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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Alvarenga Peixoto

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 28.03.2017
1744 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
27.08.1792
Inácio José de Alvarenga Peixoto (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, ca.1744 - Ambaca, Angola, 1792). Filho do português Simão de Alvarenga Braga e da carioca Angela Micaela da Cunha, inicia os estudos na cidade natal, provavelmente no colégio dos jesuítas, completando-os em Braga, Portugal, para onde segue aos 8 ou 9 anos. Vai a Coimbra, Portugal,...

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Biografia

Inácio José de Alvarenga Peixoto (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, ca.1744 - Ambaca, Angola, 1792). Filho do português Simão de Alvarenga Braga e da carioca Angela Micaela da Cunha, inicia os estudos na cidade natal, provavelmente no colégio dos jesuítas, completando-os em Braga, Portugal, para onde segue aos 8 ou 9 anos. Vai a Coimbra, Portugal, onde inicia em 1760 o curso em Leis, interrompido entre 1761 e 1763, período em que permanece no Brasil. Formado em 1767, assume uma das cadeiras do curso, vivendo, ainda, da herança que recebe do pai. Convive com os poetas árcades Basílio da Gama (1741-1795), e Tomás Antônio Gonzaga (1744-1819). Nomeado juiz da vila de Sintra, segue para esta cidade portuguesa em 1769, ali permanecendo até 1772. Após ler publicamente um poema em louvor a Marquês de Pombal (1699 - 1782), é nomeado ouvidor da Comarca de Rio das Mortes, o que motiva seu retorno ao Brasil e o estabelecimento em São João del Rei MG. Trabalha também com agricultura e mineração e, em 1785, é nomeado coronel do 1° Regimento de Cavalaria da Campanha do Rio Verde, pelo governador da capitania de Minas Gerais, Luís da Cunha Menezes. Participa da Inconfidência Mineira, o que lhe custa a prisão, em 1789. Aí retoma as composições poéticas, que havia deixado em 1782. Tendo sido condenado à morte, opta por acionar  um mecanismo jurídico da época, que lhe permite o exílio em Luanda, Angola, em 1792. Morre dois meses depois.

Análise

A obra poética de Alvarenga Peixoto, considerada de segunda importância entre o que produziram os poetas da Inconfidência, desperta controvérsia crítica. Embora sejam percebidos traços como os verificados em Cláudio Manuel da Costa (1729 - 1789) e Tomás Antônio Gonzaga (1744-1819), não é plena a identificação de Peixoto com o Arcadismo.

Tendo o autor publicado em vida apenas dois sonetos e uma lira, o conjunto de sua produção - que hoje soma 33 composições, sendo 25 sonetos - foi dado a público após esforços de Januário da Cunha Barbosa, Joaquim Norberto de Sousa, Domingos Carvalho da Silva e, sobretudo, Rodrigues Lapa. Esta é a origem da primeira das questões que envolvem a obra do autor. Devido ao envolvimento com a Conjuração Mineira, perdeu-se boa parte dos manuscritos da sua produção lírica, conservando-se apenas os poemas laudatórios, isto é, dedicados a exaltar uma figura ou um fato público.

Para Antonio Candido (1918), Peixoto alcança "o objetivo da literatura ilustrada de louvar os reis e governantes com a finalidade de chamar a atenção para os problemas da realidade local". Num poema em que exalta D. Maria I, monarca de Portugal (1777-1816), por exemplo, afirma a respeito da colônia: "Que fez a Natureza/ em por neste país o seu tesouro,/ das pedras na riqueza,/ nas grossas minas abundantes de ouro,/ se o povo miserável?[...]". Ainda segundo o crítico, se nessa forma de referir o Brasil reside a relevância de sua obra, o poeta, porém, pouco inova no espírito iluminista da época, que tematizava o nativismo ao lado da aspiração ao bom governo.

Diferentemente do que considera Candido, outros críticos, como Rodrigues Lapa, veem no nativismo de Alvarenga Peixoto uma sinceridade e uma veemência que não se encontram em outros autores da época.

O retrato que elabora da colônia é, contudo, baseado mais na crença das potencialidades econômicas do que na exaltação da beleza estética. Uma composição narra o sonho do eu lírico: "Eu vi o Pão d'Açúcar levantar-se,/ e no meio das ondas transformar-se/ na figura do Índio mais gentil,/ representando só todo o Brasil". A descrição que se segue apresenta uma alegoria do Brasil, ressaltando do índio as suas "preciosas armas", as pontas de diamante das setas, a riqueza do cocar, as "pérolas pendentes".

As referências clássicas também estão amplamente presentes no conjunto dessa produção, em conformidade com a estética da época. Esta é, aliás, o principal procedimento empregado por Peixoto para exaltar Portugal. Num poema em louvor ao Marquês de Pombal, retrata o estadista como um herói sem "gume ensanguentado" e, por isso, mais glorioso do que romanos como César, Pompeu, Antonio, Crasso, Augusto. Celebra, ainda, a navegação como expansão do Reino português, em detrimento da destruição empreendida pelo Império: "Bárbara Roma, só por nome augusta,/ desata o pranto, vendo/ a conquista do mundo o que te custa".

No que diz respeito à obra lírica, tem-se reconhecido a presença de traços barrocos - sobretudo a recorrência das antíteses, construídas e aprofundadas no jogo de contrários, algo pouco comum no Arcadismo. É o que ocorre em um soneto de tema amoroso, conforme evidencia o terceto final: "Ah, Marília, Marília, quem discorre/ nas tuas perfeições, gostosa lida,/ que alegre vive que insensível morre!".

A exploração da ambivalência levará as composições a um fecho em que elementos referidos anteriormente são resumidos e apresentados ao seu contraponto. São exemplares os seguintes versos: "Estes males não sinto, é bem verdade;/ porém sinto outro mal inda mais duro:/ da consorte e dos filhos a saudade". Trata-se do fecho de um soneto escrito quando Peixoto conheceu sua sentença de morte por ter participado da Inconfidência Mineira. O crescente subjetivismo dos escritos dessa época, com frequência retratanto a saudade da mulher amada e da pátria, leva ainda à identificação da contiguidade entre esta obra e as estéticas pré-romântica e romântica. 

Fontes de pesquisa 7

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  • CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 4. ed. São Paulo: Martins, 1971. 2 v.
  • CARDOSO, Wilton. "Aspectos barrocos na lírica de Alvarenga Peixoto". In: Seminário sobre a poesia mineira (período colonial). Belo Horizonte: Conselho Estadual de Cultura, 1984.
  • COSTA FILHO, Miguel. O engenho de Alvarenga Peixoto. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1959.
  • LAPA, M. Rodrigues. Vida e obra de Alvarenga Peixoto. Rio de Janeiro: INL, 1960.
  • MEIRELES, Cecília. "Romance LXXVIII ou De um tal Alvarenga". In:______. Romanceiro da Inconfidência. In: ______. Obra poética. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987. p. 535-536.
  • MORAES, Rubens Borba de. Bibliografia brasileira do Período Colonial: catálogo comentado das obras dos autores nascidos no Brasil e publicadas antes de 1808. São Paulo: IEB, 1969.
  • PRADO, Antonio Arnoni. "Alvarenga Peixoto, louvor e tormentos". In: PEIXOTO, Alvarenga. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2002. p. 7-30.

Como citar

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