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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Egberto Gismonti

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 31.01.2024
05.12.1947 Brasil / Rio de Janeiro / Carmo
Egberto Gismonti Amin  (Carmo, Rio de Janeiro, 1947). Compositor, arranjador e multi-instrumentista. De família musical, começa muito cedo a estudar piano no Conservatório de Música da cidade de Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Na capital do estado, é aluno do pianista cearense Jacques Klein e de Aurélio Silveira. Com o tempo e de maneira autodida...

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Biografia

Egberto Gismonti Amin  (Carmo, Rio de Janeiro, 1947). Compositor, arranjador e multi-instrumentista. De família musical, começa muito cedo a estudar piano no Conservatório de Música da cidade de Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Na capital do estado, é aluno do pianista cearense Jacques Klein e de Aurélio Silveira. Com o tempo e de maneira autodidata, aprende a tocar instrumentos como a flauta, mas principalmente o violão, que o acompanha por toda a carreira, tornando-se um virtuose. Em 1968 viaja para Paris para estudar com os compositores Nadia Boulanger (1887 - 1979) e Jean Baraqué (1928 - 1973). No ano seguinte, como regente e arranjador, acompanha a cantora e atriz francesa Marie Laforêt no Teatro Bobino e se apresenta em alguns festivais, como o de San Remo, na Itália.

No Brasil participa do 3º e do 4º Festival Internacional da Canção, respectivamente com as composições O Sonho (1968) e Mercador de Serpentes (1969). Em 1969 grava seu primeiro LP, Egberto Gismonti (Elenco), e no ano seguinte lança Sonho 70 (Polydor). Nos anos 1970 inicia fase muito produtiva, gravando na Europa, Janela de Ouro, Orfeo Novo e Computador, e no Brasil, Água e Vinho (1972), Egberto Gismonti (1973), Academia de Danças (1974), Corações Futuristas (1975), Dança das Cabeças (1976), Carmo (1977), Sol do Meio-Dia (1978), Nó Caipira (1978) e Solo (1979). Os discos dessa década são essencialmente instrumentais e bastante experimentais, transitando pela música eletrônica, atonalismo, jazz, música indígena e novas experiências rítmicas. Neles, o multi-instrumentista se revela, apresenta violões de 8, 10, 12 e 14 cordas com afinações diversas, flautas indígenas, aparelhos indianos entre outros.

Na década seguinte mantém o ritmo criativo na produção de discos e amplia suas experiências com a música indiana e a erudita, o jazz, além de aprofundar antigas parcerias e realizar novas. Grava discos na Europa e no Brasil, como Circense e Sanfona (1980), Em Família (1981), Fantasia (1982), Cidade Coração (1983), Egberto Gismonti (1984), Duas Vozes (1985), Trem Caipira (1985), Alma (1986), Feixe de Luz (1988) e Dança dos Escravos (1989). Nos anos 1990 permanece produzindo discos no Brasil e na Europa pelo selo alemão Edition of Contemporary Music (ECM), com destaque para Meeting Point, de 1997, homenagem a Igor Stravinski (1882-1971), realizado com a Orquestra Sinfônica da Lituânia. Gismonti é um dos primeiros artistas brasileiros a tornar-se proprietário das matrizes de seus discos. No início do século XXI diminui o lançamento de discos, mas continua em plena atividade na gravadora que funda, a Carmo. Por ela pretende aprofundar sua larga experiência na produção musical e divulga trabalhos de André Geraissati, Robertinho Silva, Nando Carneiro e Luiz Eça.

Além das atividades com gravação e espetáculos, faz inúmeras trilhas sonoras para teatro, cinema, balé e especiais de TV. Com o filho Alexandre, lança o disco Saudações, em 2009.

