Carlos Fajardo
![Sem Título, 1997 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/011592001019.jpg)
Sem Título, 1997
Carlos Fajardo
Argila
Texto
Carlos Alberto Fajardo (São Paulo, São Paulo, 1941). Artista plástico, professor. Destaca-se na pintura e no desenho, suportes utilizados no início da carreira, embora mais tarde se oriente para as questões da escultura e da instalação, especificamente para a discussão da superfície.
Durante a década de 1960, enquanto cursa arquitetura na faculdade Mackenzie, tem aulas de desenho com o artista Wesley Duke Lee (1931-2010). Nesse período, estuda também pintura, história da arte e comunicação visual, gravura em metal e litogravura.
Entre 1966 e 1967, ao lado dos artistas Frederico Nasser (1945-2020), Geraldo de Barros (1923-1998) e José Resende (1945), funda o grupo Rex e a Rex Gallery, em São Paulo, onde organiza eventos e edita o jornal Rex Time.
A corrente estética do minimalismo americano dos anos 1960 interessa o artista pela questão construtiva e pelo uso de materiais industriais. Na emblemática obra Neutral (1966), por exemplo, utiliza material industrial e não participa da produção da obra. A peça consiste em um cubo de 40 cm3, produzido em acrílico transparente, contendo outro cubo interno, cujo traçado feito com incisões se encontra deslocado em relação ao cubo maior. Vende-se apenas as instruções para a confecção da obra pelo próprio comprador. Há também necessidade de interação do espectador com a obra, porque o cubo interior só é percebido pelo manuseio dela.
O interesse pelo ensino de artes se inicia com a criação do centro de experimentação artística Escola Brasil (1970-1974) com os artistas Luiz Paulo Baravelli (1942), José Resende e Frederico Nasser. Desde a Escola Brasil, Fajardo estabelece relação entre sua formação em arte e o ensino: considera que a arte é aprendida, não ensinada. Essa concepção nasce no fazer artístico, cujo processo interessa mais do que o objeto final. A prática artística e as questões do ofício retroalimentam o aprendizado do artista, que desenvolve um discurso com base no próprio repertório. Do mesmo modo, o espectador não precisa ter conhecimento prévio de arte, uma vez que as obras devem ser vivenciadas, não entendidas.
O interesse pela superfície como propriedade material aparece também na pintura, técnica explorada até o começo dos anos 1980, como a tela Azul (1977), apresentada em 1981 na XVI Bienal de São Paulo. Já os trabalhos em fórmica são desenvolvidos de 1969 até os anos 1990. Nessas obras, o uso do material industrial carrega a superfície de cor, reorganizada em formas que ainda se relacionam com a figuração, como em República do Líbano (1971).
Durante os anos 1980 e 1990, a atividade pedagógica se expande com aulas em seu ateliê. Em 1987, é premiado pelo Ministério da Cultura com a bolsa Ivan Serpa e, em 1989, com a bolsa Vitae. A partir de 1998, depois de concluir o doutorado em artes com a tese Poéticas visuais, a profundidade e a superfície, torna-se professor no Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), orientando alunos de graduação e pós-graduação.
Está presente em cinco edições da Bienal de São Paulo (1967, 1981, 1987, 2002 e 2010) – e na Bienal de Veneza de 1978 e 1993. Participa também de duas edições do Arte Cidade – a primeira (1994) e a quarta (2002) – e da I Bienal do Mercosul (1997).
Ao longo das décadas, suas obras passam a ocupar espaço de grandes proporções e, como em Neural, sugerem maior proximidade com o espectador. A instalação montada na XXV Bienal de São Paulo (2002) é um bom exemplo. Ela convida o espectador a entrar em um ambiente de vidro, com 7,5m x 6m de lados e 2,40 m de altura, revestido com uma superfície de metal fino que não permite que as pessoas do lado de dentro vejam o espaço exterior – e vice-versa. A entrada é uma espécie de corredor que tangencia a totalidade do espaço. O revestimento também impede a passagem do som. Essas características propiciam ao espectador vivência plena e articulam as relações sobre dentro e fora, propostas pela fisicalidade e pela presença da obra em seu mapeamento do espaço. A organização espacial na instalação também pressupõe relação de troca, em termos de aceitação e oposição, para oferecer a experiência vivida pela e com a obra.
Em 2012, o artista cria a instalação No meio do vão, com piso e cobertura transparentes em um espaço de convivência do Sesc Belezinho. A profundidade em eixo vertical e a luz ambiente possibilitam que a estrutura instalada pelo artista – pórticos que seguram espelhos – multipliquem os reflexos do público, cujas sombras aparecem em todas as faces construídas.
Entre as técnicas que utiliza, o desenho é a que oferece o caminho plástico para o raciocínio visual, a memória do gesto e a relação entre os materiais – o grafite e o papel. O contraste oferecido pelo encontro de materiais distintos perpassa toda a produção artística do artista. Suas obras estão em acervos do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, do Parque da Marina, em Porto Alegre, e da Fundação Demócrito Rocha, em Fortaleza.
Carlos Fajardo se apresenta como um nome importante da arte contemporânea brasileira não apenas no aspecto da produção como também na vertente do ensino.
Obras 29
Ao Cubo
Lembrança de Wesselmann
Quadro Embutido
Sem Título
Sem título
Exposições 237
Mídias (1)
Produção: Documenta Vídeo Brasil
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Erika Mota (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)
Fontes de pesquisa 28
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- FAJARDO, Carlos. Poéticas visuais: a profundidade e a superfície. 1998. 84p. il. Tese (Doutorado) - Departamento de Artes Plásticas, Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, São Paulo, 1998.
- FARIAS, Agnaldo. Catálogo da Representação do Brasil na Bienal de Veneza. 1993.
- LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.
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- SEMANA DE ARTE DE LONDRINA, 4., 1995, Londrina, PR. Arte brasileira: confrontos e contrastes. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 1995.
- SITE da Escola Comunicação e Artes Universidade de São Paulo. Disponível em: < http://www2.eca.usp.br/cms/index.php?option=com_content&view=article&id=56:carlos-fajardo&catid=14:folios&Itemid=10 >. Acesso em: 10 ago. 2017.
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CARLOS Fajardo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa9511/carlos-fajardo. Acesso em: 02 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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