Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Donga

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 11.01.2024
05.04.1890 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
25.08.1974 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Ernesto Joaquim Maria dos Santos (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1890 – Idem, 1974). Compositor, instrumentista. Pertence à geração de músicos conhecida por dar forma ao que se entende modernamente por samba. Composta por nomes como Pixinguinha (1897-1973), são um marco na história da música popular brasileira.

Texto

Abrir módulo

Ernesto Joaquim Maria dos Santos (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1890 – Idem, 1974). Compositor, instrumentista. Pertence à geração de músicos conhecida por dar forma ao que se entende modernamente por samba. Composta por nomes como Pixinguinha (1897-1973), são um marco na história da música popular brasileira.

Sua mãe, chamada de Tia Amélia, é uma das figuras-chave do grupo das "baianas do bairro da Cidade Nova", do qual também faz parte Tia Ciata (1854-1924). Além da organização de festas, rodas de música, cultos religiosos afro-brasileiros, ela colabora na fundação de blocos e ranchos carnavalescos, dos quais Donga participa ainda menino.

É nesse ambiente que se dá sua formação musical. Na casa de Tia Ciata, convive com os aspectos das culturas afro-americana e rural que ainda persistem, de modo transformado, nas primeiras décadas do século XX e que se revelam em algumas de suas composições. Essas características podem ser identificadas no jongo "Sai, Exu" (1922), parceria com China (1888-1927), e no ponto de macumba "Que querê" (1932), com João da Baiana (1887-1974) e Pixinguinha.

Donga aprende a tocar cavaquinho e violão ainda na infância e compõe suas primeiras canções na adolescência. É com o grupo de jovens músicos que frequentam a casa das tias baianas que inicia a vida artística. Entre 1913 e 1914, com o pseudônimo Zé Vicente, junta-se aos amigos Pixinguinha e Caninha (1883-1961) para compor o Grupo do Caxangá, liderado por João Pernambuco (1883-1947), que se dedica aos temas nordestinos, como é moda na época. Cerca de dois anos mais tarde, após reunião festiva na casa de Tia Ciata, compõe “Pelo telefone” (1916), com Mauro de Almeida (1882-1956), baseada nas várias referências musicais presentes nos encontros. A canção se torna um marco na história do samba urbano. O sucesso que alcança no ano de 1917, a polêmica que envolve a composição da canção e a bibliografia produzida posteriormente em torno dela são registros que evidenciam sua importância.

A polêmica gira em torno da disputa pela autoria, que não seria exclusivamente de Donga, mas coletiva. Além disso,a canção contém um refrão popular do Nordeste (“Olha a rolinha, sinhô, sinhô…”). Desse modo, Donga teria se apropriado de criações coletivas e anônimas, registrando-as em uma nova forma de "samba". O quebra-cabeça melódico e poético formado pelas diversas peças que constituem “Pelo telefone” teria sido organizado e recomposto por Mauro de Almeida, que ganha coautoria da obra.

“Pelo telefone” é um marco da moderna música popular urbana. Recebe o selo de "samba carnavalesco" no disco, fato raro no início do século XX, já que, nessa época, o samba é um gênero ainda não bem definido e pouco atraente do ponto de vista comercial. O registro da partitura da canção na Biblioteca Nacional (BN) revela uma postura de "compositor moderno", que identifica a autoria individual para assegurar seus direitos sobre a obra e obter retorno financeiro. A partitura manuscrita para piano é registrada em novembro de 1916 e a primeira editada para divulgação comercial é registrada no mês seguinte. Em janeiro de 1917, são realizadas três gravações pela Casa Edison, baseadas nesses registros públicos. A segunda gravação, interpretada por Baiano (1870-1944), atinge grande repercussão no Carnaval daquele ano.

Em 1919, como violonista, faz parte do grupo Os Oito Batutas, liderado por Pixinguinha, que começa tocando no saguão do Cinema Palais. No primeiro semestre de 1922, patrocinados por Arnaldo Guinle (1884-1963), apresentam-se como Les Batutas no Dancing Sherazade, em Paris, mas se separam logo em seguida. Na volta, passam por Buenos Aires e gravam pela RCA Victor. Em 1926, Donga participa do grupo Carlito Jazz para acompanhar a campanha de revistas Bataclan (França) e com ele retorna em turnê à Europa. Cria, em 1928, a Orquestra Típica Pixinguinha−Donga, seguindo vários intérpretes e gravando com eles.

Nos anos 1930, os dois músicos e amigos fundam os grupos Diabos do Céu e Guarda Velha. Eles se apresentam em diversas emissoras de rádio e acompanham inúmeros intérpretes em gravações. Em 1932, Donga se casa com a cantora Zaíra de Oliveira (1891-1951), com quem tem a única filha, Lígia. Sua esposa falece em 1951 e, dois anos depois, ele se casa com Maria das Dores dos Santos.

Em 1940, é convidado por Heitor Villa-Lobos (1887-1959) para participar, com João da Baiana e Pixinguinha, de encontro com o maestro inglês radicado nos Estados Unidos Leopold Stokowski (1882-1977). As gravações no navio Uruguai, ancorado no Rio de Janeiro, resultam no disco Native Brazilian Music (1942). Das 16 músicas selecionadas para o disco, nove têm assinatura de Donga, entre elas a embolada “Bambo do bambu”, interpretada pela dupla Jararaca e Ratinho. Essa canção é posteriormente gravada por Carmen Miranda (1909-1955), em 1939, e por Ney Matogrosso (1941), em 1983. Em 1954, por iniciativa do radialista Almirante (1908-1980), forma, com Pixinguinha, o conjunto Velha Guarda, cujo objetivo é retomar a obra e a vida artística dos músicos mais antigos. O grupo toca no programa Pessoal da Velha Guarda, até 1958, além de se apresentar em diversos espetáculos, como o Festival da Velha Guarda, em São Paulo (1954 e 1956).

A crítica musical, posteriormente, delimita e consagra essa geração como a dos "primitivos", que formulam a "época de ouro" da música popular. Donga é um dos primeiros artistas a gravar depoimento no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS-RJ), em 1969. Sua obra inicia uma nova fase da produção musical no país e se torna uma referência na história da música popular brasileira.

Obras 1

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 11

Abrir módulo
  • ALBIN, Ricardo Cravo (Org.), As vozes desassombradas do Museu 1 - Pixinguinha - João da Baiana - Donga. Rio de Janeiro, MIS, 1970.
  • Acervos Instituto Moreira Salles. Disponível em: https://ims.com.br/acervos/.
  • História da Música Popular Brasileira: Donga e os Primitivos. São Paulo, Editora Abril, 1972.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. (Ed.). Enciclopédia da Música Popular Brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo: Art Editora,1977. 2 v.
  • MARIZ, Vasco. Vida Musical. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
  • MOURA, Roberto. Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Funarte, 1983.
  • SANDRONI, Carlos. Feitiço decente. Transformações do samba no Rio de Janeiro (1917-1933). Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed./Ed.UFRJ, 2001.
  • SILVA, Flávio. Pelo Telefone e a história do samba. In: Revista Cultura, MEC, Ano 8, 28, jan-jun 1978.
  • TINHORÃO, José Ramos. História social da música popular brasileira. São Paulo, Editora 34, 1998.
  • VASCONCELOS, Ary, Panorama da música popular brasileira. São Paulo, Livraria Martins Ed., volume 1, 1964.
  • VELLOSO, Mônica. "As tias baianas tomam conta do pedaço: espaço e identidade cultural no Rio de Janeiro". In: Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 3, No. 6, 1990, pp. 207-228.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: