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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Lina Bo Bardi

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 31.07.2024
05.12.1914 Itália / Lazio / Roma
20.03.1992 Brasil / São Paulo / São Paulo
Reprodução fotográfica Antonio Saggese

Tripé, 1948
Lina Bo Bardi
Três pernas em cabreúva encerada ou tubo de ferro e forro solto de lona ou couro
Instituto Lina Bo e P. M. Bardi

Achillina Bo Bardi (Roma, Itália 1914 – São Paulo, São Paulo, 1992). Arquiteta, designer, cenógrafa, editora, ilustradora. Abrangente e interdisciplinar, sua atuação extrapola os campos da arquitetura e do urbanismo. Sua contribuição é fundamental na ruptura de paradigmas da participação da mulher na sociedade. Estrangeira, compreende a cultura ...

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Achillina Bo Bardi (Roma, Itália 1914 – São Paulo, São Paulo, 1992). Arquiteta, designer, cenógrafa, editora, ilustradora. Abrangente e interdisciplinar, sua atuação extrapola os campos da arquitetura e do urbanismo. Sua contribuição é fundamental na ruptura de paradigmas da participação da mulher na sociedade. Estrangeira, compreende a cultura brasileira pelo olhar antropológico, particularmente atento para a convergência entre vanguarda estética modernista e tradição popular.

Após estudar desenho no Liceu Artístico, forma-se, em 1940, na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma. A faculdade, dirigida pelo arquiteto tradicionalista italiano Marcello Piacentini (1881-1960), privilegia uma tendência histórico-classicizante, que Lina chama de "nostalgia estilístico-áulica". Em desacordo com essa orientação valorizada pelo fascismo, predominante em Roma, ela se transfere para Milão, onde trabalha com o arquiteto italiano Gió Ponti (1891-1979), líder do movimento pela valorização do artesanato italiano e diretor das Trienais de Milão e da revista Domus. Em pouco tempo, ela própria passa a dirigir a revista e a atuar politicamente, integrando a resistência à ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e colaborando com o Partido Comunista Italiano (PCI), então clandestino1. Ainda em Milão, funda, ao lado do crítico italiano Bruno Zevi (1918-2000), a revista La Cultura della Vita.

Em 1946, após o fim da guerra, casa-se com o crítico e historiador da arte Pietro Maria Bardi (1900-1999), com quem viaja para o Brasil. Deixando para trás o "velho mundo", ao chegar ao Brasil, tem a seguinte impressão: "Deslumbre. Para quem chegava pelo mar, o Ministério da Educação e Saúde avançava como um grande navio branco e azul contra o céu. Primeira mensagem de paz após o dilúvio da Segunda Guerra Mundial. Me senti num país inimaginável, onde tudo era possível"2

O casal decide se fixar no Brasil, que Lina chama de "minha pátria de escolha"3. No ano seguinte, Pietro é convidado pelo jornalista Assis Chateaubriand (1892-1968) a fundar e dirigir o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), em São Paulo. Lina projeta as instalações da nova sede do museu, que é inaugurada apenas em 1968, em que se destaca a cadeira dobrável de madeira e couro para o auditório, considerada a primeira cadeira moderna do Brasil, além da praça-belvedere aberta no piso térreo, suspendendo o edifício com um arrojado vão de 70 metros. Em 1948, funda, com o arquiteto italiano Giancarlo Palanti (1906-1977), o Studio d'Arte Palma, voltado à produção manufatureira de móveis de madeira compensada e materiais brasileiros populares, como a chita e o couro. Sua inserção mais efetiva no meio arquitetônico nacional se dá, inicialmente, pela atuação editorial, quando cria, em 1950, a revista Habitat, que dura até 1954. Projeta, em 1951, sua própria residência, no bairro do Morumbi, em São Paulo, apelidada de "casa de vidro" e considerada uma obra paradigmática do racionalismo artístico no país. 

