Francisco Rebolo
![Mulher, 1942 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/000916026019.jpg)
Mulher, 1942
Francisco Rebolo
Óleo sobre tela, c.i.d.
46,00 cm x 34,00 cm
Texto
Francisco Rebolo Gonsales (São Paulo, São Paulo, 1902 – Idem, 1980). Pintor, gravador. Lirismo, espontaneidade e leveza são alguns dos termos mais frequentemente usados pela crítica para adjetivar sua obra, marcada pelo registro do cotidiano paulista. É considerado um dos mestres da pintura de paisagem no Brasil.
Filho de imigrantes espanhóis de origem humilde, cresce no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo, e começa a trabalhar cedo. Aos 14 anos, trabalha como aprendiz de decorador de paredes, entrando em contato com a pintura. Inicia seus estudos em artes na Escola Profissional Masculina do Brás, onde tem aula de desenho com o professor Giuseppe Barquita, entre 1915 e 1917. Ajuda na decoração da Igreja de Santa Cecília e da Igreja da Santa Efigênia, fazendo pintura mural que imita couro e mármore.
Em 1917, passa a trabalhar de forma independente como pintor de residência, realizando frisos decorativos de diversos estilos. Paralelamente, desenvolve uma carreira de relativo sucesso no futebol paulistano, jogando inclusive no Sport Club Corinthians. É ele o responsável por, em 1939, elaborar o emblema definitivo do clube.
A partir dos anos 1930, a pintura de cavalete começa a ter crescente importância na sua produção. Ele deixa o futebol e convida o pintor Mário Zanini (1907-1971), com quem tem aulas informais de desenho, a partilhar com ele uma sala-ateliê no Edifício Santa Helena, na Sé, na qual havia se instalado em 1933. Outros artistas, como Fulvio Pennacchi (1905-1992), Bonadei (1906-1974), Humberto Rosa (1908-1948), Clóvis Graciano (1907-1988), Alfredo Volpi (1896-1988), Rizzotti (1909-1972) e Manoel Martins (1911-1979) se juntam a eles para dividir o aluguel das salas e as sessões de modelo vivo (no ateliê e na Escola de Belas Artes). Trocam conhecimentos técnicos e históricos sobre pintura e organizam excursões às regiões periféricas da cidade nos finais de semana para praticar a pintura de paisagem ao ar livre. Surge assim o que veio a ser conhecido como o Grupo Santa Helena, do qual Rebolo se torna um dos expoentes. A despeito das diferenças pessoais, são unidos pela ênfase no domínio da técnica da pintura e uma posição estética intermediária entre o academismo e o primeiro modernismo dos anos 1920.
Além dessas relações, o contato com o crítico e intelectual Sérgio Milliet (1898-1966), do qual se torna amigo íntimo, permite que o artista adquira um conhecimento mais consistente da história da arte. Segundo o próprio Milliet, Rebolo é, sem dúvida, um impressionista, com claro desapego às linhas do desenho1. É possível observar esse estilo nas obras Futebol (1936) – que indica também a preocupação do artista com temas sociais, como o racismo no futebol –, Lavadeiras (1937) e Composição (cena de jogo no bar) (1938). Em 1937, participa da formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo e integra a Família Artística Paulista (FAP).
Apesar de ser mais conhecido como pintor de paisagens, também se dedica à pintura de naturezas-mortas, de retratos e autorretratos, de cenas urbanas e suburbanas, registradas com empatia e um olhar lírico, sem dramas. Sem períodos de interrupções, sua produção pictórica se desenvolve de forma regular em vários aspectos, por exemplo, no uso da paleta rebaixada rica em matizes. Em 1941, Milliet o define como “mestre do meio-tom”.
No entanto, no decorrer dos anos 1940, as manchas de cor mais ou menos difusas, que servem à representação de seus temas no início de sua carreira, dão lugar a áreas coloridas e bem definidas. Os quadros passam a se estruturar mais fortemente como campos distintos de cor, como na obra Mulheres no terraço (1943). Em 1945, trabalha com outros artistas para a criação do Clube dos Artistas e Amigos da Arte (Clubinho), do qual é diretor por várias vezes.
