Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Dona Ivone Lara

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 22.08.2024
13.04.1922 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
16.04.2018 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Registro fotográfico Chema Llanos / Auditório Ibirapuera

Dona Ivone Lara em apresentação no Auditório Ibirapuera em 19 de junho de 2015

Yvonne Lara da Costa (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1922 - idem, 2018). Compositora, cantora e instrumentista. Uma das pioneiras no samba como compositora e intérprete, é a primeira mulher a integrar a Ala dos Compositores da Império Serrano, escola para a qual produz, na década de 1960, o samba-enredo “Os Cinco Bailes da História do Rio”.

Texto

Abrir módulo

Yvonne Lara da Costa (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1922 - idem, 2018). Compositora, cantora e instrumentista. Uma das pioneiras no samba como compositora e intérprete, é a primeira mulher a integrar a Ala dos Compositores da Império Serrano, escola para a qual produz, na década de 1960, o samba-enredo “Os Cinco Bailes da História do Rio”.

Nascida no bairro carioca de Botafogo, vive sua infância em um ambiente doméstico que favorece seu contato com a música – a mãe cantora, o pai violinista e, mais tarde, as rodas de choro organizadas na casa de seu tio Dionísio Bento da Silva referenciam sua musicalidade. A tia Teresa participa desses eventos, cantando as cantigas dos escravos negros, os jongos.

Após a morte do pai, muda-se com a mãe para a Tijuca. Estuda no internato Colégio Municipal Orsina da Fonseca e tem aulas de música erudita com Zaíra de Oliveira e Lucília Villa-Lobos, que a indica para o Orfeão dos Apiacás, da Rádio Tupi, regido pelo maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Dessas relações resulta a sofisticação melódica e harmônica de suas obras.

Sua sensibilidade musical manifesta-se aos 12 anos, quando compõe Tié, nome de um pássaro que lhe é dado de presente pelo tio Mestre Fuleiro. O nome Tié e a expressão moçambicana oialá-oxa inspiram esse primeiro trabalho, uma parceria com seus primos Fuleiro e Hélio.

Aos 17 anos, vai morar no subúrbio de Inhaúma com seu tio Dionísio, com quem aprende a tocar cavaquinho. Na ocasião, inscreve-se no concurso da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto e, aprovada, passa a receber uma bolsa, que ajuda no sustento da casa. Já formada, em 1943, exerce a função de plantonista de emergência e, nas horas de folga, participa das rodas de choro organizadas na casa do tio, com a presença de Pixinguinha (1897-1973) e Jacob do Bandolim (1918-1969).

Em 1945, Ivone decide fazer um curso para se tornar assistente social. Logo que se forma, é contratada pelo Instituto de Psiquiatria do Engenho de Dentro, no qual permanece por 30 anos, até se aposentar. Especializa-se em terapia ocupacional e trabalha no Serviço Nacional de Doenças Mentais com a doutora Nise da Silveira (1905-1999), médica que revoluciona o tratamento psiquiátrico no Brasil. Sempre priorizando o trabalho de enfermeira, programa suas férias para fevereiro, para poder participar dos desfiles de Carnaval. Nesse período, frequenta a escola de samba Prazer da Serrinha, para a qual compõe, em 1947, Nasci para Sofrer, canção com que a escola desfila nesse ano.

Com o fim de Prazer da Serrinha, passa a frequentar a Império Serrano, escola para a qual compõe alguns sambas, mas sem perspectiva de se profissionalizar na música. É dessa época o samba Não Me Perguntes, com Mestre Fuleiro, considerado o hino da escola. Como suas músicas são constantemente entoadas nas rodas de samba do bairro Madureira, reduto da Império Serrano, ela ganha reconhecimento e passa a integrar a ala dos compositores, espaço até então restrito aos homens. A tradição das escolas reserva às mulheres o papel de pastora, cabendo a elas memorizar a letra e entoá-la na quadra em meio à batucada. A sambista rompe essa barreira, mas leva consigo o timbre e a dicção do canto das pastoras.

