Arthur Bispo do Rosario
![[Arthur Bispo do Rosario para Revista Cruzeiro], 1942 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2022/04/71314_10811-1.jpg)
[Arthur Bispo do Rosario para Ensaio da Revista Cruzeiro], 1942
Jean Manzon, Arthur Bispo do Rosario
70,00 cm x 50,00 cm
Texto
Arthur Bispo do Rosario (Japaratuba, Sergipe, 19111 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1989). Artista visual. Destaca-se por ter desenvolvido, com objetos cotidianos da instituição em que viveu internado, uma produção em artes visuais reconhecida nacional e internacionalmente.
Em 1925, muda-se para o Rio de Janeiro, onde trabalha na Marinha Brasileira e na companhia de eletricidade Light. Após um delírio místico, apresenta-se a um mosteiro, em 1938, que o envia para o Hospital dos Alienados, na Praia Vermelha. Diagnosticado como esquizofrênico-paranoico, é internado na Colônia Juliano Moreira, no bairro de Jacarepaguá.
De 1940 a 1960, alterna momentos de internação com períodos em que exerce ofícios em residências cariocas. No começo da década de 1960, trabalha na Clínica Pediátrica AMIU, onde vive em um quartinho, no sótão. Ali, inicia seus trabalhos, criando, com materiais rudimentares, diversas miniaturas, como navios de guerra e automóveis, além de vários bordados. Em 1964, regressa à Colônia, onde consolida por volta de 1.000 peças com elementos do dia a dia.
Os trabalhos de Bispo variam entre justaposições de objetos e bordados. Nas obras do primeiro tipo, geralmente usa itens de seu cotidiano na Colônia, como canecas de alumínio, botões, colheres, madeira de caixas de fruta, garrafas de plástico, calçados e materiais comprados por ele ou pessoas amigas. Para os bordados, usa tecidos disponíveis, como lençóis ou roupas, e obtém os fios ao desfiar o uniforme azul de interno.
Prepara com seus trabalhos uma espécie de inventário do mundo para o dia do Juízo Final. Nesse dia, ele se apresentaria a Deus com um manto especial, enquanto representante dos homens e das coisas existentes. O manto bordado traz o nome das pessoas conhecidas, para não se esquecer de interceder junto a Deus por elas. Também faz estandartes, fardões, faixas de miss, fichários, entre outros, nos quais borda desenhos, nomes de pessoas e lugares, além de frases referentes a notícias de jornal ou episódios bíblicos, reunindo-os em uma espécie de cartografia. A criação das peças, para ele, é uma tarefa imposta por vozes que diz ouvir.
No início da década de 1980, com as questões levantadas pela arte contemporânea, a antipsiquiatria e as novas teorias sobre a loucura, os trabalhos de Bispo começam a ser valorizados e integrados ao circuito das artes. Em 1980, uma matéria de Samuel Wainer Filho (1955-1984) para o programa Fantástico, da TV Globo, revela a produção de Bispo ao mostrar a situação da Colônia Juliano Moreira. A reportagem exibe as obras que o artista agrupa em seu quartinho. No mesmo ano, o psicanalista e fotógrafo Hugo Denizart (1946) dirige o filme O Prisioneiro da Passagem ⎼ Arthur Bispo do Rosário.
Com a divulgação, surge o reconhecimento artístico das obras. O crítico Frederico Morais (1936) inclui seus trabalhos na exposição À Margem da Vida, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), em 1982, com obras de presidiários, menores infratores, idosos e internos da Colônia. Posteriormente, realiza-se a primeira exposição individual do artista, também no MAM/RJ. Morais, ao escrever sobre o trabalho de Bispo, relaciona-o à arte de vanguarda, à arte pop, ao novo realismo e especialmente à obra de Marcel Duchamp (1887-1968).
O artista recebe foco em filmes de curta e média-metragens; em livros, como Arthur Bispo do Rosário: o Senhor do Labirinto (1996), de Luciana Hidalgo (1965); e em peças teatrais. Em 1989, é fundada a Associação dos Artistas da Colônia Juliano Moreira, que visa à preservação de sua obra, tombada em 1992 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural (Inepac). Sua produção está reunida no Museu Bispo do Rosário, denominado anteriormente Museu Nise da Silveira, localizado na antiga Colônia Juliano Moreira. Em 1995, com uma vasta seleção de peças, Bispo representa o Brasil na Bienal de Veneza e obtém reconhecimento internacional.
Além de ter se tornado uma das referências para as gerações de artistas brasileiros dos anos 1980 e 1990, a obra de Bispo lega ao Brasil um fazer artístico que retrata e ressignifica, com uma estética e temática particulares, os objetos e experiências do mundo e da vida cotidiana.
Notas
1. Segundo registros da Light, onde Bispo trabalhou entre 1933 e 1937, sua data de nascimento é 16 de março de 1911. Nos registros da Marinha de Guerra do Brasil, onde serviu entre 1925 e 1933, consta 14 de maio de 1909.
Obras 27
Sem Título [Bolsa de gelo]
Sem Título [Cama Romeu e Julieta]
Sem Título [Canecas]
Sem Título [Carrossel]
Sem Título [Colônia Juliano Moreira]
Exposições 138
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8/3/1990 - 22/4/1990
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7/1990 - 8/1990
Fontes de pesquisa 16
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Como citar
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ARTHUR Bispo do Rosario.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa10811/arthur-bispo-do-rosario. Acesso em: 04 de maio de 2025.
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