Gilberto Chateaubriand
Texto
Gilberto Francisco Renato Allard Chateaubriand Bandeira de Melo (Paris, França 1925 - Porto Ferreira, São Paulo, 2022). Colecionador, diplomata e empresário. Filho de Assis Chateaubriand (1892 - 1968), jornalista proprietário do grupo empresarial Diários Associados e fundador do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, Gilberto Chateaubriand possui uma das maiores e mais importantes coleções privadas de arte moderna e contemporânea brasileira. Integra, em 1948, a primeira turma de diplomatas formada pelo Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores, e vive até o início dos anos 1950 no Rio de Janeiro. Começa a formar sua coleção durante uma viagem à Bahia, em 1953, quando o pintor José Pancetti (1902 - 1958) o presenteia com o quadro de sua autoria A Paisagem de Itapuã, 1953. Depois adquire outros trabalhos de Pancetti e pinturas de Carlos Scliar (1920 - 2001). Na década de 1950, compra obras de Ismael Nery (1900 - 1934), Lasar Segall (1891 - 1957) e de outros artistas, e do marchand Pietro Maria Bardi (1900 - 1999), então diretor do Masp. Nessa época, como não há um mercado de arte sistemático no Brasil, Gilberto Chateaubriand negocia a maior parte das compras diretamente com os artistas.
Entre 1956 e 1960, atua como diplomata em Paris, e adquire obras de artistas internacionais. De volta ao Brasil, decide centrar sua coleção na produção artística nacional. Vende e troca suas peças estrangeiras por trabalhos de artistas modernos locais, como Djanira (1914 - 1979), Guignard (1896 - 1962), Di Cavalcanti (1897 - 1976) e Tarsila do Amaral (1886 - 1973). Além de adquirir obras nos ateliês, negocia principalmente com a Galeria Bonino, no Rio de Janeiro, que comercializa obras representativas do modernismo brasileiro. Nos anos 1960, freqüenta os estúdios de Djanira, Milton Dacosta (1915 - 1988) e Maria Leontina (1917 - 1984), nas capitais fluminense e paulista, e convive com o médico Aloysio de Paula (1907 - 1990), diretor do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, e Carlos Scliar, que passa a influenciá-lo na escolha de artistas que integram sua coleção.
No fim dos anos 1960, além de continuar adquirindo obras de modernistas históricos, é um dos primeiros colecionadores a se interessar por trabalhos que constituem o movimento da nova figuração. Compra produções de jovens artistas como Glauco Rodrigues (1929 - 2004), Antonio Manuel (1947), Carlos Zilio (1944), Rubens Gerchman (1942 - 2008), Wesley Duke Lee (1931 - 2010) e Carlos Vergara (1941), entre outros que, na época, são pouco comercializados por causa do teor político de seus trabalhos e por rejeitar a institucionalização de suas obras. Gilberto Chateaubriand é também um dos primeiros a chamar atenção para a produção de Waltercio Caldas (1946), Arlindo Daibert (1952 - 1993) e Milton Machado (1947), por exemplo.
Paralelamente, funda com Carlos Scliar e José Paulo (1922 - 2004) a Ediarte, editora pela qual publica livros e catálogos de Di Cavalcanti, Pancetti e Guignard. Em 1969, Gilberto Chateaubriand torna-se conselheiro da coleção de arte da galeria do Instituto Brasil Estados Unidos - Ibeu, no Rio de Janeiro. No início da década seguinte, atua como jurado em duas edições do Salão de Verão, na mesma cidade, e sua coleção começa a ganhar dimensão pública ao integrar mostras itinerantes no Brasil e no exterior.
Em 1976, é lançado o livro Arte Brasileira Contemporânea. Coleção Gilberto Chateaubriand, com textos do crítico Roberto Pontual. A publicação traça um panorama evolutivo da arte brasileira desde o início do século XX com base na sua coleção. Dez anos depois, é lançado o segundo livro sobre o acervo: Entre Dois Séculos. Arte Brasileira do Século XX na Coleção Gilberto Chateaubriand. Com textos de Pontual, mostra uma ampliação do estudo anterior, com a leitura histórica reconsiderada com base em novas aquisições, incluindo trabalhos de artistas emergentes nos anos 1980, representantes do movimento de volta à pintura no cenário artístico nacional como Jorge Guinle (1947 - 1987) e Leda Catunda (1961). Sobre a coleção, o crítico declara: "(...) por intermédio dela, a arte brasileira do século XX, do modernismo à contemporaneidade, tem a sua mais completa e melhor ilustração."1 Desde as duas publicações, a maior parte dos discursos sobre esse acervo divulgados na imprensa nacional e internacional descreve-o como um retrato exemplar da história da arte no Brasil no século XX.
No entanto, o crítico Frederico Morais, curador da mostra Coleção Gilberto Chateaubriand: Retrato e Auto-Retrato da Arte Brasileira, a primeira a apresentar a coleção em São Paulo, em 1984, considera que o conjunto de obras reunidas pelo colecionador permite uma reavaliação da arte brasileira, mas "é preciso, entretanto, não confundir arte brasileira e coleção Gilberto Chateaubriand. Seria um erro fatal"2 Sobre a exposição organizada, diz que nela a produção artística nacional parece "mais expressionista que o habitual, levemente surrealista (...) lírica, emocional e intimista."3
A Coleção Gilberto Chateaubriand apresenta cerca de 7 mil trabalhos e é constantemente ampliada. Apesar de ter exemplares de quase todos os períodos e movimentos que integram a história da arte nacional do século XX, caracteriza-se também pela irregularidade, revelando, sobretudo, as idiossincrasias e preferências do colecionador. Chama atenção por reunir obras de nomes paradigmáticos do modernismo brasileiro como Anita Malfatti (1889 - 1964), Di Cavalcanti, Candido Portinari (1903 - 1962), Victor Brecheret (1894 - 1955), Tarsila do Amaral e Flávio de Carvalho (1899 - 1973), e trabalhos de jovens artistas contemporâneos. Nela, destacam-se os conjuntos de telas modernistas dos anos 1920 e 1930, e obras dos anos 1960 e 1970. Até essa data, a coleção é constituída principalmente por pinturas e desenhos figurativos. Nas décadas seguintes, as técnicas se diversificam e o acervo passa a ser composto também de objetos, livros de artista e instalações. Nos anos 1990, percebe-se o aumento de trabalhos fotográficos, pois Gilberto Chateaubriand adquire obras de artistas que sobressaem nesse período, como Rosângela Rennó (1962) e Miguel Rio Branco (1946). Outra peculiaridade da coleção é o grande número de auto-retratos.
No início da década de 1990, um convênio entre o Serviço Social da Indústria - Sesi de São Paulo, e o MAM/RJ, promove a exposição de inauguração da Galeria de Arte do Sesi, na capital paulista, evento seguido de uma série de mostras temáticas elaboradas com base na Coleção Gilberto Chateaubriand, num período de doze meses, que contribui para sua divulgação e prestígio.
Em 1993, Gilberto Chateaubriand transfere, em regime de comodato, cerca de 700 obras de seu acervo ao MAM/RJ, que perde parte de sua coleção num incêndio, em 1978. E, após a reconstrução da reserva técnica, o colecionador passa a maior parte de suas peças para a instituição, o que amplia ainda mais a visibilidade e a dimensão pública do conjunto.
Esse acervo brasileiro integra a mostra de inauguração do Museu Metropolitano de Arte de Pusan, Coréia do Norte, em 1988, além de constituir uma exposição itinerante na Alemanha. No mesmo ano, o Masp promove a mostra O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira, abrigando pela primeira vez as obras dessa coleção.
Gilberto Chateaubriand foi presidente da Sociedade Amigos do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro. É membro do conselho internacional do Museu de Arte Moderna de Nova York - MoMa, da Fundação Cartier para Arte Contemporânea, França, da comissão administrativa da Fundação Bienal de São Paulo, do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP, do conselho do Paço Imperial, do MAM/RJ e do Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP. Afastado da carreira de diplomata, atua como fazendeiro, administra plantações de laranja e cana-de-açúcar em sua fazenda em Porto Ferreira, interior de São Paulo, onde guarda uma pequena parte de seu acervo.
Notas
1 PONTUAL, Roberto. Dez anos, uma coleção, dois livros. In: ______. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Prefácio Gilberto Chateaubriand; apresentação M. F. do Nascimento Brito. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987. [Não paginado].
2 MORAIS, Frederico. Coleção Gilberto Chateaubriand. Retrato e auto-retrato da arte brasileira. In: COLEÇÃO Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira. São Paulo: MAM, 1984. p. [13].
3 Idem. p. [13].
Exposições 17
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5/8/1987 - 12/9/1987
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14/10/1989 - 10/12/1989
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24/10/1995 - 26/11/1995
Fontes de pesquisa 12
- BARROS, André Luiz. Arte para o olhar do público. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 02 de jun. 1998, p. B1.
- COLEÇÃO Gilberto Chateaubriand anos 60/70. Tradução Richards Speyer. São Paulo: Galeria de Arte do Sesi, 1992.
- COLEÇÃO Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da Arte Brasileira. São Paulo: MAM, 1984.
- HISZMAN, Maria. Uma coleção feita com vagar, costurada à mão e a olho. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 12 dez. 1998, p. D10.
- LEITE, Virginie. O acervo é do povo. Veja, v. 127, n. 3, 1993.
- MATTOS, Armando (coord. ). Anos 80: o palco da diversidade. Curadoria Armando Mattos, Marcus de Lontra Costa. Rio de Janeiro: MAM, 1995.
- MORAIS, Fernando. Chatô: o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubriand. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
- MORRE Gilberto Chateaubriand, mecenas dono de 8.000 obras de arte. Folha de S.Paulo, São Paulo, 14 jul. 2022. Ilustrada. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2022/07/morre-gilberto-chateaubriand-colecionador-dono-de-8-mil-obras-por-tras-do-mam-do-rio.shtml. Acesso em: 14 jul. 2022.
- O MODERNO e o contemporâneo na arte brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand do Museu de arte Moderna do Rio de Janeiro. Curadoria Agnaldo Farias; versão em inglês Ann Puntch. São Paulo: MASP, 1998.
- PONTUAL, Roberto. Arte brasileira contemporânea: Coleção Gilberto Chateaubriand. Tradução Florence Eleanor Irvin, John Knox. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1976.
- PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
- ZUCCOLOTTO, Simone. A formação de um grande colecionador. Valor Econômico, São Paulo, 25 out. 2000. EU&, p. D12.
Como citar
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GILBERTO Chateaubriand.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa464/gilberto-chateaubriand. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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