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Artes visuais

Escola Paulista

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 14.03.2019
Escola Paulista é o termo pelo qual uma parcela importante da produção moderna da arquitetura brasileira é comumente reconhecida pela historiografia, mas não identifica toda a produção arquitetônica do estado de São Paulo. Trata-se originalmente da arquitetura produzida por um grupo radicado em São Paulo, que, com a liderança de  Vilanova Artiga...

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Definição

Escola Paulista é o termo pelo qual uma parcela importante da produção moderna da arquitetura brasileira é comumente reconhecida pela historiografia, mas não identifica toda a produção arquitetônica do estado de São Paulo. Trata-se originalmente da arquitetura produzida por um grupo radicado em São Paulo, que, com a liderança de  Vilanova Artigas (1915-1985), realiza uma arquitetura marcada pela ênfase na técnica construtiva, pela adoção do concreto armado aparente e valorização da estrutura.

Artigas, engenheiro-arquiteto formado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), em 1937, destaca-se dentro da Escola Paulista não apenas por suas obras, mas também pelas posições políticas que informam a sua produção prática, didática e teórica. É a partir da Casa Baeta, 1956, que o arquiteto passa a ser "o chefe de fila da arquitetura de São Paulo, responsável pela melhor produção brasileira desde o concurso de Brasília",1 mas é somente com a sequência de projetos realizados entre 1959 e 1961 - Casa Mário Taques Bitencourt, Ginásio de Itanhaém, Ginásio de Guarulhos, Anhembi Tênis Clube, Garagem de Barcos do Iate Clube Santa Paula e o edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP) -  que as linhas mestras dessa escola se definem. A partir daí, a arquitetura feita em São Paulo cada vez mais se caracteriza pela introversão, pela continuidade espacial garantida pela adoção de rampas e de iluminação zenital, e pelo emprego de grandes vãos, gerando extensos planos horizontais de concreto aparente e exigindo o uso de técnicas construtivas elaboradas, como o concreto protendido. Mais do que uma busca puramente estética ou técnica, essas características revelam um projeto político para o país, que aposta na industrialização para a superação do subdesenvolvimento.

Para Artigas, cabe aos arquitetos contribuir para esse projeto de desenvolvimento nacional, algo que só poderia ser realizado pelo investimento na modernização técnica da construção civil, empregando a técnica do concreto armado, a racionalização do desenho tendente à pré-fabricação e à mecanização do canteiro de obras. Nesse sentido, a Escola Paulista se diferencia da Escola Carioca, mais preocupada com a afirmação de uma linguagem ao mesmo tempo moderna e nacional, composta pela junção da gramática racionalista com elementos ditos "tradicionais". É preciso que se reconheça, entretanto, que há entre os arquitetos cariocas aqueles que se preocupam de algum modo com questões semelhantes às levantadas por Artigas2 e que a ênfase na estrutura é notada não só nos projetos do Colégio Brasil-Paraguai, 1952, e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 1953, de Affonso Eduardo Reidy (1909-1964), como pelo depoimento publicado por Oscar Niemeyer (1907-2012) em fevereiro de 1958 na revista Módulo, comentado por Artigas em julho do mesmo ano, e novamente em 1965, na revista Acrópole.3 

Segundo o arquiteto Hugo Segawa, a arquitetura paulista alcança maturidade também a partir da fermentação de ideias que ocorre sobretudo na FAU/USP, curso criado em 1948, tema de debate em diversos fóruns e encontros nacionais, dos anos 1960, que tratam da formulação de um currículo mínimo para os cursos de arquitetura.4 O novo currículo proposto por Artigas e implantado na FAU/USP em 1962 (e dali em diante em outras escolas de arquitetura por todo o país) se fundamenta basicamente na ideia de que o curso de arquitetura e urbanismo deve se estruturar nas disciplinas dedicadas ao projeto em diferentes escalas, sendo o estúdio ou o ateliê o principal espaço de aula e de discussão. Além disso, que o curso passe a ser organizado em três eixos ou departamentos: História, Projetos e Técnicas, o que dá uma amplitude de saber ao novo profissional, habilitando-o ao enfrentamento das diversas demandas e fazendo dele um "profissional completo" que possa contribuir para a construção da nação.

O edifício da FAU/USP na Cidade Universitária procura expressar esse projeto didático, integrando por meio de rampas e do vazio central todas as atividades ali realizadas, enfatizando o espaço do ateliê e da biblioteca e, mais do que isso, sendo um edifício sem portas de entrada, aberto a manifestação de todos, ou seja, um edifício que é ele mesmo a "espacialização da democracia [...] onde todas as atividades são lícitas".5 Se o Ministério da Educação e Saúde (MES) é o edifício símbolo da Escola Carioca, o edifício da FAU/USP é o marco principal da Escola Paulista.

Além de Artigas, fazem parte da chamada Escola Paulista, ou "brutalismo paulista", Paulo Mendes da Rocha (1928), Marcello Fragelli (1928-2014), Abrahão Sanovicz (1933-1999), João Walter Toscano (1933), Pedro Paulo de Melo Saraiva (1933-2016), Ruy Ohtake (1938), entre outros.

Notas

1. LIRA, José. Apresentação. In: ARTIGAS, Vilanova. Caminhos da arquitetura. São Paulo: Cosac Naify, 2004. p.9.
2. Entre esses arquitetos estão Carlos Frederico Ferreira (1906-1966), chefe do Setor de Engenharia do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (Iapi), e Affonso Eduardo Reidy, arquiteto-chefe da Secretaria Geral de Viação, Trabalho e Obras da Prefeitura do Distrito Federal, no Rio de Janeiro.
3. NIEMEYER, Oscar. Depoimento. In: XAVIER, Alberto (org.). Depoimento de uma geração: arquitetura moderna brasileira. São Paulo: Cosac Naify, 2003. p. 238-240; ARTIGAS, João Batista Vilanova. Revisão crítica de Niemeyer. In: Op. cit. p. 240; ARTIGAS, João Batista Vilanova. Uma falsa crise. In: Op cit. p. 248-253.
4. SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. São Paulo: Edusp, 1998. p. 146.
5. Vilanova Artigas: arquitetos brasileiros. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi: Fundação Vilanova Artigas, 1997. p. 101.

Fontes de pesquisa 6

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  • ARTIGAS, Vilanova. Caminhos da arquitetura. Organização Rosa Camargo Artigas e José Tavares Correia de Lira. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
  • ARTIGAS, Vilanova. Vilanova Artigas. Organização Marcelo Carvalho Ferraz; São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi : Fundação Vilanova Artigas, 1997. 215 p., il. color. (Arquitetos brasileiros).
  • DEPOIMENTO de uma geração: arquitetura moderna brasileira. rev. ampl. Organização Alberto Xavier. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
  • ESPECIAL Escola Paulista. AU, São Paulo, n.17, abr./ mai. 1988.
  • KOURY, Ana Paula. Grupo Arquitetura Nova: Flávio Império, Rodrigo Lefèvre e Sérgio Ferro. São Paulo: Edusp: Fapesp: Romano Guerra, 2003. 136 p., il. p&b. (Olhar arquitetônico, 1).
  • SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1999.

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