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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Paulo Mendes da Rocha

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 23.08.2024
25.10.1928 Brasil / Espírito Santo / Vitória
23.05.2021 Brasil / São Paulo / São Paulo
Acervo Paulo Mendes da Rocha

Sem Título
Paulo Mendes da Rocha
Nanquim sobre papel, c.i.d.
16,00 cm x 30,00 cm
Acervo Paulo Mendes da Rocha

Paulo Archias Mendes da Rocha (Vitória, Espírito Santo, 1928 - São Paulo, São Paulo, 2021). Arquiteto, urbanista e professor. Representante da Escola Paulista e ganhador do Prêmio Pritzker, o chamado “Nobel da arquitetura”, é o autor de projetos como o Museu Brasileiro da Escultura (MuBE) e o plano de reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo...

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Paulo Archias Mendes da Rocha (Vitória, Espírito Santo, 1928 - São Paulo, São Paulo, 2021). Arquiteto, urbanista e professor. Representante da Escola Paulista e ganhador do Prêmio Pritzker, o chamado “Nobel da arquitetura”, é o autor de projetos como o Museu Brasileiro da Escultura (MuBE) e o plano de reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pesp).

A produção de Mendes da Rocha se caracteriza, segundo o crítico italiano Francesco Dal Co, pela combinação ímpar dos seguintes atributos: a "segura racionalidade", a "essencialidade das soluções construtivas", a "intransigência no emprego dos materiais" e o "desprezo pelo supérfluo".1  São atributos que revelam as singularidades do arquiteto e que, em parte, indicam as relações que desenvolve com profissionais e tendências ao longo de sua carreira.

Mendes da Rocha se forma em 1954, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Filho do engenheiro de portos e vias navegáveis Paulo Menezes Mendes da Rocha, diretor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) entre 1943 e 1947, tem uma formação familiar ligada à reflexão sobre a relação entre engenharia e natureza.

O arquiteto se destaca muito cedo, aos 29 anos, quando projeta o Ginásio do Clube Atlético Paulistano (1958), obra que lhe vale o Grande Prêmio Presidência da República na 6ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1961. Estruturada em seis enormes pilares de concreto que se afinam ao encontrar o solo, essa obra pioneira antecipa muitas das características da chamada "virada brutalista" na arquitetura. Entre o final da década de 1950 e início dos anos 1960, a carreira do arquiteto também é marcada por projetos de escolas para a rede pública.2

Em 1961, Mendes da Rocha torna-se professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), a convite do arquiteto Vilanova Artigas. Passa, então, a integrar o grupo de arquitetos que, sob a liderança deste último, constitui a chamada Escola Paulista, cuja produção se caracteriza pelo emprego "brutalista" do concreto armado e pela ênfase nas soluções estruturais de grande porte, características prefiguradas no premiado ginásio projetado por Mendes da Rocha.

Datam desse período inicial em que atuou como professor da FAU/USP obras consideradas fundamentais em sua carreira: a sede social do Jockey Club de Goiânia, de 1962, o edifício residencial Guaimbê e sua própria residência, no bairro do Butantã, em 1964, ambos em São Paulo. Mais tarde, ao lado de Artigas e Fábio Penteado, projeta o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado/Parque Cecap (1968), construído em Guarulhos para atender a 50 mil moradores.

Após o Ato Institucional nº 5 (AI-5 ), Mendes da Rocha é afastado da FAU/USP em 1969, à qual retornará, com a anistia, apenas em 1980, na função de auxiliar de ensino – permanecerá nessa condição até tornar-se professor titular em 1998, ano em que se aposentará compulsoriamente, por ter completado 70 anos de idade.

Com os direitos profissionais cassados, vence em 1969, em situação paradoxal, o concurso nacional para o Pavilhão do Brasil, na Expo'70, em Osaka: seu projeto é uma grande cobertura de concreto e vidro apoiada em colinas artificiais. Em 1971,  seu trabalho é um dos premiados no concurso internacional para o Centre Georges Pompidou (Beaubourg), em Paris.

Enquanto no trabalho de Vilanova Artigas, mentor de Mendes da Rocha, a visão didática da estrutura prevalece, nos projetos deste último a construção não parece carregar um sentido pedagógico explícito. Ela, antes, foge do formalismo, exprimindo-se na forma de "gestos primários", quase arquetípicos. Esse é o sentido da construção de uma topografia artificial no mencionado Pavilhão do Brasil. Trata-se, em suas palavras, de "uma visão poética sobre a forma que ultrapassa, na sua dimensão humana, a estrita necessidade". Uma arquitetura que se distancia do modernismo heróico, e que declara desejar-se menos "funcional" do que "oportuna".3

Atuante também no campo da representação de classe, Mendes da Rocha preside o departamento paulista do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/SP) em duas ocasiões: de 1972 a 1973 e de 1986 a 1987. Entre 1987 e 1988, seus projetos para a Loja Forma e para o Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), também vencedor de um concurso, inauguram uma nova fase de reconhecimento público do seu trabalho. A viga-marquise do MuBE é mais um exemplo do valor “quase arquetípico” de suas obras, com uma função essencialmente simbólica: demarcar um lugar, uma construção subterrânea.4

No campo do urbanismo, o lirismo do seu raciocínio se baseia na exploração da relação entre construção e natureza, uma vez que, para Mendes da Rocha, a "primeira e primordial arquitetura é a geografia".5 Em projetos como a Cidade do Tietê, de 1981, e as propostas de reurbanização das baías de Vitória, de 1993, e Montevidéu, de 1998, a inteligência das intervenções dialoga com as possibilidades latentes da paisagem, lidas de uma ótica infraestrutural.

No primeiro desses projetos, Mendes da Rocha propõe a construção estratégica de uma "cidade-porto fluvial" que, às margens do rio Tietê, integre as redes de transporte intercontinentais e incentive a ocupação do território, ligando, em última análise, as bacias Amazônica e do Prata. No segundo, propõe edifícios insólitos construídos diretamente sobre as águas, em contraste e diálogo com a monumentalidade tanto dos navios que atracam no porto quanto das montanhas próximas. Por fim, no terceiro projeto, faz da superfície de água da baía, tratada historicamente como um entrave para o desenvolvimento da cidade, um meio de transporte que integra lugares estanques, retifica o porto e explora a potencialidade "festiva" da natureza ao transformar uma ilha existente em teatro ao ar livre.

Quatro fatores podem ser apontados como determinantes na constituição desse modo de pensar. O primeiro refere-se à ideologia desenvolvimentista da Escola Paulista, apoiada no projeto político do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que enxerga nas grandes obras de infraestrutura (barragens, canais, estradas, portos) o vital avanço das forças produtivas da nação. O segundo é familiar, e deve-se à influência do seu pai, engenheiro encarregado de planejar o combate à seca no Nordeste e responsável pela construção do Açude de Cruzeta, 1918, no Rio Grande do Norte. O terceiro relaciona-se à influência da "visão telúrica" de Le Corbusier, que, no livro Precisões sobre um Estado Presente da Arquitetura e do Urbanismo, 1930, relata o impacto provocado pelo território americano em sua visão de mundo. E o quarto, mais recente, consiste na leitura da liberdade irreverente e fenomenológica de propostas do arquiteto italiano Aldo Rossi, particularmente do seu "Teatro do Mundo" em Veneza, 1979: uma construção flutuante, que se move, como a própria cidade de Veneza, cujo "leito carroçável" é feito de água.

O reconhecimento de Mendes da Rocha se estende pela década de 1990, quando desenvolve na cidade de São Paulo projetos como o pórtico da Praça do Patriarca, em 1992, a reforma do edíficio da Pinacoteca do Estado de São Paulo (_Pina), em 1993, e o Centro Cultural da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em 1996. Internacionalmente, o arquiteto torna-se um profissional de referência: as editoras Blau, de Portugal, e Gustavo Gilli, da Espanha, lançam, em 1996, o livro Mendes da Rocha. O reconhecimento se intensifica em 1997 com a Sala Especial Mendes da Rocha, na 10ª Documenta de Kassel, Alemanha, e com o Prêmio Mies van der Rohe de Arquitetura Latino-Americana, em 2000, pela reforma da Pesp.

