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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Flavio-Shiró

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.05.2024
27.08.1928 Japão / Hokkaido / Sapporo
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Ser, 1962
Flavio-Shiró
Óleo sobre tela, c.i.d.
110,00 cm x 200,00 cm

Shiro Tanaka (Sapporo, Japão, 1928). Pintor, gravador, desenhista, cenógrafo. É considerado um dos principais nomes da pintura moderna no Brasil. Suas obras abordam contradições inerentes à arte contemporânea, como abstração e representação, objetividade e subjetividade.   

Texto

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Shiro Tanaka (Sapporo, Japão, 1928). Pintor, gravador, desenhista, cenógrafo. É considerado um dos principais nomes da pintura moderna no Brasil. Suas obras abordam contradições inerentes à arte contemporânea, como abstração e representação, objetividade e subjetividade.   

Chega ao Brasil, em 1932, aos 4 anos de idade, e se instala com a família numa colônia japonesa em Tomé-Açu, no Pará. Muda-se para São Paulo, em 1940, e passa a estudar na Escola Profissional Getúlio Vargas, onde conhece Octávio Araújo (1926-2015), Marcelo Grassmann (1925-2013) e Luiz Sacilotto (1924-2003). Autodidata, começa a pintar em 1942, retratando inicialmente as paisagens da pacata São Paulo da época. Por volta de 1943, tem contato com Alfredo Volpi (1896-1988) e Francisco Rebolo (1902-1980), integrantes do Grupo Santa Helena, e, em 1947, integra o Grupo Seibi. No ano seguinte, passa a trabalhar na molduraria do pintor japonês Tadashi Kaminagai (1899-1982), no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. 

Sua estadia na cidade carioca lhe rende bons frutos. Nas horas vagas do trabalho na molduraria, o artista pinta as paisagens do Rio de Janeiro. Em 1950, realiza sua primeira exposição individual, no diretório acadêmico da Escola Nacional de Belas Artes (Enba), em que apresenta cerca de 14 telas. Um ano antes, em 1949, ganha a medalha de bronze no 55º Salão Nacional de Belas Artes, mas é o único premiado, pois não são atribuídas medalhas de ouro e prata.

Com bolsa de estudo, viaja a Paris, em 1953, onde fixa residência, alternando estadias a cada seis meses entre Paris e Rio de Janeiro. Lá, dedica-se a desenvolver sua formação. Estuda mosaico com o italiano Gino Severini (1883-1966), gravura em metal com o alemão Johnny Friedlaender (1912-1992) e litografia na École National Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes], além de frequentar o ateliê de Sugai e Tabuchi. Estuda os grandes mestres na École du Louvre e busca conhecer os movimentos da arte contemporânea. 

A partir desse contato, conhece o abstracionismo e passa a se dedicar à abstração informal. Cria obras nas quais se destacam a gestualidade da pincelada e as superfícies carregadas de matéria, empregando frequentemente o negro e as cores escuras ou neutras. O artista deixa surgir uma possibilidade de desenho figurativo nos quadros, nos quais passa gradativamente a utilizar planos de fundo claros, em contraste com as imagens escuras. Em algumas telas, apresenta formas orgânicas, aproximando-se da figuração, como em Délfica (1963). Não se trata de abstração pura. Suas pinturas sempre fazem alusão a alguma coisa, o que remete à sua raiz expressionista. Também na década de 1960, participa do movimento artístico Phases e integra o Grupo Austral, de São Paulo. Em 1961, ganha o Prêmio Internacional de Pintura na 2ª Bienal de Paris.

Na década seguinte, observa-se um retorno de Shiró à figuração. Como nota o crítico de arte Reynaldo Roels Júnior (1952-2009), desde os anos 1970, o foco das telas do artista se desloca para a figura, porém ela não é facilmente discernida. São sugestões de seres fantásticos ou monstruosos, que aparecem com toda força em suas telas, em contextos abstratos. Esses seres povoam o imaginário do artista desde a infância, quando sua mãe lhe narra contos de terror japoneses para acalmá-lo. São exemplos desse momento da sua trajetória as telas da série Les Patients du Dr. Sand (1972).

Trabalha com a consciente ambiguidade entre figuração e abstração. Destacam-se em seus quadros a paleta contida, as texturas elaboradas e o equilíbrio entre grafismos e manchas cromáticas. Como explica o próprio artista, essa produção vai além da figuração, na medida em que as formas e figuras são apenas sugeridas entre pinceladas abstratas. É preciso mergulhar o olhar para desvendá-las. Mantém, assim, a poesia e o mistério da vida, elementos perseguidos constantemente por ele em suas obras. 

A partir da década de 1990, as fantasmagorias presentes até então deixam de aparecer em suas telas, que recebem nova chave cromática e já não trazem a relação entre pincelada e desenho tão marcada. Em 1990, é publicado o livro Flávio-Shiró, pela editora Salamandra. A exposição Trajetória: 50 Anos de Pintura de Flavio-Shiró é apresentada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Mam Rio) e no Hara Museum of Contemporary Art, em Tóquio, em 1993, e no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), em 1994. 

