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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Sílvio Romero

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.10.2024
21.04.1851 Brasil / Sergipe / Lagarto
18.06.1914 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero (Vila do Lagarto, atual Lagarto, Sergipe, 1851 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1914). Crítico literário, poeta, ensaísta, pesquisador de folclore e filósofo. Cursa a Faculdade de Direito do Recife, entre 1868 e 1873. Nesse período, colabora como crítico em jornais pernambucanos e cariocas. Em 1878, e...

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Biografia

Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero (Vila do Lagarto, atual Lagarto, Sergipe, 1851 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1914). Crítico literário, poeta, ensaísta, pesquisador de folclore e filósofo. Cursa a Faculdade de Direito do Recife, entre 1868 e 1873. Nesse período, colabora como crítico em jornais pernambucanos e cariocas. Em 1878, estreia como poeta com Cantos do Fim do Século e publica o livro A Filosofia no Brasil. Membro da chamada Escola de Recife, é influenciado pelo positivismo e pelo pensamento de Kant, em seguida pelas ideias evolucionistas de Herbert Spencer e por fim pela Escola de Ciência Social. Em 1879, sua tese "A interpretação filosófica dos fatos históricos" é aprovada e Romero obtém a cátedra de filosofia no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. A experiência no ensino leva-o a escrever artigos sobre educação no jornal carioca Diário de Notícias, dirigido por Rui Barbosa, em 1891, ano em que é nomeado membro do Conselho de Instrução Superior por Benjamin Constant. Pesquisador da produção literária nacional, ele publica, em 1888, uma de suas obras mais importantes, a História da Literatura Brasileira. Assume o cargo de professor catedrático da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais em 1896 e, dois anos depois, é eleito deputado federal por Sergipe, recebendo a tarefa de redigir o Código Civil Brasileiro. Viaja para a Europa em 1901, por indicação da Universidade de Coimbra, e recebe a medalha da Ordem de São Thiago, oferecida pelo rei dom Carlos I de Portugal. No ano seguinte, ingressa na Academia de Ciências de Lisboa e no Instituto de Coimbra, em Portugal. Após receber a aposentadoria, reside em Juiz de Fora, Minas Gerais, entre 1911 e 1912, e participa da vida intelectual da cidade, colaborando em jornais, com artigos e poemas. É um dos membros-fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Análise

Sílvio Romero é um dos pioneiros de crítica literária brasileira, para a qual trouxe novos métodos de leitura e análise de textos, com base nas ideias científicas, filosóficas e sociológicas da época. Seu conceito sobre a literatura deriva do pensamento do crítico e historiador francês Taine, para quem a criação literária é um produto social e, portanto, um documento que revela aspectos da realidade de um determinado período. O método de Romero considera a crítica como uma "atividade geral de interpretação e avaliação da cultura, sob os seus diversos aspectos", conforme escreve Antonio Candido (1918). Nesse sentido, coloca as reflexões históricas e culturais acima da avaliação estética. Defende assim uma teoria da literatura como resultado das características étnicas e sociais do país, assinalando o papel essencial representado pela mestiçagem. Para Romero, a literatura brasileira é uma manifestação distinta da portuguesa devido aos fatores peculiares do país, desde as condições naturais e históricas até a sua composição étnica, uma vez que a miscigenação de elementos portugueses, africanos e indígenas trouxe a inevitável "assimilação de bens culturais, a vasta mistura de usos, costumes, instituições, que ocorre incessantemente na formação do Brasil", ao longo do desenvolvimento histórico. 

Em A Literatura Brasileira e a Crítica Moderna, de 1880, coletânea que reúne artigos que publica na imprensa do Recife entre 1872 e 1874, Romero aplica pela primeira vez esse método interpretativo, fazendo um estudo da história literária desde Gregório de Matos (1636 - 1696), a quem considera o fundador da literatura nacional, pelo talento criativo e pelo retrato que faz da sociedade colonial de sua época, até os autores da Arcádia mineira, valorizados no contexto da luta pela emancipação política do país, e os autores românticos, a quem reserva os ataques mais virulentos, considerando a escola romântica um "obstáculo ao progresso em virtude do seu cunho idealizador e de sua vinculação com as filosofias espiritualistas".

Romero condena, especialmente, o indianismo de autores como Gonçalves Dias (1823 - 1864) (I-Juca Pirama) e José de Alencar (1829 - 1877) (O Guarani), que, segundo ele, apresenta uma visão precária da formação histórica do Brasil, uma vez que há pouca informação sobre a vida real dos indígenas e, portanto, não é possível reconstituí-la com exatidão em romances históricos ou poemas épicos. O sentido da crítica, para ele, não é apenas fazer uma ampla análise e revisão de valores, letras e artes, conforme observa Antonio Candido, mas também de demolir aquilo que julga anacrônico ou contrário à evolução cultural. O caráter muitas vezes polêmico de suas opiniões é decorrência dessa noção da crítica como um elemento para a reforma social e intelectual do país.

A obra capital de Romero é A História da Literatura Brasileira, publicada em 1888, em que o crítico expõe "o essencial do que desejava dizer sobre a cultura e mesmo a sociedade de seu país". A primeira parte do livro é dedicada aos "elementos de uma história natural de nossas letras, as condições de nosso determinismo literário, com as aplicações da geologia e da biologia às criações do espírito", conforme analisa Nelson Romero. A segunda parte, por sua vez, "apresenta, em largos traços, o resumo histórico das quatro grandes fases de nossa literatura: período de formação (1500-1750); período de desenvolvimento autônomo (1750-1830); período de transformação romântica (1830-1870); período de reação crítica (de 1870 em diante)".

O mapeamento que Romero faz da literatura brasileira, de suas origens até o século XIX, é o mais completo e detalhado que se fizera até então, colocando seu autor na posição de fundador dos estudos literários brasileiros. Porém, as opiniões formuladas pelo crítico são até hoje controversas, como o elogio a Tobias Barreto (1839-1889), que ele considera o maior escritor brasileiro, acima de Castro Alves (1847 - 1871) como poeta, e de Machado de Assis (1839 - 1908) como prosador, parecer que agora não encontra nenhuma adesão na crítica literária. Antonio Candido aponta ainda uma lacuna nessa obra, que é a ausência de um capítulo dedicado aos ficcionistas do século XIX, ausência talvez motivada pela pouca consideração que o crítico manifesta em relação aos autores românticos e realistas de seu tempo.

Por mais que o autor busque "estabelecer uma crítica científica e objetiva, baseada no espírito que promoveu a expansão das ciências da natureza no século XIX", o grau de subjetividade em suas análises é elevado. Ele muda de opinião muitas vezes, ora menosprezando o talento lírico de Luís Delfino, ora considerando-o um dos maiores poetas brasileiros; Capistrano de Abreu é chamado por Romero de "o maior sabedor de história do Brasil", e mais tarde de "medíocre catador de minúcias". Conforme Candido, "suas ideias não se propunham como desenvolvimento linear e consequente, mas como vaivém, retomada incessante, tensão de opostos". Apesar do tom virulento de suas opiniões e das injustiças cometidas em relação a autores como Machado de Assis, sua obra crítica apresenta também análises avançadas para a época, como o parecer positivo em relação a Cruz e Sousa (1861 - 1898), que não é compreendido por críticos como José Veríssimo (1857 - 1916)

Romero é o primeiro pesquisador da literatura oral brasileira, que considera "uma das fontes básicas do pensamento e da literatura nacional", conforme escreve Candido. Como resultado de sua investigação nesse campo, realizada na década de 1870, publica A Poesia Popular no Brasil, primeiro nas páginas da Revista Brasileira, entre 1879 e 1880, e depois em forma de livro, com o título Estudos sobre a Poesia Popular Brasileira, 1888. Além desse volume, considerado obra de referência em sua área de pesquisa, lança Cantos Populares do Brasil (1883) e Contos Populares do Brasil (1885).

Querendo abordar outros aspectos da vida cultural brasileira, inclusive na esfera política, publica Ensaios de Crítica Parlamentar, 1883, reunião de artigos divulgados na imprensa em que faz crítica severa às personalidades públicas de seu tempo. O interesse pelo aprendizado sociológico inspira os Estudos de Filosofia do Direito (1895) e os Ensaios de Sociologia e Literatura (1901). De 1890 a 1911, Romero publica, entre outros títulos, o ensaio Machado de Assis (1897), em que faz violenta crítica ao autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas, e merece resposta de José Verissimo, em defesa do autor fluminense. Crítico polêmico, sarcástico, violento em suas afirmações, Romero é considerado hoje, ao lado de Verissimo e Araripe Júnior, um dos criadores da crítica literária no Brasil.

Obras 1

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Fontes de pesquisa 3

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  • CANDIDO, Antonio. O método crítico de Sílvio Romero. São Paulo: Edusp, 1963.
  • ROMERO, Nelson. Sílvio Romero, trechos escolhidos. São Paulo: Agir, 1975.
  • ROMERO, Sílvio. Teoria, crítica e história literária. Seleção e apresentação de Antonio Candido. São Paulo: Edusp, 1978.

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