Pode-se dizer que, pelo amplo reconhecimento que obtém no fim dos anos 1990, a arquitetura brasileira recupera parte do interesse que desperta no público estrangeiro entre as décadas de 1940 e 1960. A obra de Mendes da Rocha se alça no panorama contemporâneo simultaneamente como a legítima herdeira desse legado histórico racionalista e como sua atualização crítica no contexto das revisões pós-modernas.

No processo de formalização conduzido por Mendes da Rocha, não é o apuro no detalhe construtivo ou a expressividade plástica que comandam, mas a monumentalidade da técnica. Não há a intermediação do capricho artesanal ou da composição em seu raciocínio, pois a relação entre técnica e pensamento é direta. "Raciocina-se com a engenhosidade possível. Não se pensa com formas autônomas ou independentes de uma visão fabril delas mesmas", diz Paulo Mendes. E completa: "Quando o arquiteto risca no papel uma anotação formal, um croquis, está convocando todo o saber necessário, mecânica dos fluidos, mecânica dos solos, máquinas e cálculos que sabe que existem para fazer aquilo. Não se trata de fantasias, mas uma forma peculiar de mobilizar o conhecimento, o modo arquitetônico."6

Com a publicação do livro Paulo Mendes Da Rocha: Bauten Und Projekte (2001), na Europa, pela editora Niggli Verlag, além de encomendas de projetos na Espanha, o arquiteto recebe, em 2006, o importante Prêmio Pritzker, condecoração máxima entre os arquitetos do mundo, considerada o prêmio Nobel da arquitetura. Além de Paulo Mendes, o único arquiteto brasileiro a receber o prêmio é Oscar Niemeyer (1907-2012) condecorado em 1988.

O reconhecimento internacional de Mendes da Rocha, sua produção diversa e singular, além do valor simbólico que suas obras têm entre os que vivenciam a cidade, são os fatores que determinam a importância do arquiteto para o Brasil e explicam sua posição proeminente nas discussões e eventos sobre a arquitetura e o urbanismo.

Notas

1. DALCO, Francesco. Paulo Mendes da Rocha - Pritzker Prize 2006. Casabella 744, maio de 2006.

2. "Durante os anos de 60 a 63 o Instituto de Previdência do Estado (Ipesp), organizou e financiou projetos e construções de diversos edifícios públicos em quase todos os municípios do Estado, escolas principalmente, contratando arquitetos, alguns recentemente saídos das Faculdades. A necessidade de uma unidade em torno do problema da escola, atraiu as atenções em torno do tema, seus problemas, implicações sociais, estéticas, técnicas e ressaltou a importância da revisão dos planos e programas. Na verdade constitui-se um verdadeiro grupo de trabalho e de troca de informações e os projetos resultantes revelam um notável avanço geral, na prática profissional no nosso meio". ROCHA, Paulo Mendes da. Edifícios escolares: comentários.Acrópole, 377, set. 1970, p. 35.

3. ROCHA, Paulo Mendes. Genealogia da imaginação. In: ARTIGAS, Rosa Camargo (org.). Paulo Mendes da Rocha. São Paulo: Cosac & Naify, 2000. p. 73.

4. Ver: TELLES, Sophia S.  Museu da Escultura. AU Arquitetura e Urbanismo, n. 32, out/nov 1990.

5. ROCHA, Paulo Mendes. A cidade para todos. In: ARTIGAS, Rosa Camargo (org.). op. cit. p. 172.

6. ROCHA, Paulo Mendes. Genealogia da imaginação. In: ARTIGAS, Rosa Camargo (org.). op. cit. p. 71.

Obras 14

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Acervo Paulo Mendes da Rocha

Autoretrato

Nanquim sobre papel

Espetáculos 1

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Exposições 21

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Fontes de pesquisa 11

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