Aluísio Carvão

Superfície I, 1967
Aluísio Carvão
Chapinhas de metal e óleo sobre madeira
80,00 cm x 80,00 cm
Texto
Aluísio Carvão (Belém, Pará, 1920 – Poços de Caldas, Minas Gerais, 2001). Pintor, escultor, ilustrador, ator, cenógrafo, professor. As cores assumem força expressiva na obra de Aluísio Carvão, que também pesquisa as potencialidades das formas geométricas.
Inicia a atividade artística no Pará como ilustrador, escultor e cenógrafo. Em 1946, realiza a primeira exposição individual no Amapá. No início da carreira, suas pinturas retratam em geral paisagens, indicando ressonâncias do impressionismo.
Em 1949 é contemplado pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC) com uma bolsa destinada a professores de artes e se muda para o Rio de Janeiro. Em 1952, ingressa no curso livre de pintura de Ivan Serpa (1923-1973), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Ao longo dessa década, nota-se transformações em sua pintura, que abandona a representação figurativa do real e explora "estruturas reduzidas ao mínimo, rigorosas na sua geometria linear e concentradas em contrastes binários de ritmos puramente óticos"1.
De 1953 a 1956, faz parte do Grupo Frente e participa das principais exposições coletivas ligadas ao concretismo brasileiro. Em 1959, assina o Manifesto neoconcreto, escrito por Ferreira Gullar (1930-2016), com artistas como Amilcar de Castro (1920-2002), Franz Weissmann (1911-2005) e Lygia Clark (1920-1988).
Entre 1957 e 1959, substitui Ivan Serpa nos cursos do MAM. Em 1958, a exposição individual realizada na Galeria de Artes das Folhas, em São Paulo, inicia a fase com trabalhos que exploram o movimento de formas geométricas, destacando-se o aspecto ótico, como em Ritmo-Centrípeto-Centrifugal (1958) e Clarovermelho (1959), obras com formas vazadas e ritmos lineares e espirais.
A série Cromáticas (1957-1960), produzida propositalmente sem moldura, evidencia uma mudança na relação entre o quadro e a parede, numa pesquisa que, como afirma o crítico Fernando Cocchiarale (1951), vai em direção à integração da obra no espaço, característica marcante do neoconcretismo.
O interesse exclusivo pela cor – sua matéria, intensidade e duração – desdobra-se do espaço bidimensional da tela para a tridimensionalidade em Cubocor (1960), pequeno cubo de cimento uniformemente coberto por pigmento vermelho, considerado por alguns críticos como ponto alto de sua pesquisa, simultaneamente objeto e cor, elemento pictórico e espacial2. Esse aspecto é ressaltado pelo poeta Ferreira Gullar, para quem "Aluísio Carvão é um alquimista da cor. O que lhe importa não é a figura, não é a cor enquanto cor de alguma coisa, mas a cor como coisa"3.
A adesão ao neoconcretismo leva o artista a abandonar as estruturas formais geométricas em favor de uma construção que se faz diretamente com a cor, em telas que suspendem a diferenciação entre forma, cor e fundo. Segundo o crítico Mário Pedrosa (1900-1981), a geometria persiste como “um limite convencional da fase anterior”, pois agora é a cor, com a “sua intensidade e saturação”, que caracteriza as telas, com consistência que chega a impor “até mesmo a forma".4
Em 1960, participa da mostra Konkrete Kunst, em Zurique (Suíça), e da Exposição de Arte Neoconcreta, em Munique (Alemanha). É contemplado no Salão Nacional de Arte Moderna com o prêmio de viagem ao exterior. Como artista visitante, ingressa na Hochschule für Gestaltung (HfG), na cidade alemã de Ulm.
Depois da estadia na Europa, volta para o Rio de Janeiro em 1963 e intensifica sua atuação como professor, ministrando cursos no MAM do Rio de Janeiro e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage). Na década de 1960, utiliza materiais não tradicionais, como prego e barbante agrupados em suportes de madeira, o que pode ser verificado em Superfícies farfalhantes (1967), produzida com tampas de garrafas comprimidas e perfuradas com pregos, fixadas em um suporte, explorando os aspectos cinético e sonoro.
A partir do fim dos anos 1970, retorna ao suporte tradicional da tela, privilegiando a articulação das cores com uma linguagem lírica e evocativa que utiliza tons vibrantes e formas com características menos rigorosas. De acordo com o crítico Roberto Pontual (1939-1994), nessa nova fase, a cor segue sendo importante, mas em vez de reduzir a forma à cor, propõe “uma construção que seja também metáfora"5.
Na década de 1980, integra diversas retrospectivas sobre arte concreta e neoconcreta. Uma importante retrospectiva do artista é realizada em 1996, no Museu Metropolitano de Arte de Curitiba, e segue para o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA), em Salvador, e o MAM do Rio de Janeiro.
Durante a permanência na cidade fluminense de Saquarema, produz diversas marinhas, alternando essas pinturas de caráter mais figurativo com o estilo evocativo da fase concretista. As obras realizadas na década de 1990 exploram um repertório que, segundo o artista, é descendente do grafismo marajoara e do vocabulário da geometria pura, como triângulo, quadrado, círculo, linha e espiral. Nessas telas, surgem sinais de festas e folguedos, pipas coloridas, bandeirolas, reminiscências da infância que lhes conferem aspecto íntimo, memorialista e lírico.
Importante figura do concretismo e do neoconcretismo, Aluísio Carvão explora as nuances cromáticas e os contornos formais com ousadia, a ponto de jogar com dimensões espaciais. Dialogando eventualmente com abordagem figurativa, constrói um estilo alusivo e inventivo.
Notas
1. PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Editora JB, 1987. p. 278.
2. Para Roberto Pontual (op. cit., p. 278), o Cubocor é a "matéria da cor". Para Fernando Cocchiarale (in MARTINS, Anna Maria (textos), Aluísio Carvão, 1999, p. 13), "o Cubo-Cor é um dos emblemas neoconcretos da subsistência da cor fora do quadro, liberta do lugar que lhe foi destinado à existência pela história da pintura".
3. Apud AYALA, Walmir; CAVALCANTI, Carlos (orgs.). Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Brasília: MEC; INL, 1973. p. 87.
4. Apud PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. p. 115.
5. PONTUAL, Roberto, op. cit. p. 278.
Obras 24
Claroverde
Clarovermelho
Composição
Composição II
Contenção
Exposições 241
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20/2/1953 - 1/3/1953
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13/12/1954 - 26/2/1953
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Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 57
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ALUÍSIO Carvão.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa9406/aluisio-carvao. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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