Marcello Fragelli
Texto
Marcello Accioly Fragelli (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1928 – Idem, 2014). Arquiteto, urbanista e professor. Forma-se na Faculdade Nacional de Arquitetura do Rio de Janeiro (FNA) em 1953. Durante a graduação, trabalha na Fundação da Casa Popular, no Instituto Nacional de Tecnologia e no escritório M.M.M. Roberto.
Recém-formado, monta escritório com Maurício Sued, com quem realiza suas primeiras obras, mas mantém o vínculo com o Instituto Nacional de Tecnologia até 1956. Nesse ano, ingressa no Departamento de Obras e Instalações (DOI) da Prefeitura do Distrito Federal e assume a direção nacional do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). Em 1960, assina a seção Itinerário das Artes Plásticas do jornal Correio da Manhã. No ano seguinte, diante da crise gerada no Rio de Janeiro pela transferência da capital para Brasília, muda-se para São Paulo. Trabalha por um ano na incorporadora Rossi, até abrir escritório próprio, em 1962. Nesse ano, torna-se consultor da Promon Engenharia, assumindo a coordenação do projeto da linha norte-sul do metrô de São Paulo em 1968 e do departamento de arquitetura da empresa, onde permanece até 1983. Retoma a atividade como arquiteto autônomo nesse ano, interrompendo-a em 1994 por motivos de saúde.
Concomitantemente às atividades profissionais, atua como docente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie (FAU/Mackenzie), de 1964 a 1967. Em 1982, transfere-se para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), onde permanece até se aposentar. Em 1982, realiza exposição retrospectiva de sua obra na sede do IAB carioca, remontada no ano seguinte no IAB paulista. As exposições ensejam a produção do livro Quarenta Anos de Prancheta, lançado em 2010.
Análise
Marcello Fragelli é autor de obra singular, pelo equilíbrio entre funcionalismo e formalismo. Atento às questões materiais, técnicas e construtivas pertinentes à realização do projeto, mantém-se comprometido com a poética de seus edifícios, confiante na capacidade de surpreender e emocionar.
As primeiras obras realizadas no Rio de Janeiro, com o sócio Maurício Sued, principalmente os edifícios Castália (1954) e Gragoatá (1957), revelam o aprendizado no escritório M.M.M. Roberto “no desenho dos pilotis, no uso refinado das pastilhas de vidro e na cuidadosa composição de cores e volumes entre peitoris e esquadrias” 1. Também é influenciado pela produção norte-americana, revelada na horizontalidade, na arquitetura marcada pelo uso da madeira e da pedra e na volumetria movimentada. Essa volumetria é definida pela criação de ambientes adequados ao projeto, expressa na Residência São Conrado (1955) e no Posto de Puericultura do Alto da Boa Vista (1958), menção honrosa na 6ª Bienal de São Paulo (1961).
Essas características permanecem em sua obra, especialmente nos edifícios residenciais. A transferência para São Paulo, o porte e a complexidade das novas encomendas introduzem mudanças em sua produção. Uma delas é a utilização do concreto armado e do tijolo de barro. A intenção é utilizar materiais industrializados ou produzidos em série e explicitar a função de cada material, da estrutura à vedação. Esse propósito, observado no Edifício Rossi-Leste (1962), no bairro da Penha em São Paulo, menção honrosa na 8ª Bienal de São Paulo (1965), só alcança qualidade estética a partir do Complexo Industrial Piraquê (1964). Nele, o arquiteto marca as formas de concreto armado, acentuando as linhas da composição e o funcionamento do sistema estrutural empregado. Á frieza, dureza e estática da matéria contrapõe-se o emprego de tijolos de barro aparentes nas paredes externas e o movimento dos elementos verticais de proteção solar, em concreto armado.
A mesma solução é empregada no Edifício Jerônimo Ometto (1974), extensão do Complexo Piraquê e no Conjunto São Luiz (1974). Nessas obras, aprimora a composição com base nos elementos construtivos, realizando um jogo de luz sobre os planos e volumes de concreto armado que enriquecem os ambientes. Esse jogo e a capacidade de extrair poesia da matéria são adotados nas estações da linha norte-sul do metrô paulista (1968). É convidado pela Promon Engenharia para participar da construção dessa linha. Torna-se coordenador do projeto e autor das estações Jabaquara, Liberdade, Praça da Árvore, São Bento e Ponte Pequena, além dos afloramentos das estações e das torres de ventilação. Como coordenador, Fragelli dá unidade à linha, criando duas famílias de estações que respondem à ocupação da cidade: uma elevada, construída nas áreas menos densas, e outra subterrânea, construída na área central mais consolidada. Para as primeiras, cria seções padrão de pilares e vigas que conformam a linha do trem, a plataforma, o peitoril, o beiral e os apoios da cobertura, criando um volume que aflora da linha, integrado à malha urbana existente. É o caso da Estação Ponte Pequena, premiada pelo IAB/SP em 1968. Nas estações subterrâneas, explicita a contenção do solo, integra a rua ao subsolo e enriquece o percurso dos usuários por meio de praças intermediárias, mezaninos, volumes de escada, taludes, claraboias e outros mecanismos de passagem de luz. A qualidade do trabalho da equipe coordenada por Fragelli é observada em outros projetos de grande porte, realizados no departamento de arquitetura da Promon para indústrias e hidrelétricas. Revelam a afirmação dos arquitetos no país a partir dos anos 1960.
Nota
1. Márcio Bariani, Uma outra escolha. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, n. 214, p. 63, jul. 2004.
Fontes de pesquisa 8
- BARIANI, Márcio. Marcello Fragelli: arquitetura entre Rio de Janeiro e São Paulo. Vitruvius, São Paulo, fev. 2005. Seção Arquitextos. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.057/499. Acesso em: Out. 2010.
- BARIANI, Márcio. Poesia sem formalismo. Projeto Design, São Paulo, n. 333, nov. 2007. p. 102-105
- BARIANI, Márcio. Uma outra escolha. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, n. 214, jul. 2004. p. 61-65
- FRAGELLI, Marcello Accioly. Marcello Fragelli: quarenta anos de prancheta. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2010.
- NOGUEIRA, Mauro Neves. Marcello Fragelli: por uma arquitetura antiformalista. Projeto, São Paulo, n. 59, jan. 1981. p. 35
- SEGAWA, Hugo. Arquitetura metroviária. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: Edusp, 1999. p. 170-172
- XAVIER, Alberto; CORONA, Eduardo; LEMOS, Carlos (org.). Arquitetura moderna paulistana. São Paulo: Pini, 1983.
- ZEIN, Ruth Verde. Técnica e sensibilidade na obra de Marcello Fragelli. Projeto, São Paulo, n. 55, set. 1983. p. 52-53
Como citar
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MARCELLO Fragelli.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa20144/marcello-fragelli. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7