Alex Viany
Texto
Almiro Viviani Fialho (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1918 - idem, 1992). Diretor, roteirista, crítico, jornalista, historiador. Cresce no bairro carioca Cascadura, subúrbio carioca. Aos 15 anos, sob o pseudônimo Alex Viany, escreve sobre cinema para o Diário da Noite, órgão dos Diários Associados. Em 1942, transfere-se para a revista O Cruzeiro e torna-se correspondente em Hollywood de 1945 a 1948. De volta ao Brasil, edita, com Vinícius de Moraes (1913-1980), a revista Filme, que não passa da segunda edição. Em 1948, funda o Círculo de Estudos Cinematográficos do Rio de Janeiro.
A partir de 1949, exerce a atividade de crítico cinematográfico em diversas publicações, como A Cena Muda, Jornal do Brasil e Correio da Manhã. Em 1950, faz assistência de direção no filme Aglaia, sob direção de Ruy Santos (1916-1989), que permanece inacabado. Contratado pela Companhia Cinematográfica Maristela, trabalha como roteirista em São Paulo.
Em 1951, ao lado de Nelson Pereira dos Santos (1928), funda a Associação Paulista de Cinema e envolve-se na formulação de teses e nas discussões apresentadas no 1o Congresso Paulista do Cinema Brasileiro. Em 1952 e 1953, organiza respectivamente o 1o e 2o Congresso Nacional do Cinema Brasileiro. Essa atividade político-profissional coincide com a militância de Viany no Partido Comunista Brasileiro.
Estreia como diretor em 1953, no longa-metragem Agulha no Palheiro. Em 1954, dirige Rua sem Sol, que recebe o Prêmio Governador do Estado de São Paulo de melhor diretor, melhor ator para Carlos Alberto e melhor atriz para Glauce Rocha (1930-1971). Em 1955, dirige “Ana”, episódio do longa-metragem A Rosa dos Ventos (1954-1957), produzido pelo Partido Comunista da Alemanha Oriental, sob organização do cineasta holandês Joris Ivens (1898-1989).
O trabalho como historiador é marcado pela publicação do livro Introdução ao Cinema Brasileiro (1959). Durante a década de 1960, trabalha como editor na Civilização Brasileira, responsável pela coleção Biblioteca Básica de Cinema. Em 1963, dirige Sol sobre a Lama, rodado na Bahia e sob influência do cinema novo. Realiza o último longa-metragem da carreira, apenas em 1978, com A Noiva da Cidade.
Dirige os curtas-metragens A Máquina e o Sonho (1974), Humberto Mauro: eu Coração Dou Bom (1979) e Maxixe, a Dança Perdida (1980). Falece aos 74 anos de idade, vítima de derrame cerebral.
Análise
A estética e o modo de produção industrial do cinema estadunidense são os grandes modelos de Alex Vany, desde o inicio da carreira. Durante sua estadia em Hollywood, descobre e começa a interessar-se pelo cinema brasileiro. O crítico afirma que é nos Estados Unidos que organiza as ideias, aprende a teoria e sai em defesa do cinema nacional. Desde seu primeiro filme, Agulha no Palheiro , a crítica reconhece em Viany um realizador com domínio da gramática cinematográfica. O filme, uma crônica sobre aspectos da vida carioca, de inspiração nitidamente neorrealista, também apresenta influências da chanchada, ao inserir cenas cômicas e apresentações musicais, reelaboradas com ponto de vista mais crítico e sociológico.
Na passagem do plano teórico para a prática cinematográfica, é possível perceber o esforço de Viany para aplicar em seus filmes as discussões sobre realidade brasileira dos congressos organizados na década de 1950. Essa questão encontra-se retratada em filmes de outros diretores que participaram desses debates, como Rio 40 Graus (1955) e Rio Zona Norte (1957), do diretor Nelson Pereira dos Santos, e O Grande Momento (1958), de Roberto Santos (1928-1987).
Rua sem Sol, um policial filmado à base de improvisação, sobre cenas inicialmente dirigidas por Mário del Río, destaca o talento de Viany para a direção de atores e revela o gênio dramático da atriz Glauce Rocha para o cinema. O filme conta com a criatividade do diretor para lidar com o baixo orçamento: na falta de dinheiro para o aluguel do estúdio, filma uma sequência de sombras projetadas na parede que substituem o tradicional flashback.
Sol sobre a Lamaé produzido segundo as premissas estéticas e políticas do cinema novo. A luta de classes e o ponto de vista do povo regem a narrativa sobre a resistência dos trabalhadores da Feira de Água dos Meninos contra os interesses da elite de Salvador. A fotografia revela a preocupação de deixar a câmera mais móvel, mas problemas de produção refletem-se na montagem final, com a narrativa lenta em várias sequências.
A noiva da cidade – segundo Viany, sua realização mais pessoal – parte de argumento escrito por Humberto Mauro (1897-1983) em 1947 e nunca filmado por ele. No longa-metragem, uma declarada homenagem ao cineasta de Cataguases, Viany apropria-se de cenas e imagens originalmente concebidas por Mauro, com menções a filmes como A Velha a Fiar (1964). Incorpora, também, ao personagem Beto frases costumeiramente ditas pelo cineasta. A película apropria-se do universo maureano, absorvendo o clima de ingenuidade em contraponto ao poder das personagens femininas: em uma das principais cenas, uma mulher é possuída pelo vento.
O crítico Luís Alberto Rocha Melo afirma que, em seu último filme, Maxixe, a Dança Perdida, Alex Viany preserva a espontaneidade do documentário que não se limita a linguagens únicas e nem se fixa em esquematismos na composição das cenas. Elas apresentam uma delicadeza ímpar, que contrasta com o rigor de sua pesquisa, valor que marca toda a obra do cineasta.
Na produção histórica, o livro Introdução ao Cinema Brasileiro é o primeiro trabalho de fôlego sobre a trajetória da produção nacional. Na visão do crítico Charles F. Altman, a obra recompõe a primeira fase da historiografia sobre cinema no país, marcada pela busca por estabelecer os fatos. Para o pesquisador Arthur Autran, com essa publicação, Viany assume importância decisiva como formador intelectual para a geração do cinema novo.
Obras 2
Espetáculos 2
Exposições 2
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26/10/2001 - 14/1/2000
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30/11/2003 - 2/3/2002
Fontes de pesquisa 6
- AUTRAN, Arthur. Alex Viany: crítico e historiador. São Paulo: Perspectiva, 2003.
- AUTRAN, Arthur. Alex e a Introdução ao cinema brasileiro. Cinemais, Rio de Janeiro, n. 26, p. 161-203, nov.-dez. 2000.
- LIMA, Antonio; PEREIRA, José Haroldo. Alex Viany. Filme Cultura, [s.l.], n. 32, p. 20-38, fev. 1979.
- MELO, Luís Alberto Rocha. Maxixe, cinema cultural. Cine Imaginário, Rio de Janeiro, v. 5, n. 50, p. 5, fev. 1990.
- SHON, Cláudia Moretz; SANTO, Jorge Espírito. Alex Viany. Cine Imaginário, Rio de Janeiro, v.1, n.9, p.6-7, ago. 1986.
- VIANY, Alex. Introdução ao cinema brasileiro. Rio de Janeiro: MEC: Instituto Nacional do Livro, 1959.
Como citar
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ALEX Viany.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa218133/alex-viany. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7