Nos anos seguintes, continua suas experimentações artísticas, entre elas, o trabalho com a xilogravura. Em 2008, por ocasião dos 80 anos do artista, o Instituto Tomie Ohtake promove a retrospectiva Flavio-Shiró, Pintor de Três Mundos: 65 Anos de Trajetória, com 250 obras selecionadas pelo curador Paulo Herkenhoff (1949). O curador atribui a Shiró o título de pintor transcultural, não só porque suas telas carregam as influências dos três mundos vivenciados pelo artista (o Oriente, a América e a Europa), mas também porque ele aborda temas caros à agenda internacional, como a guerra e os desastres ambientais, desde a década de 1970.

Flavio-Shiró é um grande pintor, em constante busca por renovar seu fazer artístico. As figuras de suas obras tocam o real, porém preservando as dimensões do sonho e da fantasia, constituintes da vida. É, sem dúvida, um dos grandes nomes da pintura brasileira.

Obras 44

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Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Atrée

Madeira
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Délfica

Óleo sobre tela

Exposições 262

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Mídias (1)

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Flavio-Shiró - Enciclopédia Itaú Cultural
O japonês Flavio-Shiró chega ao Pará aos quatro anos e tem no ambiente familiar, principalmente no pai, chefe de orquestra, o incentivo para seguir na carreira artística. “Ele lia literatura japonesa todas as noites”, diz ele. “Fui cultivado em contato com a cultura, que não perdi apesar de estar no mato, e também pelo fascínio do meio onde vivíamos”, lembra, em referência ao período em que morou em Tomé Açu. Enquanto outros artistas de origem japonesa utilizam uma paleta clara, Shiró opta por tons escuros, influência do grupo Santa Helena, formado por pintores como Alfredo Volpi e Mauro Zanini. “Não gostava de pintar quando o sol estava brilhando no céu, mas, sim, quando ele estava cinza”, revela. “Nessas condições, as nuances das cores são mais visíveis”. Para ele, não é possível definir seu processo de criação. “Não faço pintura pré-concebida, preparada. Cada quadro, cada emoção tem o seu momento”, descreve.

Produção: Documenta Vídeo Brasil
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Erika Mota (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)

Fontes de pesquisa 15

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  • 90 ANOS de Flavio-Shiró na Pinakotheke Cultural. ArtRio. [Rio de Janeiro], 23 set. 2018. Disponível em: https://artrio.com/noticias/90-anos-de-flavio-shiro-na-pinakotheke-cultural. Acesso em: 16 ago. 2023.
  • BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO, 18., 1985, São Paulo, SP. Expressionismo no Brasil: heranças e afinidades. São Paulo: Fundação Bienal, 1985.
  • FLAVIO-SHIRÓ. Flávio Shiró: pinturas. São Paulo: Galeria de Arte São Paulo, 1985. il. color., foto p.b.
  • FLAVIO-SHIRÓ. Flávio-Shiró. São Paulo: Galeria Nara Roesler, 1999. 16 p., il. p.b. color.
  • FLAVIO-SHIRÓ. Flávio-Shiró: obras recentes. Rio de Janeiro: Galeria Saramenha - Galeria Estampa, 1986. il. p.b. color.
  • FLAVIO-SHIRÓ. Pastéis de Flavio Shiró. São Paulo: Galeria de Arte Global, 1974. , il. p&b, color.
  • FLÁVIO-SHIRÓ, pintor, desenhista e gravador, sobre seu trabalho. Apresentação: Reliquiano.com. Rio de Janeiro: TV Corcovado, 8 out. 1989. (7 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lUEfW2vjBg8. Acesso em: 16 ago. 2023.
  • FLÁVIO-SHIRÓ. Tradução Beatrice Tanaka; introdução Wilson Coutinho; edição Marcos da Veiga Pereira. Rio de Janeiro: Salamandra, 1990. 189 p., il. color., fotos.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • LOURENÇO, Maria Cecília França. Vida e arte dos japoneses no Brasil: 80 anos da imigração japonesa no Brasil. Apresentação Fujio Tachibana, Pietro Maria Bardi; comentário Tomoo Handa, Teiiti Suzuki; tradução Antonio Nojiki; fotografia Luiz S. Hossaka. São Paulo: MASP, 1988. 110 p., il. color.
  • PEDREIRA, Andréa (org.). Arte em diálogo: criação, produção, processo: Flavio-Shiró. Rio de Janeiro, v. 6, 2008. Disponível em: https://www.gov.br/museus/pt-br/museus-ibram/mnba/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/6Flavioshiro.pdf. Acesso em: 16 ago. 2023.
  • PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
  • SCHENBERG, Mario. Pensando a arte. São Paulo: Nova Stella, 1988.
  • TEMPOS de guerra: Hotel Internacional / Pensão Mauá. Curadoria Frederico Morais. Rio de Janeiro: Galeria de Arte Banerj, 1986. (Ciclo de exposições sobre arte no Rio de Janeiro).

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