Paulo Herkenhoff
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Paulo Herkenhoff (Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, 1949). Curador, crítico de arte, artista. Atua em instituições nacionais e internacionais. Seu trabalho como curador envolve-se principalmente em ações estruturantes pelos locais em que atua. Preocupa-se na aquisição de obras para suprir lacunas dos acervos dos museus e criar diálogos entre a produção histórica e artistas contemporâneos. Nos últimos anos, tem se empenhado em aumentar a visibilidade de artistas negros.
Formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), e com mestrado na mesma área, pela New York University, na juventude, Herkenhoff tem como ambição profissional seguir carreira na diplomacia. O interesse pela arte, entretanto, faz com que ele desista desse caminho. Frequenta o ateliê do pintor Ivan Serpa (1923-1973) entre 1970 e 1972, marcando a sua entrada no universo artístico.
No início de 1970, participa de exposições como a VII Jovem Arte Contemporânea, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP). Em 1974, realiza sua primeira individual na Central de Arte Contemporânea, apresentando “documentação de acontecimentos” e “(re) diagramações”, publicações com recortes de jornais e fotografias, que se misturam com desenhos seus. Neste ano, participa ainda do grupo pioneiro de artistas que realizam trabalhos de videoarte, apresentando vídeos na mostra Prospectiva/74, no MAC-USP. Convidado pelo curador uruguaio Angel Kalenberg (1936), Herkenhoff faz parte da representação brasileira na X Bienal de Paris em 1977.
Abandona a carreira como artista na década de 1980 para se dedicar à crítica e curadoria. Em 1985, assume a curadoria do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), onde fica até 1999. Sua gestão é marcada pela reestruturação da instituição após o incêndio que ocorreu em 1978, que destrói quase todo o seu acervo. Um dos marcos é a concessão em comodato da coleção de Gilberto Chateaubriand (1925-2022) de cerca de 4.000 obras, com ícones da história da arte brasileira, ao museu. A instituição também realiza exposições importantes como Transvanguarda e culturas nacionais, na qual participam artistas como Ivens Machado (1942-2015), Leonilson (1957-1993) e Tunga (1952-2016); e Experiência Neoconcreta, em 1991, que celebra os 30 anos do movimento Neoconcreto.
Na década de 1990, Herkenhoff internacionaliza sua carreira de crítico e curador. Atua como consultor da Coleção Cisneros, que preserva importantes obras da arte concreta brasileira, de artistas como Mira Schendel (1919-1988), Lygia Clark (1920-1988), Sérgio Camargo (1930-1990) e Willys de Castro (1926-1988), e da IX Documenta Kassel, na Alemanha. Entre 1999 e 2002, é curador adjunto no departamento de pintura e escultura do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), onde realiza, em 2002, a exposição coletiva Tempo, com a participação de artistas de diversos países. E, em 1997, faz a curadoria do Pavilhão Brasileiro na 47ª Bienal de Veneza.
No ano seguinte, assina a 24ª edição da Bienal de São Paulo (1998), que ficou conhecida como a Bienal Antropofágica. A partir do conceito de antropofagia, explorado pelo escritor Oswald de Andrade (1890–1954), no Manifesto Antropofágico (1928), o curador apresenta trabalhos de 254 artistas. Como Andrade sugeria devorar o que vinha de fora, assimilar outras culturas para criar uma nova; a mostra propunha uma reflexão sobre a história, trazendo trabalhos icônicos de artistas Piet Mondrian (1872–1944), Kasimir Malevitch (1878–1935), Salvador Dalí (1904–1989), e uma tentativa de enxergar como esse passado é processado nos trabalhos no presente. Segundo o curador, a Bienal ainda presta uma homenagem à cidade de São Paulo, que ganha destaque internacional como um símbolo de negociação de diferenças.
Entre 2003 e 2006, Herkenhoff assume a curadoria do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em sua gestão, empenha-se na aquisição de obras para cobrir lacunas que havia no acervo e levantamento de fundos para realizar obras de infraestrutura. Herkenhoff participa também na criação de instituições — a exemplo do Museu de Arte do Espírito Santo, inaugurado em Vitória em dezembro de 1998, e o Museu de Arte do Rio (MAR), aberto em 2013, no qual atua como diretor até 2016.
Uma de suas principais preocupações como diretor da instituição carioca é trabalhar o setor educativo para aproximar o museu, principalmente, de estudantes da rede pública. Além do esforço para montar uma coleção de arte no MAR, o curador articula conjuntos de objetos que se relacionam com a cidade de maneira poética, como uma seleção de números zeros e de símbolos do infinito. Enquanto diretor do museu, Herkenhoff doa ainda para o museu sua coleção de livros de artistas.
Empenhar-se para reconstituir, aumentar ou iniciar uma coleção para as instituições cariocas onde trabalha faz parte de seu modo de gestão. Quem visita feiras de arte durante o período em que o curador está à frente de alguma instituição vê com frequência adesivos colados ao lado de obras de arte com a frase: "Doe ao MAR" ou "Doe aos MNBA" – um jeito direto e bem-humorado de conseguir novas obras para os acervos.
Como pesquisador e crítico, produz livros de artistas como Cildo Meireles (1948), Maria Leontina (1917-1984), Antonio Dias (1944) e Beatriz Milhazes (1960). Nos últimos anos, ele empenha-se na ampliação da participação de artistas não-brancos nas coleções dos grandes museus. Ao curar a exposição Modos de Ver o Brasil: 30 anos do Itaú Cultural, com colaboração dos curadores Thaís Rivitti (1978) e Leno Veras (1986), por exemplo, sugere à instituição a aquisição de trabalhos de 48 artistas negros. Para Paulo, é importante que críticos e historiadores estudem e valorizem trabalhos a obra desses artistas que geralmente estão à margem do sistema.
Trabalhando com diferentes formas de pensar a arte, Paulo transita do fazer artístico para a curadoria e produção de pensamento crítico, contribuindo para o reconhecimento de artistas e movimentos na cena artísitca nacional e nos acervos de importantes instituições.
Espetáculos 1
Exposições 157
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28/11/1973 - 12/12/1973
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16/8/1974 - 16/9/1974
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29/9/1977 - 30/10/1977
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13/12/1978 - 20/12/1978
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10/6/1980 - 27/6/1980
Fontes de pesquisa 9
- BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO, 24., 1998, São Paulo. XXIV Bienal de São Paulo: antropofagia e histórias de canibalismos. V. I. São Paulo: Fundação Bienal, 1994. 564 p. Exposição realizada no período de 3 out. a 13 dez. 1998.
- CANÔNICO, Marco Aurélio; CYPRIANO, Fabio. "Leia a íntegra da entrevista com Paulo Herkenhoff, diretor do Museu de Arte do Rio. Folha de S. Paulo, São Paulo, 28 de fevereiro de 2013. Disponível em: https://m.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/02/1237631-leia-a-integra-da-entrevista-com-paulo-herkenhoff-diretor-do-museu-de-arte-do-rio.shtml. Acesso em: 20 set. 2023.
- FIORAVANTE, Celso. "Bienal questiona a sociedade canibal. Folha de S. Paulo, São Paulo, sábado, 24 de outubro de 1998. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq24109826.htm. Acesso em: 20 set. 2023.
- HERKENHOFF, Paulo. Entrevista com Paulo Herkenhoff. Em Cartaz, 7 de maio de 2003. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=toI6nDUdQMo. Acesso em: 06 out. 2023.
- HERKENHOFF, Paulo. O processo de recuperação do MAM Rio depois do incêndio de 1978. Arte é investimento, 1989. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EzGOz4LeKII. Acesso em: 20 set. 2023.
- LOPES, Armelinda. As propostas experimentais e políticas de Paulo Herkenhoff. Revista ARS. São Paulo, set–dez 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ars/a/bszWYVpq4PM9NtgTCDbm6fh/#. Acesso em: 20 set. 2023.
- MARTÍ, Silas. Contra neoescravismo, crítico Paulo Herkenhoff quer negros em museus. Folha de S. Paulo, São Paulo, 05 de junho de 2017. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/06/1890191-contra-neoescravismo-critico-paulo-herkenhoff-quer-negros-em-museus.shtml. Acesso em: 20 set. 2023.
- OBRIST, Hans Ulrich. Hans Ulrich Obrist: entrevistas brasileiras, vol. 1.ª Edição. Rio de Janeiro: Cobogó, 2018.
- Programa do Espetáculo - Louise Bourgeois: Faço, Desfaço, Refaço - 2005. Não catalogado
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PAULO Herkenhoff.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa575/paulo-herkenhoff. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7