Pedro Paulo de Melo Saraiva
Texto
Pedro Paulo de Melo Saraiva (Florianópolis, Santa Catarina, 1933 – São Paulo, São Paulo, 2016). Arquiteto, urbanista e professor. Ingressa na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie (FAU/Mackenzie) em 1951, formando-se em 1955. No ano seguinte, funda seu escritório, trabalhando em parceria com diversos arquitetos e, em sociedade, com Sérgio Ficher e Henrique Cambiaghi Filho de 1973 a 1990. Em 1996, cria nova sociedade com os arquitetos Pedro de Melo Saraiva, seu filho, e Fernando de Magalhães Mendonça. Destaca-se pelos concursos públicos e privados vencidos, além da qualidade e importância de sua obra. É agraciado com o Colar de Ouro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) de 2003. Paralelamente ao escritório de arquitetura, atua como diretor do Centro de Planejamento da Universidade de Brasília (Ceplan/UnB) entre 1968 e 1969; coordenador do Escritório Catarinense de Planejamento Integrado (Esplan/SC) entre 1969 e 1973; diretor da Empresa Municipal de Urbanização (Emurb) de São Paulo de 1971 a 1973; e coordenador regional dos Programas de Desenvolvimento Urbano do Banco Nacional de Habitação (BNH), em São Paulo e Mato Grosso nos anos de 1974 a 1982. Dedica-se também ao ensino, como professor de projeto das faculdades de arquitetura e urbanismo das universidades de São Paulo (1962-1975), de Brasília (1968-1969), de Santos (1990-1993), da Presbiteriana Mackenzie desde 1992 e da Anhembi Morumbi desde 1999.
Análise
Pedro Paulo de Melo Saraiva é dono de uma obra vasta e diversificada que engloba edifícios residenciais, comerciais, de serviços, administrativos, escolares, esportivos e de lazer em São Paulo, Santa Catarina e Brasília. A espacialidade e expressão plástica de suas obras são definidas pela estrutura. Essa definição é feita à maneira dos arquitetos da chamada Escola Paulista e tem como referência, o arquiteto Vilanova Artigas (1915-1985). A principal característica da produção dos arquitetos designados sob esse termo é deixar à mostra o material empregado (o concreto armado) de modo a revelar didaticamente as soluções encontradas para sua construção e sustentação, privilegiando a fluidez e a integração dos espaços.
A Assembleia Legislativa de Santa Catarina (1957) é realizada com Paulo Mendes da Rocha (1928) e Alfredo S. Paesani (1931-2010). O projeto se desenvolve sob a laje nervurada de concreto armado da cobertura e de uma esplanada elevada do solo que separa a circulação do público da dos deputados, servidores e profissionais de imprensa. A horizontalidade e a fluidez dessa esplanada é interrompida pelo volume opaco do auditório, um tronco de cone1 também em concreto armado. Se nesse edifício a estrutura também se define pelo sistema de pilares e vigas, na Escola de Administração Fazendária (1974), em Brasília, a plasticidade do concreto armado é explorada de maneira mais radical. O concreto funde-se com a cobertura, estrutura e vedação num desenho sinuoso, ainda que marcado pela horizontalidade e pelo peso da matéria.
No Paço Municipal de Florianópolis (1977, não construído), concebido com Sérgio Ficher e Henrique Cambiaghi Filho, o arquiteto também adota uma grande cobertura em concreto armado com iluminação zenital2. Sob ela, desenvolve o projeto em níveis articulados por rampas e um vazio central. Neste edifício, inova ao tratar de modo diferenciado a linha de pilares externos, atrelando-os a elementos horizontais que protegem as fachadas de vidro da incidência solar. Além da função estrutural e de conforto térmico, esses elementos desenham as fachadas do paço. O mesmo ocorre com o Palácio da Justiça do Estado de Santa Catarina (1968), realizado com Francisco Petracco e Sami Bussab, e os edifícios Capitânia (1973) e Acal, concebidos com Ficher e Cambiaghi. Neste último, a fusão entre técnica e estética proposta pelo arquiteto alcança o ponto mais alto. Os esforços da estrutura são absorvidos por tirantes e treliças em forma de cruz, que assumem também a função de brises-soleils [quebra-sóis] e garantem uma expressão didática e poética. Esse efeito é recuperado com sucesso na Sede da Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp), 1975, em Taboão da Serra, com a colaboração do arquiteto Setsuo Kamada.
Notas
1. Em geometria, chama-se tronco de cone a forma obtida pelo corte de um cone, paralelo à base, originando dois planos paralelos (ou duas bases) de diâmetros diferentes, um maior e outro menor.
2. Iluminação feita com luz natural passando por aberturas que podem ser de diferentes tipos, localizadas no teto de uma construção.
Fontes de pesquisa 13
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PEDRO Paulo de Melo Saraiva.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
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