Castro Alves
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Espumas Fluctuantes, 1870
Castro Alves
Texto
Biografia
Antônio Frederico de Castro Alves (Muritiba BA 1847 - Salvador BA 1871). Poeta e dramaturgo. Nascido na Fazenda Cabaceiras, faz seus primeiros estudos no município vizinho, Cachoeira. Em 1854, instala-se em Salvador, onde frequenta o Colégio Sebrão e o Ginásio Baiano, este fundado e dirigido pelo educador Abílio César Borges (1824 - 1891), mais tarde caricaturado como Aristarco Argolo de Ramos no romance O Ateneu (1888), de Raul Pompeia (1863 - 1895). Castro Alves parte com o irmão José Antônio para estudar na Faculdade de Direito do Recife, em 1862, mas, reprovado, mergulha na vida cultural da cidade. Nesse período, conhece a atriz portuguesa Eugênia Câmara (1837 - 1879), com quem tem um relacionamento amoroso. Em 1863, a tuberculose se manifesta no poeta. No ano seguinte, matricula-se, finalmente, no curso de direito, mas, abalado pelo suicídio do irmão José Antônio, volta para a Bahia. Retorna ao Recife em março de 1865, em companhia do poeta Fagundes Varela (1841 - 1875). Funda, em 1866, com o publicista Rui Barbosa (1849 - 1923) e outros colegas, uma sociedade abolicionista. Passa a viver com Eugênia Câmara e inicia uma fase de intensa produção literária. Envolve-se com a abolição da escravatura e a causa da República, época em que finaliza o drama Gonzaga ou a Revolução de Minas, representado no Teatro São João, em Salvador. Em 1868, parte com Eugênia para o Rio de Janeiro, onde, recomendado por José de Alencar (1829 - 1877), é recebido por Machado de Assis (1839 - 1908). Muda-se, nesse mesmo ano, para São Paulo e matricula-se no 3º ano de direito na Faculdade do Largo de São Francisco, e realiza nessa cidade a primeira apresentação pública de Tragédia no Mar, mais tarde intitulado Navio Negreiro. Ainda em 1868, separa-se de Eugênia e fere o pé com um tiro, numa caçada nos campos do Brás, em São Paulo. Viaja então ao Rio de Janeiro para se tratar e em junho de 1869 tem o pé amputado. Decide retornar a Salvador e passa a viver na fazenda Curralinho para cuidar da tuberculose. Morre em 1871, no solar da família, em Salvador.
Análise
Castro Alves é o principal representante da terceira e última geração romântica no Brasil, denominada hugoana, pela influência marcante da poesia do romântico francês Victor Hugo (1802 - 1885). É ainda mais conhecida como geração condoreira, devido a uma imagem recorrente entre os poetas dessa geração: a do condor dos Andes. A imagem dessa ave se associa à esfera do grandioso ou sublime, metaforizando o poder da inspiração do gênio romântico ou do poeta-vate, que paira acima dos demais homens e é dotado de capacidade similar de enxergar a grande distância. Isso sem falar no impulso libertador representado pelo seu voo. Por se tratar de um condor dos Andes, esse anseio libertador ou libertário pode ser relacionado ao continente americano. Ligada ainda à força da inspiração criadora, outra metáfora empregada pelo poeta baiano é o borbulhar do gênio. O verbo ajuda a evidenciar que a genialidade ou o poder de criação, para os românticos, é uma força natural que arrebata o artista independente de sua vontade. Trata-se de uma metáfora coletiva, empregada por outros poetas dessa e das demais gerações românticas, e não de uma crença particular do poeta baiano na sua genialidade, como chegam a apontar alguns críticos, quando ele afirma em um verso famoso: "Eu sinto em mim o borbulhar do gênio". Uma metáfora parecida é usada por ele também para designar o talento inato da atriz Eugênia Câmara em O Voo do Gênio.
A linguagem e o estilo característicos da terceira geração romântica revelam a relação íntima da poesia com a oratória, visando à comoção e persuasão do leitor ou da plateia de ouvintes, em prol dos ideais liberais, abolicionistas e republicanos defendidos por Castro Alves e por outros condoreiros, como Pedro Luís (1839 - 1884) e Pedro Calasans (1837 - 1874). Daí os recursos retóricos mais frequentes nessa poesia enfática, como a hipérbole, a apóstrofe, a enumeração, a anáfora e a gradação. Faz parte da retórica condoreira, ainda, o emprego frequente de antíteses e personificações, além de imagens titânicas associadas à força arrebatadora da natureza: vulcões, trovões, tempestades, raios... A esse titanismo associa-se, de igual modo, suas representações mitológicas, como Prometeu, que alegoriza a condição do ser oprimido pelo despotismo e pela injustiça, mas contra os quais acaba por se rebelar.
A motivação política e ideológica da poesia de Castro Alves se encontra no contexto brasileiro dos anos 1860, marcado pelo que o escritor e diplomata Joaquim Nabuco (1849 - 1910) denomina de "novo liberalismo". Atacando o conservadorismo oligárquico e a estagnação política do Brasil, os liberais saem em defesa da indústria e do trabalho livre, confiantes na democracia norte-americana e ansiosos por alinhar o país no nível dos grandes centros internacionais. A expressão literária desse novo liberalismo pode ser reconhecida não só na poesia abolicionista de Os Escravos, publicada postumamente, mas também recolhendo muito dos versos altissonantes que consagram o poeta em vida, nos salões e tribunas do tempo, como Vozes d'África e Navio Negreiro. Essa ideologia liberal aparece, igualmente, em outra vertente da poesia social de Castro Alves, valorizando o culto ao saber, à técnica e ao progresso do continente americano, que responde pelo que o crítico literário e historiador Alfredo Bosi define como uma atitude "projetiva, o empuxe para a ação imediata, o marchar adiante e a travessia sem limites", presente em poemas como O Livro e a América e O Século.
Em sua lírica amorosa, encarna o mito de Don Juan, amante de muitas mulheres. A esse mito chega até a dedicar uma peça teatral, intitulada D. Juan ou a Prole dos Saturnos, que deixa, todavia, inacabada. O modo como o poeta concebe o amor pode também ser visto como resultado dessa nova mentalidade liberal. Ele renova a lírica amorosa ao romper com o clima opressivo, resultante do desejo não realizado, da concepção depreciativa do sexo e da visão etérea das virgens inacessíveis da geração anterior, de Álvares de Azevedo. Para o poeta baiano, o sexo não desonra. Castro Alves realiza uma nova concepção do amor, não só pela representação integral da mulher e pela reunião dos planos espiritual e sexual do amor. Também inova ao superar a visão aristocrática do amor sublime, sem cair numa visão naturalista do amor puramente biológico e carnal. Em sua poesia, o amor transcende as condições sociais e as particularidades raciais dos amantes. Essa mentalidade liberal representa, assim, o elo entre a lírica amorosa e a poesia social de Castro Alves.
Obras 4
Espetáculos 8
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7/11/1953 - 11/11/1953
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24/1/1994 - 18/3/1983
Mídias (1)
Fontes de pesquisa 1
- ANUÁRIO de teatro 1994. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996. R792.0981 A636t 1994
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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CASTRO Alves.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa2804/castro-alves. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7