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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Glauber Rocha

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.10.2023
14.03.1939 Brasil / Bahia / Vitória da Conquista
22.08.1981 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Foto de Autoria desconhecida

Cartaz do filme Terra em Transe , 1967
Glauber Rocha
Desenho e fotografia
98,00 cm x 71,00 cm

Glauber Pedro de Andrade Rocha (Vitória da Conquista, Bahia, 1939 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1981). Cineasta, escritor. Um dos líderes do cinema novo1, movimento de vanguarda da década de 1960, Glauber Rocha propõe um cinema alinhado à realidade socioeconômica do chamado “Terceiro Mundo”.

Texto

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Glauber Pedro de Andrade Rocha (Vitória da Conquista, Bahia, 1939 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1981). Cineasta, escritor. Um dos líderes do cinema novo1, movimento de vanguarda da década de 1960, Glauber Rocha propõe um cinema alinhado à realidade socioeconômica do chamado “Terceiro Mundo”.

Durante o ensino médio, em Salvador, frequenta o Clube de Cinema da Bahia, dirigido pelo crítico Walter da Silveira (1915-1970). Entre 1956 e 1957, organiza no colégio as Jogralescas, espetáculos com dramatização de poemas modernistas; colabora como crítico em jornais; apresenta um programa de rádio sobre cinema e funda a produtora Yemanjá Filmes. Em 1958, viaja pelo sertão nordestino e entra em contato com a cultura popular. No mesmo ano, ingressa na faculdade de Direito da Bahia e frequenta a escola de teatro da instituição. Em 1959, lança o curta experimental Pátio, com a atriz Helena Ignez (1942), e filma Cruz na Praça, obra inacabada. Em 1961, inicia as gravações de Barravento, exibido no Brasil, em 1967.

Gravado na Praia de Buraquinho, na Bahia, o filme conta a história do retorno de Firmino à comunidade natal, formada por pescadores negros descendentes de escravos. O filme apresenta aspectos da cultura afro-brasileira (a capoeira, o samba de roda e o candomblé), ao mesmo tempo em que o personagem denuncia seu caráter alienante (o “feitiço religioso” considerado por Firmino como causa da passividade da comunidade diante da exploração da indústria pesqueira).

Em 1963, publica o livro Revisão Crítica do Cinema Brasileiro e, no ano seguinte, lança seu filme mais importante: Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964). Neste longa, Glauber Rocha amplia sua crítica social ao associar a miséria do sertão à exploração do trabalho do sertanejo e ao fervor religioso. No interior dessa divisão, Deus e Diabo tornam-se forças sociais em conflito. A teatralidade do filme vinculada à literatura de cordel é visível na sequência em que os personagens Corisco, Dadá, Manuel e Rosa aguardam o encontro com Antônio das Mortes. Como destaca Ismail Xavier (1947) “[...] câmera e atores se deslocam de modo a traduzir visualmente o que é dito nos versos, numa representação que funde o espaço das imagens e o espaço da canção de cordel”2.

Glauber Rocha traduz, de modo explícito, a célebre formulação do poeta russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930): “não existe arte revolucionária sem forma revolucionária”. O diretor é reconhecido por se apropriar de inovações formais do cinema moderno europeu para filmar a realidade dos chamados “países subdesenvolvidos”. O uso da câmera na mão, a montagem descontínua, a teatralização do espaço e da encenação, a presença cênica da natureza, o improviso dos atores, são alguns dos recursos formais utilizados. Eles se incorporam às manifestações da cultura popular, sobretudo as religiosas, e às alegorias políticas, distanciando os filmes do cinema comercial.

A estreia do filme acontece alguns meses depois do golpe civil-militar, em abril de 1964, mas sua exibição é interditada pelo governo. Entretanto, com o êxito internacional no Festival de Cannes, o longa é liberado para maiores de 18 anos. O diretor viaja pela Europa e América, permanecendo fora do país até 1965, ano em que a apresenta o manifesto Estética da Fome3.