Superando preconceitos para se lançar como compositora, é a primeira mulher a integrar a ala dos compositores da escola de samba, assinando, em 1965, com Bacalhau e Silas de Oliveira (1916-1972) Os Cinco Bailes da História do Rio, samba-enredo da Império Serrano no Carnaval que comemora os 400 anos da cidade. Desde 1968, Ivone desfila na ala das baianas dessa escola.

Até o fim da década de 1960, a atuação artística de Ivone está restrita à comunidade carnavalesca, mas seu público ouvinte se amplia a partir de apresentações nas rodas de samba do teatro Opinião, que fica em Copacabana, Rio de Janeiro, frequentado pela intelectualidade e por artistas, como Nara Leão (1942-1989) e Carlos Lyra (1939).

Em 1970, adota o nome artístico de Dona Ivone Lara. Nesse ano, participa do disco Sargentelli e O Sambão, gravado ao vivo, com as faixas Agradeço a Deus e Sem Cavaco Não, ambas feitas em parceria com Mano Décio da Viola (1909-1984). A gravação de discos consolida a carreira de Dona Ivone Lara, que é identificada pela crítica, na década de 1970, como uma das melhores compositoras de samba do Brasil. Uma das características marcantes de seu trabalho é a melodia de seus sambas; as letras geralmente ficam por conta de parceiros.

Faz o primeiro show solo em 1974, na boate Monsieur Pujol, produzido pelos jornalistas e agitadores culturais cariocas Sérgio Cabral e Albino Pinheiro. Com Délcio Carvalho (1939-2013), seu parceiro mais constante, compõe Samba Minha Raiz (1976), Acreditar (1976) e Sonho meu (1978). Recebe, por essa última composição, o prêmio Sharp de melhor música do ano. Em 1978, lança seu primeiro LP, Samba, Minha Verdade, Samba Minha Raiz.

Grande parte das obras de Dona Ivone explicita a herança africana do samba de roda, do jongo e do partido-alto, como Axé de Langa (Pai Maior,1980) e Roda de Samba pra Salvador (1982). Essas obras evocam o universo musical dos morros cariocas de sua infância, como ela relembra em Axé de Langa:

Tia Teresa nos contava 

a história do vovô  

que tirava irmão do tronco 

escondido do senhor  

pra curar seus ferimentos 

com o banho de abo 

Ianga, Ianga que tipoiIanga 

didianga me...

Essa vertente lhe vale o apelido de "Mãe de Angola", quando, na década de 1980, viaja pela África, em uma temporada de shows produzidos por Fernando Faro. Além da África, torna-se conhecida em outros continentes por ocasião da divulgação do LP Ivone Lara, gravado em 1985 pela Som Livre, com apresentação nos Estados Unidos, Japão e países europeus.

Obras 14

Abrir módulo

Exposições 1

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 7

Abrir módulo
  • BOTTESELLI, João Carlos & PEREIRA, Arley (coord.). A Música Brasileira deste Século por seus Autores e Intérpretes. São Paulo, Sesc, 2003. Vol. 7.
  • BURNS, Mila. Nasci para sonhar e cantar - Dona Ivone Lara - A mulher no samba. Rio de Janeiro, Record, 2009.
  • FARO, Fernando. Programa Ensaio com Dona Ivone Lara. São Paulo, TV Cultura, 2000.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. (Ed.). Enciclopédia da Música Popular Brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo: Art Editora,1977. 2 v.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
  • MORRE Dona Ivone Lara aos 97 anos. El País. 17 abr 2018. Brasil. Disponível em: < https://brasil.elpais.com/brasil/2018/04/17/politica/1523963309_464951.html >. Acesso em 17 abr 2018.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 1: 1901-1957). São Paulo: Editora 34, 1997. (Coleção Ouvido Musical).

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: