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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Hélio Oiticica

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 20.08.2024
26.07.1937 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
22.03.1980 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica Pedro Oswaldo Cruz

Bólide Caixa 21, Poema Caixa 3, 1966
Hélio Oiticica
Técnica mista
Coleção Paula e Alexandre Marinho de Carvalho

Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1937 – idem, 1980). Artista performático, pintor e escultor. Sua obra caracteriza-se por um forte experimentalismo e pela inventividade na busca constante por fundir arte e vida. Seus experimentos, que pressupõem uma ativa participação do público, são, em grande parte, acompanhados de elaborações t...

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Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1937 – idem, 1980). Artista performático, pintor e escultor. Sua obra caracteriza-se por um forte experimentalismo e pela inventividade na busca constante por fundir arte e vida. Seus experimentos, que pressupõem uma ativa participação do público, são, em grande parte, acompanhados de elaborações teóricas, com a presença de textos, comentários e poemas.

Essa inventividade do artista pode ser em parte explicada por sua formação. Por opção familiar, ele não frequenta escolas na infância. Recebe educação formal de seu pai, o fotógrafo José Oiticica Filho (1906-1964). Em 1954, com o irmão César Oiticica (1939), Hélio inicia os estudos de pintura com Ivan Serpa (1923-1973), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ)

Uma das primeiras obras do artista é a série de guaches sobre papel denominada, nos anos 1970, Metaesquemas. Iniciada em 1957, essa série, segundo Oiticica, já apresenta o conflito entre o espaço pictórico e o extrapictórico, prenunciando a posterior superação do quadro. Assim, em 1959, o artista marca o início da transição da tela para o espaço ambiental, o que ocorre com os Bilaterais – chapas monocromáticas pintadas com têmpera ou óleo e suspensas por fios de nylon – e os Relevos Espaciais, suas primeiras obras tridimensionais. 

Em 1960 participa da 2ª Exposição Neoconcreta no Rio de Janeiro e cria os primeiros Núcleos, também denominados Penetráveis – placas de madeira pintadas com cores quentes e penduradas no teto por fios de nylon. Neles, tanto o deslocamento do espectador quanto a movimentação das placas passam a integrar a experiência. O espectador já é participante ativo nos Núcleos, mas essa participação é radicalizada pelo artista em 1963, em suas primeiras estruturas manuseáveis, os Bólides – recipientes que contêm pigmento –, resultado da vontade de dar corpo à cor e acrescentar à experiência visual outros estímulos sensoriais.

No fim da década de 1960 começa a colaborar com a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Envolve-se com essa comunidade, e, dessa experiência, nascem os Parangolés, a obra mais conhecida de Oiticica. São tendas, estandartes, bandeiras e capas de vestir que fundem elementos como cor, dança, poesia e música e pressupõem uma manifestação cultural coletiva. O próprio artista assim os define: "Chamarei então Parangolé, de agora em diante, a todos os princípios formulados aqui [...]. Parangolé é a antiarte por excelência; inclusive pretendo estender o sentido de 'apropriação' às coisas do mundo com que deparo nas ruas, terrenos baldios, campos, o mundo ambiente enfim [...]"1.

Em 1967, as questões levantadas com o Parangolé desembocam nas Manifestações Ambientais, com destaque para as obras Tropicália (1967), Apocalipopótese (1968) e Éden (1969). A Tropicália, apresentada na exposição Nova Objetividade Brasileira, no MAM/RJ, é considerada o apogeu de seu programa ambiental – é uma espécie de labirinto sem teto que remete à arquitetura das favelas e em seu interior apresenta um aparelho de TV sempre ligado. Depois que o compositor Caetano Veloso (1942) passa a usar o termo tropicália como título de uma de suas canções, ocorrem diversos desdobramentos na música popular brasileira e na cultura que ficam conhecidos como tropicalismo.

O projeto Éden – composto de Tendas, Bólides e Parangolés como proposições abertas para a participação e vivências individuais e coletivas – é apresentado em Londres, em 1969, na Whitechapel Gallery. Considerada sua maior exposição em vida, é organizada pelo crítico inglês Guy Brett (1942) e apelidada de Whitechapel Experience. Com essa espécie de utopia de vida em comunidade surge a proposição Crelazer, ligada à percepção criativa do lazer não repressivo e à valorização do ócio. 

Em 1970, ganha uma bolsa da Fundação Guggenheim e instala-se em Nova York. Participa da exposição Information, realizada no Museum of Modern Art (MoMA), em Nova York, em que desenvolve a ideia dos Ninhos como células em multiplicação ligadas ao crescimento da comunidade. Volta ao Brasil em 1978 e participa de alguns eventos coletivos. Em 1980, propõe o segundo acontecimento poético-urbano Esquenta pr'o Carnaval, no Morro da Mangueira.

Em 1981, é criado no Rio de Janeiro o Projeto Hélio Oiticica, destinado a preservar, analisar e divulgar sua obra, dirigido pelos artistas Lygia Pape (1927-2004), Luciano Figueiredo (1948) e Waly Salomão (1943-2003). Em 1996, a Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro funda o Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, para abrigar todo o acervo do artista e colocá-lo à disposição do público. 

Hélio Oiticica é um nome essencial da arte brasileira. Com seu desejo constante pela experimentação e sua preocupação com o ambiente, constrói uma obra diversa e ao mesmo tempo única, capaz de afetar o público da forma como ele deseja, convidando-o a ser parte da obra, o que ilustra também a sua crença de que arte e vida se mesclam. A obra de arte, para Oiticica, é um objeto a ser experienciado, construído, usufruído, e que ganha sentido na relação que o homem estabelece com ele. Sua arte está no mundo, assim como o mundo está na sua arte. 