A partir da década de 1950, faz novas experimentações. Sua obra, pautada na figuração, passa a esboçar algumas experiências no abstracionismo e, posteriormente, no construtivismo. É com Casario (1954), quadro de influências construtivas, estruturado em planos geométricos e pintado em preto e branco, que recebe o prêmio de viagem ao exterior no 3º Salão Nacional de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, em 1954.
O pintor passa dois anos na Europa com a família, percorrendo países como Espanha, Alemanha, França, Bélgica, Holanda e Itália, onde estabelece residência. Em 1956, faz um curso de restauração no Vaticano, participando da recuperação de uma obra de Raphael (1483-1520). Da fase europeia, surgem trabalhos de grande rigor geométrico na estruturação formal e sob a influência de tons típicos da arquitetura italiana, como os tons de ocre e terra, bem como o vermelho pompeano de obras como Ravena (1956), Roma (1956), Veneza (1958) e Suzy (1959).
Nos anos 1960, após alguns meses sem trabalhar, por recomendação médica, começa a se dedicar ao desenho e à gravura, especialmente à xilogravura, incentivado pelo amigo Marcelo Grassmann (1925-2013). Porém, insatisfeito, começa a retocar as cópias com pinceladas e cor, posteriormente, passando a pintar na própria madeira. Nos anos 1970, sem abandonar a figuração e, principalmente, a pintura de paisagem, busca experimentar novos materiais, fazendo uso da tinta acrílica, o que torna suas pinturas mais estilizadas e chapadas, como se pode notar no quadro Menino (1978).
O primor técnico aliado à espontaneidade de Francisco Rebolo fazem do artista um dos grandes nomes da pintura nacional, contribuindo para a constituição das artes plásticas no Brasil.
Notas
1. MILLIET, Sérgio. A inventiva dos meios tons de Rebolo. O Estado de São Paulo, jun. 1961. Disponível em: https://institutorebolo.org.br/imprensa2.php. Acesso em: 16 out. 2023.
Obras 41
Arredores de São Paulo
Auto-Retrato
Bambus
Barra Funda
Bosque
Exposições 259
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 13
- 40 ANOS: Grupo Santa Helena. Texto de Lisbeth R. Gonçalves. São Paulo: Paço das Artes/MIS, 1975.
- ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
- CAMPOS, Celia Lucia Rodrigues Torres Parahyba. Rebolo: uma poética da paisagem. 1990. 159 f. Tese (Mestrado em Artes) - Escola de Comunicação em Artes, Universidade São Paulo. São Paulo.
- DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
- GONÇALVES, Antonio (org.), GONÇALVES, Lisbeth Ruth Rebollo (org.). Rebolo: 100 anos. São Paulo: Edusp: Imprensa Oficial do Estado, 2002. 301 p., il. p&b color.
- LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.
- LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
- O GRUPO Santa Helena. Curadoria Walter Zanini, Marília Saboya de Albuquerque. São Paulo : MAM, 1995.
- PONTUAL, Roberto. Arte/ Brasil/ hoje: 50 anos depois. São Paulo: Collectio, 1973.
- PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
- REBOLO. Prefácio de Olívio Tavares de Araújo. Textos de Antonio Gonçalves de Oliveira e Elza Maria Ajzemberg. Editor Emanoel Araújo. São Paulo: MWM, 1986. (Coleção MWM-IFK).
- REBOLO: o artesão da cor. Apresentação de Elza Maria Ajzemberg. Texto de Olivio Tavares de Araújo. São Paulo: Museu Lasar Segall, 1985. (VIII Mostra do Ciclo Momentos da Pintura Paulista).
- ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.
Como citar
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FRANCISCO Rebolo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa8632/francisco-rebolo. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7