Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Almirante

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.03.2017
19.02.1908 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
22.12.1980 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Henrique Foréis Domingues (Rio de Janeiro RJ 1908 - idem 1980). Compositor, cantor, radialista, pesquisador. É apelidado de Almirante na juventude, quando serve a Reserva Naval. Inicia-se em 1928 no grupo amador Flor do Tempo como pandeirista, e mais tarde como cantor no Bando de Tangarás - com Braguinha, Alvinho, Henrique Brito e Noel Rosa. Em ...

Texto

Abrir módulo

Biografia

Henrique Foréis Domingues (Rio de Janeiro RJ 1908 - idem 1980). Compositor, cantor, radialista, pesquisador. É apelidado de Almirante na juventude, quando serve a Reserva Naval. Inicia-se em 1928 no grupo amador Flor do Tempo como pandeirista, e mais tarde como cantor no Bando de Tangarás - com Braguinha, Alvinho, Henrique Brito e Noel Rosa. Em 1929 grava o cateretê Anedotas e a embolada Galo Garnizé. Compõe os sambas Mulher Exigente, em 1929, Batente e Macumba em Mangueira, em 1930. Com Homero Dornelas compõe o samba Na Pavuna (1930); com João de Barro a marcha Lataria (1930); e com Puruca e Canuto o samba Já Não Posso Mais (1931).

Grava Moreninha da Praia (1933), de João de Barro; o samba O Orvalho Vem Caindo (1934), de Noel Rosa e Kid Pepe; Tarzan, o Filho do Alfaiate (1936), de Noel; História do Brasil (1934) e Hino do Carnaval Brasileiro (1939), de Lamartine Babo; Dobradiça (1934), frevo de Nelson Ferreira; Que Barulho É Esse e Vou Me Casar no Uruguai (1935), de Gadé e Valfrido Silva; Vou Cair no Frevo (1935), de Capiba; as marchas Deixa a Lua Sossegada (1935), Yes, Nós Temos Banana e o paso doble Touradas em Madri (1938), de João de Barro e Alberto Ribeiro; Faustina e Olha o Grude Formado (1937), de Gadé; Apanhei um Resfriado (1937), de Leonel Azevedo e Sá Róris; Boneca de Piche (1938) em dueto com Carmen Miranda, de Ary Barroso, Luis Iglesias e Luis Peixoto; Tudo em P, de Jorge Nóbrega e Angelo Delatre; e a mazurca Vida Marvada (1938), parceria com Lucio Mendonça de Azevedo. Em duo com Jararaca (coautor com Vicente Paiva), lança a marcha Mamãe Eu Quero, em 1937. É parceiro de Noel Rosa em A Melhor do Planeta, gravada por Aracy de Almeida em 1955; de João de Barro, em Azulão (1933); e de Valdo de Abreu, em Bambo de Bambu (s.d.), versão da embolada de Donga e Patrício Teixeira.

Contracena com Carmen Miranda nos filmes Estudantes (1935) e Banana da Terra (1938). Atua nos filmes Alô, Alô, Brasil (1935), dirigido por Wallace Downey, e Alô, Alô Carnaval (1936), dirigido por Adhemar Gonzaga e roteirizado por João de Barro e Alberto Ribeiro. Dubla personagens dos desenhos Branca de Neve (1937), Pinóquio (1940) e Dumbo (1941), produzidos por Walt Disney.

É contratado como cantor do Programa Casé, em 1932. Em 1935 produz o quadro Curiosidades Musicais. A partir de 1936, dedica-se quase exclusivamente à produção radiofônica. Lança em 1938 o programa de auditório Caixa de Perguntas e em 1940 Instantâneos Sonoros do Brasil, com arranjos do maestro Radamés Gnattali. Na Rádio Tupi produz as séries História do Rio pela Música, em 1941, e Incrível! Fantástico! Extraordinário!, em 1947. Volta à Rádio Nacional em 1944 e realiza os programas História das Orquestras e dos Músicos Brasileiros e Aquarelas do Brasil. Em 1947 produz O Pessoal da Velha Guarda (Rádio Tupi), com Pixinguinha, Donga, João da Bahiana e Benedito Lacerda. Promove em São Paulo o Festival da Velha Guarda com esses músicos (duas edições: 1954 e 1955), e grava em disco homônimo a chula raiada Patrão, Prenda Seu Gado (1955).

Vítima de um derrame, encerra a carreira de radialista em 1958. Escreve para as colunas Cantinho das Melodias e Pingos de Folclore no jornal O Dia, e, em 1963, a biografia de Noel Rosa. Em 1964, seu acervo pessoal passa a integrar o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS/RJ), inaugurado em 1965, no qual atua no Conselho de MPB e atende os pesquisadores até o fim da vida.

Análise

A trajetória de Almirante remonta ao próprio desenvolvimento da música popular na primeira metade do século XX no Rio de Janeiro. Circulando entre diversas esferas da produção cultural no período - rádio, disco, cinema, palco -, ele constrói sua carreira sobre três pilares: a música, os meios de comunicação e a pesquisa.

