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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Brasília

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 10.06.2024
1956
O sonho de transferência da capital do Brasil para o interior é acalentado pelo menos desde sua independência, em 1822. Do ponto de vista simbólico, a mudança significa a passagem de um país colonial para uma nação independente, pronta para integrar outras regiões desfavorecidas pelo regime precedente e deslanchar um novo processo de desenvolvim...

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O sonho de transferência da capital do Brasil para o interior é acalentado pelo menos desde sua independência, em 1822. Do ponto de vista simbólico, a mudança significa a passagem de um país colonial para uma nação independente, pronta para integrar outras regiões desfavorecidas pelo regime precedente e deslanchar um novo processo de desenvolvimento. Com a proclamação da república, esse desejo é reafirmado legalmente na forma de artigo da Constituição de 1891, na qual se prevê a criação do Distrito Federal no Estado de Goiás, no Planalto Central. Em 1892, uma comissão, chefiada pelo astrônomo belga Luis Cruls (1848-1908), inicia estudo para demarcação desse território. Mas somente em 1953 a idéia é retomada pelo presidente Getúlio Vargas (1882-1954), que nomeia uma Comissão de Localização da Nova Capital Federal para escolher em definitivo o local para a construção de Brasília. No entanto, cabe ao presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) realizar o projeto, a partir de 1956, no tempo recorde de menos de cinco anos.

Juscelino Kubitschek encontra o terreno preparado para a realização do amplo empreendimento, mas, sem seu empenho pessoal em cumprir essa promessa de campanha, a cidade não teria surgido como num passe de mágica.1 Obviamente, tal perseverança visa também a fins políticos: até hoje os cinco anos do governo são lembrados como um período de prosperidade e de grandes realizações, cuja síntese é representada por Brasília.

Apesar da forte oposição dentro e fora do governo, em setembro de 1956 é aprovado pelo Congresso o projeto de lei para a construção da nova cidade e o presidente convida pessoalmente o arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) para planejar os prédios governamentais e dirigir o Departamento de Arquitetura da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).2 Ainda em setembro, por sugestão de Niemeyer, abre-se um concurso nacional para elaboração do plano piloto. O anteprojeto do arquiteto e urbanista Lucio Costa (1902-1998) é declarado vencedor, por unanimidade, em março de 1957. Apesar das celeumas sobre o resultado, no conjunto a crítica especializada concorda com a escolha, reconhecendo a superioridade da proposta.

Nota-se no projeto a simplicidade do desenho e da concepção. Como observa o próprio Lucio Costa, o desenho da cidade "nasceu de um gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz".3 Também procura-se adaptar o traçado à topografia local, arqueando um dos eixos "a fim de contê-lo no triângulo equilátero que define a área urbanizada". A idéia de "tomada de posse" remonta, paradoxalmente e de forma consciente por Costa, à lógica de ocupação da tradição colonial; no entanto seu significado simbólico adapta-se ao espírito e às condições que presidem à fundação de Brasília: capital artificial plantada no Planalto Central para servir como ponto de partida para uma nova colonização.

A cidade de Costa é organizada em torno desses dois eixos perpendiculares, um é consagrado ao poder público e ao setor administrativo enquanto o outro abarca a vida particular, com concentração de atividades mistas na interseção dos dois elementos. A circulação rápida e fácil é garantida por um sistema de rodovias, permitindo evitar os cruzamentos e separar as diversas modalidades de tráfego (nota-se que o meio de transporte favorecido é o automóvel). Como observa crítico Mário Pedrosa (1900-1981) "sua articulação espacial é límpida, condensada e rítmica [...] sem tropeços, até as capilares, e vai e vem de extremidade em extremidade, como num bom sistema de vasos sanguíneos".4

É na parceria entre Costa e Niemeyer que o ideal estético da cidade encontra sua expressão maior. O eixo monumental, ponto focal da cidade, exige de cada edifício público um caráter singular, sem prejuízo da unidade do todo.  Niemeyer atinge seu objetivo mediante a combinação de formas puras e geométricas trabalhadas de modos diversos, como é o caso do jogo das cúpulas invertidas do palácio do Congresso, ou as colunas com extremidades em vértice que se repetem nos palácios do Planalto, do Supremo e da Alvorada (transformando-se em símbolo de Brasília). O conjunto desse eixo, cuja localização é definida por Costa, sintetiza a idéia guia dos dois arquitetos em relação a Brasília: atingir a monumentalidade exigida por uma capital federal pela leveza e simplicidade, e pela harmonia e clareza das articulações entre as partes e o todo. Tanto os edifícios quanto o plano piloto compartilham um caráter aéreo, como se tudo estivesse suavemente pousado no solo (o desenho do último já foi comparado a um avião ou pássaro pousado no Planalto Central).5 São esses alguns dos elementos que fazem de Brasília, inaugurada em 21 de abril de 1960, uma experiência única no âmbito da arquitetura moderna mundial,6 a despeito das modificações infligidas à cidade e do crescimento populacional muito acima das expectativas e a conseqüente construção das cidades-satélite, muitas delas convivendo com os mesmos problemas das periferias pobres das metrópoles brasileiras.

Notas

1. Para julgar a importância dada à construção da nova capital no governo de Juscelino Kubitschek basta lembrar que ela faz parte do Programa de Metas, conhecida como  "meta-síntese".

2. Novacap é o órgão do Estado, criado em 1956, encarregado de todas as operações visando à implantação e construção da nova cidade. Goza de autonomia quase total, podendo gerir à vontade seu orçamento, e está subordinado somente ao presidente da república. Para sua direção, Kubitschek elege um homem de confiança, Israel Pinheiro.

3. Costa, Lucio. Plano piloto de Brasília. S.l.: Módulo-Arquitetura Ltda., s.d.

4. PEDROSA, Mário. Reflexões em torno da nova capital. In: ______; ARANTES, Otília Beatriz Fiori (org.). Acadêmicos e modernos: textos escolhidos III. São Paulo: Edusp, 1998. p. 404.

5. Costa sintetiza: "Brasília, capital aérea e rodoviária; cidade-parque. Monumental mas cômoda, eficiente, acolhedora e íntima", ao mesmo tempo "derramada e concisa, bucólica e urbana, lírica e funcional".

6. Em 1987 Brasília é tombada pela Unesco como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade.

Fontes de pesquisa 5

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  • BENEVOLO, Leornado. História da arquitetura moderna. São Paulo: Editora Perspectiva, 1998.
  • BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. Tradução Ana M. Goldberger. 4.ed. São Paulo, Perspectiva, 2002.
  • COSTA, Lucio. Plano-piloto de Brasília. S.l.: Módulo-Arquitetura Ltda., s.d.
  • NIEMEYER, Oscar. Minha experiência em Brasília. S.l.: Módulo-Arquitetura Ltda., s.d.
  • PEDROSA, Mário. Acadêmicos e modernos: textos escolhidos III. Organização Otília Beatriz Fiori Arantes. São Paulo : Edusp, 1998.

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