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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Rogério Duarte

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 19.04.2024
10.04.1939 Brasil / Bahia / Ubaíra
13.04.2016 Brasil / Distrito Federal / Brasília
Foto de Autoria desconhecida

Cartaz do filme A Idade da Terra, 1980
Paula Gaétan, Rogério Duarte
72,00 cm x 101,00 cm
Cinemateca Brasileira

Rogério Duarte Guimarães (Ubaíra, Bahia, 1939 - Brasília, Distrito Federal1, 2016). Escritor, designer gráfico, compositor, poeta e tradutor. Muda-se de Salvador para o Rio de Janeiro em 1959, onde frequenta a Escola de Belas Artes, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e a Escolinha de Arte do Brasil (EAB). Em 1961, começa a trabal...

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Rogério Duarte Guimarães (Ubaíra, Bahia, 1939 - Brasília, Distrito Federal1, 2016). Escritor, designer gráfico, compositor, poeta e tradutor. Muda-se de Salvador para o Rio de Janeiro em 1959, onde frequenta a Escola de Belas Artes, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e a Escolinha de Arte do Brasil (EAB). Em 1961, começa a trabalhar com o designer Aloísio Magalhães (1927-1982). Com o ingresso na União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1962, torna-se coordenador de comunicação visual e produz todos os cartazes da entidade. Também nessa época cria cartazes da Bossa Nova e participa da revista Movimento, uma das primeiras publicações de design gráfico moderno no Brasil. Amigo do diretor de cinema e mentor do movimento do Cinema Novo, Glauber Rocha (1939-1981), com quem divide a direção do filme A Cruz na Praça em 1959, Rogério Duarte cria o cartaz do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, em 1964. De 1964 a 1969, realiza outros cartazes de filmes como O Desafio (1965) de Paulo César Saraceni (1933-2012), A Opinião Pública (1967) de Arnaldo Jabor (1940), entre outros. Em 1965, leciona Design Gráfico no MAM/RJ, atividade que dura até 1967. Ainda em 1965, publica o texto Notas sobre o Desenho Industrial, documento importante para a produção escrita sobre design no Brasil. De 1965 a 1970, produz capas de LPs de Gal Costa (1945), Caetano Veloso (1942), Gilberto Gil (1942), Os Mutantes, entre outros artistas do movimento Tropicália.

Entre os anos de 1966 e 1968, é diretor de arte da editora Vozes. Em 1968 é preso e torturado pela ditadura militar junto com seu irmão Ronaldo Duarte. Após a prisão, é internado em hospitais psiquiátricos até 1971. Nas décadas de 1970 e 1980, ligado a movimentos da contracultura, compõe músicas de rock brasileiro e participa de publicações como o jornal Flor do Mal (1970) e a revista Navilouca (1974). De 1972 a 1975 é diretor de arte da revista DIA (Desenho Industrial de Audiovisuais). Em seguida, ocupa o mesmo cargo até 1978 na Desígnio.

Em 1987, volta para a Bahia. No início da década de 1990, passa a lecionar na Universidade Federal da Bahia (UFBA), que lhe confere título de Notório Saber em 1997. Em 1990, tem sua tradução do livro Bhagavad Gita editada pela Companhia das Letras, trabalho que realiza durante 20 anos. Em 2003 é lançado o livro Tropicaos pela editora Azougue Editorial, que reúne diversos escritos do artista. Em 2011, publica Gita Govinda – A Cantiga do Negro Amor. Mora sozinho em Salvador onde, distante dos trabalhos de arte, é praticante do Hare Krishna.

Análise

O crítico de cinema Ismail Xavier (1947) chama a multiplicidade de linguagens e estilos presentes na obra de Rogério Duarte de “jogo de contaminações”.2 De fato, a polifonia dos trabalhos do artista e os campos diversos nos quais ele atua não permitem classificação de sua obra em apenas um movimento. Sua obra engloba cartazes do Cinema Novo, Capas de LPs do movimento Tropicália, letras de rock, poemas, traduções, textos teóricos etc.

