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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Centro Popular de Cultura (CPC)

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.10.2022
1961 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
1964 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
O Centro Popular de Cultura - CPC é criado em 1961, no Rio de Janeiro, ligado à União Nacional de Estudantes - UNE, e reúne artistas de distintas procedências: teatro, música, cinema, literatura, artes plásticas etc. O eixo do projeto do CPC se define pela tentativa de construção de uma "cultura nacional, popular e democrática", por meio da cons...

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Histórico

O Centro Popular de Cultura - CPC é criado em 1961, no Rio de Janeiro, ligado à União Nacional de Estudantes - UNE, e reúne artistas de distintas procedências: teatro, música, cinema, literatura, artes plásticas etc. O eixo do projeto do CPC se define pela tentativa de construção de uma "cultura nacional, popular e democrática", por meio da conscientização das classes populares. A idéia norteadora do projeto diz respeito à noção de "arte popular revolucionária", concebida como instrumento privilegiado da revolução social. A defesa do caráter coletivo e didático da obra de arte, e do papel engajado e militante do artista, impulsiona uma série de iniciativas: a encenação de peças de teatro em portas de fábricas, favelas e sindicatos; a publicação de cadernos de poesia vendidos a preços populares; a realização pioneira de filmes auto-financiados. O engajamento cepecista encontra-se sistematizado no Anteprojeto do Manifesto do Centro Popular de Cultura, de autoria do sociólogo Carlos Estevam Martins (1962), primeiro diretor do CPC. O documento postula o engajamento do artista frente ao quadro político e cultural do país no período e faz o diagnóstico da impossibilidade de uma arte popular fora da política. De acordo com o Anteprojeto, a arte do povo é "de ingênua consciência", "desprovida de qualidade artística e de pretensões culturais", não tem outra função, senão "a de satisfazer necessidades lúdicas e de ornamento". Ao definir a arte como um dos instrumentos para a tomada do poder e o artista como aquele que assume um compromisso, ao lado do povo, o CPC defende um "laborioso esforço de adestramento à sintaxe das massas", mas de modo a tirá-las de seu lugar de alienação e submissão.

A criação do CPC tem lugar no governo de João Goulart (1919 - 1976), em um contexto de forte mobilização política, com a expansão das organizações de trabalhadores, no campo e nas cidades. As classes médias - sobretudo intelectuais e estudantes - estão presentes nos partidos políticos (o Partido Comunista Brasileiro - PCB ocupa lugar de destaque no quadro cultural da época e atrai formadores de opinião, como jornalistas, artistas e profissionais liberais em geral) e em entidades como a própria UNE. A militância política e o engajamento cultural andam de mãos dadas: os temas do debate político ecoam diretamente nas produções artístico-culturais. Essa situação difere da "utopia desenvolvimentista" dos anos  1950, que estimula o diálogo cerrado das vanguardas artísticas - do concretismo, por exemplo - com a técnica, com a indústria e com o mercado. Segundo Carlos Estevam Martins, a idéia do CPC tem origem no interior do grupo paulistano Teatro de Arena, por ocasião de uma temporada no Rio de Janeiro das peças Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri (1934), e Chapetuba F.C., de Oduvaldo Vianna Filho (1936 - 1974). As insatisfações de alguns integrantes do Arena com o próprio grupo, que, apesar dos esforços, permanece um "teatro de classe média", levam à montagem da peça de forte caráter didático A Mais Valia Vai Acabar, seu Edgar, de Oduvaldo Vianna Filho e Chico de Assis, com música de Carlos Lyra (1939), encenada no Teatro da Faculdade Nacional de Arquitetura, no Rio de Janeiro, em 1960. Da concepção da peça é convidado a participar Carlos Estevam, então sociólogo do Instituto Superior de Estudos Brasileiros - ISEB, para que colabore com uma "explicação científica e didática da mais-valia", conceito integrante da teoria marxista. O grupo aí reunido organiza, em seguida, um curso de filosofia com José Américo Pessanha, realizado em auditório cedido pela UNE. Os debates ao longo do curso dão forma à idéia do CPC, que se beneficia de outras experiências, sobretudo a do Movimento de Cultura Popular - MCP, fundado no Recife por Germano Coelho, Ariano Suassuna (1927), Hermilo Borba Filho, Abelardo da Hora (1924), Aloizio Falcão, Paulo Freire (1921 - 1997), Francisco Brennand (1927) e Luís Mendonça. O MCP, ligado à Secretaria de Educação do Município, desenvolve atividades em diversas áreas (mas sobretudo no campo teatral) a partir de um forte programa pedagógico que visa "a elevação do nível cultural do povo".

A influência direta do MCP sobre a concepção do CPC pode ser notada na prevalência do teatro sobre as demais artes, no trabalho coletivo, na defesa do engajamento e da necessidade de conscientização do povo.

Entre dezembro de 1961 e dezembro de 1962, o CPC produz as peças Eles Não Usam Black-Tie e A Vez da Recusa, de Carlos Estevam; o filme Cinco Vezes Favela - que reúne Couro de Gato, de Joaquim Pedro de Andrade (1932 - 1988), Um Favelado, de Marcos Faria, Escola de Samba e Alegria de Viver, de Cacá Diegues (1940), Zé da Cachorra, de Miguel Borges e Pedreira São Diogo, de Leon Hirszman (1937) -; a coleção Cadernos do Povo e a série Violão de Rua, das quais participam Moacir Félix (1926), Geir Campos (1924 - 1999) e Ferreira Gullar (1930). Promove, ainda, cursos de teatro, cinema, artes visuais, filosofia e a UNE-Volante, excursão de três meses pelas capitais do país para contatos com as bases universitárias, operárias e camponesas. Posteriormente, o CPC fortalece a área de alfabetização de adultos e o setor de arquitetura, que funciona fundamentalmente para apoio das montagens teatrais. As oficinas de literatura de cordel contam com a participação de Félix de Athayde e de Ferreira Gullar. O projeto do teatro de rua, de Carlos Vereza (1939) e João das Neves (1935), assim como o teatro camponês, de Joel Barcelos, têm como objetivo levar a arte diretamente ao povo, pela encenação das peças nos locais de trabalho, moradia e lazer. O CPC promove ainda feiras de livros acompanhadas de shows de música - para os quais convidam os "sambistas do morro", Zé Kéti (1921 - 1999), Nelson Cavaquinho (1910 - 1986) e Cartola (1908 - 1980) - que contam com a adesão de Vinícius de Moraes (1913 - 1980). A coleção Cadernos Brasileiros e a Revista Civilização Brasileira, editadas por Ênio Silveira (1925 - 1996), e História Nova, organizada por Nelson Werneck Sodré, sugerem a intensa colaboração entre os intelectuais do ISEB e do CPC. No campo das artes plásticas, de menor destaque que as demais, colaboram Júlio Vieira (1933 - 1999), Eurico Abreu (1933 - 1990), Delson Pitanga e Carlos Scliar (1920 - 2001).

Embora a experiência do CPC tenha dado frutos em outras regiões do país - em Belo Horizonte, por exemplo, onde atua o poeta Afonso Romano de Sant'Ana (1937) -, o seu locus é o Rio de Janeiro. Depoimentos indicam que as tentativas de trazer o CPC para São Paulo, por exemplo, fracassam em função da hegemonia do Teatro de Arena na cidade.

O golpe militar de 1964 traz consigo o fechamento do CPC, a prisão de artistas e intelectuais, e o exílio político. Mesmo assim, ecos do projeto cepecista reverberam em iniciativas posteriores, como no célebre show Opinião, em 1964, de Oduvaldo Vianna Filho, Armando Costa (1933 - 1984) e Paulo Pontes, que reúne Zé Kéti, João do Vale (1934 - 1996) e Nara Leão (1942 - 1989). O espetáculo possui certa  afinidade com o CPC, na medida em que defende ser a arte "tanto mais expressiva" quanto mais tenha uma "opinião", quanto mais se coloque como instrumento de divulgação de conteúdos políticos. A importância da experiência do CPC não deve desviar a atenção de outros movimentos e artistas que atuam na década de 1960, muitas vezes também a partir de um compromisso com a pauta nacional e popular, mas que não aderem ao projeto do grupo cepecista, por exemplo Glauber Rocha (1939 - 1981) e Hélio Oiticica (1937 - 1980). Isto, no entanto, não significa afirmar a falta de conexão entre seus trabalhos e o de integrantes do CPC. Oiticica, por exemplo, projeta a obra Cães de Caça (1961), que contém o Poema Enterrado, de Ferreira Gullar.

Espetáculos 16

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Fontes de pesquisa 7

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  • ARTE EM REVISTA, n. 3. Questão "O popular". São Paulo, Editora Kairós, 1980, 106 pp, il. p&b.
  • BARCELOS, Jalusa. CPC da UNE: uma história de paixão e consciência. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.
  • HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde: 1960/1970. São Paulo: Brasiliense, 1980.
  • HOLLANDA, Heloisa Buarque de; GONÇALVES, Marcos Augusto. Cultura e participação nos anos 60. 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. 101 p. (Tudo é história, 41).
  • MORAIS, Frederico. Cronologia das artes plásticas no Rio de Janeiro: da Missão Artística Francesa à Geração 90: 1816-1994. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995.
  • MOSTAÇO, Edelcio. Teatro e política: Arena, Oficina e Opinião. São Paulo: Proposta, 1982.
  • RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV. Rio de Janeiro: Record, 2000. 458 p., il. color.

Como citar

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