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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Gregório de Matos

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 05.06.2024
20.12.1636 Brasil / Bahia / Salvador
26.11.1696 Brasil / Pernambuco / Recife
Gregório de Matos e Guerra (Salvador BA 1636¹ - Recife PE 1695). Poeta e magistrado. Filho de nobre português, senhor de engenho, inicia seus estudos no Colégio dos Jesuítas, em Salvador. Em 1650, parte para Coimbra, Portugal, onde se forma em estudos jurídicos, no ano de 1661. Segue a carreira de magistrado e, a partir de 1672, representa a Bah...

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Biografia
Gregório de Matos e Guerra (Salvador BA 1636¹ - Recife PE 1695). Poeta e magistrado. Filho de nobre português, senhor de engenho, inicia seus estudos no Colégio dos Jesuítas, em Salvador. Em 1650, parte para Coimbra, Portugal, onde se forma em estudos jurídicos, no ano de 1661. Segue a carreira de magistrado e, a partir de 1672, representa a Bahia na corte portuguesa. Em 1674, propõe a criação de uma universidade em sua cidade de origem. Nesse mesmo ano perde o cargo, ao recusar o papel de inquisidor dos crimes do governador do Rio de Janeiro. Fica viúvo em 1678. Três anos depois, faz votos religiosos. Retorna ao Brasil, em 1682, como vigário-geral e tesoureiro-mor do recém-criado arcebispado. Indispõe-se rapidamente com as autoridades religiosas, entre outras razões, por recusar-se a usar batina. Passa a levar vida boêmia e desregrada, compondo versos satíricos contra as autoridades e os costumes, além de uma poesia erótica e amorosa, que lhe vale o apelido de Boca do Inferno. Denunciado ao Tribunal do Santo Ofício de Lisboa - Inquisição -, em 1685, sob a acusação de dirigir ofensas a Jesus Cristo, e de não tirar o barrete na passagem da procissão, tem seu processo anulado, provavelmente devido a influências familiares. Em 1694, para livrar-se da prisão, uma vez mais, é deportado para Angola, pelo governador da Bahia, de quem é amigo. Continua a levar uma vida tumultuada, à qual não faltam episódios mal explicados, como o envolvimento em uma rebelião de militares. Repatriado para Pernambuco, morre em 26 de novembro de 1695, no Recife, em consequência de febres contraídas na África. A vida de de Matos permanece envolta em lendas e mistérios dificilmente decifráveis. Algumas datas - até mesmo as do seu nascimento e morte - são contestadas, assim como determinados acontecimentos que constam de sua biografia, e lhe conferem uma aura de herói nacionalista, comprometido com causas libertárias. Mesmo em sua obra, é difícil discernir os versos de sua autoria dos que lhe são atribuídos.

Comentário Crítico
A obra atribuída a Gregório de Matos contém mais de 700 textos. Reúne poemas líricos, satíricos, eróticos, religiosos, encomiásticos (laudatórios), entre outros, utilizando grande variedade de ritmos e de rimas. Com exceção da épica, não há gênero ou estilo poético que não tenha praticado.

Mas é na sátira que a poesia de Matos é mais conhecida e celebrada. Utilizando-se de pitorescos jogos de palavras e de grande malabarismo verbal, realiza uma crítica irreverente aos costumes da Bahia colonial, que recebe, em seus poemas, o carinhoso tratamento de Senhora Dona Bahia. Não poupa governadores corruptos, freiras, e padres pervertidos, pois, como ele mesmo afirma em um de seus versos: "De que pode servir calar, quem cala / nunca se há de falar, o que se sente? / Sempre se há de sentir, o que se fala!". No poema em que se despede da cidade, ao partir para o degredo em Angola, assim se refere aos brasileiros: "No Brasil a fidalguia / no bom sangue nunca está / nem no bom procedimento, / pois logo em que pode estar? / Consiste em muito dinheiro / e consiste em o guardar".

Seu estilo alia a tradição dos grandes poetas barrocos espanhóis, como Luís de Gôngora (1561 - 1627) e Francisco de Quevedo (1580 - 1645), a uma linguagem em que se misturam termos de línguas tupi e africanas, de curioso efeito cômico, como nestes versos: "Um certo Paiá de Monai bonzo bramá / Primaz da Cafraria do Pegu / Que sem ser do Pequim, por ser do Acu / Quer ser filho do sol, nascendo cá".

A produção lírica de Matos é marcada por imagens de grande sensualidade, nas quais exalta as mulheres brancas, negras e mulatas da Bahia: "Crioula da minha vida / Supupema da minha alma / bonita como umas flores / e alegre como umas páscoas [...]". Em outros momentos, a temática sensual e amorosa transforma-se em delicada busca de emoções contrastadas: "Não sei, quando caís precipitada / As flores que regais tão parecida, / Se sois neve por rosa derretida, / Ou se a rosa por neve desfolhada".

Antonio Candido (1918) e José Aderaldo Castello consideram que a obra lírica do poeta atinge momentos da mais alta poesia - até mesmo superior à satírica - quando explora, com grande refinamento verbal, as tensões próprias do barroco: "Se és fogo, como passas brandamente, / se és neve, como queimas com porfia? / Mas ai, que andou Amor em ti prudente!". Já a poesia religiosa revela um forte sentido de pecado, aliado a uma busca de pureza e de perdão: "Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, / Da vossa alta clemência me despido; / Porque quanto mais tenho delinquido, / Vos tenho a perdoar mais empenhado".

Uma avaliação criteriosa de toda essa rica produção poética, no entanto, permanece sendo um desafio para críticos e estudiosos, e não cessa de gerar polêmica. Tudo o que, correta ou incorretamente, está reunido em seu nome é motivo de suspeita, já que, até prova em contrário, jamais foi encontrado sequer um manuscrito produzido por seu próprio punho.

Mas é na tradição oral da Bahia que os versos de Matos ficam de fato guardados, até serem reunidos, pela primeira vez, pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, visconde de Porto-Seguro, no livro Florilégio da Poesia Brasileira, de 1850, editado em Lisboa. Alguns anos antes, em 1841, o cônego Januário da Cunha Barbosa publica  a Biographia dos Brasileiros Distinctos por Armas, Virtudes etc., em que transcreve A Vida do Excelente Poeta Lírico, o Doutor Gregório de Matos e Guerra, escrita, ao que tudo indica, no início do século XVIII. Já nesses primeiros trabalhos de divulgação iniciam-se as deformações de interpretação da vida e da obra do poeta.

Os equívocos permanecem ainda. Estudiosos da obra acalentam a ideia de que sua poesia possa, um dia, ser resgatada integralmente, livre das impurezas dos poemas apócrifos que lhe são agregados. Outros pretendem esvaziá-la dos inúmeros plágios que lhe são atribuídos. Tarefas impossíveis, todas elas, pois, na época as categorias de autoria, de plágio, ou de originalidade, tal como são conhecidas hoje, ainda não estão constituídas.

Outro equívoco, apontado por João Adolfo Hansen, está no caráter transgressivo e revolucionário atribuído à obra do escritor. No século XVII, a sátira não está, de modo algum, em desacordo com a moral. A crítica retórica e poética dos costumes é feita para corrigir excessos e desvios, e obedece a regras estritas. Nelas, até mesmo a obscenidade e a maledicência estão previstas. Um autor como Gregório de Matos só pode ser lido e compreendido a partir de seu tempo, e das convenções estéticas que o produziram, embora permaneça atual o desafio crítico que sua obra propõe.Outro equívoco, apontado por João Adolfo Hansen, está no caráter transgressivo e revolucionário atribuído à obra do escritor. No século XVII, a sátira não está, de modo algum, em desacordo com a moral. A crítica retórica e poética dos costumes é feita para corrigir excessos e desvios, e obedece a regras estritas. Nelas, até mesmo a obscenidade e a maledicência estão previstas. Um autor como Gregório de Matos só pode ser lido e compreendido a partir de seu tempo, e das convenções estéticas que o produziram, embora permaneça atual o desafio crítico que sua obra propõe.

 

Nota
1 Por haver divergências a respeito da data de nascimento de Gregório de Matos, é adotado a utilizada pelo pesquisador Fernando da Rocha Peres, no livro de sua autoria Gregório de Mattos e Guerra: Uma Re-visão Biográfica e em nota biográfica publicada no site da Universidade Federal da Bahia (UFBA): http://www.ufba.br/~gmg/gregorio.html

Obras 2

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Espetáculos 1

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Exposições 4

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Fontes de pesquisa 1

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  • ANUÁRIO de teatro 1994. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996. R792.0981 A636t 1994

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