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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Clementina de Jesus

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 13.05.2024
1966
Depois de ter pisado o palco pela primeira vez aos 63 anos de idade, num show da série O Menestrel (1964), e de ter contribuído decisivamente para o sucesso do espetáculo Rosa de Ouro (1965), ambos realizados no Teatro Jovem, no Rio de Janeiro, a ex-empregada doméstica chega ao disco pelas mãos do poeta e produtor Hermínio Bello de Carvalho (193...

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Depois de ter pisado o palco pela primeira vez aos 63 anos de idade, num show da série O Menestrel (1964), e de ter contribuído decisivamente para o sucesso do espetáculo Rosa de Ouro (1965), ambos realizados no Teatro Jovem, no Rio de Janeiro, a ex-empregada doméstica chega ao disco pelas mãos do poeta e produtor Hermínio Bello de Carvalho (1935), o mesmo que fora responsável pelo seu lançamento como cantora profissional.

Clementina de Jesus (Odeon) é um disco cuja intenção inicial é documentar, além da voz, a memória musical de uma personagem emblemática no cenário do samba carioca. "Este disco não esconde a pretensão de abrir um caminho de pesquisa", afirma Hermínio no texto que assina na contracapa do álbum. Inclusive, no final daquele ano, o poeta e compositor promoveria uma audição especial do LP durante o seminário Clementina: Uma Análise, ministrado por ele no Centro de Estudos e Pesquisas Folclóricas da Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro.

A base instrumental do disco é formada por Canhoto (cavaquinho), Dino e Meira (violões), Luiz Marinho (contrabaixo), Elton Medeiros (pandeiro), Jorge Arena (atabaques, caixa e bombo), Marçal (cuíca e pandeiro) e Ary Dailton (tamborim). No coro, Paulinho da Viola (1942), Zezinho, Erasmo Silva (1911-1985) e Copacabana. A direção musical é do Maestro Nelsinho, que incrementa os arranjos de algumas faixas com seus solos de trombone.

Merece especial destaque a participação do cantor e compositor portelense João da Gente, que andava distante dos estúdios de gravação desde os tempos em que atuava no grupo de Paulo da Portela (1901-1949), há mais de duas décadas. Sua presença é notável seja batendo palmas para marcar o ritmo do partido-batucada Piedade (Tradicional), ou do jongo Cangoma me Chamou (Tradicional), seja improvisando versos com Clementina em Barracão É Seu (Tradicional). Nesta última, que tem quase sete minutos de duração, fica evidente uma outra qualidade da cantora: sua inventividade no desafio poético do partido-alto. Na faixa, João e Clementina fazem 16 improvisos. Hermínio chama a atenção dos ouvintes para dois detalhes. “Há um ‘tombo’ de Clementina, quando ela ia rimar ‘dar’ com ‘devagar’, mas acabou se atrapalhando na colocação da variação pronominal, com prejuízo da rima.” Comenta ainda: “Reparem como João segue a escola de Paulo da Portela (vide a música Coleção de Passarinhos) num delírio laudatório: Cartola (1908-1980), Ismael, Paulo, Maestro Fon Fon... O verso do ‘balaio’, dito por João, é aproveitado por Clementina logo adiante, mas ligeiramente modificado”1.

O repertório do disco segue com Tava Dormindo, uma toada (ou moda mineira, conforme indicado no encarte) que a cantora aprendera na infância com seu pai. Na gravação, ela entra cantando a capela e, em seguida, Meira improvisa sobre o acompanhamento de Dino e Canhoto.

A quinta faixa, Orgulho, Hipocrisia, apresenta uma curiosidade. Trata-se de uma versão alterada do samba Quem Espera Sempre Alcança (Paulo da Portela), gravado por Mário Reis (1907-1981), em 1932. Como Clementina costumava cantar apenas a primeira parte, Hermínio, sem saber da existência do registro original, cria versos complementares para a música.

O roteiro prossegue com outra composição de autoria do fundador da Portela. Coleção de Passarinhos homenageia grandes sambistas, comparando-os a pássaros. Lino (o canário) é Heitor dos Prazeres (1898-1966); Mano Rubens (1904-1927) e Aurélio (o curió e o rouxinol, respectivamente) são bambas históricos do Estácio, assim como Bernardo Mãozinha (o gaturamo).

O álbum ainda traz os sambas Garças Pardas (Zé da Zilda, Cartola) e Esta Melodia (Bubu da Portela, Jamelão, 1913-2008), regravada por Marisa Monte (1967) no disco Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão (1994), e a batucada Tute de Madame, que resume a euforia e o entusiasmo provocados pela gravação, com os comentários empolgados que João da Gente faz durante a música. Entre um verso e outro cantado por Clementina, a voz dele se sobrepõe ao restante do coro: “Que bonito!... vam’bora gente!...”.

A faixa de encerramento é Vinde, Vinde Companheiros (Tradicional), uma marcha rancho que remete aos tempos de juventude da intérprete, quando ela participava como pastora dos folguedos natalinos comandados pelo festeiro João Cartolinha, no bairro de Jacarepaguá.

Clementina de Jesus é celebrado pela crítica como um dos principais lançamentos do ano de 1966, cujo repertório é especialmente destacado pela crítica musical da época, como ressalta Sylvio Tullio Cardoso (1924-1967), em O Globo, e Juvenal Portella, no Jornal do Brasil.

Nota

1 ACERVO HERMÍNIO BELLO DE CARVALHO. Disponível em: http://oficinadecoisas.com.br/edicoes-anteriores/. Acessado em: 20 jun. 2013. 

Fontes de pesquisa 8

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  • ACERVO HERMÍNIO BELLO DE CARVALHO. Disponível em: < http://oficinadecoisas.com.br/edicoes-anteriores/ >. Acessado em: 20 jun. 2013.
  • BEVILAQUA, Adriana Magalhães; FELIX, Idemburgo Frasão; AZEVEDO, Lia Calabre de; MARTINS, Maria Tereza de C. Clementina, cadê você? Rio de Janeiro: LBA: Funarte, 1988.
  • CARDOSO, Sylvio Tullio. Discos populares. O Globo, 15 set. 1966.
  • CASTRO, Felipe; MARQUESINI, Janaína; COSTA, Luana; KOBAYASHI, Marina; MUNHOZ, Raquel. Quelé: a voz da cor. Monografia (graduação em jornalismo). Faculdade de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo, 2001.
  • FRIAS, L.; CARVALHO, H. B.; LOPES, N.; ANDRADE, P. C.; COELHO, H. (Org.). Rainha Quelé – Clementina de Jesus. Valença: Editora Valença, 2001.
  • INSTITUTO MEMÓRIA MUSICAL BRASILEIRA. Disponível em: < http://www.memoriamusical.com.br >. Acessado em: 20 jun. 2013.
  • JOTA EFEGÊ (João Ferreira Gomes). Figuras e coisas da música popular brasileira. Vol. 1, 2 ed., Rio de Janeiro: Funarte, 2007.
  • PORTELLA, Juvenal. Clementina no disco mais sério do ano. Jornal do Brasil, 17 ago. 1966.

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