Análise

É difícil enquadrar a obra de Egberto Gismonti nos limites dos gêneros musicais estabelecidos ou em qualquer tipologia. Sua produção apresenta uma indefinição que, no entanto, não é rara na música brasileira. Gismonti é um compositor que se apresenta na tradição iniciada na música brasileira ainda no século XIX, em que as fronteiras entre a música popular e a erudita, a regional, a nacional e a internacional são completamente diluídas. Sua ampla formação musical, a condição de multi-instrumentista e as experiências com diversas tradições o colocam numa encruzilhada de onde partem e para onde convergem vários caminhos e alternativas.

O compositor começa aprendendo música popular com a família e escutando música variada no coreto de sua cidade natal - fato consagrado em seu disco Carmo, 1977. Essa escuta e prática ele carrega e desenvolve a partir dos anos 1960 para o Festival da Canção, na produção e arranjo de vários discos e espetáculos, como os de Maysa, Agostinho dos Santos, Marie Laforêt, Johnny Alf, Flora Purim, Airto Moreira, Marlui Miranda. Na indústria da cultura se realiza plenamente ao formar uma obra em disco e criar trilhas sonoras para o cinema (Raoni, Pra Frente Brasil, Avaeté, Kuarup, Amazônia, Estorvo, Gaijin II), o teatro (Seria Cômico se Não Fosse Sério, Festa de Sábado, Sonhos de uma Noite de Verão),o balé (Corpo de Baile do Teatro Municipal de São Paulo, Teatro Castro Alves, Ballet Stagium, Ópera de Colônia) e a TV. Nesse universo da música popular a influência que recebe é bastante diversificada. No disco Fantasia, de 1982, dá algumas indicações ao dedicar composições a Tom Jobim, Baden Powell (1937-2000) e Luiz Gonzaga (1912-1989). Segundo o próprio autor, o piano e os arranjos de Jobim e o violão de Baden são importantes na sua formação.

Luiz Gonzaga, nesse caso, parece revelar o vínculo e o interesse geral de Gismonti pelos gêneros populares regionais. De maneira explícita ou incidental, esse universo dos "gêneros nacionais" aparece constantemente em suas composições. Nos discos Nó Caipira (1978), Sanfona (1980), Música de Sobrevivência (1993), baseada na poesia do mato-grossense Manoel de Barros, e Saudações (2009) ele surge retratado de forma organizada e intencional. As referências ao maracatu, baião, frevo, lundu, forró, música pantaneira são explícitas, assim como ao sertão, à miscigenação e a instrumentos como a sanfona e o cavaquinho. Mas muitas vezes as citações musicais aparecem de modo sutil e implícito, mescladas a encadeamentos harmônicos dissonantes ou polirrítmicos. Portanto, o "regional" e o "nacional" se diluem e se confundem com as linguagens contemporâneas e internacionais.

Sua relação com a música erudita também começa cedo. Jovem, Gismonti inicia curso regular de piano e de análise musical em conservatório. Já pianista virtuoso, estuda instrumento e composição na Europa e entra em contato com as linguagens da música contemporânea. Com a professora Nadia Boulanger aprofunda estudos de técnica e composição. Com o compositor Jean Baraqué, ex-aluno do compositor austríaco Anton Webern, mergulha no atonalismo. Essas relações com a música erudita são bem evidentes no conjunto da obra, sobretudo nos aspectos da linguagem atonal e das experiências eletrônicas, como revelam os discos Academia de Danças (1974) e Corações Futuristas (1975), marcados ainda pelo jazz fusion. Há também ambientações polirrítmicas e timbrísticas bem características de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), a quem consagra uma releitura de sua obra em Trem Caipira, de 1985, utilizando uma profusão de teclados eletrônicos, e Stravinski, a quem oferece Sagração, em Fantasia. O disco Meeting Point, de 1997, homenagem ao compositor renascentista Carlo Gesualdo e a Stravinski, gravado com a Orquestra Sinfônica da Lituânia, talvez seja o que apresenta as relações mais evidentes com a música erudita.

