Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV Parque Lage)
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Localizada no parque Lage, na rua Jardim Botânico nº 414, no Rio de Janeiro, a Escola de Artes Visuais (EAV) é criada oficialmente pelo Departamento de Cultura da Secretaria de Estado de Educação em 1975. Sua origem liga-se ao Instituto de Belas Artes (IBA), fundado em 1950 e transferido para o parque Lage em 1966. A extinção do instituto e a constituição de uma nova escola trazem a definição de um outro perfil: além das atividades didáticas, da formação de artistas e professores de arte, passa a divulgar diferentes tipos de manifestação cultural. Desde sua criação, a EAV/Parque Lage torna-se um dos principais centros de formação, reflexão e debates sobre arte contemporânea, abrigando exposições de arte, ciclos de cinema, espetáculos teatrais e shows de música.
O principal objetivo da escola é oferecer formação artística - prática e teórica - a um público não especializado, com ênfase na produção artística mais recente. Nesse sentido, ela se afasta da face técnica de parte das escolas de arte - como os Liceus de Artes e Ofícios - e também do caráter preponderantemente acadêmico dos cursos de arte então existentes nas universidades brasileiras. Tampouco se confunde com o perfil mais informal das aulas desenvolvidas em ateliês de artistas, ou de experiências com arte e educação de tipo terapêutico. Trata-se de combinar criação, pesquisa e formação interdisciplinar e atividades que incluem não apenas as artes visuais, mas também a música, o teatro, a dança, o cinema, o vídeo, a fotografia e as novas modalidades de arte tecnológica.
Pela direção e corpo docente da escola passam alguns nomes importantes no cenário artístico brasileiro: Rubens Gerchman (1942-2008), diretor no período entre 1975 e 1978, traz como professores Roberto Magalhães (1940), Eduardo Sued (1925), Celeida Tostes (1929-1995), Dionísio Del Santo (1925-1999), Gastão Manuel Henrique (1933), Hélio Eichbauer (1941) e Alair Gomes (1921-1992). Quando na direção, Rubem Breitman (1932-2001) convida Luiz Aquila (1943), John Nicholson (1951) e Charles Watson (1951). Estiveram ainda à frente da escola: Marcos Lontra (1954), Frederico Moraes, João Carlos Goldberg (1947), Luiz Alphonsus (1948) e Luiz Ernesto (1955). A escola é dirigida por Carlos Martins (1946) e conta com a colaboração de Anna Bella Geiger (1933), Charles Watson, Iole de Freitas (1945), Guilherme Bueno, Reinaldo Roels Jr. (1952-2009), entre muitos outros. A Associação dos Amigos da Escola de Artes Visuais, organização de caráter cultural sem fins lucrativos, criada em 1985, apóia desde então a administração e o custeio da casa.
A rotina do trabalho está ancorada em cursos livres, que não exigem pré-requisitos ou exames de admissão; e a escola tampouco concede diplomas. A estrutura central, por sua vez, encontra-se dividida em módulos. O primeiro, Básico, visa fornecer uma introdução a diferentes meios e modalidades artísticas (desenho pintura, escultura, objetos etc.), além de teoria e história da arte. Outro, intitulado Desenvolvimento, busca um contato com diferentes técnicas e linguagens, por meio de aulas práticas e expositivas. Um terceiro módulo volta-se para um trabalho mais aprofundado, realizado com workshops. Além disso, a escola conta com um Núcleo de Crianças e Jovens, para um público de 4 e 13 anos e, mais recentemente, um Núcleo de Arte e Tecnologia, no qual se realizam projetos específicos com novas tecnologias, informática, internet e mídias em geral. Os alunos têm à sua disposição uma biblioteca especializada com cerca de 5 mil volumes.
A partir de 1998, com a direção de Luiz Ernesto, ex-aluno da casa, outro currículo é estabelecido, enfatizando a vocação interdisciplinar, o trânsito entre as diferentes linguagens artísticas e o trabalho com novas tecnologias. As aulas de pintura e desenho são agrupadas em cursos separados os de escultura, instalação e objeto, no Núcleo 3D; os de fotografia, vídeo, serigrafia e gravura, reunidas no Núcleo Imagem técnica. Essa época assiste ainda à criação do curso Arte: Produção e Conceito, com quatro meses de duração e quatro professores responsáveis: Anna Bella Geiger, Daniel Senise (1955), Fernando Cocchiarale e Nelson Leirner (1932). Em 1989 é criado o Gabinete de Gravura, substituído pela Sala Imagem Gráfica em 1992, em convênio com o Departamento de Cultura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Até 1996, quando o convênio é encerrado, são realizadas 22 exposições de artistas consagrados e de outros em início de carreira.
Como pólo aglutinador da arte contemporânea, a EAV/Parque Lage promove uma série de eventos e exposições. Destas, uma das mais célebres é a mostra Como Vai Você, Geração 80?, aberta em 14 de julho de 1983 e organizada com a proposta de trazer à tona a produção variada da década de 1980. Espécie de balanço realizado no calor da hora, a exposição reúne 123 artistas de idades e formações distintas.
Na EAV, no decorrer da década de 1980, são apresentadas mostras temáticas, como Território Ocupado, com trabalhos concebidos para os espaços interno e externo; Missões. 300 Anos, a Visão do Artista, com obras que usam como tema a colonização jesuítica dos índios guaranis no Rio Grande do Sul e Paraguai; Le Déjeuner sur l'Art: Manet no Brasil, em que vinte convidados interpretam a célebre tela do pintor francês; Olhar Van Gogh, criações com base no pintor holandês. Em 1989, é realizada na EAV a primeira exposição individual de Arthur Bispo do Rosário (1911-1989). Nos anos 1990 são organizadas, entre outras, as coletivas Gravura Brasileira - 4 Temas e A Xilogravura na História da Arte Brasileira. A fotografia especificamente é objeto de atenção em Além da Fotografia, Certa Fotografia e Anos 70: Fotolinguagem, entre outras. Em parceria com a RioArte, a EAV realiza quatro edições do Salão Carioca de Arte (17ª, 18ª, 19ª e 20ª), voltadas para a produção dos anos 1990. Em 2000 é inaugurado mais um espaço expositivo, no Pavilhão das Cavalariças, ao lado do prédio principal.
As relações da EAV com as áreas do parque Lage, marcadas por tensões permanentes, constituem um capítulo à parte na história da instituição. Área anexa ao Jardim Botânico, o parque é considerado de utilidade pública em 1976, sendo cedido ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestas (IBDF) (atual Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama) um ano depois, e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Debates e polêmicas cercam a permanência da escola no local desde o momento de sua criação. Em 1991, por exemplo, uma ameaça de despejo provoca forte mobilização que culmina com um decreto presidencial viabilizando seu funcionamento no parque por dez anos, e permitindo a extensão de sua área aos jardins. Em meio às querelas, é realizada a mostra EAV - Processo n.738.765-2, fruto direto das atividades de apoio à EAV, que ocupa hoje apenas o prédio no interior do parque, estando os jardins sob a responsabilidade do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico.
Exposições 151
Performances 1
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17/7/2019 - 17/7/2019
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 3
- ARTE híbrida. Rio de Janeiro: Funarte, 1989.
- KLEIN, Cristian. "Como vai você Parque Lage?", Jornal do Brasil, Caderno B, 27/ 08/ 1998.
- MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte contemporânea. Curadoria geral Nelson Aguilar; curadoria Nelson Aguilar, Franklin Espath Pedroso; tradução Arnaldo Marques, Ivone Castilho Benedetti, Izabel Murat Burbridge, Katica Szabó, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo : Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
Como citar
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ESCOLA de Artes Visuais do Parque Lage (EAV Parque Lage).
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/instituicao14435/escola-de-artes-visuais-do-parque-lage-eav-parque-lage. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7