amo, Carlos Lyra faz uma homenagem a cidade do Rio de Janeiro.

Obras 2

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Espetáculos 21

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Exposições 1

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Fontes de pesquisa 14

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  • CASTRO, Ruy. Chega de Saudade: a história e as histórias da bossa nova. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
  • CASTRO, Ruy. Morre Carlos Lyra, compositor histórico da bossa nova, aos 90 anos. Folha de SP, São Paulo, 16 dez. 2023. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2023/12/morre-carlos-lyra-compositor-historico-da-bossa-nova-aos-90-anos.shtml. Acesso em: 15 abril 2024.
  • CONTIER, Arnaldo Daraya. In: Revista Brasileira de História. Edu Lobo e Carlos Lyra: o nacional e o popular na canção de protesto (Os anos 60). vol. 18, n. 35, São Paulo, 1998.
  • CONTIER, Arnaldo Daraya. In: Revista Brasileira de História. Edu Lobo e Carlos Lyra: o nacional e o popular na canção de protesto (Os anos 60). vol. 18, n. 35, São Paulo, 1998.
  • LYRA, Carlos. Bossa Nova, História, Som e Imagem. Spala Editora, São Paulo, SP, 1995.
  • LYRA, Carlos. Eu e a Bossa. Editora Casa da Palavra. Rio de Janeiro, RJ, 2008.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. (Ed.). Enciclopédia da Música Popular Brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo: Art Editora,1977. 2 v.
  • MELLO, Zuza Homem de. Eis aqui os bossa nova. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2008.
  • MIDANI, André. Música, ídolos e poder - Do vinil ao download. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2008.
  • MOURA, Bruno de Freitas. Morre Carlos Lyra, um dos grandes nomes da bossa nova. Agência Brasil, Brasília, 16 dez. 2023. Disponível: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-12/morre-carlos-lyra-um-dos-grandes-nomes-da-bossa-nova#:~:text=Um%20dos%20grandes%20nomes%20da%20bossa%20nova%2C%20o%20cantor%20e,da%20morte%20n%C3%A3o%20foi%20informada. Acesso em: 15 abril 2024.
  • RODA VIVA - Carlos Lyra. Programa da TV Cultura exibido em 31 mar. 2008 - Cultura Marcas, Fundação Padre Anchieta. DVD.
  • SUZIGAN, Geraldo, O Que É Música Brasileira. Coleção Primeiros Passos. Editora Brasiliense, São Paulo, SP, 1990.
  • SUZIGAN, Geraldo. Bossa Nova, Música, Política e Educação no Brasil. Zimbo Edições Musicais. São Paulo, SP, 2ª ed.1990.
  • TATIT, Luiz. O século da canção. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.

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