Essa formação diversificada e ao mesmo tempo especializada está presente em toda sua obra, desde os arranjos até o virtuosismo instrumental. No piano e violão, suas composições e técnica instrumental se aproximam bastante da linguagem villalobiana, principalmente no violão. Este instrumento torna-se central em sua obra, a tal ponto que suas composições estão presentes em salas de concerto. À semelhança de Villa-Lobos, composição e técnica combinam linguagens da música popular urbana e erudita e do folclore. Outra influência é do violonista e compositor cubano contemporâneo Leo Brouwer, que também realiza essas intersecções − em 2008 e 2009, tocam juntos no Festival Leo Brouwer, ocorrido em São Paulo. A música Variações sobre um Tema, de Leo Brouwer (Egberto Gismonti, 1973), é exemplar nesse sentido: inicia com o tema do Estudo Simples IV, do compositor cubano, em solo de violão, seguem teclado e voz, que anunciam Cravo e Canela (de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos), que por sua vez dá lugar a solo de sax com forte acento jazzístico e termina com experiências dissonantes. Em Luzes da Ribalta segue direção semelhante: canção e jazz, nos sopros; melodias e acordes dissonantes, nas cordas.

A curiosidade pelas inúmeras linguagens e experiências musicais o leva ao jazz fusion, ao modalismo, à música indígena, africana e indiana, fato comum entre músicos de sua geração. Desde sempre os instrumentos e os modalismos indígenas e indianos estão presentes em suas composições. Mas tais interesses se apresentam de modo organizado em discos como Sol do Meio-Dia (1978), Kuarup (1989) e Amazônia (1991). Ocorre o mesmo como o jazz fusion contemporâneo, mas que aparece conceitualmente nos discos gravados na Europa com o saxofonista de jazz norueguês Jan Garbarek e o contrabaixista norte americano Charlie Haden. Em Dança das Cabeças, de 1976, inicia parceria com o percussionista Naná Vasconcelos (com quem grava também Duas Vozes, 1985), transitando por ritmos e práticas mais acústicos com voz, violão, percussão, piano, flautas de madeira e corpo.

Apesar da linguagem aparentemente hermética, as composições Palhaço, Karatê, Loro, Baião Malandro, Frevo, Salvador, Sanfona, alcançam sucesso e entram para o repertório de instrumentistas contemporâneos do choro ao jazz. Na primeira década do século XXI, Gismonti diminui sensivelmente a gravação de discos e concentra-se nas atividades da gravadora que funda, a Carmo.

Obras 104

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Espetáculos 10

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Fontes de pesquisa 9

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  • CIRINO, Giovani. Narrativas musicais: performance e experiência na música popular instrumental brasileira. São Paulo, Ed Annablume, 2009.
  • EGBERTO Gismonti. In: KFOURI, Maria Luiza, Músicos do Brasil: uma enciclopédia instrumental. Disponível em: http://www.musicosdobrasil.com.br Acesso em: 15/07/2010.
  • FONTA, Sérgio. [Currículo]. Enviado pelo artista em 2011. Não Catalogado
  • HISTÓRIA da Música Popular Brasileira - Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal, LP, São Paulo, Ed. Abril, 1983.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
  • MELO, Rúrion Soares. O "popular" em Egberto Gismonti. In: Novos estudos CEBRAP, São Paulo, 78, julho 2007, pp. 191-200.
  • RODRIGUES, Késia Decoté. Música popular instrumental brasileira (1970-2005): uma abordagem subsidiada pelo estudo da vida e obra de oito pianistas. Dissertação de mestrado Universidade Federal do Rio De Janeiro - Música, 2006.
  • SERIA cômico se não fosse sério. Sâo Paulo, 1976-1977. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Sesc Anchieta. Não catalogado
  • VILELA Sibila Godoy. Dança das Cabeças: A Trajetória musical de Egberto Gismonti. Dissertação de mestrado, UNI-RIO - Escola de Música, 1998.

Como citar

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