Sua formação intelectual combina o racionalismo estético do arquiteto suíco Le Corbusier (1887-1965) com o pensamento marxista do filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937). Esses elementos dão à arquiteta os instrumentos para considerar a cultura popular, abundante no Brasil, como matéria-prima de uma contribuição fecunda à modernidade, que considera seca e indigesta4. Constata, posteriormente, a derrota histórica desse modelo de "formação nacional" idealizado por ela, afirmando que o Brasil “tinha chegado num 'bívio'. Escolheu a finesse"5

Em 1958, transfere-se para Salvador, convidada pelo governador Juracy Magalhães (1905-2001) a dirigir o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Na capital baiana, realiza também o projeto de restauro do Solar do Unhão, um conjunto arquitetônico do século XVI tombado na década de 1940 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), e se relaciona criativamente com uma série de importantes artistas vanguardistas, como o fotógrafo e etnólogo francês Pierre Verger (1902-1996) e o cineasta Glauber Rocha (1939-1981). 

Em Salvador, integra um grupo de pensadores vanguardistas estrangeiros responsável por fomentar as revoluções artísticas que ocorrem ali6. Propõe uma experiência de simplificação formal e construtiva, como no caso da escada de madeira do Solar do Unhão, 1959, em Salvador, que combina uma forma geométrica rigorosa com o sistema de encaixes dos carros de boi, e da "cadeira de beira de estrada", 1967, cujo desenho sintético utiliza apenas três galhos e um tronco. O golpe militar de 1964 interrompe a frágil circunstância política que permite sua atuação na cidade.

De volta a São Paulo, e parecendo reconhecer o obscurecimento de uma via possível de integração entre a tradição popular pré-burguesa e o desenvolvimento industrial, Lina radicaliza o caráter experimental de sua obra, reforçando os laços com a "estética da fome" do cinema novo e com o sincretismo pop do tropicalismo. Vem daí, também, a admiração devotada ao seu trabalho por parte de alguns arquitetos ligados à revisão crítica do movimento moderno na Europa, como o holandês Aldo Van Eyck (1918-1999), destacado integrante do Team X. A rudeza dos acabamentos do edifício do Masp expressa a radicalidade dessa nova orientação, que Lina chama de "arquitetura pobre". Feito com vigas de concreto protendido e tendo uma laje inteiramente suspensa por cabos de aço, o edifício do Masp representa por muito tempo o "maior vão livre da América Latina".

No projeto para o Sesc Pompéia, de 1977, concebido como uma "cidadela" provocativamente "feia", em estilo bunker7, adapta uma antiga fábrica de tambores. A mesma rudeza está presente no desenho do mobiliário e no contraste entre a madeira desse mobiliário e o concreto bruto da estrutura dos galpões e das novas paredes cegas. Já no seu projeto para o Teatro Oficina, de 1984, a crueza da construção dissolve a rigidez da relação palco-platéia, resultando na criação de um teatro-pista, como um sambódromo.

Na segunda metade dos anos 1980, Lina retorna a Salvador, convidada a conceber um plano de recuperação do centro histórico da cidade. Nessa ocasião, acompanhada de Marcelo Carvalho Ferraz (1955) e Marcelo Suzuki, realiza o projeto da Casa do Benin, no Pelourinho, em 1987, e a recuperação das encostas da ladeira da Misericórdia, erguendo contrafortes nitidamente destacados dos muros remanescentes do século XVIII, e utilizando, para as construções novas, painéis leves e pré-moldados de argamassa armada desenvolvidos pelo arquiteto João Filgueiras Lima (1932-2014), em usina local.

Responsável por importantes projetos que marcam a arquitetura modernista no Brasil, Lina colabora para a constituição de um projeto moderno e ao mesmo tempo voltado para a sociabilidade de cidade e gestão cultural.

