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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Cazuza

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 04.07.2024
04.04.1958 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
07.07.1990 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Agenor de Miranda Araújo Neto, Cazuza (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1958 – Idem, 1990). Letrista, cantor. Destaca-se como um dos principais letristas da música popular brasileira, autor de algumas das músicas mais festejadas do rock brasileiro.

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Agenor de Miranda Araújo Neto, Cazuza (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1958 – Idem, 1990). Letrista, cantor. Destaca-se como um dos principais letristas da música popular brasileira, autor de algumas das músicas mais festejadas do rock brasileiro.

Criado no Rio de Janeiro, em Ipanema, Cazuza – apelido que significa "moleque" na região Nordeste – abandona a faculdade de comunicação e inicia a vida profissional na gravadora Som Livre, presidida pelo pai, João Araújo. Insatisfeito, parte para São Francisco, Estados Unidos, para estudar fotografia e artes plásticas. Sete meses depois, retorna ao Brasil sem a formação no curso, mas a experiência lhe vale um emprego de fotógrafo na gravadora RGE.

Em 1981 se matricula no curso de teatro ministrado por Perfeito Fortuna (1950) e a trupe Asdrúbal Trouxe o Trombone no Circo Voador, no Arpoador. Encena duas peças e, em uma delas, interpreta "Odara", de Caetano Veloso (1942). A experiência o incentiva a se tornar cantor. Por intermédio do amigo Léo Jaime (1960), Cazuza entra para uma banda em formação, o Barão Vermelho. Participa com a banda do circuito underground carioca e estreia para o grande público no verão de 1982, no efervescente Circo Voador. O primeiro álbum, Barão Vermelho (1982), recebe elogios da crítica, mas tem vendagem modesta. Barão Vermelho 2 (1983) chama atenção depois de Ney Matogrosso (1941) gravar "Pro Dia Nascer Feliz", canção que logo faz sucesso na versão original da banda.

O Barão Vermelho alcança projeção nacional ao participar da trama e da trilha sonora do filme Bete Balanço (1984), de Lael Rodrigues (1951-1989). No mesmo ano é lançado o disco Maior abandonado, que conquista prestígio e consolida a parceria entre Cazuza e Frejat como uma das mais profícuas do rock brasileiro. No verão de 1985, o Barão Vermelho se apresenta com destaque no festival Rock in Rio. No auge da fama, Cazuza resolve se desligar do grupo e seguir carreira solo, decisão que coincide com a manifestação dos primeiros sintomas da síndrome da imunodeficiência adquirida (aids).

O primeiro álbum de Cazuza, Exagerado (1985), mantém a sonoridade roqueira, lança várias canções de sucesso com parceiros diferentes e faz a carreira solo do cantor decolar. O segundo disco, Só se for a dois (1987), predominam canções românticas. Já com o diagnóstico de aids, Cazuza viaja para Boston para tratamento. Retorna ao Brasil no fim de 1987 e, no ano seguinte, lança o LP Ideologia, cuja turnê, dirigida por Ney Matogrosso, resulta no álbum ao vivo O tempo não para (1988), seu maior sucesso comercial.

O engajamento social e político está presente no repertório do cantor desde o álbum Ideologia (1988). Em canções como "Ideologia", "O Tempo Não Para" e "Burguesia", Cazuza identifica o enfraquecimento dos ideais de contestação do mundo burguês no Brasil pós-ditadura militar. Ao mesmo tempo, o artista critica com veemência certas mazelas sociais brasileiras, como a corrupção, a desigualdade social e os preconceitos em geral. "Brasil", uma de suas composições de maior sucesso, é gravada por Gal Costa (1945-2022) para a abertura da novela Vale Tudo (1988), da TV Globo. Nessa canção, Cazuza une rock à batida de samba para compor uma espécie de inversão de "Aquarela do Brasil" (1939), samba-exaltação ufanista de Ary Barroso (1903-1964) no qual o eu lírico demonstra uma identificação acrítica com o país. O "Brasil" de Cazuza, ao contrário, é uma denúncia: é cantado em tom indignado como uma "droga que já vem malhada antes de eu nascer", um país cuja população é explorada por uma elite inescrupulosa ("Brasil / Qual é o teu negócio? / O nome do teu sócio?"), defende-se como pode ("Meu cartão de crédito / É uma navalha") e clama por justiça ("Brasil / Mostra a tua cara / Quero ver quem paga / Pra gente ficar assim").

Em fevereiro de 1989, Cazuza declara à imprensa que está doente. Bastante debilitado, tem ainda tempo de lançar o LP Burguesia (1989). Trata-se em São Paulo, depois em Boston e retorna ao Rio de Janeiro, onde morre em julho de 1990, aos 32 anos. Em 1991 é lançado o álbum póstumo Por aí.

Com uma voz autoral própria, o cantor une com maestria imagens poéticas desconcertantes ("veneno antimonotonia", "segredos de liquidificador" e "museu de grandes novidades") à linguagem coloquial da juventude carioca de seu tempo. O tema mais frequente em suas letras é o amor, a partir da perspectiva existencial boêmia de um eu lírico confessadamente "exagerado". A temática amorosa também tem uma faceta celebratória, seja de encontros efêmeros ("Solidão que nada"), seja do amor estável, como em "Pro dia nascer feliz" e "Só se for a dois".

Cazuza não é um intérprete perfeccionista, principalmente no início da carreira. O canto falado e, por vezes, gritado, com inspiração do blues, que predomina em sua fase no Barão Vermelho, compensa as eventuais falhas da personalidade espontânea dos roqueiros. O canto de Cazuza ganha sofisticação na carreira solo, quando adquire novas nuances a partir da aproximação com a bossa nova, identificável em "Preciso dizer que te amo", canção composta com Bebel Gilberto (1966), "Codinome Beija-flor" e na versão ao vivo de "Luz Negra", que ganha registro bem diverso da gravação original dramática do sambista Nelson Cavaquinho (1911-1986).

Apesar da vida breve e da curta carreira, Cazuza deixa sua marca autoral na música brasileira com canções que, até os dias de hoje, são ouvidas pelas mais variadas gerações.

Obras 13

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Exposições 1

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Fontes de pesquisa 7

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  • ARAÚJO, Lucinha. Preciso dizer que te amo / Lucinha Araújo. Texto: Regina Echeverria. São Paulo, Globo, 2001.
  • CAZUZA. In: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Cravo Albin. Disponível em: http://www.dicionariompb.com.br/cazuza/biografia. Acesso em 30 out. 2012.
  • CAZUZA. In: e-biografias-biografia de Cazuza. Disponível em: http://www.e-biografias.net/cazuza/. Acesso em 29 out. 2012.
  • JULIÃO, Rafael Barbosa. Segredos de liquidificador: um estudo das letras de Cazuza. Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Rio de Janeiro, 2010, Mimeo.
  • NEVES, Ezequiel, GOFFI, Guto e PINTO, Rodrigo. Barão Vermelho: por que a gente é assim?. Rio de Janeiro, Globo, 2007.
  • RIBEIRO, Julio Naves. Lugar nenhum ou Bora Bora?: narrativas do rock brasileiros anos 80. São Paulo: Annablume, 2009.
  • RIBEIRO, Julio Naves. Só as mães são felizes / Lucinha Araújo em depoimento a Regina Echeverria. São Paulo, Globo, 2004.

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