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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Ney Matogrosso

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.10.2022
01.08.1941 Brasil / Mato Grosso do Sul / Bela Vista
Ney de Souza Pereira (Bela Vista, Mato Grosso do Sul, 1941). Cantor, ator, encenador, compositor, artista visual. Destacado intérprete da música popular brasileira, reconhecido pela extensão vocal contratenor e pela ousadia performática elaborada durante o período da ditadura militar brasileira (1964-1985)1.

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Ney de Souza Pereira (Bela Vista, Mato Grosso do Sul, 1941). Cantor, ator, encenador, compositor, artista visual. Destacado intérprete da música popular brasileira, reconhecido pela extensão vocal contratenor e pela ousadia performática elaborada durante o período da ditadura militar brasileira (1964-1985)1.

Canta em público pela primeira vez ainda criança, em um show de calouros de um parque de diversões em Padre Miguel, subúrbio da cidade do Rio de Janeiro. Levado pela mãe à Rádio Nacional, torna-se fã da atriz e cantora Elvira Pagã (1920-2003), a quem considera como sua primeira referência artística. Na adolescência, Ney se dedica à pintura e ao teatro amador. Após servir à aeronáutica, o cantor vai para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro. Em 1961, aos 19 anos, muda-se para Brasília e se torna funcionário público. Trabalha no laboratório de anatomia do Hospital de Base e, depois, como recreador infantil na mesma instituição. Em 1966, apresenta-se pela primeira vez como cantor em um festival de música da Universidade de Brasília (UnB). No mesmo ano, muda-se para o Rio de Janeiro com o intuito de trabalhar com teatro. Adere ao estilo de vida hippie e, para se manter, fabrica e vende peças de artesanato. Trabalha pela primeira vez como iluminador na Sala Cecília Meireles, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro.

Em 1971, por conta de seu timbre de voz, Ney é convidado pelo músico e compositor João Ricardo (1949) para fazer parte do grupo musical Secos & Molhados. Após um ano de ensaios, o conjunto estreia no teatro Ruth Escobar, na capital paulista. O ineditismo visual da banda, assegurado pela "ambiguidade sexual"1 do figurino e da maquiagem, e impulsionado pelo impacto provocado pela performance e pela voz de Ney, acaba atraindo um público numeroso e variado para o espetáculo. Sonoramente o grupo deriva da matriz da música popular brasileira e atinge, por caminhos distintos para a época, o pop rock experimental consolidado em seu primeiro disco, homônimo, lançado em 1973 pela gravadora Polygram. O grupo grava o segundo disco em 1974 e Ney oficializa sua saída dos Secos & Molhados em agosto do mesmo ano, uma semana após o lançamento.

A partir de 1975, Ney Matogrosso dá início a sua carreira solo tendo em vista a sua autonomia artística. Seu primeiro espetáculo solo, Homem de Neanderthal, estreia no Hotel Nacional, no Rio de Janeiro. Ao longo dos próximos 10 anos, Ney não abandona os artifícios cênicos e performáticos originados com os Secos & Molhados – a cada novo espetáculo, o cantor elabora diferentes propostas estéticas em parceria com diferentes figurinistas. Com Ricardo Zambelli (1952-1985), cria o figurino com chifres de carneiro para o "Homem de Neanderthal". O estilista Ocimar Versolato (1961-2017), na década de 1990, é responsável pelo desenho de diversas roupas de Ney. Em 2010, Ney doa parte do seu acervo para a Modateca do Centro Universitário Senac Santo Amaro, de São Paulo.

A gravação da canção "Homem de Neanderthal" abre o repertório de seu primeiro disco solo, homônimo, lançado ainda em 1975. Apresenta-se na TV com a canção "América do Sul", no programa Fantástico, da TV Globo. Dirigida por Nilton Travesso (1934), a exibição é considerada o primeiro videoclipe feito no Brasil. Em 1976, o disco e o espetáculo Bandido são lançados na Penitenciária Lemos de Brito, em Salvador. A salsa "Corazón Bandido", composta por Rita Lee (1974), torna-se sucesso na voz de Ney. Até o final da década, o cantor grava mais três LPs: Pecado (1977), Feitiço (1978) e Seu tipo (1979).

Em 1981, Ney Matogrosso estreia na gravadora Ariola. Com o forró "Homem com H", de Antônio Barros (1930), seu novo disco alcança a lista dos mais vendidos no país. Após a temporada de shows do álbum ultrapassar os 50 mil espectadores somente no Rio de Janeiro, canta pela primeira vez no Maracanãzinho. Em 1986, no LP Bugre, o cantor compõe, em parceria com Leoni (1961) e com o grupo RPM, as canções "Dívidas de Amor" e "Vertigem", respectivamente. Insatisfeito com a recepção do álbum, decide cancelar a turnê do disco. No ano seguinte, reinventa-se ao se apresentar pela primeira vez em público sem maquiagem e de terno, na companhia dos músicos Raphael Rabello (1962-1995), Arthur Moreira Lima (1940), Paulo Moura (1932-2010) e Don Chacal (1941-2011). 

Como iluminador e encenador, Ney Matogrosso assina espetáculos de Cazuza (1958-1990), Chico Buarque (1944) e Simone (1949), que lhe rende o Prêmio Sharp de Música de melhor show, em 1992. No cinema, Ney Matogrosso atua em Sonho de valsa (1987), de Ana Carolina (1945), Luz nas trevas: a volta do bandido da luz vermelha (2010) e Ralé (2015), ambos de Helena Ignez (1939), entre outras participações.

Em parceria com outros músicos, Ney retoma a colaboração com Raphael Rabello no álbum À flor da pele (1990) e, com a banda Pedro Luís e a Parede, lança os discos Vagabundo (2004) e Vagabundo ao vivo (2006). Em 1999, Ney grava "O poema", letra escrita por Cazuza aos 17 anos, musicada postumamente por Roberto Frejat (1962), no álbum Olhos de farol. Artista profícuo e longevo, Ney Matogrosso ingressa em uma turnê de cinco anos com o disco Atento aos sinais (2013) e, em 2021, ao completar 80 anos de vida, lança o EP Nu com a minha música.

Com seu timbre de voz agudo característico de contratenor, Ney Matogrosso atravessa cinco décadas de trabalho ininterrupto na música. Sua performance cênica é considerada pioneira por sua largueza plástica e notória pela reafirmação de sua autodeterminação estética. 

Notas

1. BAHIANA, Ana Maria. Secos & Molhados chamando a atenção. Opinião, 3 dez. 1973. p. 23.

Espetáculos 7

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Exposições 2

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Fontes de pesquisa 5

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  • BAHIANA, Ana Maria. Secos & Molhados chamando a atenção. Opinião, 3 dez. 1973.
  • EICHBAUER, Hélio. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 24 abr. 2011.
  • GUERINI, Elaine. Nicette Bruno & Paulo Goulart: tudo em família. São Paulo: Cultura - Fundação Padre Anchieta: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. 256 p. (Aplauso Perfil).
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998. p. 491.
  • MATOGROSSO, Ney. Vira-lata de raça. Rio de Janeiro: Tordesilhas, 2018.

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