Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Othon Bastos

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 23.09.2024
23.05.1933 Brasil / Bahia / Tucano
Othon José de Almeida Bastos (Tucano, Bahia, 1933). Ator. Othon Bastos é intérprete da geração do teatro de resistência, tendo fundado sua própria companhia nos anos 1970, produzindo espetáculos representativos do período.

Texto

Abrir módulo

Othon José de Almeida Bastos (Tucano, Bahia, 1933). Ator. Othon Bastos é intérprete da geração do teatro de resistência, tendo fundado sua própria companhia nos anos 1970, produzindo espetáculos representativos do período.

Inicia sua carreira fazendo teatro estudantil na Bahia, sendo levado ao Rio de Janeiro, por intermédio de Paschoal Carlos Magno (1906-1980), para integrar o Teatro Duse onde participa de trabalhos como Terra Queimada (1951), de Aristóteles Soares (1910-1989) e Lampião (1954), de Rachel de Queiroz (1910-2003).

Integra teleteatros na TV Tupi, ao lado de Sergio Britto (1923-2011), transferindo-se logo após para São Paulo. O primeiro retorno à Bahia dá-se em 1956, para dirigir na recém-fundada Escola de Teatro da Universidade da Bahia, iniciativa do reitor Edgar Santos e comandada por Martim Gonçalves (1919-1973). Segue para estudar teatro na Weber Douglas School, Londres. Ao voltar, monta na Escola de Teatro, entre outros espetáculos, As Três Irmãs (1958), de Anton Tchekhov (1860-1904), Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams (1911-1983), ao lado de Maria Fernanda (1928-2022), e Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna (1927-2014), ambos em 1959.

Em 1960, Othon sai da Escola para fundar, associado a João Augusto de Azevedo, a Companhia Teatro dos Novos, empenhando-se na construção do Teatro Vila Velha. O grupo, através de subvenções da prefeitura, apresenta peças em praças públicas após festividades religiosas ou cívicas e, por meio de leilões de obras de arte, angaria fundos para erguer o teatro. 

O início da década de 1960 marca sua estreia e consagração no cinema, iniciando com Sol sobre a lama (1962) de Alex Viany (1918-1992). No mesmo ano, em um pequeno mas marcante papel, atua ainda em O pagador de promessas, de Anselmo Duarte (1920-2009). Dois anos depois, como Corisco, em Deus e o Diabo na terra do sol, de seu conterrâneo Glauber Rocha (1939-1981), Othon utiliza de sua experiência teatral e, segundo o pesquisador Orlando Freire Junior, para a concepção do personagem aplica técnicas do teatro épico do dramaturgo Bertold Brecht (1898-1956), desejando mostrar à plateia que na tela não há um personagem com vida própria tomando emprestado o corpo e a voz de um intérprete, mas, na realidade, um ator que apresenta um ponto de vista sobre um personagem. O Corisco de Othon Bastos, tem uma movimentação bastante teatral e tensa, com rodopios, por exemplo. Somada a atuação de Othon com os elementos visuais que compõem o personagem, a figura de Corisco ganha destaque, inclusive no cartaz do filme, que se torna um dos marcos do Cinema Novo.

O crítico de cinema Carlos Alberto Matos destaca: "Desde que rodopiou no chão pedregoso de Cocorobó como o memorável cangaceiro Corisco, em Deus e o Diabo na Terra do Sol, a autoridade cênica do baiano Othon tomou de assalto a dramaturgia brasileira. Criou a partir dali um padrão de domínio e precisão que torna suas performances inesquecíveis, mesmo quando a lembrança do filme em si não ultrapassa a primeira noite de sono.[...] Othon é o tipo de ator que não depende de sua imagem visual para ser reconhecido. A voz, uma das mais célebres do país, já é suficiente para identificá-lo mesmo no escuro"1.

Entre 1964, ano da inauguração do Vila Velha, e 1968, quando ele e Martha Overbeck (1938), sua esposa e parceira de trabalhos, se deslocam para o Rio de Janeiro, apresenta uma série de peças de grande significação no repertório do teatro. Ambos integram, em São Paulo, o Teatro Oficina, no elenco de Galileu Galilei (1968), de Bertolt Brecht. No ano seguinte, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa (1927-2023), Othon desempenha Schilink, o malaio que compra a opinião de Garga, na encenação de Na Selva das Cidades, também de Brecht. Pela atuação recebe a premiação de melhor ator no Prêmio Molière de Teatro no ano seguinte. Ainda em 1969 volta a atuar no cinema dirigido por Glauber Rocha em O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro e, em 1970, aparece em Os Deuses e os Mortos, de Ruy Guerra (1931), ao lado de Ítala Nandi (1942).

A partir de 1970 cria, com Martha Overbeck, a Othon Bastos Produções Artísticas, grupo que ao longo dos anos 1970 se empenha em aguerrida defesa da liberdade de expressão, levando um repertório de resistência como Castro Alves Pede Passagem (1971), com direção de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006). É premiado como melhor ator novamente pelo Molière e pela Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT) por Um Grito Parado no Ar (1973), em encenação de Fernando Peixoto (1937-2012), com quem também trabalha em Ponto de Partida (1976).

Em 1980, o casal se associa a Renato Borghi (1937) para empreender o por muito tempo censurado Calabar, de Chico Buarque (1944) e Ruy Guerra. Othon também tem importante atuação na televisão ao longo de sua carreira, trabalhando em importantes seriados e novelas como Os imigrantes (1981), e Roque Santeiro (1985-1986),  ambas da Rede Globo.

A carreira de Othon Bastos conta ainda com outros importantes e densos filmes como O que é isso, companheiro?, de Bruno Barreto (1955), e Central do Brasil, de Walter Salles (1956), ambos de 1998, e Bicho de Sete Cabeças (2000), de Laís Bodanzky (1969), no qual vive o pai do protagonista interpretado por Rodrigo Santoro (1975) e que interna seu filho em uma instituição psiquiátrica diante de sua vivência com o uso de drogas e do distanciamento entre os dois. 

Sua atuação na televisão e no cinema se mantém ativa nas décadas seguintes. Em 2018, interpreta o presidente da república Tancredo Neves (1910-1985), no filme O Paciente - O Caso Tancredo Neves. Dirigido por Sérgio Rezende (1951), narra os últimos dias do primeiro presidente eleito pelo colégio eleitoral após a Ditadura Militar2 e que falece poucos dias antes de sua posse.

Othon Bastos transita por diferentes linguagens da dramaturgia e, em mais de 70 anos de carreira, demonstra olhar aguçado e atenção às transformações no teatro e na sociedade. O intérprete é capaz de se aprimorar e absorver técnicas novas e não se furta de demonstrar sua versatilidade em diferentes meios.

Nota
1. MATOS, Carlos Alberto. Othon Bastos: mais fortes são os poderes do ator brasileiro. In: JORNADA INTERNACIONAL DE CINEMA DA BAHIA, 27., 2000, Salvador. Saudação proferida.

2. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

Obras 3

Abrir módulo

Espetáculos 59

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 17

Abrir módulo
  • ALBUQUERQUE, Johana. Othon Bastos. In: ______. Enciclopédia do teatro brasileiro contemporâneo. São Paulo, 2000. Material elaborado em projeto de pesquisa para a Fundação Vitae.
  • ANUÁRIO de teatro 1994. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996. R792.0981 A636t 1994
  • CALABAR, o Elogio da Traição. São Paulo: Othon Bastos Produções Artísticas, 1980. 1 programa do espetáculo realizado no Theatro São Pedro. Não catalogado
  • EICHBAUER, Hélio. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 24 abr. 2011. Não catalogado
  • FRANCO, Aninha. O teatro na Bahia através da imprensa: século XX. Salvador: FCJA: Cofic, FCEBA, 1994.
  • FREIRE JUNIOR, Orlando. (De)Cantando Corisco em Deus e o Diabo na Terra do Sol. Légua & Meia: Revista de Literatura e Diversidade Cultural. v.14, nº 7, 2016. Disponível em: https://periodicos.uefs.br/index.php/leguaEmeia/article/view/2160/1513. Acesso em: 18 mar. 2024.
  • GALILEU Galilei. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1968]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
  • KHOURY, Simon. Atrás da máscara. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984. 2 v.
  • NA SELVA das Cidades. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1969]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
  • O REI da Vela. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1967]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
  • PEQUENOS Burgueses. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1963]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
  • PONTO de Partida. São Paulo: Teatro de Arte Israelita Brasileiro, 1976. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro de Arte Israelita Brasileiro. Não catalogado
  • Programa do Espetáculo - Boca Molhada de Paixão Calada - 1984. Não catalogado
  • Programa do Espetáculo - Caminho de Volta - 1974. Não catalogado
  • Programa do Espetáculo - O Grande Amor de Nossas Vidas - 1978. Não catalogado
  • Programa do Espetáculo - Pequenos Assassinatos - 1972. Não catalogado
  • À Margem da Vida. São Paulo: s.l., 1976. 1 programa de espetáculo. Não catalogado

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: