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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Antonio Manuel

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 10.01.2024
1947 Portugal / Beira Litoral / Avelãs de Caminho

O Corpo É a Obra, 1970
Antonio Manuel
Fotografia p&b
Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

Antonio Manuel da Silva Oliveira (Avelãs de Caminho1, Portugal, 1947). Escultor, pintor, gravador, desenhista. Experimentalismo e forte teor político marcam a trajetória artística de Antonio Manuel, considerado um dos mais importantes nomes da arte contemporânea brasileira. Convocando o público à participação, suas obras refletem os afetos prese...

Texto

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Antonio Manuel da Silva Oliveira (Avelãs de Caminho1, Portugal, 1947). Escultor, pintor, gravador, desenhista. Experimentalismo e forte teor político marcam a trajetória artística de Antonio Manuel, considerado um dos mais importantes nomes da arte contemporânea brasileira. Convocando o público à participação, suas obras refletem os afetos presentes no contexto social em que se inserem, especialmente durante os anos de ditadura militar2 no país.  

Antonio Manuel vem para o Brasil em 1953, aos seis anos de idade, fixando-se com a família no Rio de Janeiro. Na metade da década de 1960, estuda com Augusto Rodrigues (1913-1993), na Escolinha de Arte do Brasil (EAB), e frequenta o ateliê de Ivan Serpa (1923-1973). Nessa época, é também aluno ouvinte da Escola Nacional de Belas Artes (Enba). A partir de 1965, participa de salões de arte e bienais.

No início da carreira, usa o jornal como suporte de seus trabalhos. A partir de interferências com tinta nanquim, anula algumas notícias ou imagens, acrescenta ou ilumina outras, procurando realçar os sentidos e a realidade por elas expressas. Um exemplo desse trabalho é Matou o cachorro e bebeu o sangue (1967), em que as figuras presentes na imagem são transformadas em vampiros que sugam o sangue de um pequeno animal. Passa, em seguida, a utilizar o flan — cartão plastificado em relevo, que é a matriz para a impressão de jornais. O próprio artista conta que consegue o material nas redações de jornais durante a madrugada, privilegiando as notícias político-sociais. Manuel chega a elaborar os próprios flans, inventa as notícias e publica jornais impressos, distribuídos nas bancas como se fossem autênticos. Cria uma série de jornais abordando temas políticos, como o movimento estudantil de 1968, ou ligados a discussões estéticas e poéticas.

Em 1968, na exposição Apocalipopótese, realizada no Aterro do Flamengo e idealizada por Hélio Oiticica (1937-1980) e Rogério Duarte (1939-2016) como uma experiência coletiva de arte, Antonio Manuel apresenta Urnas quentes – caixas de madeira fechadas e lacradas, similares a caixões, que são arrebentadas pelo público para se conhecer seu conteúdo. Nessas caixas, o artista coloca textos com imagens recortadas de jornais e que remetem a situações sociais, políticas ou estéticas vivenciadas à época. Em uma delas, por exemplo, encontra-se a mensagem “fome, fome, fome” e imagens de corpos famélicos. Como em outros trabalhos do período, o evento convida à participação o espectador, que passa a ser correalizador da obra. Mais do que isso, convida-o à ação, à medida que constitui um ato simbólico claramente relacionado à violência institucional de repressão política e censura aos meios de comunicação. 

Em 1970, o experimentalismo e o forte caráter contestador do artista o levam a propor o próprio corpo como obra, durante sua participação no 19º Salão de Arte Moderna, realizado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM RJ). A proposta é questionar os critérios de seleção e julgamento das obras de arte, mas ela é recusada pelo júri. Mesmo assim, na noite de abertura da exposição, o artista despe-se e apresenta ao público seu corpo nu, fazendo poses, como se fosse uma escultura. A performance é eternizada em Corpobra (1970), um totem de madeira de dois metros de altura com a imagem do artista ampliada. Nela, o pênis é ocultado por uma tarja preta em que se lê a palavra “corpobra” no lugar do que habitualmente estaria escrito “censura”. Fica evidente o caráter de protesto contra o sistema político, artístico e social em vigor, enrijecido com a promulgação do AI-5 em 1968. Sobre a performance, o crítico Mário Pedrosa (1900-1981) escreve que o artista faz "o exercício experimental da liberdade". A partir desse momento, interesse de Manuel centra-se na questão do corpo e de seus sentidos.

Ainda na década de 1970, o artista realiza vários filmes de curta-metragem, como Loucura & cultura (1973), Semi-ótica (1975), premiado como melhor filme socioantropológico na 5ª Jornada Brasileira de Curta-Metragem de Salvador, e Arte hoje (1976). Na década de 1980, passa a se dedicar à pintura em acrílico, produzindo telas de caráter abstrato-geométrico, em que explora a sugestão de labirinto. Tudo (1982) e Tabuleiro para dois jogadores (1986) são exemplos dessa época.  

Em 1994, apresenta a primeira versão da instalação Fantasma, composta por dezenas de pedaços de carvão, suspensos por fios de nylon. Convidado a percorrer esse espaço, o público pode ser tocado ou marcado pelas peças de carvão. Segundo o artista, a fotografia que integra a exposição é de um personagem real que, ao ter sua imagem divulgada pela imprensa como testemunha de um crime, passa a viver escondido, perdendo sua identidade. A obra é uma das mais importantes da trajetória do artista.

Ao longo de sua carreira, Manuel expõe seu trabalho em diferentes lugares. Entre suas principais exposições, destacam-se as individuais, uma realizada na Galerie Nationale du Jeu de Paume, em Paris, em 1999, e I want to act, not represent, apresentada na Americas Society, em Nova York, em 2011; e as coletivas, exibidas no Guggenheim Museum, em Nova York, e no Museum of Modern Art, em Oxford, ambas em 2001; além de É tanta coisa que não cabe aqui, apresentada no Pavilhão Brasileiro na 56ª Bienal de Veneza, na Itália, em 2015. 

Utilizando várias formas de expressão, a obra de Antonio Manuel apresenta um caráter de inquietude e de constante reflexão sobre o contexto sociopolítico brasileiro, explorando o potencial libertário da arte contra qualquer autoritarismo.

Nota

1. Avelãs do Caminho é uma freguesia da cidade de Anadia, pertencente ao distrito de Aveiro.

2. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

Obras 14

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Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Corpobra

Acrílico, madeira, fotografia p&b e palha
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Empate 4 x 4

Acrílica sobre tela
Reprodução Fotográfica Paulo Scheuenstuhl

Exposições 262

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Mídias (1)

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Antonio Manuel - Enciclopédia Itaú Cultural
Em 1970, Antonio Manuel apresenta seu próprio corpo nu como obra no Salão de Arte Moderna do MAM/RJ. “É uma questão meio ética meio estética porque, na verdade, eu já não confiava mais nos suportes e nos meios”, explica o artista. A proposta ousada é rejeitada pelo júri do evento, mas abre discussões importantes no campo das artes no Brasil. Alguns anos antes desse episódio, em 1966, Manuel inicia sua carreira tendo como suporte o jornal. Seja por meio de interferências com nanquim nos periódicos existentes ou na criação de notícias e publicações como se fossem autênticas, as obras dessa fase são fruto de seu profundo interesse pela mídia impressa. “[Vêm de] uma verdadeira paixão pela coisa gráfica”, comenta. Depois de experimentar diferentes materiais e linguagens, nos anos 1980 ele migra para a pintura abstrata. “Encaro uma tela assim, direto, sem saber o que vai dar. Esse desafio, para mim, é importante”.

Produção: Documenta Vídeo Brasil
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Erika Mota (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)

Fontes de pesquisa 14

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • ANTONIO Manuel. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1984. (Arte brasileira contemporânea).
  • ARTE hoje/88: artistas convidados. Ribeirão Preto: Prefeitura Municipal, 1988.
  • CANEJO, Cynthia Marie. Antonio Manuel: a dialectical response to brazilian developments in modern art. 1998. 63 f. Tese (Doutorado)- Master of Arts in Art History, University of California, Santa Barbara, 1998.
  • DEPOIMENTO de uma geração: 1969-1970. Curadoria Frederico Morais. Rio de Janeiro: Galeria de Arte Banerj, 1986.
  • DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
  • LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.
  • MANUEL, ANTONIO. Antonio Manuel. Rio de Janeiro, RJ: Centro de Arte Hélio Oiticica, 1997.
  • MANUEL, Antonio. Antonio Manuel - entrevista a Lúcia Carneiro e Ileana Pradilla. Rio de Janeiro: Lacerda Ed., 1999. 80p. (Palavra do artista).
  • OBJETO na arte: Brasil anos 60. Coordenação Daisy Valle Machado Peccinini de Alvarado. São Paulo: FAAP, 1978.
  • OCUPAÇÕES descobrimentos. Tradução Paulo Henriques Britto. Niterói: MAC, 1998. .
  • PIZA, Waltércio Caldas, Vergara, Hércules Barsotti, Milton Dacosta, Antonio Manuel, Amilcar de Castro. São Paulo: Gabinete de Arte, 1986.
  • PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

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