Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

História da Literatura Brasileira

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 09.01.2020
1888
Publicada em 1888, a História da Literatura Brasileira, de Sílvio Romero (1851-1914), resume o pensamento de um dos mais importantes intelectuais de sua geração e uma virada nos estudos literários nacionais.

Texto

Abrir módulo

Publicada em 1888, a História da Literatura Brasileira, de Sílvio Romero (1851-1914), resume o pensamento de um dos mais importantes intelectuais de sua geração e uma virada nos estudos literários nacionais.

Romero atua na renovação intelectual que marca o impulso modernizador que chegaria à Proclamação da República. Em História da Literatura Brasileira, propõe um modelo de nossa formação literária à luz do positivismo do filósofo Auguste Comte (1798-1857) e do evolucionismo do naturalista Charles Darwin (1809-1882). As convicções da ciência positiva e determinista são fundamentais a obra. Na primeira parte, o autor produz um extenso quadro científico do país: assinala o “atraso do povo brasileiro”, de fundo geoclimático, e a “incapacidade relativa das três raças que constituíram a população do país”1. Constrói uma “fisionomia do brasileiro”, amparada por comentários etnográficos que indicam a mestiçagem como fato central de sua constituição racial; e busca a influência de relações econômicas e instituições políticas na literatura, das quais destaca a escravidão e a monarquia. A essas introduções científicas, segue-se a história propriamente dita.

Romero divide a literatura brasileira em quatro épocas. A primeira, descrita como “período de formação (1500-1750)”, engloba a descoberta do país, a economia canavieira e os conflitos que se desdobram até a descoberta das minas. Pela impossibilidade de avaliar a história literária brasileira à luz da ciência europeia, Romero indica a inexistência de uma literatura no primeiro século da conquista do país. Destaca somente o desenvolvimento a partir do qual pode-se referir à ideia de “abrasileiramento”. O abrasileiramento torna-se critério para que Romero eleja, como primeiro literato da terra, o jesuíta José de Anchieta (1534-1597), por seu empenho civilizatório e escrita. Observa em Anchieta2 uma prefiguração da mestiçagem brasileira e uma cultura popular cuja melancolia e misticismo o aproxima da indígena. No entanto, é só com a ascensão de Salvador a capital administrativa e as lutas contra os estrangeiros na costa da colônia que afirma o sentimento nacional, o “entrelaçamento perfeito”3 das raças e a primeira escola literária brasileira, a baiana. Dela, registra a atividade literária de poetas, cronistas e oradores, e indica dois extremos: padre Antonio Vieira (1608-1697), “português que viveu no Brasil” e “simboliza o gênio português com toda a sua arrogância na ação e vacuidade nas ideias”4.

A segunda época (1750-1830), coincide com a descoberta do ouro no sudeste e a passagem do centro econômico do nordeste açucareiro às Minas Gerais. Da escola mineira, Romero destaca aqueles que considera os dois grandes poetas brasileiros, Basílio da Gama (1741-1795), autor de O Uraguai  (1769) e Frei Santa Rita Durão (1722-1784), autor de Caramuru (1781). Ambas as obras refletem peculiaridades de um nascente estilo literário brasileiro. Observa a presença de um veio cômico-satírico, exemplar nas Cartas chilenas, cuja autoria atribui a Alvarenga Peixoto (1744-1792); e a lírica – “qualidade distintiva de nossas letras”5, a cuja excelência atribui a fundo racial – de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), e Silva Alvarenga (1749-1418). A escola mineira de Romero relaciona autores de transição, cultores de gêneros secundários (como a oratória religiosa e política) ou ligados à exposição científica. O interesse em tais gêneros e autores menores justifica-se por sua visada civilizatória: o sentimento de nação está ligado à ilustração, da qual se depreende a autonomia que resulta na Independência, em 1822.  

Com a terceira fase (1830-1870), Romero dá início ao segundo volume. Dedicado à exposição da “filogenia literária”[6] do romantismo brasileiro, constrói um quadro que se torna tradicional: dando predileção à lírica, pede o cultivo de uma contrapartida realista e científica, adequada ao progresso social. Começa por Gonçalves de Magalhães (1811-1882), e encerra com a geração de Castro Alves (1847-1871) e Tobias Barreto (1839-1889). Entre os nomes mais conhecidos, elenca poetas hoje esquecidos ou julgados secundários – o principal, Sousândrade (19833-1902)7. A apreciação autor por autor segue o esquema observado por Antonio Candido (1918-2017): “A História é construída, pois, segundo três círculos concêntricos: o primeiro, do meio e da raça; o segundo, contido nele, da sociedade; o terceiro do escritor”8. Nesse esquema, Gonçalves Dias é, segundo Candido , “o perfeito representative man [...]: grande poeta, exprimindo o seu momento, o seu povo, a sua psicologia de mestiço"9.

O percurso de Romero sugere uma diluição do lirismo romântico numa tendência ao realismo cientificista e à crítica, que explica a adesão dos dois últimos românticos, Castro Alves e Tobias Barreto, ao que chama de “hugoanismo socialístico”10. A força da lírica nacional talvez explique a pouca atenção ao romance e ao drama, tratados à luz de autores que cultivaram ambos smente na segunda edição da História (1902-1903). A fidelidade de Romero aos esquemas abstratos e seu interesse pela expressão literária da nação se faz sentir em seu juízo de Machado de Assis (1839-1908), com o qual encerra sua análise literária: não bastasse a falta do colorido nacional que avulta em Alencar, do realismo de impressões e estilo de Franklin Távora (1842-1888) ou do leve prosaísmo de Manuel Antônio de Almeida (1831-1861), Machado peca em suas incursões no humour e no pessimismo filosófico, ambos supostamente estranhos a sua constituição psicológica, e por seu ecletismo “Meio clássico, meio romântico, meio realista, uma espécie de juste-milieu literário, um homem de meias-tintas, de meias-palavras, de meias-ideias, de meios sistemas [...], a manifestação mais aproveitável de seu talento foi certa aptidão de observação comedida e a capacidade de a revestir em suas obras de uma forma correta e pura”11.  

Romero deixa sua obra sob a crescente racionalização do debate e da produção literária. Embora assinale os passos de uma quarta fase – um “período de reação crítica (1870-1886)”, a ser concluído com um arrazoado sobre os “Defeitos de nossa educação intelectual” –, a História deixa somente o esquema do que seria seu tomo final. Ainda assim, colabora com a teoria da formação literária nacional, que inclui a literatura no conjunto da historiografia brasileira. 

Notas

1.  ROMERO, Silvio. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: B. L. Garnier – Livreiro Editor, 1888. v. 1, p. 49.

2.  Ibidem, p. 154. 

3.  Ibidem, p. 164.

4.  Ibidem, p. 164.

5.  Ibidem, p. 260.

6.  Ibidem, v. 2, p. 691-2.

7.  Ibidem, v. 2., p. 1165.

8.  CANDIDO, Antonio. O método crítico de Silvio Romero. São Paulo: EDUSP, 1988. p. 75.

9.  CANDIDO, Antonio, op. cit., p. 75.

10.  ROMERO, Silvio, op. cit., v.. 2, p. 1198.

11.  ROMERO, Silvio. História da literatura brasileira. Organização e prefácio de Nelson Romero. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1960. v.5, p. 1510-1511.

Fontes de pesquisa 4

Abrir módulo
  • BARBOSA, João Alexandre. O cânone na literatura brasileira. Organon - Revista do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, v. 15, n. 31-32, 2001. Texto eletrônico.
  • CANDIDO, Antonio. O método crítico de Silvio Romero. São Paulo: EDUSP, 1988.
  • ROMERO, Silvio. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: B. L. Garnier – Livreiro Editor, 1888. 2.v.
  • SOUZA, Roberto Acízelo de. Introdução à Historiografia da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Eduerj, 2007.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: