Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Lygia Clark

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 11.09.2024
23.10.1920 Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte
25.04.1988 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini

Sem Título, 1954
Lygia Clark
Duco sobre madeira
80,00 cm x 80,00 cm

Lygia Pimentel Lins (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1920 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1988). Pintora e escultora. Trabalha com instalações e body art e destaca-se por trabalhar com a relação no campo da arte terapia. Propõe a desmistificação da arte e do artista e a desalienação do espectador, que compartilha a criação da obra.

Texto

Abrir módulo

Lygia Pimentel Lins (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1920 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1988). Pintora e escultora. Trabalha com instalações e body art e destaca-se por trabalhar com a relação no campo da arte terapia. Propõe a desmistificação da arte e do artista e a desalienação do espectador, que compartilha a criação da obra.

Muda-se para o Rio de Janeiro em 1947, e inicia aprendizado artístico com Burle Marx (1909-1994). Entre 1950 e 1952, vive em Paris, onde estuda com Fernand Léger (1881-1955), Arpad Szenes (1897-1985) e Isaac Dobrinsky (1891-1973). De volta ao Brasil, integra o Grupo Frente, liderado por Ivan Serpa (1923-1973).

Na década de 1950 suas pesquisas voltam-se para a "linha orgânica", que aparece na junção entre dois planos, como a que fica entre a tela e a moldura. Incorpora a moldura como elemento plástico em suas obras, como em Composição nº 5 (1954).  Entre 1957 e 1959, realiza composições em preto-e-branco, formadas por placas de madeira justapostas, recobertas com tinta industrial aplicada a pistola, em que a linha orgânica se evidencia ou desaparece de acordo com as cores utilizadas.

É uma das fundadoras do Grupo Neoconcreto e participa da 1ª Exposição Neoconcreta, em 1959. Gradualmente, troca a pintura pela experiência com objetos tridimensionais. A radicalidade com que explora as potencialidades expressivas dos planos a leva a desdobrá-los, como em Casulos (1959), placas de metal fixas na parede, dobradas de maneira a criar um espaço interno. 

Realiza proposições como a série Bichos (1960), construções metálicas geométricas que se articulam por meio de dobradiças e requerem a coparticipação do espectador para resultar em novas configurações. No mesmo ano, leciona artes plásticas no Instituto Nacional de Educação dos Surdos. Em 1963, começa a realizar os Trepantes, recortes espiralados em metal ou em borracha, como em Obra-Mole (1964), que, pela maleabilidade, podem ser apoiados em diferentes suportes, como troncos de madeira ou escada.

Sua preocupação volta-se para uma participação ainda mais ativa do público. Caminhando (1964) é a obra que marca essa transição: o próprio participante realiza a obra de arte. Participa das exposições Opinião 66 (1966) e Nova Objetividade Brasileira (1967), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ).

Inicia trabalhos voltados para o corpo, para a exploração sensorial, que visam ampliar a percepção, retomar memórias ou provocar diferentes emoções. Neles, o papel do artista é de propositor ou canalizador de experiências. Em O Eu e o Tu: Série Roupa-Corpo-Roupa (1967), um casal veste roupas confeccionadas pela artista, cujo forro comporta materiais diversos. Aberturas na roupa proporcionam, pela exploração táctil, uma sensação feminina ao homem, e à mulher, uma sensação masculina. Em Luvas Sensoriais (1968), dá-se a redescoberta do tato por meio de bolas de diferentes tamanhos, pesos e texturas. A instalação A Casa É o Corpo: Labirinto (1968) oferece uma vivência sensorial e simbólica ao visitante, que penetra numa estrutura de 8 metros de comprimento, passando por ambientes denominados "penetração", "ovulação", "germinação" e "expulsão".

Reside em Paris entre 1970 e 1976, e leciona na Faculdade de Artes Plásticas St. Charles, na Sorbonne. Nesse período, afasta-se da produção de objetos estéticos e volta-se sobretudo para experiências corporais, em que os materiais estabelecem relação entre os participantes. 

Entre 1970 e 1975, nas atividades coletivas propostas por Lygia Clark na Faculdade de Artes Plásticas St. Charles, a prática artística é entendida como criação conjunta, em transição para a terapia. Em Túnel (1973), as pessoas percorrem um tubo de pano de 50 metros de comprimento, em que às sensações de claustrofobia e sufocamento contrapõe-se às do nascimento, por meio de aberturas no pano feitas pela artista. Já Canibalismo e Baba Antropofágica (1973) aludem a rituais arcaicos de canibalismo, compreendido como processo de absorção e de ressignificação do outro. No primeiro, o corpo de uma pessoa deitada é coberto de frutas, devoradas por outras de olhos vendados; e, no segundo, os participantes levam à boca carretéis de linha de várias cores e lentamente os desenrolam com as mãos para recobrir o corpo de uma pessoa que está deitada no chão. No final, todos se emaranham com os fios. 

Retorna ao Brasil em 1976 e dedica-se ao estudo das possibilidades terapêuticas da arte sensorial e dos objetos relacionais, como sacos plásticos cheios de sementes, ar ou água; meias-calças contendo bolas; pedras e conchas. Na terapia, o paciente cria relações com os objetos, por meio de sua textura, peso, tamanho, temperatura, sonoridade ou movimento, e revive, em contexto regressivo, sensações registradas na memória do corpo, relativas a fases da vida anteriores à aquisição da linguagem. A prática faz com que no final da vida a artista considere seu trabalho definitivamente alheio à arte e próximo à psicanálise.

A partir dos anos 1980 sua obra ganha reconhecimento internacional com retrospectivas em várias capitais internacionais e em mostras antológicas da arte internacional do pós-guerra.

A poética de Lygia Clark caminha no sentido da não representação e da superação do suporte. Integrando o corpo à arte, de forma individual ou coletiva, a artista amplia as possibilidades de percepção sensorial em seus trabalhos.

Obras 30

Abrir módulo
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini

Bicho

Alumínio

Exposições 491

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 23

Abrir módulo
  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • AMARAL, Aracy (org.). Projeto Construtivo Brasileiro na arte (1950-1962). Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna; São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 1977.
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
  • AS BIENAIS e a abstração: a década de 50. São Paulo: Museu Lasar Segall, 1978. (Ciclo de Exposições de Pintura Brasileira Contemporânea).
  • AYALA, Walmir. Dicionário de pintores brasileiros. Organização André Seffrin. 2. ed. rev. e ampl. Curitiba: Ed. UFPR, 1997.
  • CLARK, Lygia. Lygia Clark. Curadoria Paulo Herkenhoff; texto Paulo Herkenhoff. São Paulo: MAM, 1999. 68 p., s. il.
  • CLARK, Lygia. Lygia Clark. Introdução Manuel J. Borja-Villel; texto Guy Brett, Paulo Herkenhoff, Ferreira Gullar. Barcelona: Fundació Antoni Tàpies, 1998. 364 p., il. p&b.
  • COCCHIARALE, Fernando; GEIGER, Anna Bella. Abstracionismo geométrico e informal: a vanguarda brasileira nos anos cinquenta. Rio de Janeiro: Funarte, Instituto Nacional de Artes Plásticas, 1987.
  • FABBRINI, Ricardo Nascimento. O espaço de Lygia Clark. São Paulo: Atlas, 1994. 292 p., il. p&b.
  • FIGUEIREDO, Luciano (org.). Lygia Clark, Hélio Oiticica: cartas: 1964 - 1974. Prefácio Silviano Santiago; texto Lygia Clark, Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: UFRJ, 1996. 260 p.
  • GRUPO frente / I Exposição Nacional de Arte Abstrata: 1954- 1956 / Hotel Quitandinha - 1953. Rio de Janeiro: Galeria de Arte Banerj, 1984. (Ciclo de Exposições sobre Arte no Rio de Janeiro).
  • HERKENHOFF, Paulo. A aventura planar de Lygia Clark: de caracóis, escadas e caminhando. In: CLARK, Lygia. Lygia Clark. Curadoria Paulo Herkenhoff; texto Paulo Herkenhoff. São Paulo: MAM, 1999. 68 p., s. il. p. 7 e 57.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • LYGIA Clark e Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Paço Imperial, 1986. 123 p., il. p&b., color.
  • LYGIA Clark. Texto Ferreira Gullar, Mário Pedrosa, Lygia Clark. Rio de Janeiro: Funarte, 1980. 60 p., il. color. (Arte brasileira contemporânea).
  • MILLIET, Maria Alice. Lygia Clark: obra-trajeto. São Paulo: Edusp, 1992. 208 p., il. p&b. (Texto & arte, 8).
  • MILLIET, Maria Alice. Tendências construtivas e os limites da linguagem plástica. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte moderna. Organização Nelson Aguilar; coordenação Suzanna Sassoun; tradução Izabel Murat Burbridge, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo : Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
  • OBJETO na arte: Brasil anos 60. Coordenação Daisy Valle Machado Peccinini de Alvarado. São Paulo: FAAP, 1978.
  • PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
  • RIBEIRO, Marília Andrés (org.); SILVA, Fernando Pedro da (org.). Um século de história das artes plásticas em Belo Horizonte. Belo Horizonte: C/Arte, 1997. (Centenário).
  • TRIDIMENSIONALIDADE: arte brasileira do século XX. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 1999.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: