José Resende
![Bibelô: A Secção da Montanha, 1967 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/011513002019.jpg)
Bibelô: A Secção da Montanha, 1967
José Resende
Madeira revestida de laminado, acrílico e terra
116,30 cm x 30,00 cm
Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (SP)
Texto
José de Moura Resende Filho (São Paulo, São Paulo, 1945). Escultor. Suas obras são feitas, entre tantos outros materiais, de pedras, tubos de cobre, lâminas de chumbo, calotas metálicas e parafina, usados para estimular sensações como movimento e desequilíbrio, e muitas vezes com intenção de provocar e ironizar o status quo.
Resende ingressa no mundo das artes no começo da década de 1960. Estuda desenho com Wesley Duke Lee (1931-2010) e frequenta o curso de gravura da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo. Em 1967, forma-se em arquitetura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Nessa época, trabalha como estagiário no escritório do arquiteto Paulo Mendes da Rocha (1928-2021). Com Duke Lee, Nelson Leirner (1932-2020), Geraldo de Barros (1923-1998), Frederico Nasser (1945-2020) e Carlos Fajardo (1941), cria em 1966 o Grupo Rex, cooperativa artística marcada por irreverência, humor e crítica ao sistema de arte.
Ao lado de Luiz Paulo Baravelli (1942), Frederico Nasser e Carlos Fajardo, também é um dos fundadores do Centro de Experimentação Artística Escola Brasil, que valoriza métodos distintos do ensino tradicional em artes visuais. Nas décadas de 1970 e 1980, leciona em várias instituições, como a Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Artes e Decoração da Faculdade de Comunicação e Arte da Universidade Mackenzie, o Departamento de Escultura da Faculdade de Artes Plásticas da Faap e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas.
Em 1975, trabalha como coeditor da revista Malasartes, na qual publica artigos. De 1979 a 1981, frequenta o curso de pós-graduação do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Entre 1984 e 1985, reside em Nova York como bolsista da Fundação John Simon Guggenheim.
Na década de 1960, sua obra, como aponta a estudiosa Daisy Peccinini, apresenta evocações de uma atmosfera "mágica", advindas provavelmente do estudo com Wesley Duke Lee, como em Homenagem ao horizonte longínquo (1967). Nas obras Retrato de meu pai (1965), Liaisons dangereuses (Ligações Perigosas, 1966) e Núpcias no tapete mágico (1967), nota-se o caráter de fantasia com tom irônico de origem pop.
Mais tarde, seus trabalhos adquirem uma característica mais literal, tirando proveito das potencialidades expressivas dos materiais empregados, em consonância com preocupações do movimento artístico italiano Arte Povera (arte pobre, em português) e do pós-minimalismo norte-americano. Entende-se assim a diversidade de materiais escolhidos pelo artista: tubos de cobre, lâminas de chumbo, cabos de aço, chapas e ampolas de vidro.
Resende é autor de uma das 14 esculturas criadas para a Praça da Sé, marco zero da cidade de São Paulo, quando o centro da capital paulista foi reurbanizado durante a construção da estação Sé do Metrô, no final dos anos 1970. O trabalho, entitulado Quadro negro, é construído com uma lâmina de concreto suspensa por quatro colunas de aço, medindo 2 metros de altura por 14 metros de largura. Segundo ele, no contexto do início do movimento das Diretas Já, a ideia foi oferecer um suporte para pichações, com seu teor político, obsceno e provocador.
O artista valoriza a escolha dos materiais que apresentem caráter expressivo. Emprega com frequência os mais diversos líquidos, tais como mercúrio, água e tinta sépia. Usa também couro e parafina. O uso da parafina, por exemplo, por ser um material que se solidifica facilmente, permite ao espectador a observação do gesto do escultor e a cristalização dessa ação na forma final. Em algumas esculturas da década de 1990, utiliza calotas metálicas como módulos para várias articulações.
A produção mais característica de Resende procura dar relevância aos elementos empregados e às relações deles com o espaço, em lugar de apenas utilizá-los como suporte para formas convencionais. O artista cria esculturas que incorporam ou dialogam com os espaços vazios. Seus trabalhos se distinguem pelas articulações plásticas tensas: torções, curvas e nós que sugerem equilíbrio precário, sensação de movimento ou deslocamento.
José Resende é um artista questionador que usa materiais pouco convencionais para criar esculturas carregadas de sentido político, com as quais propõe uma linguagem à margem dos padrões vigentes.
Obras 44
Bibelô: A Secção da Montanha
Glub-Glub ou o Jardim de Jane Mansfield
Homenagem ao Horizonte Longínquo
Liaisons Amoureuses
Marco dos 100 Milhões de Toneladas
Exposições 291
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20/10/1965 - 13/11/1965
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31/3/1966 - 17/4/1966
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Mídias (1)
Produção: Documenta Vídeo Brasil
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Carolina Fomin (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)
Fontes de pesquisa 17
- 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
- ALVARADO, Daisy Valle Machado Peccinini de. Figurações Brasil anos 60: neofigurações fantásticas e neo-surrealismo, novo realismo e nova objetividade brasileira. São Paulo: Itaú Cultural / Edusp, 1999.
- BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO, 20., 1989, São Paulo. 20ª Bienal Internacional de São Paulo. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1989. Exposição realizada no período de 14 out. a 10 dez. 1989. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/20___bienal_de_s__o_paulo_-_vol._i_.
- ESCULTURA Brasileira: perfil de uma identidade. Curadoria Emanoel Araújo, Sérgio Pizoli; tradução David Coles, Eloisa Marques, Daril Collard. São Paulo, SP: Imprensa Oficial, 1997.
- ESCULTURA brasileira: da Pinacoteca ao Jardim da Luz. Curadoria Agnaldo Farias. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2000.
- GONÇALVES FILHO, Antonio. José Resende dá dimensão poética ao vazio. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 10 out. 1995. Caderno 2, p. D-7.
- José Resende tem escultura provocativa na Praça da Sé. Blog Arte na Linha, 30 abr. 2013. Disponível em https://artenalinha.wordpress.com/2013/04/30/jose-resende-tem-escultura-provocativa-na-praca-da-se/. Acesso em: 29 maio. 2022.
- LEIRNER, Sheila. José Resende e o retrato fiel de uma ação. In: ______. Arte e seu tempo. São Paulo: Perspectiva, 1991. (Debates, 237).
- MENDONÇA, Casimiro Xavier de. José Resende: ação sobre a matéria. Galeria: Revista de Arte, São Paulo, n. 9, p. 62-69, 1988.
- OBJETO na arte: Brasil anos 60. Coordenação Daisy Valle Machado Peccinini de Alvarado. São Paulo: FAAP, 1978.
- RESENDE, José. 8 esculturas. Coordenação Marli Matsumoto; texto Patricia Corrêa; tradução Stephen Berg. São Paulo: Gabinete de Arte Raquel Arnaud, 2002. [14] p., il. p&b color.
- RESENDE, José. José Resende. Curadoria Ronaldo Brito; tradução Ann Puntch. Rio de Janeiro: Centro de Arte Hélio Oiticica, 1998.
- RESENDE, José. José Resende. São Paulo: Subdistrito Comercial de Arte, 1988.
- RESENDE, José. José Resende. Tradução Stephen Berg. Rio de Janeiro: Demibold, 1992.
- RESENDE, José. José Resende. Versão John Manuel Monteiro. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1994.
- SETE artistas: Sérgio de Camargo, Tunga, Cássio Michalany, Franz Weissmann, Lasar Segall, José Resende, Tomie Ohtake. São Paulo: Gabinete de Arte Raquel Arnaud, 1985.
- TRIDIMENSIONALIDADE: arte brasileira do século XX. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 1999.
Como citar
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JOSÉ Resende.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa8972/jose-resende. Acesso em: 02 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7