Edu Lobo
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Biografia
Eduardo de Góes Lobo (Rio de Janeiro, RJ, 1943). Compositor, instrumentista, arranjador, cantor. É criado no Rio de Janeiro e no Recife, onde sempre passa as férias escolares na casa dos tios. Filho do compositor Fernando Lobo (1915-1996), é pai do também compositor e cantor Bena Lobo (1972). Estuda inicialmente acordeom e depois se interessa pelo violão. Apresenta-se em boates em 1961, tendo como parceiros Dori Caymmi e Marcos Valle. Conhece, em 1962, o poeta Vinicius de Moraes (1913-1980) e juntos compõem o samba Só me Fez Bem.
Cursa até o 3º ano de direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ), quando resolve se dedicar exclusivamente à música. Elabora canções de crítica social, aproximando-se de Sérgio Ricardo, João do Valle, Carlos Lyra e Ruy Guerra. Em 1963, escreve trilhas musicais para peças de teatro, como Os Azeredo Mais os Benevides, de Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), proibida pela censura. A música mais famosa da peça, Chegança, é gravada por Elis Regina (1945-1982). Outra música de sucesso, Borandá, que compõe o musical Opinião, é cantada por Nara Leão e posteriormente por Maria Bethânia. Já a música Zambi (com Vinicius de Moraes) serve de inspiração para Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) escrever Arena Conta Zumbi, que estreia no Teatro Arena em 1965, com trilha sonora de matizes bossa-novistas. Upa Neguinho, canção que faz parte da peça, alcança sucesso nacional na voz de Elis Regina.
Edu Lobo participa de festivais e vence, em 1965, com letra de Vinicius de Moraes, o 1º Festival Nacional de Música Popular Brasileira, na TV Excelsior, com Arrastão, interpretada por Elis Regina, que traz uma inovação ao se apresentar com coreografia criada por Lennie Dale (1934-1994). Concorre em outros festivais e, em 1967, vence o 3º Festival da Música Popular Brasileira, na Record, com Ponteio, em parceria com José Carlos Capinan (1941). Edu Lobo, a cantora Marília Medalha (1944) e os grupos vocais Momentoquatro e Quarteto Novo interpretam a canção. E também compõe a trilha sonora da peça Marta Saré, de Guarnieri, tendo como ator principal Fernando Monteiro.
Casa-se em 1969 com a cantora Wanda Sá (1944) e mora em Los Angeles, Estados Unidos, durante dois anos. É nesse momento que estuda música de forma organizada com o norte-americano Albert Harris (1916-2005). Volta ao Brasil em 1971 e troca o palco e a linha de frente dos festivais por um trabalho de bastidor, principalmente fazendo trilhas, orquestrações e arranjos para cinema, balé, teatro e televisão. Entre 1974 e 1975, é responsável pela trilha musical de 12 programas da série Casos Especiais, da Rede Globo. Escreve para o balé Jogos de Dança, do Teatro Guaíra, de Curitiba, em 1980. Em 1982, compõe O Grande Circo Místico, com Chico Buarque (1944). Elabora as trilhas dos filmes O Cavalinho Azul, de Eduardo Escorel, e Imagens do Inconsciente, de Leon Hirszman, ambos de 1984; A Guerra dos Canudos, de Sérgio Rezende, em 1997; O Xangô de Baker Street, de Miguel Faria Jr., em 1999. Novamente com Chico Buarque, em 2001, compõe músicas para o espetáculo Cambaio, de Adriana Falcão (1960), dirigido por João Falcão (1958). Lança o DVD Vento Bravo, em 2007, um documentário sobre sua trajetória artística e o registro do show realizado no espaço Mistura Fina, no Rio de Janeiro, em 2005. Lança o CD Tantas Marés, em 2010.
Comentário Crítico
Edu Lobo faz parte do grupo de compositores da chamada segunda geração da bossa nova. O encontro com o poeta Vinicius de Moraes, em 1961, é fundamental para o desenvolvimento de sua carreira profissional. Possibilita o acesso a compositores como Tom Jobim (1927-1994), Carlos Lyra (1939) e Baden Powel (1937-2000), parceiros principais do poeta, além de outros compositores da bossa nova. Também dialoga com a obra dos compositores Sérgio Ricardo (1932), João do Vale (1934 - 1996) e do cineasta moçambicano Ruy Guerra (1931) e utiliza em suas composições uma temática mais social e motivos da cultura popular.
As férias que passa em Pernambuco, o contato com o frevo, o maracatu, os pregões de vendedores de frutas, a ciranda, o carnaval de rua e o acesso às festas populares tornam-se pontos de referência importantes para suas composições. No Cordão da Saideira, letra e música compostas por Edu Lobo em 1967, fala um pouco desse período: "Tempo da praia / De ponta de pedra / Das noites de lua / Dos blocos de rua / Do susto e a carreira / Na caramboleira do bumba meu boi / Que tempo que foi / Agulha frita, mungunzá / Cravo e canela / Serenata eu fiz pra ela / Cada noite de luar". Encontra quase que intuitivamente um caminho dentro da composição com a mistura de elementos da música nordestina com o conhecimento harmônico desenvolvido pelos compositores da bossa nova. Na música Chegança, em parceria com Oduvaldo Vianna Filho, aparecem na melodia intervalos de quartas aumentadas e sétimas menores, junção de dois modos gregos (lídio e mixolídio), presentes na música nordestina.
Em entrevista à escritora Santuza Cambraia Naves, Edu Lobo fala da importância que a bossa nova teve do ponto de vista formal para a música brasileira: uma revolução harmônica, melódica, poética, vocal e instrumental. Acordes e cadências originais passam a ser utilizados nas composições.
Acredita que suas composições ficam mais elaboradas em relação à melodia e harmonia no momento em que começa a compor no piano. Beatriz, Choro Bandido, Valsa Brasileira e muitas músicas de O Grande Circo Místico são alguns exemplos. Compõe letra e música de Borandá, Candeias, As Mesmas Histórias, Frevo de Itamaracá e também com vários parceiros letristas e poetas. Nas parcerias sempre faz a música. Seus parceiros de composição são Vinicius de Moraes, depois Ruy Guerra, Gianfrancesco Guarnieri, Vianna Filho, José Carlos Capinan, Torquato Neto, Paulo César Pinheiro, Cacaso, Joyce, Ronaldo Bastos, Abel Silva, Aldir Blanc e Chico Buarque. O Grande Circo Místico, de autoria de Jorge de Lima, é sua primeira parceria com Chico Buarque, seguida de outros projetos: Dança da Meia-Lua, Corsário do Rei, musical do dramaturgo e diretor de teatro Augusto Boal, e Cambaio, peça de João Falcão e Adriana Falcão.
Compõe também música instrumental: Água Verde, Casa Forte, Zanzibar, Corrupião, Quase Memória são alguns exemplos. Em 1995, escreve o choro instrumental Perambulando, em homenagem a Tom Jobim, compositor que é referência em sua obra. Em 1981, gravam um disco juntos: Edu & Tom - Tom & Edu.
Na produção de discos, trilhas e apresentações, Edu Lobo sempre se cerca da participação de músicos e arranjadores do cenário artístico brasileiro. Em Dança da Meia-Lua, disco gravado em 1985, os arranjos são do pianista e arranjador Nelson Ayres (1947) e do violonista Paulo Bellinati (1950) e conta com a participação do Grupo Pau Brasil. No CD Cambaio, os arranjos são do maestro Chico de Moraes e Edu Lobo e orquestração e regência de Chico de Moraes.
No CD Corrupião, grava Falando de Amor, de Tom Jobim. Na repetição do tema, apresenta o Prelúdio nº 3, de Villa-Lobos (1887 - 1959), como uma variação ao tema de Jobim. No DVD Vento Bravo, faz uma referência a Villa-Lobos como "o cara que fez a trilha sonora do Brasil". Na Carreira, canção que fecha O Grande Circo Místico, tem como fonte de inspiração O Trenzinho do Caipira, de Villa-Lobos.
Edu Lobo classifica-se essencialmente como compositor. Arranjar, orquestrar, cantar, tocar violão e tocar piano são ramificações e decorrências de seu trabalho.
Obras 56
Espetáculos 26
Links relacionados 2
Fontes de pesquisa 16
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- TATIT, Luiz. O século da canção. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.
- TEIXEIRA, Isabel (Coord.). Arena conta arena 50 anos. São Paulo: Cia. Livre da Cooperativa Paulista de Teatro, [2004]. CDR792A681
Como citar
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EDU Lobo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa12389/edu-lobo. Acesso em: 02 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7