Notas

1. BARDI, Lina Bo. Curriculum literário. In: FERRAZ, Marcelo (Org.). Lina Bo Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1993..

2. Ibidem. p. 12.

3. Ibidem. p. 12.

4. WISNIK, Guilherme. Lina Bo Bardi: a interpretação cultural do Brasil 'pós-Brasília'. Vitruvius, ano 6, mar. 2006. Disponível em: www.vitruvius.com.br/drops/drops14_03.asp. Acesso em: 18 abr. 2024.

5. BARDI, Lina Bo. Um balanço dezesseis anos depois [1980]. In: SUZUKI, Marcelo (Org.). Tempos de grossura: o design no impasse. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; Fundação Vilanova Artigas, 1994. p. 13.

6. RISÉRIO, Antonio. Avant-garde na Bahia. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1995. Os outros estrangeiros listados por Risério são os músicos eruditos Hans Joachim Koellreutter (1915-2005), Ernst Widmer (1927-1990), Walter Smetak (1913-1984), e o professor de literatura Agostinho da Silva (1906-1994).

7. BARDI, Lina Bo. Sesc Fábrica da Pompéia. In: FERRAZ, Marcelo (Org.). Lina Bo Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1993. p. 230.

Obras 6

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Espetáculos 9

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Exposições 40

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Fontes de pesquisa 16

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989. R703.0981 P818d
  • BARDI, Lina Bo. Lina Bo Bardi. Organização Marcelo Carvalho Ferraz; texto Lina Bo Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1993. 333 p., il. p.b. color.
  • CACILDA!!!. São José dos Campos: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [2013]. 1 programa do espetáculo realizado no SESC São José dos Campos.
  • CACILDA!!!. São José dos Campos: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [2013]. 1 programa do espetáculo realizado no SESC São José dos Campos.
  • DEPOIMENTO de uma geração: arquitetura moderna brasileira. rev. ampl. Organização Alberto Xavier. São Paulo: Cosac Naify, 2003. 720.981 D422a
  • FRAGA, Emerson Fonseca. Lina Bo Bardi: uma mulher que marcou a arquitetura brasileira. Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, 1 mar. 2020. Disponível em: https://caubr.gov.br/lina-bo-bardi-a-mulher-que-marcou-a-arquitetura-brasileira/. Acesso em: 29 jul. 2022.
  • GRACIAS, Señor. Rio de Janeiro: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1972]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Tereza Raquel.
  • LINA Bo Bardi. Organizacao Marcelo Carvalho Ferraz; comentário Lina Bo Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1993. 720.92 B246f
  • NA SELVA das Cidades. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1969]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
  • OLIVEIRA, Olivia de. Lina Bo Bardi: sutis substâncias da arquitetura. São Paulo: Romano Guerra Editora; Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2006. 400 p. 720.92 B246o
  • RISÉRIO, Antonio. Avant-garde na Bahia. Apresentacao Marcelo Carvalho Ferraz; apresentação Caetano Veloso. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1995. 981.42 R595a
  • RISÉRIO, Antonio. Avant-garde na Bahia. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1995. 259p., fotos p.b. (Pontos sobre o Brasil).
  • SUZUKI, Marcelo (org.). Tempos de grossura: o design no impasse. Texto Jorge Amado. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi : Fundação Vilanova Artigas, 1994. 78 p., il. p&b color. (Pontos sobre o Brasil).
  • SUZUKI, Marcelo (org.). Tempos de grossura: o design no impasse. Texto Jorge Amado. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi : Fundação Vilanova Artigas, 1994. 78 p., il. p&b color. (Pontos sobre o Brasil). 745.50981 BL246t
  • TEATRO do Ornitorrinco. São Paulo: Imprensa Oficial, 2009. 792.0981 To253
  • VERGUEIRO, Maria Alice. Maria Alice Vergueiro. São Paulo: [s.n.], s.d. Entrevista concedida a Rosy Farias, pesquisadora da Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. Não Catalogado

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