Billy Blanco
Texto
William Blanco de Abrunhosa Trindade (Belém, Pará, 1924 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011). Compositor, cantor, instrumentista, arquiteto. Desde a adolescência, dedica-se à música e à poesia e participa de programas de rádio em Belém. Em 1946, em São Paulo, estuda arquitetura na Universidade Presbiteriana Mackenzie (FAU/Mackenzie). Dirige a parte de música popular do show de abertura da Mac-Med, competição entre os alunos da Faculdade de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP). Muda-se para o Rio de Janeiro em 1948, e continua os estudos na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil, diplomando-se em 1950. Dedica-se à música, mas nunca abandona a profissão de arquiteto.
Sua carreira artística inicia nos anos 1950 com o Sexteto Billy Blanco. As primeiras músicas são gravadas pela então namorada Dolores Duran (1930-1959), “Outono”, e por Linda Batista (1919-1988), “Prece de um Sambista”, ambas em 1952. Inezita Barroso (1925-2015) registra “Estatutos da Gafieira”, em 1954. Também em 1954, compõe com Tom Jobim (1927-1994) a música “Tereza da Praia”, sucesso na voz dos cantores Dick Farney (1921-1987) e Lúcio Alves (1927-1993). Billy Blanco e Tom Jobim lançam o disco Sinfonia do Rio de Janeiro (1954), com arranjos de Radamés Gnatalli (1906-1988). Algumas canções desse disco fazem parte da trilha sonora do filme Esse Rio que Eu Amo (1961), do diretor Carlos Hugo Christensen (1914-1999).
Compõe “Samba Triste”, em 1956, em parceria com o violonista Baden Powell (1937-2000). Em 1965, participa do 1o Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, São Paulo, com a canção “Rio do Meu Amor”, interpretada por Wilson Simonal (1939-2000), que se classifica em 5º lugar. Em 1966, no 1o Festival Internacional da Canção da TV Globo, Rio de Janeiro, obtém 4º lugar na classificação geral com o samba “Se a Gente Grande Soubesse”, interpretado pelo filho Billy Blanco Jr., e Quarteto em Cy. Em 1968, na Bienal do Samba da TV Record, São Paulo, classifica em 4o lugar o samba “Canto Chorado” na voz de Jair Rodrigues (1939-2014).
Participa das trilhas sonoras para os filmes Carnaval Atlântida (1952), de José Carlos Burle (1910-1983), e Crônica da Cidade Amada (1965), de Carlos Hugo Christensen.
Compõe a trilha sonora para a peça Chico do Pasmado, do autor Aurimar Rocha (1934-1979), em 1965. Nesse ano, escreve letras em português para canções do musical Noviça Rebelde (The Sound of Music), e para a comédia musical norte-americana do escritor Shepherd Mead (1914-1994), Como Vencer na Vida sem Fazer Força (How to Succeed in Business Without Really Trying). Em 1996, publica pela Editora Record o livro Tirando de Letra e Música.
Em 2002, a gravadora Biscoito Fino lança o CD A Bossa de Billy Blanco, com sucessos como os sambas “Estatutos da Gafieira”, “Pistom de Gafieira”, “Rio do Meu Amor” e “Samba Triste”.
Análise
Billy Blanco é um dos precursores da bossa nova, juntamente com o compositor Johnny Alf (1929-2010), o cantor e pianista Dick Farney e o compositor João Donato (1934). Suas canções apresentam leveza em comparação às músicas brasileiras do início dos anos 1950 nas quais dominam o pessimismo e as letras melodramáticas. Cria um estilo próprio, descrevendo com sutileza as situações do cotidiano. A carreira como compositor começa nos anos 1950, com gravações de Dick Farney, da cantora Dóris Monteiro (1934) e do grupo vocal Os Cariocas (1946), com o samba-choro “Mocinho Bonito” (1956) e o samba” Não Vou pra Brasília” (1957).
Seu primeiro sucesso é “Os Estatutos da Gafieira”, gravado por Inezita Barroso, em que critica os costumes da época:
Moço
Olha o vexame
O ambiente exige respeito
Pelos estatutos
Da nossa gafieira
Dance a noite inteira
Mas dance direito.
Com Tom Jobim compõe “Tereza da Praia”, canção encomendada por Dick Farney para cantar em dupla com Lúcio Alves com o objetivo de mostrar ao público o bom relacionamento com ele. Na época, os dois intérpretes dividem seus admiradores de forma semelhante ao que acontece com as cantoras Marlene (1922-2014) e Emilinha Borba (1923-2005) durante os programas da Rádio Nacional. “Tereza da Praia” é um samba canção com letra bem humorada, um diálogo que conta a disputa de uma garota por dois rapazes:
– Oh, Dick?
– Fala, Lúcio
– Arranjei novo amor no Leblon
– Não diga!
– Que corpo bonito, que pele morena
[...]
– Oh, Lúcio?
– Fala meu irmão
– Ela tem um nariz levantado?
–Tem
– Os olhos verdinhos?
– É mesmo
A segunda composição da dupla é a “Sinfonia do Rio de Janeiro”, peça sinfônica popular para exaltar as belezas da cidade carioca. A exaltação fala do mar, das montanhas, do sol e do cotidiano. A ideia nasce quando Billy Blanco está em um lotação, indo da Praça Mauá para Ipanema. Ao entrar na Av. Atlântica, a montanha, o sol e o mar de Copacabana abrem-se à sua frente e cria a frase musical já com a letra: Rio de Janeiro, que eu sempre hei de amar / Rio de Janeiro, a montanha, o sol, o mar.
Compõem no início de 1954 e gravam somente no final desse ano com o nome de “Sinfonia Rio de Janeiro – a montanha, o sol, o mar, suíte popular em tempo de samba”. Além do tema-síntese, A Montanha:
No alto, bem alto, tão alto
Pertinho do Sol que ilumina este mar
Mantendo a seus pés a beleza,
Sua grande riqueza é a luz do olhar,
escrita para coro e orquestra, apresenta mais 11 temas, interpretados por oito cantores e um grupo vocal. Entre os temas, estão Hino ao Sol, gravação original de Dick Farney:
Eu quero
Morrer num dia de sol
Na plenitude da vida
Tão bela e querida
Que acaba amanhã
e Arpoador, gravação original de Lúcio Alves:
Arpoador
Meu cantinho de areia
O cartão de visita da Zona Sul
Convidando a sereia.
Os arranjos são do maestro Radamés Gnatalli e além de Dick Farney e Lúcio Alves, estão entre os cantores: Gilberto Milfont (1922), Nora Ney (1922-2003), Elizeth Cardoso (1920-1990), Dóris Monteiro (1934), Jorge Goulart (1926-2012), Emilinha Borba e o grupo vocal Os Cariocas.
Norival Reis (1924-2001), técnico de som da gravadora Continental, grava a orquestra sinfônica e dez artistas de uma só vez, utilizando apenas um canal. Faz também uma matriz com a orquestra, o que lhe permite colocar outras vozes no mesmo arranjo, pois com o tempo a primeira gravação perde qualidade. O disco não é sucesso de vendas, mas possibilita que os autores fiquem conhecidos, ao lado de Ary Barroso (1903-1964), Dorival Caymmi (1914-2008), Ataulfo Alves (1909-1969) e Antônio Maria (1921-1964) .
Outra canção com Tom Jobim é “Esperança Perdida” (1955):
Quanta esperança perdida
Mas felizmente é assim
O tempo passa
Com ele a vida
E a vida um dia tem fim.
Escreve “Sinfonia Paulistana – Retrato de uma Cidade” (1974), espécie de memória musical da cidade de São Paulo. Compõe 15 temas e conta com a participação de vários cantores, entre eles: Pery Ribeiro (1937-2012), Claudia (1948) e Elza Soares (1937). A produção é de Aloysio de Oliveira (1914-1995) e os arranjos do maestro Chico de Moraes (1937). Os dois temas mais conhecidos são Tema de São Paulo:
São Paulo que amanhece trabalhando
São Paulo que não sabe adormecer
porque durante a noite
Paulista vai pensando nas coisas
Que de dia vai fazer
e Amanhecendo:
Começou um novo dia
Já volta quem ia, o tempo é de chegar
De metrô chega primeiro
Se tempo é dinheiro, melhor vou faturar... Vambora, vambora
Olha a hora, Vambora, Vambora
Vambora.
Compõe também a sinfonia “Guajará – Suíte de Arco-íris” (1993), em homenagem a Belém, sua terra natal. São 14 músicas e um tema que falam sobre a floresta, os bichos, o rio, as frutas, os costumes, as lendas e a infância do compositor. Os arranjos são do pianista Gilson Peranzzetta (1946) e entre os intérpretes estão os cantores: Pery Ribeiro, Leila Pinheiro (1960) e os grupos MPB4 e Quarteto em Cy. Na faixa “O Círio”, ele escreve:
Minha terra é toda feita de cantiga
Cada canto de Belém um canto é
Vento manso, chuva certa
E a saudade, quando aperta
Da mangueira, o açaizeiro, o igarapé.
Com o violonista Baden Powell, compõe “Samba Triste”. É possível observar em nas letras a recuperação do cotidiano prosaico, do coloquial, e a utilização de um vocabulário reduzido:
Samba triste
A gente faz assim:
Eu aqui
Você longe de mim, de mim
Alguém se vai
Saudade vem
E fica perto
Saudade, resto de amor
De amor que não deu certo.
Obras 3
Fontes de pesquisa 15
- BILLY Blanco. Site Oficial do Artista. Disponível em: < http://www.musicabrasileira.net/billyblanco/ >. Acesso em: 15 mar. 2010.
- BLANCO, Billy. In: DICIONÁRIO Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro, s.d. Disponível em: < http://www.dicionariompb.com.br/billy-blanco >. 17 mar. 2010.
- BLANCO, Billy. Tirando de letra e música. Rio de Janeiro: Record, 1996.
- CABRAL, Sérgio. Antônio Carlos Jobim: uma biografia. Rio de Janeiro: Lumiar, 1997.
- CAMPOS, Augusto de. Balanço da bossa e outras bossas. São Paulo: Editora Perspectiva, 1968.
- CASTRO, Ruy. A onda que se ergueu no mar - Novos mergulhos na bossa nova. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
- CASTRO, Ruy. Chega de Saudade: a história e as histórias da bossa nova. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
- JOBIM, Paulo - coordenação. Cancioneiro Jobim - vol. 1. Rio de Janeiro: Jobim Music, 2001.
- MELLO, Zuza Homem de. A era dos festivais: uma parábola. São Paulo: Editora 34, 2003.
- MELLO, Zuza Homem de. Eis aqui os bossa nova. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2008.
- Morre compositor Billy Blanco. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,morre-compositor-billy-blanco,742375,0.htm Acesso em: 08/07/2011.
- RIBEIRO, Solano. Prepare seu coração. São Paulo: Geração Editorial, 2003.
- SANT’ANNA, Afonso Romano de. Música popular e moderna poesia brasileira. Rio de Janeiro: Vozes, 1986.
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
- TATIT, Luiz. O século da canção. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.
Como citar
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BILLY Blanco.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa530871/billy-blanco. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7