Na volta ao Brasil, é preso com outros sete intelectuais por protestar contra o regime militar em reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA). O episódio ganha repercussão internacional4. Em 1966, realiza os documentários Amazonas Amazonas e Maranhão 66, que contribuem para a concepção estética e política do longa seguinte, Terra em Transe (1967), com exibição proibida no país durante meses.

A geografia da floresta amazônica e as imagens do comício populista de José Sarney (1930) são reencontradas nesse longa. Como no filme anterior, Terra em Transe condensa nos personagens as forças sociais em conflito, desta vez no Brasil da primeira metade da década de 1960. E exibe aspectos grotescos da realidade brasileira e a distância entre política institucional e população. O filme tem grande repercussão e torna-se referência cultural do final dos anos de 1960, influenciando produções de cinema, teatro e música popular.

Em 1960, realiza O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, retornando ao tema do cangaço, às manifestações da cultura sertaneja e ao personagem Antônio das Mortes. Com longos planos-sequências e improviso dos atores, o filme alegoriza a conjuntura sociopolítica do Brasil da época. O dragão representa os limites políticos de uma luta que parece extemporânea à conjuntura nacional e à modernização conservadora da ditadura em fins dos anos 1960.

Seu último filme, A Idade da Terra, é um afresco de episódios decisivos da história da humanidade, projetados no Brasil do final da década de 1970. A narrativa fragmentada, o improviso dos atores, as cenas documentais e os planos-sequências procuram condensar a formação social do Brasil, dividida entre classe dirigente e população trabalhadora e expressa em manifestações culturais e religiosas.

Inspirada pela realidade brasileira, especialmente, a de fora dos grandes centros urbanos, a filmografia de Glauber Rocha é caracterizada sobretudo pela inovação da linguagem cinematográfica e pela incansável denúncia política e social durante os anos de repressão.

Notas

1. O Cinema Novo é um movimento de renovação da linguagem cinematográfica brasileira, marcado pelo realismo e pela crítica social do país. Seus filmes caracterizam-se pela concepção de cinema autoral e pelo baixo orçamento de produção, coerente com as condições do Brasil da época. 

2. XAVIER, Ismail. Sertão Mar: Glauber e a estética da fome. São Paulo: Cosac & Naify, 2007. p.75.

3. No texto, defende que o cinema brasileiro deve retratar a realidade nacional e se distanciar da imitação do glamour do cinema de Hollywood.

4. A detenção dos 8 da Glória, como ficam conhecidos os artistas presos, entre eles Antonio Callado (1917-1997), Mário Carneiro (1930-2007) e Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) motiva o envio de telegrama de protesto ao governo militar, assinado por importantes cineastas, como o holandês Jori Ivens (1898-1989) e os franceses François Truffaut (1932-1984), Jean-Luc Godard (1930) e Abel Gance (1889-1981).

Obras 6

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Espetáculos 5

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Exposições 8

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Fontes de pesquisa 9

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  • FONSECA, Paulo Yasha Guedes da. 4 Dias pra Filmar, 4 Anos pra Montar e Sincronizar: o problema da temporalidade em Câncer de Glauber Rocha. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
  • GARDIÉS, René. Glauber Rocha – Política, Mito e Linguagem. In: SALLES, Paulo Emílio (Org.). Glauber Rocha. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
  • GOMES, João Carlos Teixeira. Glauber Rocha, esse vulcão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
  • RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luiz Felipe (Orgs). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000.
  • ROCHA, Glauber. Revisão crítica do cinema brasileiro. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
  • TBC apresenta Arena-Opinião. São Paulo: TBC, 1965. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Não catalogado
  • VALENTINETTI, Claudio M. Glauber, um olhar europeu. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; Rio de Janeiro: Prefeitura do Rio de Janeiro, 2002.
  • XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo, cinema marginal. 2. ed. São Paulo: Cosac & Naify, 2012.
  • XAVIER, Ismail. Sertão mar: Glauber e a estética da fome. 2. ed. São Paulo: Cosac & Naify, 2007.

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