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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Pietro Maria Bardi

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 31.01.2024
21.02.1900 Itália / Ligúria / La Spezia
01.10.1999 Brasil / São Paulo / São Paulo
Reprodução fotográfica Fernando Aurélio Silveira

Retrato do prof. Pietro-Maria Bardi, 1964
Flávio de Carvalho, Pietro Maria Bardi
Óleo sobre tela, c.s.d.
90,00 cm x 67,00 cm
Acervo Museu de Arte Brasileira - MAB-FAAP

Pietro Maria Bardi (La Spezia, Itália, 1900 - São Paulo, São Paulo, 1999). Museólogo, crítico e historiador da arte, jornalista, marchand, colecionador e professor. Inicia sua formação elementar em La Spezia, mas deixa a escola sem concluir os estudos. Em 1919, passa a viver em Bérgamo, onde trabalha como jornalista para o Giornale di Bergamo e,...

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Biografia

Pietro Maria Bardi (La Spezia, Itália, 1900 - São Paulo, São Paulo, 1999). Museólogo, crítico e historiador da arte, jornalista, marchand, colecionador e professor. Inicia sua formação elementar em La Spezia, mas deixa a escola sem concluir os estudos. Em 1919, passa a viver em Bérgamo, onde trabalha como jornalista para o Giornale di Bergamo e, a partir de 1923, para o jornal Il Secolo. Transfere-se para Milão em 1924, e dois anos depois torna-se redator do Corriere della Sera. Devido a um desentendimento com o diretor, Ugo Ojetti, decide deixar de lado a carreira de jornalista e compra a Galleria dell'Esame, na Via Brera, em Milão. Começa sua atividade de marchand e crítico de arte.

Em março de 1926 filia-se ao Partido Nacional Fascista. Funda o jornal de arte Belvedere em 1929. Autodidata, publica, em 1930, Carrà e Soffici, uma monografia sobre esses dois artistas italianos. Muda-se para Roma, e passa a dirigir a Galleria d'Arte di Roma, financiada pelo Sindicato Nacional Fascista de Belas-Artes. Ainda em 1930 retoma a atividade jornalística como redator do jornal L'Ambrosiano. Em 1931, escreve um famoso panfleto, Rapporto Sull'Architettura (per Mussolini), e promove a Mostra Italiana de Arquitetura Racional.  Com Massimo Bontempelli (1878-1960), dirige em 1933, a revista Quadrante, dedicada às artes e à arquitetura, que é publicada até 1936, conta com a colaboração de Le Corbusier (1887-1965), Terragni (1904-1943), entre outros.

Editor responsável do períodico Meridiano di Roma, entre 1936 e 1937. Começa a se opor à arquitetura oficial de Mussolini, numa polêmica que se torna notória no meio sociocultural italiano. De 1941 a 1943, colabora na revista de arte Lo Stile, sobretudo com artigos sobre arquitetura. Num amplo espaço para exposições na Piazza Augusto Imperatore, em 1945, passa a funcionar o Studio d'Arte Palma, do qual é presidente. Além de mostras de arte antiga e moderna, o Studio realiza perícia e exame científico de obras de arte, contando com laboratórios de restauro e gabinetes de radiografia e fotografia.

Bardi conhece Lina Bo (1914-1992), arquiteta nascida em Roma. Divorcia-se da primeira esposa, Gemma Tartarolo, e casa-se com Lina em 1946. Com ela parte para o Brasil nesse mesmo ano, trazendo sua coleção de obras de arte e artesanato e sua biblioteca. Com esse patrimônio, organiza no país uma série de mostras. Em novembro, realiza, no Ministério da Educação e Saúde, uma exposição de pintura italiana antiga. Nesse evento, conhece o jornalista Assis Chateaubriand (1892-1968), que manifesta a intenção de criar no Brasil um museu de arte e convida Bardi para dirigi-lo. O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) é inaugurado em outubro de 1947, ocupando a sede dos Diários Associados, na rua 7 de Abril, em São Paulo. De 1947 a 1953, Bardi realiza uma série de viagens à Europa para escolher e adquirir as obras que formariam a pinacoteca do Masp.

Em 1953, respondendo a acusações de ter reunido obras de procedência e autenticidade duvidosas para o museu, viaja com todo o acervo, para ser exposto nas instituições de grande prestígio na Europa, como o Musée du Louvre, em Paris; o Palais de Beaux-Arts, em Bruxelas; o Centraal Museum, em Utrecht; a Tate Gallery, em Londres, e o Palazzo Reale, em Milão. A coleção volta ao Brasil em 1957 e é apresentada no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no Rio de Janeiro, em mostra inaugurada pelo então presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976).

Organiza no Masp mostras como o Expressionismo Alemão, O Ouro da Colômbia, Pablo Picasso, Gaudí, Miró, Tesouros do Kremlin, Pintura Italiana do Após-Guerra aos Nossos Dias, Sebastião Salgado e Albert Eckhout e Seu Tempo, e cursos que ele próprio ministra.  Desliga-se da direção do Masp em 1996. Abatido e com a saúde debilitada desde a morte de Lina, em 1992, Bardi falece em 1 de outubro de 1999.

Análise

Da atuação de Pietro Maria Bardi no Brasil, destaca-se, sobretudo, seu papel na condução e organização do Masp, do qual foi diretor por quase 30 anos. Quando chega ao Brasil, já havia conquistado na Itália uma posição profissional consolidada no meio cultural, como jornalista e marchand, além de ter exercido a função de diretor da Galleria d' Arte di Roma.

Com base em sua experiência européia, põe em prática no Masp um programa inovador no meio museológico brasileiro. Um dos principais responsáveis pela incorporação de um importante acervo internacional, por ele próprio selecionado e comprado, transforma o museu em dinâmico centro de formação, com cursos e ciclos de conferências nas áreas de gravura, pintura, desenho industrial, propaganda, escultura, ecologia, fotografia, cinema, jardinagem, teatro, música, dança e moda. E com o objetivo de torná-lo mais popular e atrair novos públicos, em especial os jovens, Bardi idealiza e realiza diversas exposições didáticas sobre história da arte.

Sua produção escrita destina-se, fundamentalmente, à publicação em jornais, revistas e catálogos de exposições, e vai de breves apresentações a ensaios de maior densidade. Seus textos deixam transparecer as questões que animam a crítica da época, ainda que Bardi não se dedique a desenvolver uma teoria própria para explicá-las. Nos textos de catálogos do Masp, ele toma como base o repertório adquirido sobre a produção artística e a historiografia da arte européia, seja para trazer essas informações para o público, seja para realizar comparações com a produção brasileira.

Na década de 1940, a produção artística das décadas de 1920 e 1930 é retrospectivamente examinada por diversos críticos e historiadores da arte, e se difunde a interpretação do modernismo como um movimento-chave no desenvolvimento das artes visuais brasileiras. Diversas exposições são apresentadas no Masp: a retrospectiva de Candido Portinari (1903-1962), para a qual Bardi produz o ensaio Portinari, um pintor popular, em 1948; Anita Malfatti (1889-1964), no ano seguinte; Ernesto de Fiori (1884-1945), em 1950, com os textos dos catálogos das duas mostras assinados também pelo marchand. Em 1952, organiza no Masp uma exposição sobre a obra de Lasar Segall (1891-1957), em conjunto com o próprio artista. O catálogo da mostra, de autoria de Bardi, torna-se importante referência para o conhecimento da vida e obra do artista. A amizade entre Segall e Bardi, que já havia tido contato com a obra do pintor na Itália, se inicia em 1946.

A diversidade de temáticas sobre as quais escreve na realização de exposições pode ser constatada pelos títulos dos catálogos, como O Retrato na França do Renascimento ao Neoclássico, 1952; Pinturas Altoperuanas dos Séculos XVII-XIX, 1961; A Escultura Italiana Contemporânea, 1971.

E a programação das mostras por ele concebida no Masp, diversas vezes com a colaboração de Lina Bo Bardi, evidencia a preocupação em explorar aspectos da produção cultural brasileira sob uma perspectiva mais ampla, que extrapola o âmbito das artes plásticas. O melhor exemplo talvez seja A Mão do Povo Brasileiro, exposição sobre arte popular realizada em 1969, que inova duplamente, na temática tratada e na maneira de expor os trabalhos. Nessa direção também se inserem as mostras Mobiliário Brasileiro, Premissas e Realidade, 1971 e A Arte do Povo Brasileiro, 1986. Para esta última, Bardi escreve o ensaio O Popular e o Museu, em que registra sua concepção sobre o papel social e educacional dos museus.

Outros dois temas caros a Bardi são a arquitetura e o design, e muito contribui para a consolidação de ambas as áreas no Brasil. A arquitetura moderna brasileira lhe interessa desde os primeiros anos passados no país. Em 1950, publica na revista Habitat o artigo Leitura Crítica de Le Corbusier. É também importante seu papel como divulgador da moderna arquitetura brasileira no exterior, principalmente na Itália, por meio de textos como I Giardini Tropicali di Burle Marx, editado em Milão em 1954, ou do capítulo sobre o tema redigido para o livro Introdução à Arquitetura, de Eduardo Benevolo, em 1972.

Bardi publica diversos livros de história da arte brasileira e internacional. Em 1969 é editado em Milão L'Opera Completa di Velázquez, um detalhado estudo sobre o artista espanhol por ele realizado para elucidar as controvérsias a respeito da autenticidade do quadro O Retrato do Conde-Duque de Olivares, de Velázquez, pertencente ao Masp.

Em História da Arte Brasileira, de 1975, sobressai a preocupação em informar e ampliar o público interessado em artes. Como ele mesmo explica, o livro pretende trazer "uma contribuição oportuna para o leitor local saber o que aqui se passou, contemporaneamente ao declínio da Renascença, ao surgir do barroco, ao lampejar do neoclassicismo e do romantismo, ao espraiar do ecletismo até os dias em que vivemos" .O livro constitui um abrangente panorama -  do século XV até o momento de sua publicação - sobre pintura, escultura, arquitetura e artes aplicadas, incluindo capítulos sobre arqueologia e arte indígena. Nessa recapitulação, em que são exploradas as ligações entre a história da arte e a história política e social brasileira, e marcados os principais períodos e movimentos artísticos, Bardi dialoga com estudiosos da arte e da cultura que o precedem ou seus contemporâneos, como Silvio Romero (1851-1914) e Rodrigo Mello Franco de Andrade (1898-1969).

Em 1982, publica Um Século de Escultura no Brasil, catálogo da exposição realizada no Masp. Na apresentação, Bardi traça um panorama da escultura brasileira, desde a produção do período colonial, com destaque para o mestre Aleijadinho (1730-1814), passando pelo período da implantação do império, a vinda da Missão Artística Francesa e a instalação da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba) no Rio de Janeiro, no século XIX, e chegando à arquitetura contemporânea.

Seu importante papel como pesquisador e compilador de fontes e informações para compor uma história das artes no Brasil pode ser constatado na série de publicações da Coleção Arte e Cultura, editadas pelo Banco Sudameris, que tratam de temas como o modernismo brasileiro, ourivesaria, cerâmica, arte popular, arquitetura, design, fotografia, entre outros.

Bardi não tem o objetivo de explorar em seus livros questões específicas ou desenvolver uma tese determinada. Os textos, pouco analíticos, adotam um partido cronológico com os estilos de cada período e seus principais artistas. Por essa característica, suas obras são importantes referências para o conhecimento da trajetória da arte, da biografia dos artistas e do desenvolvimento das técnicas artísticas. Evidentemente, apesar da ênfase no levantamento e na sistematização de informações, os textos não deixam de conter o juízo crítico do autor a respeito das produções, o que se manifesta, por exemplo, na eleição dos principais nomes de cada período.

Outro dado marcante de sua produção é a linguagem acessível, que estabelece uma comunicação direta com o leitor, o que, propositalmente, é parte de sua estratégia para difundir o conhecimento sobre a história da arte, estimular o gosto pela arte e incentivar a prática artística, objetivos que norteam toda a sua trajetória profissional.

O apreço pela tradição artística internacional é expressa tanto em seus textos quanto na realização das exposições e no acervo do Masp. Também lança livros a respeito da coleção, por ocasião de mostras no exterior. Seu último livro, A História do Masp, de 1992, traz um testemunho pessoal a respeito da experiência à frente do principal museu de arte internacional do Brasil e da América Latina.

Obras 4

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Exposições 6

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Fontes de pesquisa 11

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989. R703.0981 P818d
  • BARDI, Pietro Maria. História da arte brasileira artes: pintura, escultura, arquitetura, outras. 2.ed. São Paulo: Melhoramentos, 1975.
  • BARDI, Pietro Maria. História da arte brasileira artes: pintura, escultura, arquitetura, outras. 2.ed. São Paulo: Melhoramentos, 1975. 709.81 B246h
  • BARDI, Pietro Maria. História do MASP. São Paulo: Instituto Quadrante, 1992. (Pontos sobre o Brasil, 2).
  • BARDI, Pietro Maria. História do MASP. São Paulo: Instituto Quadrante, 1992. (Pontos sobre o Brasil, 2). 708.98161 M413h
  • BARDI, Pietro Maria. Pequena história da arte: introduçao ao estudo das artes plásticas. 2.ed. Sao Paulo: Melhoramentos, 1990. 709 B246p
  • BARDI, Pietro Maria. Pequena história da arte: introduçao ao estudo das artes plásticas. 2.ed. São Paulo: Melhoramentos, 1990. 85 p., il. p.b. color.
  • BARDI, Pietro Maria. Um século de escultura no Brasil. São Paulo: Masp, 1982.
  • BARDI, Pietro Maria. Um século de escultura no Brasil. São Paulo: Masp, 1982. 730.981 B246u
  • TENTORI, FRANCESCO. P.M. Bardi: com as crônicas artísticas do "L'Ambrosiano" 1930-1933. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2000. 700 B246t
  • TENTORI, Francesco. P.M. Bardi: com as crônicas artísticas do "L'Ambrosiano" 1930-1933. Tradução Eugênia Gorini Esmeraldo. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2000. 387 p., il. p.b.

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