O primeiro trabalho que tira Rogério Duarte do anonimato é o cartaz do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, feito em 1964. Segundo o designer Chico Homem de Melo, se por um lado o cartaz tem “preocupação modernista com clareza diagramática”, por outro há “camadas cromáticas que parecem um sol em torno da cabeça do [...] Corisco e acabam por ofuscar a nitidez do retrato [...] ”.3 Nas palavras do crítico Jorge Caê Rodrigues, “Rogério mantém o rigor e o conhecimento técnico, mas faz uma síntese entre o racionalismo e a exuberância tropical”.4

A ida de Rogério Duarte ao Rio de Janeiro, em 1959, permite que ele trave conhecimento com Alexandre Wollner (1928), Max Bense (1910-1990), Tomás Maldonado (1922), Otl Aicher (1922-1991), entre outros herdeiros da Escola de Ulm. Em 1963, é inaugurada a Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), que segue as diretrizes ulmianas de simplicidade, racionalidade e funcionalidade. Conhecedor desses preceitos, Rogério Duarte escreve, em abril de 1965, as Notas Sobre o Desenho Industrial, nas quais define o desenho industrial como “a ideação de formas para a produção em série”.5 O texto apresenta o movimento Art Nouveau, a Bauhaus e a Escola de Ulm. Sobretudo contra essas duas últimas escolas, afirma o perigo da transformação do designer em técnico e insiste na relação entre arte e desenho industrial.

O poeta Waly Salomão (1943-2003) considera Rogério Duarte, junto com o artista plástico Hélio Oiticica (1937-1980), fundador da Tropicália, movimento que inova a cultura em diversos de seus campos – teatro, música, cinema etc. – misturando cultura popular brasileira com influências diversas. Se na música brasileira, a utilização da guitarra elétrica marca a ruptura provocada pelos tropicalistas, nas capas de discos realizadas por Rogério Duarte, é unindo diversos estilos (o kitsch, as letras psicodélicas, o Arte Pop etc.) que há inovação.

A capa do disco Qualquer Coisa, de 1975, de Caetano Veloso, por exemplo, tem influências da Arte Pop e da capa do disco Let it Be, de 1970, do grupo de rock inglês Beatles. Para Rogério Duarte, “tudo aquilo que não tinha status de ´bom desenho`, para usar o termo maniqueísta que Ulm usava, interessava à Tropicália”.6 Se por um lado, Rogério Duarte rompe com os ulmianos, por outro, há nos seus projetos esforço de afirmação do Design Gráfico no Brasil. No documentário Rogério Caos e os experimentalismos tropicais, de Claudio César Gonçalves, o artista situa seu trabalho da década de 1960 em novo espaço. O design brasileiro significa, até essa época, a criação de logomarcas no mundo corporativo ou o design funcionalista proposto pela Esdi. Ao utilizar o design gráfico em capas e cartazes, Rogério Duarte transforma-o em veículo de comunicação de massas. Além disso, insere o design em campo antes ocupado pela pintura e pelo desenho. Assim, surge a figura do capista conhecedor da tipografia e da maquinaria das gráficas.

Mesmo recluso – na Bahia e em hospitais psiquiátricos– no final da década de 1960 e no início de 1970, Rogério Duarte permanece ligado à Tropicália. Na década de 1980, seu trabalho é recuperado e transformado em ícone nacional do pós-modernismo.

Notas

1. O artista está sepultado na cidade de Santa Inês, Bahia.

2. RODRIGUES, Jorge C. O DesignTropicalista de Rogério Duarte,. In: MELO, Chico H. de. (org.) O Design Gráfico Brasileiro dos Anos 60. São Paulo: Cosac Naify, 2006. p.201.

3. MELO, Chico H. de. 1960-1969. In: MELO, Chico H. de. Linha do tempo do design gráfico no Brasil. São Paulo: Cosac Naify, 2011.p.343.

4. RODRIGUES, Jorge C. O DesignTropicalista de Rogério Duarte. In: MELO, Chico H. de. (org.) O Design Gráfico Brasileiro dos Anos 60. São Paulo: Cosac Naify, 2006. p.196.

5. DUARTE, Rogério. Tropicaos. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2003.p.111.

6. RODRIGUES, Jorge C. O DesignTropicalista de Rogério Duarte. In: MELO, Chico H. de. (org.) O Design Gráfico Brasileiro dos Anos 60. São Paulo: Cosac Naify, 2006. p.207.

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