Como cantor, se destaca sobretudo como intérprete de coco e embolada, aproveitando sua habilidade e boa dicção para cantar em ritmo ligeiro. Influenciado pela cultura nordestina que permeia a cena musical carioca dos anos 1920, por meio de compositores como Augusto Calheiros, do grupo Turunas da Mauriceia, e João Pernambuco, desenvolve o gosto pelas tradições populares, que se reflete tanto na sua produção musical quanto nos programas radiofônicos que realiza posteriormente. Sua maneira de cantar valoriza a proximidade à fala, evitando modulações, vibratos e falsetes. Como compositor essa opção se traduz em melodias simples, cujos temas exploram o universo folclórico e são baseados no estilo repentista. Em seu repertório são menos frequentes músicas românticas: prefere canções jocosas, temas regionais e tradicionais adaptados. Essa tendência para o humor o aproxima do amigo e parceiro musical Noel Rosa, de quem divulga vários sucessos. Destaca-se ainda na composição de sambas e batuques, gêneros que começam a se popularizar nos grandes centros urbanos na época. Entre suas criações está o samba Na Pavuna (1929), parceria com Homero Dornelas, cujo registro é um marco nas gravações elétricas no país. Concebida como um samba de rua, com a batucada das escolas de samba, sua gravação inclui, além do bandolim de Luperce Miranda e do piano de Carolina Cardoso de Menezes, tamborins, cuícas e pandeiros, instrumentos até então não utilizados em estúdio por se acreditar que a cera do disco não fosse capaz de registrar as batidas da percussão. Uma das consequências do sucesso de Na Pavuna é a abertura de um campo de trabalho para os ritmistas nas gravadoras, entre eles se destacam João da Baiana, Tio Faustino, Alcebíades Barcelos (Bide) e Armando Marçal.

Apesar de ter alcançado sucesso considerável como cantor e compositor nos anos 1930, Almirante se destaca com sua obra sobretudo pela atuação no meio radiofônico, no qual se torna conhecido como "a maior patente". Além de contribuir para a profissionalização do meio e diversificação da programação, empreende um esforço pioneiro de documentação da música popular brasileira, o que faz dele uma figura imprescindível para quem deseja pesquisar sua história. Em seus programas, densamente pesquisados e didaticamente organizados, Almirante contribui ainda para a orientação estética da música popular, definindo o que deve ser considerado "autêntico" e "legítimo". Em realizações como O Pessoal da Velha Guarda, reaviva gêneros musicais surgidos e difundidos entre o fim do século XIX e meados do XX, e constrói um sentido de tradição, ao apresentar jovens músicos como Jacob do Bandolim e Altamiro Carrilho, por ele considerados como os "novos da velha-guarda".

Juntamente com seu acervo, consolidado na organização do MIS/RJ, sua atuação no rádio tem importância fundamental na construção da memória e da história da música urbana. Pela atuação como pesquisador, Almirante contribui para a própria criação do conceito de "música popular brasileira", estabelecendo recortes e indícios para a elaboração de uma "linha evolutiva", mais tarde adotada por outros pesquisadores do tema.

Fontes de pesquisa 10

Abrir módulo
  • ALENCAR, Edigar. O fantástico e extraordinário Almirante. In: Claridade e sombra na música do povo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1984.
  • CABRAL, Sérgio. No tempo de Almirante. Uma história do Rádio e da MPB. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990. 399p.
  • DOMINGUES, Henrique Foreis (Almirante). No Tempo de Noel Rosa. 2.ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1977.
  • GURGUEIRA, Fernando L. A integração nacional pelas ondas: o rádio no Estado Novo. 1995. 182p. Dissertação (Mestrado em História Social) - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1995.
  • LIMA, Giuliana Souza de. Almirante, "a mais alta patente do rádio", e a construção da história da música popular brasileira (1938-1958). 2012, 176p. Dissertação (Mestrado em História Social) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.
  • MORAES, José Geraldo Vinci de, "História e historiadores da música popular no Brasil", In: Latin American Music Review, 28/2. Austin, Texas, EUA, 2007; pp.271-299.
  • NAPOLITANO, Marcos. A síncope das idéias. A questão da tradição na música popular brasileira. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2007. 159p.
  • PAES, Anna. Almirante e o Pessoal da Velha Guarda: memória, história e identidade. 2012. 241 f. Dissertação (Mestrado em Música) - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.
  • REIS, José Roberto Franco. "Rádio, nacionalismo e cultura popular durante o Estado Novo: a pedagogia radiofônica do Almirante". In: Temas de Ensino Médio. Formação. Rio de Janeiro: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, 2006; pp. 63-75.
  • SAROLDI, Luiz Carlos e MOREIRA, Sonia Virgínia. Rádio Nacional: o Brasil em sintonia. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1984. 223p.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: