Paulo da Portela
Texto
Biografia
Paulo Benjamim de Oliveira (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1901 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1949). Cantor e compositor. De família pobre, começa a trabalhar cedo, em uma pensão, entregando marmitas em domicílio, estabilizando-se depois na profissão de lustrador. Muda-se com a mãe e a irmã da Saúde para o Bairro de Oswaldo Cruz, no início da década de 1920. Ali passa a integrar o Bloco das Moreninhas, e funda em seguida o bloco Ouro sobre Azul. Frequenta a casa de Ester Maria de Jesus (conhecida também como Ester Maria de Rodrigues), onde se realizam festas de candomblé e rodas de samba. Dona Ester é fundadora do bloco Quem Fala de Nós Come Mosca e em sua casa reúne gente como Pixinguinha, Zé e Zilda, Donga, Gilberto Alves e Ademilde Fonseca.
Em 1922, nasce o bloco Baianinhas de Oswaldo Cruz, na esquina da Estrada da Portela com a Rua Joaquim Teixeira, no qual Paulo toma parte como segundo diretor de harmonia. Recebe aí o apelido de Paulo da Portela e promove noitadas de caxambu, partido-alto e samba de terreiro em sua casa, auxiliado por Antônio Caetano e Antônio Rufino. As reuniões tornam-se muito grandes e os três organizadores alugam uma casa maior na Estrada da Portela. Ali, o sucesso das festas leva à formação do Conjunto Carnavalesco Escola de Samba de Oswaldo Cruz, que tem como presidente Paulo da Portela, secretário Antônio Caetano e tesoureiro Antônio Rufino. A escola é dirigida de forma diferente dos outros blocos e, para escapar da perseguição policial, evitam-se os arruaceiros e os confrontos de rua. Seus dirigentes passam a se vestir com elegância, com terno branco, gravata, sapatos e anéis. Entre algumas mudanças de nome, o conjunto passa a se chamar Vai como Pode e, depois, Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela. Com esse nome vence o primeiro desfile oficial do Rio de Janeiro, em 1935, com o enredo O Samba Dominando o Mundo.
Paulo da Portela é escolhido pelo Cordão das Laranjeiras, em 1936, com patrocínio do Diário da Noite, como "cidadão momo" e é eleito "cidadão samba", em 1937. Participa de uma pioneira excursão ao Uruguai nesse mesmo ano. O reconhecimento público o leva, em 1941, a visitar São Paulo em companhia de Cartola e Heitor dos Prazeres como representante do samba carioca. Na volta ao Rio de Janeiro, para o desfile das escolas, o descontentamento de alguns membros da Portela com a presença de Heitor dos Prazeres e Cartola gera um desentendimento entre os dirigentes em pleno Carnaval, e Paulo da Portela deixa a escola.
Filia-se ao Partido Trabalhista Nacional (PTN), em 1946, mas é um comunista simpatizante, como se diz na época. A Portela segue como uma das principais escolas de samba da capital fluminense e Paulo passa a integrar a Lira do Amor, pequena escola do subúrbio de Bento Ribeiro, da qual se torna presidente. A escola consegue algumas boas colocações nos carnavais de 1946 e 1947, apesar de enfrentar problemas estruturais. Porém, a morte de Caquera, um de seus dirigentes, em pleno desfile, desestabiliza a escola, que não sai no ano seguinte. Paulo da Portela morre vítima de ataque cardíaco, aos 47 anos.
Análise
Na década de 1920, Oswaldo Cruz é um subúrbio habitado por operários e artesãos que utilizam os trens da Central do Brasil para ir ao centro do Rio de Janeiro. Formado por chácaras cortadas por ruas de terra, não há luz elétrica ou água encanada, e os grandes terrenos abrigam agrupamentos de casas, vilas e cortiços. A paisagem é de um ambiente rural, que conserva as formas mantidas pelo produtor português Miguel Gonçalves Portela, dono de um engenho de cana-de-açúcar localizado na região. Os aglomerados de casas favorecem estruturas familiares ampliadas, diferentemente do núcleo tipicamente burguês. A família de Paulo da Portela tem na mãe o esteio - já que o pai se ausenta - e ela instaura a divisão comunal das responsabilidades. Em sua casa, dona Joana tem o costume de acolher todas as pessoas que festejam até tarde.
Isso também ocorre na casa de Ester Maria de Rodrigues, que em eventos religiosos-festivos reúne gente da comunidade, políticos, sambistas do Estácio e líderes religiosos. O bloco mantido por ela é o único da região legalizado com alvará. Diferentemente dos outros blocos, o seu não se desloca ao centro do Rio de Janeiro. Funciona de dia, evitando arruaceiros e recebendo crianças e idosos. É com o alvará emprestado de dona Ester que Paulo da Portela procura levar seu recém-formado Baianinhas de Oswaldo Cruz para brincar na cidade. Mas o descontrole dos participantes e as brigas com outras agremiações fazem com que perca o alvará.
Paulo da Portela passa, então, a lutar pela boa organização de seus blocos, evitando que sofram perseguição policial. Torna-se um dos grandes responsáveis pela construção de estruturas sólidas para os blocos carnavalescos e as futuras escolas de samba. A organização de sua escola em moldes mais modernos trouxe a base para o que se converteria na organização dos desfiles e na evolução. Com isso, a Portela conquista 21 títulos do Carnaval, um recorde. Credita-se também à Portela a introdução em desfile da alegoria, da caixa-surda, do reco-reco, da comissão de frente uniformizada e do apito da bateria.
O músico grava, em vida, apenas três sambas de sua autoria. Em 1931, Mário Reis lança Quem Espera sempre Alcança; em 1938, Carlos Galhardo grava Cantar pra Não Chorar; e, em 1945, Linda Rodrigues apresenta Arma Perigosa, parceria com Paquito. Entretanto, muitas músicas de sua autoria podem estar gravadas em nome de outros compositores. Cocorocó, por exemplo, reivindicado por Heitor dos Prazeres, é gravado pela Velha Guarda da Portela como de autoria exclusiva de Paulo da Portela.
Após sua morte, sambistas ligados à Portela procuram recuperar algumas de suas composições, tornando-se parceiros póstumos, como em Ouro, Desça de Seu Trono (Candeia, 1978), que só possuía a primeira parte. Casquinha também faz a segunda parte de Ópio, gravada em 1988 na homenagem da Velha Guarda a Paulo. Seu samba mais divulgado é Quitandeiro ("Quitandeiro, leva cheiro e tomate / na casa do chocolate que hoje vai ter macarrão"), parceria com Monarco, que faz a segunda parte em 1976, assim como em Esse Mundo É uma Roleta. Quitandeiro recebe gravações da Velha Guarda da Portela, Beth Carvalho, Roberto Ribeiro e do próprio Monarco, entre outros.
Clementina de Jesus é uma grande divulgadora da obra de Paulo da Portela, tendo gravado Pam-Pam-Pam-Pam, também cantada por Jards Macalé, em 1974, Paulinho da Viola, em 1997, e Maria Alcina, em 2003; Coleção de Passarinhos, regravada por Paulinho da Viola em 1997; Orgulho, Hipocrisia, parceria com Hermínio Bello de Carvalho; e Olhar Assim. Beth Carvalho lança a então inédita Linda Borboleta, em 1978; Monarco registra Cavaleiro da Esperança, em 1989, para a qual faz a segunda parte, e Serei Teu Ioiô (1980), também gravada por João Nogueira e o Grupo Fundo de Quintal; e Zeca Pagodinho grava Cantar de um Rouxinol, em 1989. A Velha Guarda da Portela lança um disco inteiro com as composições de Paulo em 1989.
Diversos intérpretes têm se dedicado a gravar as músicas de Paulo da Portela. Cristina Buarque grava com o grupo Terreiro Grande, em 2007, O Meu Nome já Caiu no Esquecimento (composta logo após a saída de Paulo da escola), Teste ao Samba e Tu me Desprezas. Tuco e seu Batalhão de Sambistas registram, em 2010, Não se Deve Contar Glórias (composta após ter sido eleito cidadão samba), Vai como Pode e a marcha-rancho Aí Vem a Primavera.
Paulo da Portela é homenageado em diversas composições entre os integrantes da Portela. Monarco canta em Portela dos Bons Tempos: "Portela, onde estão os teus sambistas / que Paulo ensinou com perfeição"; e Alvarenga, em Homenagem a Paulo: "No Portelão falta estátua / do Paulo da Portela". A famosa Sala de Recepção, "Aqui se abraça inimigo / Como se fosse irmão", é composta por Cartola, seu parceiro em Deus Te Ouça (gravado por Monarco e Doca em 1984), depois de tê-lo recebido em sua casa após o desentendimento que culmina na saída da escola. "Antigamente era Paulo da Portela / agora é Paulinho da Viola / Paulinho da Viola o seu sucessor / vejam que coisa tão bela / o passado e o presente da nossa querida Portela / Paulo com sua voz comovente / cantava, ensinando a gente com pureza e prazer." A homenagem está no samba de Monarco e Chico Santana, De Paulo da Portela a Paulinho da Viola, de 1975. Paulo é homenageado pela escola em 1984, no enredo Contos de Areia, que traz o 21° campeonato para a agremiação. Também é interpretado no cinema por Almir Guineto, no filme Natal da Portela, 1988, de Paulo César Saraceni (1933 - 2012).
Obras 1
Fontes de pesquisa 4
- FARIAS, Edson. Paulo da Portela, um herói civilizador. Caderno CRH, Bahia, Salvador, n. 30-31, p. 177-238, jan.-dez. 1999.
- GUIMARÃES, Fernanda. O samba em pessoa: narrativas das Velhas Guardas da Portela e do Império Serrano. Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, 2011.
- PORTELA, G. R. E.S. Site oficial da escola. Disponível em: <http://www.gresportela.com.br/>. Acessado em 10 out. 2011.
- SILVA, Marília; MACIEL, Lygia. Paulo da Portela: traço de união entre duas culturas. Rio de Janeiro: Funarte, 1989.
Como citar
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PAULO da Portela.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa498479/paulo-da-portela. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7