Nota

1. OITICICA, Hélio. Aspiro ao grande labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. p. 79.

Obras 86

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Exposições 476

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Fontes de pesquisa 32

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • AMARAL, Aracy (org.). Projeto Construtivo Brasileiro na arte (1950-1962). Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna; São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 1977.
  • AYALA, Walmir. Dicionário de pintores brasileiros. Organização André Seffrin. 2. ed. rev. e ampl. Curitiba: Ed. UFPR, 1997.
  • BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO, 22, 1994, São Paulo, SP. Catálogo Geral de Participantes. Curadoria Geral Nelson Aguilar. São Paulo: Fundação Bienal São Paulo, 1994. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/namee0b024.
  • BRITO, Ronaldo. Neoconcretismo: vértice e ruptura do projeto construtivo brasileiro. Tradução Lia Wyler. Rio de Janeiro: Funarte, 1985. (Temas e debates, 4).
  • CARDOSO, Ivan. A arte penetrável de Hélio Oiticica. Folha de S. Paulo, São Paulo, 16 nov. 1985.
  • FARIAS, Agnaldo. Complexidade e preconceito. Guia das artes, São Paulo, Ano 7, n. 30, p. 26-27, nov. /dez. 1992.
  • FAVARETTO, Celso. A Invenção de Hélio Oiticica. São Paulo: Edusp, 1992. 234 p. (Texto & arte, 6).
  • FAVARETTO, Celso. A música nos labirintos de Hélio Oticica. Revista USP, São Paulo, n. 4, p. 45-54, dez. /fev. 1989-1990.
  • FAVARETTO, Celso. Oiticica excêntrico. Guia das artes, São Paulo, Ano7, n. 30, p. 22-25, nov. /dez. 1992.
  • GARCIA, Gardênia. O artista da terceira margem. Arte Hoje, Rio de Janeiro, v. 2, n. 16, p. 11-13, out. 1978.
  • GRUPO frente / I Exposição Nacional de Arte Abstrata: 1954- 1956 / Hotel Quitandinha - 1953. Rio de Janeiro: Galeria de Arte Banerj, 1984. (Ciclo de Exposições sobre Arte no Rio de Janeiro).
  • JACQUES, Paola Berenstein. Estética da ginga: a arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica. Apresentação Ricardo Macieira; projeto gráfico Tiago Rodrigues de Castro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001. 160 p., il. color.
  • JUSTINO, Maria José. Seja marginal, seja herói: modernidade e pós-modernidade em Hélio Oiticica. Curitiba: UFPR, 1998. 103 p., il. color.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • LYGIA Clark e Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Paço Imperial, 1986. 123 p., il. p&b., color.
  • MATESCO, Viviane. Corpo-cor em Hélio Oiticica. In: BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO, 24. , 1998, São Paulo. Núcleo histórico: antropofagia e histórias de canibalismos. Curadoria Paulo Herkenhoff, Adriano Pedrosa. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1998. p. 386-391.
  • MODERNIDADE: arte brasilieira do século XX. Prefácio Celso Furtado; apresentação Pierre Dossa; texto crítico Aracy Amaral, Roberto Pontual. Paris: Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris, 1988. 352 p.
  • NEOCONCRETISMO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3810/neoconcretismo>. Acesso em: 31 de Jul. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7. Acesso em: 31 jul. 2020
  • OITICICA, Hélio. Aspiro ao grande labirinto. Introdução Luciano Figueiredo, Mário Pedrosa; compilação Luciano Figueiredo, Lygia Pape, Waly Salomão. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. 134 p., foto p&b.
  • OITICICA, Hélio. Bases fundamentais para uma definição do parangolé. Arte em revista, São Paulo, ano 5 , n. 7, p. 39-44, ago. 1983.
  • OITICICA, Hélio. Grupo frente e metaesquemas. São Paulo: Galeria São Paulo, 1989. [16] p., il. color.
  • OITICICA, Hélio. Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Centro de Arte Hélio Oiticica, 1997. 277 p., il., p.b., color.
  • OITICICA, Hélio. O q faço é música. Depoimento Hélio Oiticica; texto Mário Pedrosa, Guy Brett; direção Regina Boni; curadoria Lygia Pape, Luciano Figueiredo, Waly Salomão; coordenação de produção Sylvinha Tinoco, Sofia Carvalhosa; fotografia Andreas Valentin, Ivan Cardoso, Desdemone Bardin, Eduardo Viveiros de Castro, John Goldblatt, Maurício Cirne. São Paulo: Galeria de Arte São Paulo, 1986. [40] p., il. p&b color.
  • OPINIÃO 65. Curadoria. Rio de Janeiro: Galeria de Arte Banerj, 1985. (Ciclo de exposições sobre arte no Rio de Janeiro).
  • PEDROSA, Mário. Dos murais de Portinari aos espaços de Brasília. Organização Aracy Amaral. São Paulo, SP: Perspectiva, 1981. (Debates, 170).
  • PERFIL da Coleção Itaú. Curadoria Stella Teixeira de Barros. São Paulo: Itaú Cultural, 1998.
  • PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
  • SALOMÃO, Waly. Hélio Oiticica: qual é o parangolé? Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1996. 123 p., il. p&b. (Perfis do Rio, 8).
  • Tropicália, segundo Hélio Oiticica. Revista Pesquisa Fapesp. Edição 144. [S.l.], fev. 2008. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/a-tropicalia-segundo-helio-oiticica/. Acesso em: 31 jul. 2020
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

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