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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Baden Powell

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.06.2024
06.08.1937 Brasil / Rio de Janeiro / Varre-Sai
26.09.2000 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Baden Powell de Aquino (Varre-Sai, Rio de Janeiro, 1937 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000). Violonista, compositor, arranjador, cantor. Mestre do violão e criador dos afro-sambas, é um dos músicos brasileiros de maior renome no exterior. Embora frequentemente associado à bossa nova, possui um estilo particular, com seu toque vigoroso, de ar...

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Baden Powell de Aquino (Varre-Sai, Rio de Janeiro, 1937 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000). Violonista, compositor, arranjador, cantor. Mestre do violão e criador dos afro-sambas, é um dos músicos brasileiros de maior renome no exterior. Embora frequentemente associado à bossa nova, possui um estilo particular, com seu toque vigoroso, de articulação clara.

Sua família se muda para o Rio de Janeiro quando ele ainda é bebê, fixando-se em Vila Isabel e depois em São Cristóvão, onde frequenta tradicionais rodas de choro. Neto de Vicente Tomás de Aquino, primeiro maestro negro do interior fluminense, e filho de Luiz Aquino, seresteiro e violinista amador, começa a tocar violão aos 8 anos, tendo aulas com o violonista Meira (1909-1982). Aos dez, vence o programa de calouros Papel Carbono, na Rádio Nacional, tocando a peça “Magoado”, de Dilermando Reis (1916-1977). Em 1951, forma-se na Escola de Música do Rio de Janeiro e no ano seguinte, começa a atuar profissionalmente em casas noturnas cariocas, tocando um repertório que inclui música brasileira, bolero e jazz. Nos anos 1950, integra a orquestra da Rádio Nacional e acompanha diversos cantores em gravações e em shows pelo Brasil.

Seus afro-sambas mesclam a herança africana do candomblé, da capoeira e dos sambas de roda a elementos do samba carioca e da música popular urbana em geral. Compõe sua primeira canção em 1956, “Samba triste”, parceria com Billy Blanco (1924-2011), gravada por Lúcio Alves (1927-1993). Já é reconhecido no meio musical quando grava seus primeiros discos solo: Apresentando Baden Powell e seu violão (1960) e Um violão na madrugada (1961).

Em suas composições, mistura elementos jazzísticos, melodias de choro, ritmos afro-brasileiros e contrapontos bachianos. Apesar dessas inúmeras influências, é no samba que o compositor encontra seu arrimo. O gênero funciona em sua obra como um centro de referência em torno do qual circulam diversos estilos, o que se nota tanto nas citações de outros gêneros musicais dentro do samba, quanto na influência do samba dentro desses outros gêneros.

Mas é a parceria com Vinícius de Moraes (1913-1980), iniciada em 1962, que leva seu nome ao grande público. Nesse ano, a dupla compõe “Deve ser amor” e “Consolação”, ambas incluídas no disco Do the Bossa Nova (1962), internacionalmente. Tem seu “Samba triste” incluído no LP Jazz samba (1962), de Stan Getz (1927-1991) e Charlie Byrd (1925-1999), e grava Baden Powell Swings With Jimmy Pratt (1963).

Depois de lançar seu quarto disco, Baden Powell à vontade (1964), e de participar como violonista e compositor das doze faixas do disco Vinícius e Odette Lara (1963), realiza sua primeira viagem a Paris, onde permanece por mais de um ano, apresentando-se no Teatro Olympia. Ali, grava Le monde musical de Baden Powell (1964), o primeiro de uma série de discos lançados pela gravadora Barclay.

De volta ao Rio de Janeiro, conclui com Vinícius de Moraes a composição dos oito afro-sambas gravados no disco Os afro-sambas de Baden e Vinicius (1966), que conta com arranjos de Guerra-Peixe (1914-1993), vocais do Quarteto em Cy e uma seção de percussão que inclui instrumentos rituais como atabaques, afoxé, agogê e bongô, além do violão de Powell. “Canto de Xangô”, por exemplo, mistura toques do candomblé, executados pela percussão, a um acompanhamento chorístico realizado pelo violão que, além dos acordes, toca também a linha do baixo. Tudo isso somado a uma melodia pentatônica1, que reforça a “africanidade” da canção, e a contracantos jazzísticos da flauta. Na época em que compõe os afro-sambas, Powell tem aulas de composição com Moacir Santos (1926-2006), que pesquisa as relações da música modal2 com a cultura negra.

Ao longo dos anos 1970, fixado na capital francesa, continua a se apresentar como solista e a gravar discos como As músicas de Baden Powell e Paulo Cesar Pinheiro: os cantores da Lapinha (1970). Ao lado de Paulo César Pinheiro (1949), seu segundo maior parceiro, retoma suas raízes suburbanas, compondo sambas mais próximos da linguagem popular, como “Lapinha”, “Vou deitar e rolar” e “Cai dentro”, sucessos na voz de Elis Regina (1945-1982). Algumas de suas obras têm clara influência do repertório violonístico erudito, como “Crepúsculo” e “Último porto”, ambos gravados no disco Estudos (1971). Outras têm influência da tradição chorística, como seu “Choro para metrônomo”.

Mesmo nas canções, percebe-se a influência da música instrumental, como no “Samba em prelúdio”, parceria com Vinícius de Moraes. Composta sobre o tema do prelúdio das Bachianas n° 4, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), que por sua vez se baseia numa fuga do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750), a canção possui duas melodias cantadas em contraponto, composição considerada como uma das mais sofisticadas da música popular brasileira.

Em 1984, muda-se para Baden-Baden, na Alemanha, retornando definitivamente para o Rio de Janeiro cinco anos mais tarde. Ao longo dos anos 1990, continua gravando regularmente, destacando-se o álbum Baden Powell e filhos (1995), acompanhado pelos seus filhos Philippe, pianista, e Louis Marcel, violonista. Sua última gravação é o álbum-solo Lembranças (2000), em que interpreta 11 canções que ouvia na infância.

O legado de Baden Powell para a música brasileira se nota na síncope sofisticada entre o popular, os ritmos afro-brasileiros e o erudito, bem como na influência que exerce não só sobre violonistas de todos os estilos, mas também sobre compositores e músicos de diversas gerações.

Notas

1.  Pentatônico: baseado na escala de cinco sons, ou pentatônica, que se caracteriza pela ausência de semitons.

2. Modal: baseados em modos, como são genericamente denominadas todas as escalas que não pertencem ao sistema tonal

Obras 107

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Fontes de pesquisa 6

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  • DREYFUS, Dominique. O violão vadio de Baden Powell. São Paulo: Ed. 34, 1999.
  • KERNFELD, Barry. "Baden Powell". Grove Music Online. Disponível em: <www.oxfordmusiconline.com>. Acesso em 3 jun. 2013.
  • KUEHN, Frank M.C. "Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os "afro-sambas". In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2002, p.94-103.
  • POWELL, Baden. Site oficial do artista. Disponível em: <www.badenpowell.com.br>. Acesso em: 02 jul. 2013.
  • POWELL, Philippe Baden. Brazil on Guitar. Site dedicado à obra de Baden Powell. Disponível em: <www.brazil-on-guitar.de>. Acesso em: 03 jul. 2013.
  • SCHROEDER. J. L. "Corporalidade musical na música popular: uma visão da performance violonística de Baden Powell e Egberto Gismonti". Per Musi. Belo Horizonte, n.22, 2010, p.167-180.

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