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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 20.05.2024
1969
O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969) é o primeiro longa-metragem a cores de Glauber Rocha (1939-1981), com sucesso de crítica. A princípio, é censurado,  pelo governo do General Emílio Garrastazu Médici (1905-1985), mas a pressão dos diversos prêmios internacionais que recebe libera-o depois do Ato institucional n. 5 (AI-5).

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O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969) é o primeiro longa-metragem a cores de Glauber Rocha (1939-1981), com sucesso de crítica. A princípio, é censurado,  pelo governo do General Emílio Garrastazu Médici (1905-1985), mas a pressão dos diversos prêmios internacionais que recebe libera-o depois do Ato institucional n. 5 (AI-5).

Rodado na cidade de Milagres1, na Bahia, o filme repõe personagens e tipos de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964)como Antônio das Mortes [Maurício do Valle (1928-1994)], beatos e cangaceiros. Inspirado pelo western e o cinema do letão Serguei Eisenstein (1989-1948), o longa-metragem utiliza a teatralidade – longos planos sequências e improviso dos atores – para expressar uma alegoria da conjuntura política e social do Brasil naquele final de década. O filme transpõe a miséria social brasileira para a cidade de Jardim das Piranhas (espaço da narrativa). Como afirma o crítico Ismail Xavier (1947), as personagens são tipos sociais que representam forças em conflito, fora do centro decisório da política institucional. Assim, O Dragão é uma encenação que utiliza a literatura de cordel e a religiosidade popular para expor o drama da miséria nordestina. Ao mesmo tempo, apresenta os limites políticos de uma luta que parece extemporânea à conjuntura política e à modernização conservadora da ditadura em fins dos anos 1960.

A história se inicia quando Coirana [Lorival Pariz (1934-1999)] e um grupo de cangaceiros invadem o Jardim das Piranhas ameaçando a ordem vigente. Apesar da oposição do coronel Horácio [Jofre Soares (1918-1996)], o delegado Mattos [Hugo Carvana (1937-2014)] contrata Antonio das Mortes para exterminar o bando. Em Jardim das Piranhas, o clima é tenso, lá se encontra a cegueira delirante do coronel, as ambições políticas do delegado, a desilusão do professor [Othon Bastos (1933)], a solidão de Laura [Odete Lara (1929-2015)] e a crise mística do padre [Emanuel Cavalcanti]. Após duelar com Coirana e vencê-lo, Antonio das Mortes recebe uma revelação da Santa e passa a agir em nome de seus conceitos de moral e justiça. Unindo-se ao professor, elimina os jagunços de Mata Vaca [Vinícius Salvatori (1943-1993)], contratados pelo Coronel Horácio2.

O crítico René Gardiés estabelece a relação entre personagens e representações no contexto da luta de classes. Assim, o representante dos que detêm o poder é o coronel Horácio. Já os oprimidos são representados pelos habitantes miseráveis da cidade. Ao lado destes últimos estão o padre (a ala progressista da igreja católica), Coirana (o único sobrevivente do bando de Lampião), a Santa, Antão e os Beatos. Os três últimos representam o misticismo popular. Ao lado do coronel, estão o delegado Mattos, os soldados, Mata Vacas e seu bando. No decorrer da narrativa, Antônio das Mortes passa de instrumento de violência dos opressores para o lado dos oprimidos, acompanhado pelo professor (o intelectual).

O plano-sequência do duelo entre Coirana e Antônio das Mortes é um dos mais célebres da filmografia de Glauber Rocha. Realizada com câmera na mão, a sequência apresenta as personagens, ao mesmo tempo em que condensa o improviso e a teatralidade do filme. Segundo o crítico Geraldo Sarno3, o duelo repõe uma tradição que ocorria de fato no sertão nordestino, um dos duelos mais sanguinários da região. Nele, os opositores seguram um pano, e não se soltam até que um dos dois morra. O duelo é acompanhado pelo som de uma cantoria ininterrupta da população de Jardim das Piranhas, pela observação do delegado Mattos, dos soldados, do professor, de Laura, da Santa, de Antão, de Batista, e do padre. Um diálogo entre os dois duelistas em forma de cordel prepara a sequência seguinte. O contraste entre as duas armas denota a dimensão teatral da luta: contra a experiência do matador o cangaceiro luta com com uma faca precária. A câmera na mão acompanha o improviso dos participantes, até que Antônio vence o duelo, com a Santa evitando a morte de Coirana. O cineasta Martin Scorsese (1942) revela que apresentou esta sequência aos atores do filme Gangues de Nova York (2002) como referência para suas cenas de luta4.

Apesar da intenção de realizar um filme popular que leva à “agitação revolucionária”, O Dragão agrada, predominantemente, a uma crítica e um público já acostumado com o cinema de Glauber. Como observa a professora Zulmira Ribeiro Tavares (1930)5, o filme tem a qualidade de levar o espectador a “refletir”, mas um espectador que o faça de modo minucioso, devido ao rigor da relação entre as cenas e a montagem.

O filme recebe o prêmio de Melhor Direção no festival de Cannes de 1969, primeiro prêmio no Festival de Plovaine na Bélgica, Prêmio Luís Buñuel, entre outros.

Notas

1. Mesma cidade em que foi filmado Os Fuzis (1963), de Ruy Guerra (1931).

2. CINEMATECA Brasileira. O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro. São Paulo. Disponível em: < http://goo.gl/p3TA7j > Acesso em: 28 abr. 2016.

3. Entrevista concedida para o documentário Milagres com a direção de Paloma Rocha, presente nos extras do DVD O Dragão da Maldade da Maldade Contra o Santo Guerreiro.

4. MARTIM Scorsese fala sobre O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro. Extas do DVD O Dragão da Maldade da Maldade Contra o Santo Guerreiro. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=Nmt1vhUgaw4 >.

5. SUPLEMENTO Literário do Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (1969).

Mídias (1)

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O Dragão da Maldade Contra o Santo Guereiro (1969) Diração: Glauber Rocha
Conteúdo licenciado para uso exclusivo na Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras.

Fontes de pesquisa 4

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  • CINEMATECA Brasileira - Filmografia: base de dados. Disponível em: http://bases.cinemateca.gov.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=FILMOGRAFIA&lang=p.
  • SALLES GOMES, Paulo Emílio et al. Glauber Rocha. São Paulo: Paz e Terra, 1975.
  • VALENTINETTI, Claudio M. Glauber, um olhar estrangeiro. São Paulo: Instituto Lina Bo e P.M Bardi: Prefeitura do Rio, 2002.
  • XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo, cinema marginal. São Paulo: Brasiliense, 1993.

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